Assim que chegou em casa, Sofia se trancou no escritório e não saiu de lá. Tinha trabalho a fazer, e aquilo também era uma forma de evitar Yuri. Ela sabia o quão possessivo ele era, mas acreditava veementemente que ele havia exagerado. A faculdade era seu lugar de trabalho, e tudo o que acontecia ali refletia na sua imagem como profissional. Ela apenas desejava que ele compreendesse isso.
— Sofia, você precisa comer algo! — gritou Yuri, batendo na porta. Agora ele sabia o que os seus amigos passavam. Sofia estava lhe dando um gelo, e ele estava agoniado para que ela voltasse a falar com ele.
— Não quero! — gritou ela de volta, resmungando.
— Vai ficar doente se não comer direito! — insistiu ele novamente.
— Tenho algumas barras de cereal, vou ficar bem — respondeu ela.
Quando Yuri a chamou novamente e ela não respondeu, ele desistiu. Sabia que a personalidade dela era difícil e, talvez, apenas talvez, ele tivesse exagerado um pouco. Passou a mão pelos cabelos, frustrado com o que havia acontecido, e praguejou.
— Ela está chateada, Don, isso é normal — disse Nora, tentando esconder o riso ao ver Yuri, um homem tão imponente, sendo feito refém por sua senhorita.
— Criatura irracional — resmungou ele.
— Posso dizer algo, Don? — pediu Nora. Ela jamais se meteria entre eles sem permissão, pois todos sabiam as consequências de se envolver na vida dele.
Yuri observou a senhora à sua frente com atenção. Os seus olhos estavam tranquilos enquanto aguardava a resposta dele e, já que ele havia falhado, não lhe custava nada ouvir o que ela tinha a dizer.
— Tudo bem, Nora, você venceu — disse ele, suspirando enquanto caminhava até o sofá e se deixava cair nele. Nora riu da cena. Jamais imaginara que veria algo assim na sua vida.
— Don, a senhorita Sofia zela muito por sua imagem. Não sei o que houve entre vocês, mas o senhor precisa ter isso em mente. — Nora não sabia, mas acertara em cheio no que havia acontecido, o que fez a carranca de Yuri crescer ainda mais.
— Por que ela se importa tanto? — perguntou ele, dando de ombros.
— A senhorita Sofia faz de tudo para agradar o senhor Ricardo, e para ela é muito importante se manter longe de boatos.
Yuri entendia isso, o que o fez se lembrar do momento em que Sofia havia aceitado o seu pedido de noivado. A princípio, ela o fizera para agradar Ricardo. Agora, ele já não sabia mais.
— Entendo, Nora, mas ainda assim ela não deveria se preocupar tanto com isso. — Yuri nunca se preocupava com o que os outros pensavam da sua vida. Ele compreendia os motivos de Sofia, mas, no seu mundo, ele ditava as regras, e o que os outros falavam jamais governaria a sua vida.
— Apenas pense, Don. Ela precisa entender que o senhor Ricardo não se importará com isso. Ela precisa se sentir segura sobre isso para que não dê importância.
Yuri olhou para a senhora, surpreso com as suas palavras. Mas Nora conhecia bem Sofia, e ele sabia que as palavras dela não eram em vão.
— O que faço para que ela me perdoe, Nora? — perguntou. Yuri duvidava que ele mesmo estivesse ali pedindo ajuda, mas situações desesperadas pediam medidas desesperadas.
— Tire ela para dar uma volta, faça-a sair daquele escritório e converse com ela, Don. A senhorita Sofia não é rancorosa, ela vai perdoá-lo. — respondeu Nora.
— Obrigado, Nora — disse ele. A senhora apenas assentiu e se retirou.
Yuri ficou pensativo. O que poderia fazer para agradar Sofia? A sua mente dava voltas e mais voltas até que ele se lembrou de algo. Rapidamente pegou o celular e deu algumas ordens aos seus homens. Quando tudo estava pronto, ele pegou uma chave reserva que havia pedido a Nora e abriu a porta do escritório de Sofia. Ela o encarou, chateada com aquela invasão.
— Não me olhe assim — disse ele, parando à sua frente.
— O que você quer, Yuri? — perguntou Sofia, enquanto retirava os óculos e massageava os olhos.
— Vim te convidar para um passeio — disse ele, sorrindo.
— Um passeio, a essa hora?! — perguntou ela, olhando o relógio na parede.
— Sim. É algo que eu adorava fazer com Oksana e pensei que você também poderia gostar.
Aquilo chamou a atenção de Sofia, e ela relaxou um pouco. Podia sentir a saudade nas palavras de Yuri.
— Tudo bem — respondeu ela, para a surpresa dele.
— Ótimo! Vista algo quente — disse ele, indo até ela e lhe dando um beijo rápido antes de sair do escritório.
Sofia olhou para a porta com os olhos arregalados. Ainda era difícil se acostumar com aquele contato entre eles, mas Yuri sempre fazia isso de forma tão natural que a deixava extasiada.
Sofia subiu rapidamente as escadas, vestiu uma calça quentinha, colocou uma blusa de lã e um casaco por cima, calçou as suas botas e desceu. Quando Yuri a viu, sorriu. Para ele, Sofia sempre seria a mulher mais linda que já havia visto.
— Você está maravilhosa — disse, esperando-a ao pé da escada.
— Obrigada — respondeu ela, sorrindo.
Sofia lutava para se lembrar do porquê estava mesmo brava com Yuri. O russo havia entrado na sua mente de uma forma que ela não conseguia permanecer zangada com ele. Eles entraram no carro e partiram. Sofia olhava animada ao redor, curiosa para saber o que Yuri estava planejando.
A cidade onde morava era fria, e os flocos de neve começavam a cair. Em breve o inverno chegaria, e Sofia amava isso. Estava animada para trazer os seus sobrinhos para brincar no jardim. Eles sempre faziam a festa no inverno.
— Chegamos — disse Yuri, tirando-a de seus devaneios.
Eles desceram do carro, e Sofia se encantou com a visão à sua frente. Era uma pista de patinação no gelo. Em um canto, uma pequena banda tocava uma música suave. O seu coração se encheu de uma alegria contagiante e, sem pensar, ela se virou e envolveu Yuri nos seus braços.