Flora encarava os olhos de Dimitri em dúvida, mas ele mesmo havia lhe dito que não gostava de mentiras. Então, mesmo que temesse o castigo que poderia vir ao dizer o que se passava na sua mente, ela resolveu arriscar. Os seus olhos se fixaram nos dele, e ela sentiu a garganta secar diante da forma como ele a observava.
— Eu... eu não vou conseguir limpar essa casa, Dimitri. Ela é muito grande — disse ela, desviando o olhar do rosto dele, já se preparando para a bronca que viria. Mas a bronca não veio.
Flora se assustou ao sentir a mão de Dimitri tocar o seu rosto. Ela se afastou rapidamente, temendo que ele fosse agredi-la por sua impertinência. Mas Dimitri não desistiu. Enlaçou os seus braços em volta da cintura dela, prendendo-a contra o peito. A sua mão segurou o rosto de Flora, deslizando com carinho por sua bochecha avermelhada. Os seus lábios tremiam enquanto ela mantinha os olhos firmemente fechados.
— Olhe para mim, Flora — pediu ele, a voz sem nenhum traço de comando, apenas suave.
Por mais que os seus instintos gritassem para que fugisse, ela os ignorou e lentamente levantou o rosto. O ar escapou dos pulmões de Flora ao encarar os olhos azuis de Dimitri. Seria aquilo dor? Não. Ela não acreditava que ele estivesse sofrendo por seu comportamento.
— Você será minha mulher, não a minha empregada. Jamais permitirei que se mate em afazeres domésticos exaustivos — as palavras de Dimitri vieram acompanhadas por seu toque suave no rosto dela, acalmando o seu coração. — Assim que nos casarmos, você pode escolher as pessoas para cuidar da casa. É claro que vou amar o seu cuidado, mas apenas se isso não te desgastar. Não sou só eu que preciso de você; Nina também precisa.
Com toda certeza, não era aquilo que Flora esperava ouvir de Dimitri. Ela imaginava que ele gritaria e esbravejaria com ela por sua insolência. Mas não. Ele estava sendo compreensivo, explicando o que esperava dela na relação dos dois.
— Eu pensei que...
— Eu sei o que você pensou: que seria uma escrava nesta casa enorme. Esta é sua casa, Flora, não a sua prisão. Você pode mudar o que quiser e decorar não só o quarto de Nina, mas todos os cômodos, como desejar. Quero que se sinta bem aqui.
— Eu posso mesmo? — perguntou ela, com os olhos brilhando.
— Pode. O que quiser fazer, basta pedir à Lana, e ela cuidará de tudo — respondeu ele, mais aliviado.
— Eu queria mais cor — disse ela, um pouco sem graça.
— E poderá ter. Vamos conversar com ela, e você explica o que quer — disse ele, abrindo a porta do quarto para que descessem.
Flora estava mais tranquila depois daquela conversa. Sentou-se com Lana e começou a falar sobre as suas ideias. Dimitri ouviu tudo com um sorriso no rosto, desejando de coração que aquilo desse certo para eles. Ele percebia que Flora precisava de alguém que a incentivasse, e não que a reprimisse. Ficava em silêncio e se divertia com as ideias dela.
Algumas horas depois, Flora e Lana haviam conseguido organizar tudo. Dimitri estava feliz por Flora ter escolhido as coisas do jeito que desejava. Ele também notou que ela não mudou os móveis da casa, apenas os do quarto que seria de Nina e alguns utensílios da cozinha. Parecia que ela realmente havia gostado do estilo da casa.
— Acho que já tenho tudo o que preciso. Não se preocupem, o meu pessoal começará a trabalhar ainda hoje. A casa estará do jeito que você quer a tempo do casamento, Flora — disse Lana, sorrindo.
Aquilo deixou Flora chocada, já que a casa era muito grande. Mas ela logo se lembrou de que Dimitri tinha dinheiro, e, pelo visto, ele não estava preocupado com o valor exorbitante da reforma em tempo recorde.
— Obrigada por sua ajuda, Lana. Me envie os detalhes do serviço por e-mail, que cuido do resto.
— Claro. Se precisarem de algo mais, é só me ligar — respondeu Lana, sorrindo. — Foi um prazer.
— Obrigada — disse Flora, também sorrindo.
Dimitri olhou satisfeito para Flora, que tinha um sorriso no rosto. O seu primeiro objetivo ao se casar com ela estava se realizando: ele estava conseguindo fazê-la feliz.
— Vamos pegar Nina na escolinha. Podemos tomar um chá no caminho — sugeriu ele.
— Mas você já gastou tanto — disse ela. Por mais que Dimitri tivesse dinheiro, Flora não queria explorá-lo. Ela não era assim.
— É só um chá. Tenho certeza de que Nina vai adorar um pedaço de bolo e um copo de chocolate quente — respondeu ele, se levantando e estendendo a mão para ela.
Flora colocou a sua mão na dele e permitiu que ele a conduzisse para fora. Ela ainda tinha medo. A sua vida não tinha sido fácil, mas tentava colocar no coração que Dimitri não era como o seu falecido marido. Ele era diferente. Se quisesse que aquele casamento desse certo, precisava começar a confiar mais nele e ouvir menos as pessoas ao redor.
No caminho, Flora notou que a cadeirinha que Dimitri havia comprado já estava instalada no banco de trás do carro, como se aquilo fosse a coisa mais comum do mundo. E, dentro de alguns dias, seria. Se Dimitri tratasse a sua pequena com carinho e respeito, seria impossível não retribuir tudo o que ele estava fazendo. Só o fato de terem roupas confortáveis e uma alimentação melhor do que antes já era algo pelo qual ela agradecia aos céus.
O mundo às vezes era um lugar sujo e c***l. Em meio a tudo o que poderia ter acontecido na sua vida, talvez o casamento com Dimitri não fosse algo tão r**m quanto ela pensava. Observando a forma concentrada como ele dirigia, Flora permitiu que a sua mente se detivesse em Dimitri com mais atenção, focando em detalhes que ainda não havia percebido antes.