Yuri acordou com um largo sorriso no rosto naquele dia. Havia alguns assuntos que precisavam da sua atenção, mas, ainda assim, ele passou no quarto de Sofia para lhe dar um beijo antes de sair. Ele a encontrou abraçada a um travesseiro, como um gato enrolado em um cachecol; era fofo de se ver.
— Bom dia, Don — disse Nora assim que o viu descendo. Ela sempre acordava bem cedo para preparar o café da manhã e ficou surpresa ao encontrar Yuri.
— Bom dia, Nora. Vou ter que sair para resolver algo. Avise à Sofia que não tomarei café com ela hoje — pediu ele.
— Avisarei à senhorita, Don — respondeu ela, enquanto ele saía pela porta.
Yuri havia recebido uma mensagem de manhã cedo sobre a investigação que havia solicitado e estava curioso para saber o que o seu pessoal tinha descoberto. Ele queria acertar as contas com o safado do professor que estava de olho na sua mulher, mas precisava das informações para resolver aquilo.
Ele entrou no carro e dirigiu até uma das suas empresas de fachada. Pegou o elevador e subiu até o último andar, a dúvida e a incerteza corroendo a sua mente.
— Bom dia, Bonnie — disse ele ao entrar na sala e encontrar a sua funcionária com uma xícara de café nas mãos.
— Bom dia, Don. Madrugou hoje — disse ela, bocejando. Yuri havia avisado-a ainda de madrugada sobre o horário em que passaria na empresa, e, mesmo não acordando tão cedo normalmente, ela jamais negaria um pedido do seu Don.
— Tinha que ser. Tenho mais algumas coisas para resolver e não queria deixar a minha noiva sozinha por tanto tempo — respondeu ele, sentando-se no pequeno sofá que havia na sala.
— É até curioso vê-lo assim, Don — disse ela com um sorriso de canto.
— Bonnie — advertiu Yuri. Ele não gostava de brincadeiras, e a sua vida particular dizia respeito apenas a ele e Sofia; os outros não precisavam saber de nada.
— Calma, Don. Não estou brincando, só gosto de saber que está bem — respondeu ela rapidamente.
— Onde está o que pedi? — perguntou ele, mudando de assunto. Não discutiria assuntos pessoais com a sua funcionária.
— Está aqui, Don — disse ela, pegando uma pasta e colocando-a na frente de Yuri. Ele abriu a pasta e começou a analisá-la.
O relatório era bem detalhado, com nomes de lugares onde o professor havia morado, informações sobre locais que frequentava e pessoas com quem mantinha contato. Mas o que deixou Yuri intrigado foi uma informação que constava na pasta.
— Como assim, dois nomes? — perguntou Yuri a Bonnie.
— Não sei, Don. Procuramos informações nos registros, mas não encontramos explicações.
Yuri olhou os nomes no papel com uma ruga na testa. O ano de nascimento era o mesmo, assim como os pais e o tipo sanguíneo, mas havia dois registros diferentes, com dois nomes distintos para a mesma pessoa.
— Nilton Gomes e Marvin Gomes — disse ele em voz alta, pensativo.
— Podem ser gêmeos — sugeriu Bonnie, dando de ombros. Mas Yuri folheou os documentos e não encontrou nada que confirmasse aquilo.
— Aqui não diz nada sobre ele ter um irmão gêmeo — disse ele, frustrado com a informação. Yuri percebeu que estava num beco sem saída e que precisaria de ajuda para decifrar aquele enigma mais rápido.
Ele pegou o celular e ligou para Ricardo. Se havia alguém que poderia lhe dar as respostas necessárias, era seu cunhado.
— Não acha que está muito cedo para me ligar? — perguntou Ricardo, com voz sonolenta.
— Desde quando você fica na cama até mais tarde? — retrucou Yuri.
— Desde que tenho uma mulher grávida que pode dar à luz a qualquer momento — respondeu Ricardo.
— Desculpe, Ricardo. A Estela está bem? — perguntou Yuri, preocupado.
— Sim. A noite passada foi alarme falso. Esse pequeno está querendo me matar do coração — disse ele com um bufo. Yuri riu daquilo.
— Aposto que o Vito está aí, não é mesmo? — perguntou Yuri, já imaginando a situação.
— Pode apostar. Ele só não dormiu no quarto com a gente porque insisti que ficaria de olho em Estela — disse Ricardo. Ele reconhecia que o seu sogro era extremamente protetor e fazia de tudo pela família, mesmo que, no caso de Estela, ela já fosse casada e tivesse quem cuidasse dela.
— Desculpe incomodar, Ricardo, mas preciso que você investigue alguém para mim. O meu pessoal está investigando, mas aprofundar as informações levará muito tempo. Sei que o seu time pode ser mais rápido — explicou Yuri rapidamente.
— Claro, mas do que se trata?
— É um professor que está trabalhando com Sofia. Não gosto dele — respondeu Yuri com sinceridade.
— Tem certeza de que não é apenas ciúmes falando mais alto? — questionou Ricardo, pensativo.
— Não, Ricardo. Tem algo nele que me incomoda, e não quero Sofia correndo risco por estar perto dele — disse Yuri, com firmeza. A suas palavras acenderam um alerta em Ricardo.
— Mande as informações para a Alicia. Ela cuidará de tudo. Daqui a alguns dias, te informo o que descobrirmos — respondeu Ricardo.
— Obrigado, Ricardo — disse Yuri, desligando.
— Esse homem me dá arrepios, Don — comentou Bonnie, olhando para Yuri.
— Você não viu nada, Bonnie — respondeu ele com um sorriso no rosto. Yuri já havia participado de várias missões com Ricardo e, em cada uma delas, via o seu amigo superar-se no que fazia. Qualquer um que tivesse amor à vida temeria Ricardo.
— Quero que continuem vigiando este homem, Bonnie. Qualquer mudança, me informe imediatamente — ordenou ele, levantando-se.
— Farei isso, Don. Cuidaremos de tudo — respondeu ela, voltando à postura séria.
Yuri despediu-se de Bonnie e saiu do escritório. Desejava cuidar de mais algumas coisas antes de se encontrar com Sofia e, de quebra, talvez conseguir passar um tempo a sós com ela. Esse pensamento fez um sorriso surgir no seu rosto.