Sofia encarava o homem à sua frente com óbvia admiração. Apesar da idade, ele era um homem de boa aparência e tinha um sorriso no rosto ao olhá-la.
— Professor Nilton? — pergunta ela.
— Sim, já me conhece? — pergunta ele, estendendo-lhe a mão.
— Apenas de vista, mas sou uma grande fã do seu trabalho — responde ela.
— Agora fiquei lisonjeado. Uma moça tão jovem e bonita que lê o meu trabalho — diz ele, rindo.
— Os seus artigos me ajudaram muito. A forma como o senhor ensina é brilhante e descomplicada — diz ela.
— Fico feliz que tenha gostado. Amo o que faço e, quando criei aqueles materiais, pensei no bem-estar dos meus alunos — diz ele, fazendo um gesto para que ela o acompanhasse até um sofá que havia no canto. — Qual o seu nome, senhorita?
— Me desculpe se fui rude. O meu nome é Sofia — diz ela.
— Um lindo nome, Sofia, e com um significado poderoso — diz ele de forma cordial. — Me avise se puder ajudar em algo.
— Na verdade, gostaria de aproveitar o meu tempo vago esta semana para aprofundar os meus conhecimentos, isso é, se o senhor estiver disponível — diz ela com um pouco de receio.
— Será um enorme prazer poder ajudá-la, Sofia. Esta semana não tenho muitos compromissos e estarei disponível — a resposta do professor traz um grande alívio a Sofia, que abre um sorriso genuíno no rosto.
— Isso será ótimo. Estou trabalhando em algumas transcrições e a sua ajuda será muito benéfica para mim.
A animação de Sofia faz com que Nilton a olhe com atenção. Ele podia ver como os olhos castanhos dela brilhavam ao falar. Era uma moça bonita e jovem e, para sua surpresa, admirava muito o trabalho dele. Mas, ao olhar mais atentamente, ele percebe o anel no seu dedo.
— Que bom que posso ajudar — diz apenas.
Quando Sofia chega em casa, o seu sorriso vai de orelha a orelha. A empolgação ainda brilhava nos seus olhos após tudo o que havia ensinado e aprendido. Agora que tinha concluído o curso, via a faculdade com outros olhos, e gostava disso. Um barulho a tira do devaneio, e, ao olhar para o celular, percebe que era Yuri ligando.
— Olá — diz ela, de forma mais contida.
— Não esperava ouvir isso — diz a voz rouca de Yuri do outro lado da linha. Um arrepio sobe pela coluna de Sofia ao ouvi-lo.
— E o que desejava ouvir, senhor Yvanov? — pergunta ela, achando graça.
— Que tal: “Oi, amor, estou com saudades”? — Sofia trava. A voz dele mudara completamente, passando de rouca para suave em poucos segundos. — Sofia? Está tudo bem?
— Me desculpe, me distraí — diz ela, corando. Yuri sempre a desconcertava.
— Não pensei que pudesse ficar tão entediada falando comigo — ao ouvir a mágoa na voz de Yuri, o peito de Sofia aperta um pouco.
— Não quis dar a entender isso. Estava pensando no meu dia e acabei me distraindo — responde ela.
— E como foi o seu dia, Sofia? — pergunta ele, com uma voz que fazia o coração dela derreter.
Sofia conta a Yuri sobre o seu dia sem omitir detalhes. Ela não pretendia ser tão específica, mas, à medida que Yuri fazia perguntas, a conversa fluía, e ela estava gostando disso. Quando menciona o professor que iria ajudá-la com algumas tarefas, percebe que Yuri não gosta, mas continua contando tudo da mesma forma.
— Você teve um dia agitado hoje. Quero que descanse bem, ouviu? — a preocupação de Yuri inunda Sofia de um sentimento novo, algo que aquecia o seu coração.
— Eu sempre me cuido — responde.
— Mesmo assim, amanhã vou pedir que o meu segurança fique de olho em você — e lá estava aquela possessividade que Sofia via nos homens ao seu redor. Sem se conter, um sorriso abre-se no seu rosto.
— Você e Ricardo são impressionantes — diz ela.
— Apenas cuidamos de você. Então se comporte e cuide-se.
— Vou me cuidar.
— Boa noite, Sofia. Tenha bons sonhos — diz ele, com uma voz suave.
— Obrigada, Yuri — responde ela, desligando o celular.
— Ao que parece, o seu noivo é bem atencioso — diz Nora, surgindo da cozinha com uma xícara de chá nas mãos. Ela entrega a xícara a Sofia e pega o seu casaco para pendurar.
— Sim, ele é — diz ela, rindo um pouco.
— Isso é bom, senhorita. Desejo que seja feliz nesse casamento — Nora sabia bem como as coisas funcionavam na máfia, e ver que Sofia estava com alguém que realmente gostava dela a deixava feliz. Nora via Sofia como uma filha e desejava apenas a sua felicidade.
— Eu também, Nora — diz Sofia, suspirando. — Não quero viver uma mentira. E, por mais que me assuste me ligar a ele, desejo que dê certo.
— Vai dar. Você é uma menina maravilhosa. Ele terá muita sorte em tê-la ao seu lado — diz a senhora, acalmando-a. — Venha jantar antes de dormir.
— Vou tomar um banho primeiro e depois desço — responde ela, terminando o chá e devolvendo a xícara a Nora.
Sofia sobe as escadas e toma um banho rápido. Veste um conjunto de moletom confortável e desce para jantar. Ainda tinha trabalho a fazer, e quanto mais rápido jantasse, mais tempo teria para seus afazeres. Após o jantar, dispensa Nora e corre para o escritório. Pega os documentos que haviam lhe enviado e começa a transcrevê-los. As horas passam lentamente, e, sem perceber, a madrugada chega de forma silenciosa. Sofia leva um susto ao ver as horas e rapidamente desliga o computador, subindo para o quarto.
Ela dorme animada para o próximo dia como professora substituta. Em um caderno, anotou algumas dúvidas que pretendia esclarecer com o professor Nilton. Com esses pensamentos, adormeceu tranquila.