Capítulo 74

1039 Words
Yuri encarava o olhar bravo de Sofia quando retornou ao quarto algumas horas depois. Ele estava parado na porta, observando aqueles olhos castanhos que o fitavam com intensidade. Yuri engoliu em seco ao ver a sua expressão. Um tanto relutante, entrou no quarto com passos lentos e calculados. — Onde estava? — perguntou ela, toda a delicadeza de antes esquecida. Para Yuri, era como estar encarando o próprio Ricardo. — Resolvendo algo — desconversou, aproximando-se dela. — Se estiver tudo bem, podemos ir, a menos que não queira ir ao casamento de Dimitri. Eu entendo se não for, mas preciso estar lá por ele. As palavras de Yuri tiraram Sofia daquele estado de espírito. Ela já tinha ouvido falar várias vezes que Dimitri não era apenas o subchefe da máfia russa, mas também um amigo leal de Yuri e a sua família. Não seria ela quem atrapalharia aquele momento dele. — Eu vou. Assim aproveito e dou uma olhada na faculdade de lá — respondeu ela, fazendo o coração de Yuri errar uma batida. — Está falando sério? — perguntou ele. — Sim. Sei que não falamos sobre isso, Yuri, mas, se vamos mesmo nos casar, acho bobagem tentar fazer um curso em outro lugar. Yuri m*l podia acreditar no que estava ouvindo. Um sorriso bobo se abriu no seu rosto. Dificilmente, quem o visse naquele momento, diria que ele era o temido líder da máfia russa. — Espere! — disse ele, percebendo algo no que ela havia dito. — Está escolhendo a Rússia apenas por causa do nosso casamento? Ele não desejava que ela se anulasse, desistindo das coisas que gostava por ele. Amor era cuidado e renúncia também. Por mais que a saudade o matasse, se Sofia escolhesse outro lugar, Yuri não a impediria. Ele havia dado a sua palavra a Ricardo de que a irmã dele poderia correr atrás dos seus sonhos e não seria ele quem cortaria as suas asas. — Não, Yuri. Estou escolhendo a Rússia porque você está lá — respondeu Sofia. Yuri travou, parecia que os seus ouvidos estavam lhe pregando uma peça, mas uma segunda olhada em Sofia dizia que ele tinha ouvido certo. Ela realmente havia dito aquilo. — Sofia, o que… — ele começou, mas ela estendeu a mão, interrompendo-o. Os seus olhos castanhos estavam claros, sem nenhuma dúvida. O seu rosto sereno o olhava com… seria aquilo amor? Yuri não sabia, mas aquele olhar dela o prendia. — Quando conversamos, eu prometi que tentaria, Yuri. Confesso que, no começo, eu apenas desejava deixar o meu irmão feliz. Ele já passou por tanto, que eu não queria ser o espinho nos seus pés. Mas, sempre que olho para você, não consigo me ver ao seu lado por obrigação. Você é protetor, leal e um bom amigo. Sofia tinha pensado muito sobre seu relacionamento com Yuri enquanto ele estava fora. Ela não podia mais ignorar os sentimentos que a tomavam quando estava perto do russo. Yuri podia não perceber, mas, para Sofia, ele era como uma brisa fresca em pleno verão, como um cobertor quentinho em uma noite fria de inverno. Ela se debatia internamente sobre o que Yuri significava na sua vida e, por mais que relutasse em aceitar a verdade, não podia negar que o seu coração estava profundamente balançado pelo homem à sua frente. — Você me cativa — disse ela, sorrindo e dando de ombros. Yuri engoliu em seco. Ouvir aquelas palavras de Sofia era quase um sonho. Ele estava se dedicando a tornar os dias dela mais felizes e, em tudo o que fazia, deixava claro a sua personalidade. Mas ouvir o que ela dizia causava um impacto diferente no seu coração, ainda mais depois do que havia acontecido. — Eu te cativo? — perguntou ele, com a sobrancelha arqueada. Yuri aproximou-se mais de Sofia, segurando o seu rosto delicado nas suas mãos. — Sim — respondeu ela, com as bochechas coradas. — Apenas confesse que me ama, Sofia, pois eu sempre a amei — disse ele, com a voz mansa e os olhos azuis, sempre tão agitados como uma tempestade, agora calmos. Um sorriso curvava os seus lábios. — Não acha que está sendo muito ganancioso? — perguntou ela, com um tom de diversão, o que o surpreendeu. — Não, Sofia. Se você me quer, tem que ser por inteiro, e isso significa que eu vou querer o seu coração. Os olhos de Sofia se arregalaram, a sua respiração se agitou enquanto ela observava os olhos de Yuri, buscando algum traço de brincadeira. Mas o que encontrou foi apenas um olhar apaixonado, que a deixava ver, da forma mais profunda possível, o que ele sentia. Sem máscaras ou fachadas, olhando naqueles olhos que sempre a encantavam, ela viu apenas a verdade. — Yuri… — começou ela, mas ele a calou com um beijo casto nos seus lábios rosados. — Sabe o que foi que eu e o seu irmão combinamos, Sofia? — perguntou ele, olhando fixamente para ela. — Não. Ele nunca me disse — respondeu ela. Yuri soltou o rosto de Sofia e se sentou na beira da cama dela, segurando as suas mãos pequenas nas suas. Ele observou a suas unhas feitas com esmero, admirado. Tudo em Sofia era delicado, e ele amava aquilo. — Quando o seu irmão soube que eu a queria, ele me ameaçou de morte. Várias vezes — disse Yuri, fazendo-a rir. — Mas eu não desisto fácil e acho que ele percebeu isso depois de um tempo. Quando fiz a proposta para me casar com você, ele me fez prometer que jamais a impediria de seguir os seus sonhos. E eu concordei. Quero te ver realizada em tudo o que fizer. Nunca te negaria algo que um dia pudesse te completar. Sofia sentiu um nó formar na sua garganta. Jamais imaginaria que Yuri tinha passado por tudo aquilo por ela, e a sinceridade dele a assustava. — Isso não foi tudo. Ele também me fez prometer que, se você não me amasse, eu a deixaria livre. Yuri encarou Sofia, vendo uma lágrima solitária descer por sua bochecha. — Eu a amo, Sofia. E, por mais que me doa, se você não me ama, eu a deixarei ir.
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