CAPÍTULO 1

2322 Words
LEOPOLDO Eu queria dizer que superei Grace, mas eu não superei e nem queria, porque se eu tivesse superado, meus caros amigos, eu não estava pegando ela e a colocando do meu lado novamente, fazendo ela ficar, embora ela pudesse não querer isso de mim daqui minutos, horas, dias ou semanas. Ela era inconstante. Mulheres inconstante são difíceis de lidar. A mente delas complicam em uma proporção extraordinária. Eu sabia disso. Grace era aquelas caixinhas surpresa estilo explosão, não exagero que essa é a definição mais acertada do jeitinho dela. Eu estava quebrado assim como ela sobre uma cama de hospital horas atrás, tudo estava diferente, até as marcas que um infeliz fez nela. Saber disso me deixa transtornado, porque em todo o período que estivéssemos juntos eu nunca pensei nisso a não ser na hora do s**o e mesmo assim por prazer, era a única hora que eu admitia usar as mãos. Aquilo era violência crua pura. Sem dó nem piedade e com puro requinte de crueldade. Chegar nessa cidade e ver ela assim foi como passar pelo inferno, foi como cair em um buraco ou foi como me ver em um MMA, comigo e com o causador de tamanha brutalidade. Agora ela estava no meu banco do passageiro, estava calada e eu não sabia qual seriam a suas últimas palavras, eu sabia que a qualquer momento ela iria falar, só não sabia quando seria isso, esperava que fosse rápido. Eu precisava escutar a voz dela. Aquilo tudo estava uma bagunça e eu estava disposto a ajudá-la organizar tudo aquilo, era necessário aquilo. Ela não tinha muita gente, sua família era inexistente desde sempre e ela sempre preferia se cuidar sozinha do que confiar ou deixar alguém tão perto. Ela havia sido violentada fisicamente com um tipo detestável de violência, uma covardia que esquentava meu sangue violentamente também, por isso é correto dizer e afirmar que violência gera violência. Pode não ser da vítima, mas de quem está ao lado dela. Não é fácil olhar e ver os hematomas espalhados pelo corpo de alguém, mesmo sendo ela eu não gostaria de ver isso no corpo de ninguém, principalmente mulher, uma que deve estar até agora se perguntando onde errou, que pode estar se culpando. Mas ela não era culpada, ela não se bateu ou escolheu isso, bateram nela por escolha. - Desculpe por isso - Ela não conseguia falar alto devido a grande quantidade de hematomas pelo rosto dela, cada um com um tom de roxo diferente. Mas ela falou. Pela terceira vez desde que cheguei. Bom. Muito bom. Eu só esperava mais disso. - Depois de anos eu ainda sou seu número de emergência - Sorri, um tanto desapontado por ver ela na cama machucada, como se eu não tivesse feito nada pra impedir aquela agressividade contra ela a tempo, como se eu fosse inútil, quando na verdade só não estava lá para defender ela. Eu não estava lá, ela não estava comigo também. - Você quer ir para seu apartamento? - Minha voz cortou o silêncio e ela me olhou, ela já me conhecia a tantos anos, achar que eu a deixaria sozinha era um equívoco terrível entre mim e ela. - Mas um conselho, foi muito recente sua saída e deve estar tudo... bagunçado ainda no seu apartamento aqui. Não seria bom pra você ficar em um ambiente assim sem ficar 100%, rever o lugar e tudo aquilo. - Me leve para um hotel. - Estou em um apartamento no leste, vou levá-la para ficar lá, até tudo ficar resolvido e você não ficar sozinha - Ela não recusa ou mostrou indignação. Isso é bom. Muito bom e eu fico contente. - Agradeço - Ela não resistiu, apenas agradeceu, aquilo devia ser algo bom, aceitar algo de mim, aquela não era a primeira vez do dia. Mas eu sabia do orgulho dela, foi orgulhosa quando me deixou, não atendeu nenhum telefonema e até se mudou sem deixar endereço pra eu correr atrás dela. Mas agora era diferente. Ela estava indefesa. Grace indefesa, chegava a ser uma comédia m*l feita, igual aquelas indianas. Ela nunca parecia indefesa diante as pessoas, era até muito confiante. - Essas roupas que você tem na bolsa são suficientes? - Ela balançou a cabeça em afirmativa. - Quer alguma coisa de comer mais a noite? Você precisa de algo? - Vocês acharam ele? - Eu suspirei fundo, ela iria fazer a pergunta. Aquela que ela segurava desde que acordou do trauma. - Foi ele. - O cara? Falei com ele, digamos que ele ficou putão da vida na delegacia. Um i****a. - Você não precisa se meter nessa história Leopoldo, já não somos nada, entende isso? - Bem - Eu parei no sinal e olhei para ela. - Independente de qualquer coisa, eu estou aqui por você e pelo que vivemos. Dane-se se não temos nada, você ainda é a Grace que não tem família e não tem muitos amigos. Que agora precisa de alguém. Você não está bem, você está machucada. Não vai pelo caminho da negação, você mexe com pessoas, já orientou muitos pacientes e agora é sua vez de se orientar. Não precisa me afastar, estou aqui pra ajudar. Ela desvia o olhar envergonhada. Ela sabia que era verdade. - Olha Leopoldo, você não sabe o que aconteceu direito - Ela faz uma pausa. - Eu estava não ligando muito pra algumas coisas quando conheci aquele cara. Eu pensei que ele fosse diferente, só que aí me envolvi e ele fez aquela cachorrada comigo, me fez parar no hospital inconsciente - Ela suspirou fundo. - Todos pareciam saber na fria que eu me enfiava, todos já havia me falado dele, do caráter dele e as atitudes, mas eu fui burra e me envolvi. Infelizmente eu tenho agora a má escolha na mão e em formato de hematoma. Que grande m***a! Vejam, ela está com raiva, indignada e sendo irônica, mas ela também está triste. Ela não havia chorado em momento nenhum desde que acordou. Grace era neutra, não chorava com facilidade. Não é de agora, mas de antes essa atitude. - Ele te machucou por que? - Ela estreitou os olhos e se encolheu toda, como um cachorro amedrontado, aquilo me irritou, me deixou com vontade de arrancar o pescoço do cara. - Raiva, negação, não sei, na verdade quando eu descobri ou percebi a relação r**m eu quis colocá-lo para fora, ele apenas veio pra cima, como um maldito covarde - Parei o carro na entrada do prédio de quatro andares e desci, dando a volta no carro e abrindo a porta, erguendo a mão até ela é puxando a bolsa para outra mão. - Eu estou bem, não preciso disso. - Me dá a mão - Ela encarou minha mão e depois meu rosto, vi o cabelo chanel castanho e os olhos claros, contornado por uma maquiagem h******l feita por mãos ruins e que eu só podia imaginar a dor que causou nela. - Vamos, eu não mordo Grace, estou aqui pra te ajudar amor. Grace me olhou fundo, parecendo perplexa. Me xinguei quando percebi que havia chamado ela de amor, eu disse que iria ficar na minha. Talvez fosse difícil fazer isso. Ela ergueu a mão, com a minha ajuda desceu do carro e ficou do meu lado, enquanto subimos para o apartamento. Ela abaixou a cabeça quieta, para não ter que olhar para lado nenhum, isso foi pior no elevador que a cabeça baixa ficou pior. Ela ainda não tinha visto totalmente o resto marcado, ali no elevador espelhado eu vi que ela não queria isso por enquanto. - É perto da praia, não é? - Eu balanço a cabeça. - Você ainda gosta das ondas? - Balanço a cabeça. Eu não gostava das ondas, eu amava elas assim como amava a garota que estava ao meu lado, agora uma mulher. Uma mulher que ainda tinha meu coração. Suspiro fundo e abro a porta do apartamento, vendo ela entrar e dar alguns passos. - Gosto delas, não como gosto de você - Dou um sorriso pelas palavras que saem da minha boca. - O quarto está no fim do corredor - Falei, me aproximando da sacada e puxando as cortinas, deslizando a porta até deixar o vento da tarde entrar. - Abasteci a geladeira com o que você gosta, você precisa comer, se quiser algo específico me fala, te perguntei no caminho e você não disse nada. Por um segundo ela me encarou, como se soubesse que eu tinha resolvido tudo mesmo antes dela falar alguma coisa pra mim, de decidir que ela iria ficar aqui. Bem, ela poderia estar pensando certo. Eu conhecia a garota, imaginei ela aqui mesmo antes dela escolher. - Obrigada - Ela se aproximou do sofá de veludo marrom e se sentou, o olhar subiu pela TV e ficou parada olhando o reflexo dela na TV. Ela foi baixando o olhar. - Eu devo estar um caco. Deixo a bolsa dela no sofá e me aproximo dela, me abaixando na frente dela. - Não, você só está machucada, demora, mas melhora - Ergui a mão tocando a bochecha arroxeada dela. - Relaxa, quem fez isso com você vai pagar ou eu não me chamo Leopoldo, sabe que falo sério e faço. - O que vai fazer? Porque eu preciso pensar em tudo e fazer alguma coisa. - Sou um advogado, o que acha que vou fazer? Ela ficou parada. Qual é ? Eu era um advogado, era uma forma de f***r com o cara, mas de onde eu vi eu fazia de outra forma. Como eu sou meio termo, quebrar as duas mãos dele, a cara, algumas costelas e deixar ele inconsciente, pra mim estava ótimo, depois eu acabava com o resto dele diante um juiz. É a lei do homem; aqui se faz, aqui se paga. O meu caso vai pagar com juros. Me levantei e passei a mão nos cabelos, ficando por um segundo parado sem saber o que fazer com ela ali. Fazia dois anos longe, não sabia como agir totalmente, sabia o que queria e sabia onde eu queria estar. - Por que você veio, Leopoldo? - A pergunta saiu dela. - Bem, você não tem família, tem os amigos e eu. Foi uma surpresa o hospital me ligar como número de emergência. - Nunca mudei isso, não precisei antes e pensava não passar por isso. Você é um bom amigo. -Não, eu disse que você tem os amigos e eu, eu não sou seu amigo Grace, você sabe disso - Me jogo na poltrona e coloco os pés na mesa de centro, olhando diretamente para ela. - Não temos mais nada, quero dizer que - Ela parou de falar. - Não me leve a m*l - Sussurrou baixo. - Eu devo estar parecendo uma ingrata, acordei e você estava ao meu lado e está agora, mas nossa história já terminou. Eu não estou bem. Veja. Olha pra mim. Eu fui agredida até ficar inconsciente. Estou cheia de hematomas pelo corpo e pela minha cara. Acabaram comigo e eu nem pedi isso. - Você iria fazer o mesmo por mim Grace? - Perguntei e o silêncio dela e o desvio de olhar me respondeu. - Você as vezes pode ser c***l, havia me esquecido disso. Eu sorri. Engoli o sorriso quando o celular vibrou e eu o puxei, vendo a localização na tela e suspirando fundo. Hora de agir no trabalho. Me levantei. - O que foi? - Nada Grace, terei que resolver algumas coisas do trabalho - Olhei para o relógio e puxei as chaves do bolso. - On-vai sair? - Eu balancei a cabeça e rodei a chave entre os meus dedos. - O que aconteceu? - Nada, vou resolver algumas coisas aqui sobre o seu caso pra poder cuidar de quem fez isso com você, você vai querer que eu volte, Grace? - Fiquei imóvel, olhando para o rosto marcado dela. - Fala comigo, agora estou sem saber se vou ou fico. Pode ficar sozinha? - Eu... Eu vou ficar bem. Tenho que passar por isso pra poder ficar bem. - Tô aqui pra ajudar você - Sorri, querendo me aproximar dela, mas ficando onde eu estava. - Isso é o que eu sempre faço, volto pra você, porque eu sou seu e nunca aceitei o nosso fim. Faz dois anos, me chame de tosco, mas é isso. Dois anos e estou aqui, porque só de receber a notícia eu senti meu mundinho tremer. - Leo... - Eu a corto. - É você Grace, quer ser minha de novo ou ao menos deixar eu te ajudar? Eu não estou aqui pra te fazer m*l ou nem me aproveitar da situação. Estou aqui porque você, mesmo parecendo que não faria o mesmo, você faria sim. Você só é casca dura Grace, eu sei disso. - Por favor - Aquelas palavras era quase um cala a boca, mas ela era educada demais pra fazer isso. Era uma educadinha da p***a. - Eu volto pra você daqui a pouco, se precisar ou não se sentir bem eu vou estar no celular. Conheça aqui, estou aqui desde que cheguei. Voltaria pra ela hoje, amanhã e quantas vezes precisasse. Mas naquele momento, bem, eu queria machucar um homem até ele não aguentar. Teria que encontrar esse cara de novo. Hora de ver Gael, o filho da p**a que havia machucado ela. Eu havia voltado para cuidar dela. Mesmo que ela fosse uma ex, uma ex que eu queria ainda. Ela havia sido importante. Tinha pouco tempo para convencê-la e cuidar dela, de colocar ela de volta na minha vida e eu ficar na vida dela. Eu faria isso. Eu queria isso. Com todo meu coração. Mesmo que um coração difícil. Eu ainda amava ela? Bem, a resposta já estava clara. Se eu tivesse deixado de amar, nunca teria sido amor.
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