CAPÍTULO 2

1751 Words
GRACE A água era r**m para os hematomas, parecia doloroso deixar qualquer coisa encostar, parecia r**m todo o meu corpo, principalmente o rosto, onde a maior parte dos hematomas estavam podia sentir cada roxo e sentia mais quando eu passava a pomada antiacido para amenizar as marcas. Me ergui da banheira e fiquei nua na frente de um espelho em um banheiro vendo meu corpo todo machucado e meu rosto, que estava envolto do cabelo castanho curto. Depois de dois dias fugindo de um espelho eu finalmente olhava para o que havia sobrado de mim. Era h******l e medonho. Triste e incompreensível. Melancólico e dramático. Medonho e um terror enorme. Havia marcas pelo meu pescoço, meus braços com hematomas que estavam desaparecendo, mas havia outros que estavam novos ainda é pareciam que iriam ficar ali por um tempo. Tempo demais pra mim ter que lembrar de como consegui eles. Puxei a pomada e coloquei na palma da minha mão, olhando para os hematomas e espalhando dolorosamente pela pele com os 50 tons de roxo. Daria pra fazer uma paleta inteira com todos esses tons. Passei primeiro abaixo do meu seio direto e depois na cintura e na coxa, erguendo a mão para o pescoço e minha mandíbula e o lado esquerdo do meu rosto, pegando parte da minha pálpebra. O pior não é nem por fora. As marcas vão sumir por fora. Mas o que resta fica dentro, eu ajudava tanta gente com seus traumas que agora eu era a traumatizada. Eu baixei a cabeça quando não consegui mais me encarar no espelho, puxei o roupão e me cobri, fazendo com que nada fosse visto e ajeitando o cabelo atrás da orelha. Estavam sendo dias difíceis, estava fazendo a diferença uma máquina do futuro que me levasse pro passado e avisasse a mim mesmo sobre o que poderia acontecer com a minha outra eu do passado. "Não se envolve com ele, ele vai te machucar muito." Mas não havia como, nunca tem, eu sempre pensei que não iria passar por isso, grande parte de quem passa por isso são casadas. O pior é que já vi casos assim ao longo do tempo no consultório, mulheres que superavam a cena toda, davam um fim no casamento e no a***o, mas havia também as submissão do a***o, não só do físico, mas de todos que temos. Algumas pelo amor ou pela família, pela dependência e pela manipulação. Mas, de outro ponto acho que existe o outro lado da relação de ficar ou namoro. A grande questão na minha cabeça é dor por mim e talvez por quem já esteve no meu lugar. Quantas mulheres ou até meninas mais jovens não passaram por isso em um namoro ou até com um cara que apenas ficava. Me assustava pensar nisso agora. Eu ainda segurava a onda, mas o que acontecia com quem não conseguia? - Você consegue Grace, você já passou por coisa pior - Suspirei e me mexi para fora banheiro, já estava de noite e eu não sabia o que fazer naquele lugar. Eu devia ter ido pra casa e enfrentar a cena bagunçada que devia estar lá. Mas eu não fui. Parecia que agora eu não estava totalmente pronta pra isso. Não estava mesmo. Agora era como se eu tivesse com medo de voltar e não conseguir ficar lá, que tudo ficasse abafado. Isso doía mais que o inferno. Era minha casa. Minhas coisas. Minha vida. Parada. Monopolizada. Porém, mesmo que quisesse negar, aqui eu me sentia bem de alguma forma ou era apenas a sensação de segurança, mas a cada barulho eu me assustava e ficava sem reação nenhuma. Era sexta-feira a noite e eu não sabia nem o que fazer, dia de sexta era dia de fechar os portuários, mas não naquela sexta. Havia acabado de sair do hospital depois de dias. Eu não sabia o que fazer sem trabalhar. Eu gostava do meu trabalho. A psicologia me ajudava e fazia eu ajudar alguém. Era existencial eu estar fazendo algo, colocando algo pra eu fazer e escolhendo ficar focada em algo. Mas não agora. Entrei na cozinha do apartamento e puxei as coisas para um sanduíche, colocando tudo sobre a mesa. - Grace vai fazer o que? Comer, vai comer porque o que resta é a comida - Eu falava muito comigo mesma, minha cabeça foi sempre assim. Agitada. Turbulenta. Maluca. Inconstante. Falava comigo mesma, fazia pergunta e eu mesma respondia. Querem mais autonomia que isso? Impossível. Sorri com o pensamento enfadonho e puxei o prato, olhando para a geleia de morango e sentindo a boca encher de água, lembrando que eu havia perdido peso enquanto dormia. Barriga estava limpa e precisando reforçar as energias. Assim que puxei a colher eu escutei o barulho da porta da frente e fiquei parada, encarando a porta de entrada da cozinha, imaginando quando Leopoldo iria entrar e abalar tudo de novo, mas, um minuto se passou e eu não escutei nada. Aquilo me deixou incomodada. Puxei a faca pequena e fui caminhando pelo apartamento, parei na sala, não vi ninguém, mas eu havia ouvido o barulho da porta. Por um segundo só escutei minha respiração e mais uma atrás de mim. Meu corpo todo tremeu e eu fechei ou olhos, a faca pequena caiu e eu fiquei parada, com se esperasse só o pior acontecer. A neura estava em mim, era a maior observação no momento. - Ei, sou eu - Abri os olhos e me virei com tudo para olhar para Leopoldo, mas, mais uma vez eu tomei outro susto enorme, esse foi um susto de emoção e não de medo. - Você me assustou! - Respirei fundo. - Me desculpe se assustei você, não era minha intensão, não estou acostumado com pessoas perto de mim. Eu ergui a mão e coloquei na boca para evitar qualquer palavra minha, enquanto olhava para o cara parado com uma rosa na mão, erguendo a mão até mim. Estava com a camisa social preta justa e calça jeans escura, tinha o cabelo que ia até os ombros, cabelos castanhos bagunçado. Ele era tudo e muito mais. O rosto com um pouco de barba. Os olhos bonitos e a boca, lábios finos, mais delicados e fodidos que eu me lembrava. Leo era bonito, ele estava mais forte, ele era do tipo atlético e boa forma, que sempre estava de boa com a aparecia, o tipo de cara que iríamos virar o pescoço para olhar. O tipo que tinha um olhar doce e gentil, s****o e irônico quando queria. - O que está fazendo? - Suspirei fundo e me abaixei, pegando a faca e me afastando dele em tom de p******o. - Não me assusta assim, por favor Leo, não faz isso. - Pegue - Ele falou firme e deu um passo para frente, foi aí que eu notei o detalhe na mão dele novamente,. Uma flor. Uma rosa. - Anda, sempre que você estava comigo, na minha casa eu voltava e te trazia uma flor, você lembra, pegue, ficaria muito triste se não fizer isso, iria destroçar minha esperança, sem esperança o coração não bate amor, lembra? Ele sorriu. Leopoldo Saviani era um bendito homem com manias. Uma delas era me chamar de amor. Mas isso era quando estávamos juntos. O que não era o caso agora. Eu engoli o seco na minha garganta e ergui a mão, segurando a flor e trazendo ela para perto do rosto sentindo o perfume doce. Bom, ele ainda era bom nisso. - Obrigada - Aquilo era como dar esperança para ele. Era tão natural que eu nem conseguia parar de fazer, não conseguia falar ou fazer algo contra. Era instinto. Era educação também. - Disponha - Leopoldo era um cara muito diferente, porque, mesmo sendo um cara difícil, ele era peculiar. - O que iria fazer com essa faca? Me m***r? Sabe que precisa de bem mais que isso, querida - Ele me deu as costas e saiu em direção a cozinha. - Estou com fome, você já comeu alguma coisa? Caminhei atrás dele. - Estava fazendo e você chegou - Leo parou na mesa e olhou as coisas. - Você quer que eu faça um pra você? - Acho que sim, gosto disso - Ele foi até a geladeira e puxou uma cerveja, voltando a mesa e se sentando. - Abri o caso contra o cara que fez isso com você, nessas horas deve ser indiciado, ele é liso como sabonete, mas por pouco tempo. - Vão prender ele? - Até o julgamento talvez, consegui falar com a promotoria e vi a ficha dele agora a tarde, ele é bem podre Grace, parece um saco de bosta com pernas e braço, só que não tem passagem, só notificação, ele é protegido pelo pai. Devem levar ele quando o achar. Eu encarei ele. - Deve me achar uma i****a por ter ficado com um cara como ele. - Não - Ele suspirou fundo. - Qualquer mulher pode se envolvem com caras errados, Grace. Eu entreguei o sanduíche para ele, deslizando o prato até ele. - Amanhã vou dar andamento com as minhas coisas. - Pode ficar aqui por enquanto. Eu inciso nisso, se você for voltar pro seu apartamento eu vou junto. - Não, tenho meus pacientes. Tenho minha vida. - Sempre comprometida - Ele se levanta e pega a cerveja e o prato. - Fica aqui por uns dias, esse cara está solto, cuido de você agora até resolver, por favor. - Leo. - Sem pressão amor, você me conhece, esteve comigo antes - Ele deu a volta na mesa e parou ao meu lado, me virei e fiquei de frente para ele. - Lembra, sou o cara que você deixou por dois anos sozinho, você ainda fugiu de mim. Agora estamos aqui. - Tudo terminou Leo, não tem - Ele colocou a boca na minha bochecha e senti o beijo. - Shii - Ele se afasta. - Não fala isso pra mim amor, você me deixou, mas eu nunca deixei você. Foi a última coisa que ele falou antes de sumir pela porta e me deixar sozinha. Ele estava certo. Eu havia o deixado. Eu havia sido inconstante. Eu me lembrava quando sumi de Nova York e peguei um voo para Malibu, distante dele e do que ele poderia me fazer, nessa caso sofrer. Agora ele estava de volta, a culpa não era dele. Vou me lembrar de tirar o número dele dos meus números de emergências.
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