04 - Yara

1043 Words
Os dias como secretária de Marco eram tranquilos, ele jamais a recriminou quando cometeu erros, nem a expôs quando percebeu que ela não compreendia os termos utilizados pelos acionistas durante as reuniões, mas muitas vezes Ayla preferiu que ele gritasse, brigasse e a expusesse, ela sentia que estava sobre um muro de emoções, de um lado admirava o homem como se ele fosse um deus, de outro repudiava as suas ações. O viu sair acompanhado de Lia várias vezes, outras vezes recebia visitas que duravam horas a portas fechadas. Aquela tarde enquanto se preparava para almoçar teve certeza de que o pai tinha razão. Entrou na sala com o seu melhor sorriso, a menina ainda trazia o hábito de se vestir de forma modesta e comportada, não se via usando as roupas que as mulheres brasileiras usavam, mas tentava se apresentar de maneira elegante. Pegou o paletó do chefe e entrou na sala. - Trouxe o seu paletó, vamos almoçar? O senhor está trabalhando desde que chegou, deve estar com fome. - Obrigado, Ayla, mas hoje não posso acompanhá-la, tenho um compromisso, mas deixe o paletó e pode ir almoçar. A menina não queria comer sozinha, não via sentido em se sentar em um restaurante e comer sem companhia, saiu da sala se desculpando, mas levou consigo o paletó de Marco. Sentou-se na própria mesa com a peça nas mãos, a levou até o nariz e fechou os olhos. O toque do tecido era diferente de tudo o que conhecia era feito de linho, mas possuía uma estrutura firme que o deixava encorpado, mesmo fora do corpo. Ayla ficou um tempo pensando sobre qual compromisso o chefe teria naquele horário, mas a resposta chegou mais rápido do que ela previa. - Boa tarde, pode avisar ao Marco que cheguei, por favor? A mulher que se fazia anunciar tinha os olhos amendoados e a pele negr@ lhe concedia uma áurea nobre, os cabelos estavam presos em um coque alto e o vestido em tom de ferrugem parecia ter sido costurado especialmente para aquele corpo perfeito. Ayla tentou se comparar a visitante, não era possível que Marco a olhasse, agora sabia o porquê. - Perdão, a quem devo anunciar? - Yara, diga-lhe que não posso esperar por muito tempo, tenho uma reunião às 15h00. Yara era uma empresária do ramo de tecnologia, independente e cativante. Conheceu Marco em uma reunião em que apresentou um dos projetos que estava gerenciando ao Grupo Bianchi, daquela tarde em diante, Marco se encantou por Yara e ela não se opôs aos passeios e presentes que recebia. - Você é linda! Ayla só reproduziu o que pensou, não pretendia falar isso de forma aberta a mulher, mas acabou deixando os pensamentos controlarem a voz. Talvez pela energia vibrante de Yara, a menina se tornou ainda mais frágil. Ela era só uma refugiada, enquanto a executiva era inteligente, independente, bem-sucedida e extravagantemente bonita. - Obrigada, menina, você também é muito bonita, Marco me disse que é israelense, sei das dificuldades do seu país e saiba que temos muito em comum, também venho de um lugar em constante guerra, mas esse país me acolheu e me deu a oportunidade de ser quem sou, tenho certeza de que também encontrará o seu lugar. A simpatia de Yara deixava impossível que a inveja de Ayla se tornasse raiva, era como admirar a beleza de um pôr-do-sol e não se apaixonar. - Falarei com o senhor, Marco, desculpe tomar o seu tempo. Ayla entrou na sala e percebeu a empolgação do chefe assim que ouviu o nome da executiva. O vice-presidente largou os papeis que estava analisando, fechou o computador e seguiu para fora da sala com pressa. - Yara! Está deslumbrante, como sempre! Ele enlaçou-a pela cintura logo após beijar a sua mão e partiu deixando a secretária com os olhos fixos na porta do elevador. Lia estava enfurecida, o rosto vermelho denunciava a insatisfação da secretária sênior. - Posso saber o porquê você ficou babando para aquela mulher? - Lia eu apenas fiz o meu trabalho, precisava anunciar ao senhor Marco que ele tinha visitas. - Não faz parte do seu trabalho elogiar aquela vagabunda. - Apenas falei a verdade, ela é linda e não pode negar isso. Lia estava com ciúme, costumava sair com Marco, mas sabia que assim como ela, outras mulheres também tinham a atenção do empresário. O homem nunca tinha lhe prometido nada e sempre foi muito profissional, ele costumava dizer que era um acordo mútuo de diversão, caso ficasse desfavorável para uma das partes, poderia ser reincidido sem prejuízo da profissão de ambos, mas Lia estava apaixonada e isso ficava mais evidente quando Marco começava a se relacionar com alguém. No restaurante, Marco estava ansioso, tinha convidado Yara para aquele lugar, pois queria mudar o status do que estavam fazendo. Yara tinha tudo o que ele esperava para uma mulher, desde que a conheceu tinha aprendido a admirá-la e a beleza da mulher encantava a todos. - Diga, Marco, tenho uma reunião, aceitei vir até você porque insistiu, mas realmente se está pensando em estender o passeio, precisaremos remarcar. O empresário puxou uma pulseira feita em prata e com pequenas gotas de esmeraldas. - Quero saber se aceita ser minha namorada. A mulher olhou para Marco e em seguida para a pulseira, ainda duvidando do que estava acontecendo. - Marco, achei que isso estivesse resolvido, você me propôs que seriamos parceiros de negócios e amigos, adoro os seus beijos e você é uma excelente companhia, mas só isso. Não tenho tempo para relacionamentos, cobranças compromissos. E se tivesse, não seria com você, é um homem bonito, mas não é fiel, o dia em que escolher alguém será alguém que pode oferecer-me mais do que sexo, desculpe, mas guarde o seu presente, hoje terei que recusar. Yara levantou-se antes de fazer o pedido, o ruído do salto denunciava que estava convicta da sua resposta e Marco não se levantou, era a primeira vez que pensava em uma mulher com seriedade, mas tinha recebido a mesma resposta que deu várias vezes a tantas garotas que se apaixonaram por ele. Guardou a pulseira no bolso e almoçou sozinho, ainda tinha o ego ferido pelo que passou, mas não se deixaria abater.
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