07 - A viagem

1147 Words
Ayla passou o dia na sala de Marco, não falou o que tinha acontecido, não podia, mas também não sabia como agir, tentou focar nas demandas que o empresário lhe passava, mas diversas vezes se perdia em pensamentos, mas em nenhum momento foi repreendida, o homem sabia que a garota estava com problemas, mas não a forçaria a falar, precisava conquistar a confiança de Ayla antes de tentar se colocar como amigo, então cancelou um encontro que teria com Lia e saiu para almoçar com a israelense. Se fosse honesto consigo mesmo teria admitido que estava cancelando com a secretária porque apreciava mais a companhia de Ayla do que os benefícios que a sênior podia oferecer, mas mentiu para si mesmo dizendo que estava fazendo isso para ajudar a refugiada. Estavam no restaurante da empresa quando o chefe chegou, Ivan tinha uma expressão preocupada e a postura denunciava a predisposição para luta. - Marco, preciso que venham comigo, Ayla também vem. - Calma aí, ir para onde, tenho trabalho a fazer, do que está falando? Não vou deixar a minha vida aqui e ir para algum lugar com você, não sem um bom motivo. - Depois que conversamos sobre os passos de Joseph, passei a acompanhar as ações do meu irmão e ele tem feito buscas sobre você, há pessoas acompanhando os seus trajetos, sabem de todos os seus passos, estamos sem tempo, estou apenas tentando mantê-los seguros, vou resolver essa questão e poderá voltar a sua vida, tem a minha palavra, mas por enquanto, preciso que se levante e venha comigo. Marco compreendeu a urgência do amigo, mas ainda não conseguia entender o que Ayla tinha a ver com a situação, sempre soube que representar Ivan no Grupo o colocaria em foco e isso poderia resultar na conquista de alguns inimigos, mas a menina era só uma secretária e não estava ligada a nenhum assunto da empresa. - Mas a menina, por quê? Deixe-a fora desses assuntos Ivan, por favor, é só uma criança. - Joseph me conhece, Marco, sabe que se eu a trouxe, ela é um meio de chegar a mim, não posso ficar, então a levaremos. Estavam falando em português, achavam que isso deixaria Ayla de fora do conteúdo, mas quando Marco se colocou para traduzir, a garota respondeu. - Não precisa traduzir, entendi que faremos uma viagem e confio no senhor Ivan, ele não faria a proposta se não fosse necessário. A menina associou a visita de Stella imediatamente ao que estava acontecendo e decidiu que iria omitir qualquer informação em relação a Ivan ou ao local que iriam, não seria difícil fazer a mulher acreditar que ela era ingênua, afinal era o que todos naturalmente já pensavam a seu respeito. Embarcaram em um helicóptero que estava pousado no heliponto do conglomerado empresarial, Ayla pensou que pareciam estar em um filme, nunca tinha sequer visto uma aeronave daquele tipo e agora estaria em uma. Marco reparou nos olhos arregalados de Ayla e a incentivou. - É uma das maneiras mais segura de se viajar, em um carro não podemos ter certeza de que todos os motoristas que estão na rodovia são habilitados, aqui, temos certeza de que todos os pilotos passaram por anos de treinamentos antes de serem considerados aptos para pilotar. Ayla não se convenceu, ainda pensava que em um carro nem todos os acidentes levavam a morte, aliás a minoria deles culminava com a morte dos envolvidos, já em uma aeronave as chances de escapar com vida eram mínimas. - Tudo bem, eu não estou com medo. Mas o tremor nas mãos e a palidez no rosto deixavam claro que não era verdade. Marco foi o primeiro a embarcar e pegou Ayla com facilidade, mas o vice-presidente não gostou daquela i********e, ao embarcar falou em italiano com o amigo, era uma língua que com certeza Ayla ainda não tinha fluência então conseguiriam manter a discrição que ele desejava. - È una bambina e tu sei sposato. Scusa, ma ricordo che mi criticavi, adesso fai molto peggio, giochi con i sentimenti di una persona così fragile, almeno sono onesto con le donne con cui esco. É uma menina ainda e você um homem casado, desculpe, mas lembro que criticava meu jeito, mas faz muito pior. Como pode brincar com os sentimentos de alguém tão frágil, pelo menos sou honesto com as mulheres que saio. -Di cosa stai parlando, Marco? Sei pazzo? Do que está falando, Marco? Está louco? - La ragazza passato la giornata a piangere, Ivan. Immagino che tu sappia il perché. A menina passou o dia chorando, Ivan. Creio que saiba o porquê. - No, Non so il motivo, e sono sposato, non esco con la ragazza. - Não, eu não sei o motivo, sou casado e não tenho nada com a garota. A discussão teria continuado se Pezão, piloto do helicóptero não tivesse decolado. Ayla se agarrou a Marco instintivamente e ele a abraçou. A menina estava com os olhos tão fechados que quase doíam, mas quando se acalmou e percebeu onde estava, apenas se deixou permanecer. O homem a segurava em seus braços com tanta ternura que Ayla se deixou envolver nas sensações e esqueceu completamente o pânico que sentia antes. Ivan aproveitou para provocar o amigo. - Non è il mio abbraccio che vuole. Não é o meu abraço que ela quer. Marco não viu necessidade de responder, queria que Ayla ficasse confortável e não interromperia isso conversar com Ivan. O barulho exigiria que ele gritasse e aquela discussão não valia o risco de que a menina se afastasse. A viagem foi tranquila, mas Marco sentia o corpo em ebulição, tentava pensar em outras coisas, sabia que Ayla era jovem demais e ainda tinha o fato de que com a beleza exótica da garota, ela receberia milhões de pretendentes, Marco não queria arriscar se envolver com alguém sem maturidade e que o traísse. Ele sempre fugiu de um relacionamento porque era mais simples saber que vivia uma brincadeira sem consequências, assim era impossível se machucar. Tinha passado a infância vendo a mãe chorar pelas traições do pai e quando ela resolveu ir embora, o pai tinha cometido suicídio. Sabia que o amor era uma das dores mais latentes. Acreditava que esse era o castigo de Deus pelo pecado original, os seres humanos são os únicos animais capazes de amar mais o outro do que a si mesmo. E esse amor, levava homens e mulheres a loucura todos os dias. Não se deixaria envolver, sabia que mais cedo ou mais tarde precisaria casar-se, mas seria um acordo de cumplicidade e parceria, não seria por amor. Contratos tendem a dar mais certo quando não tem nenhum tipo de envolvimento emocional. Mas ainda assim, aquele perfume e o corpo de Ayla junto ao seu o faziam desejar que o tempo parasse e que aquela viagem durasse a eternidade.
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