Princípio de confusão

2133 Words
Todo o misto de o*****o e entusiasmo que existia para o encontro casual dos dois amantes, se perdeu em acusações e questionamentos. — Porque fez isso cara? — questionou Samantha. — Eu só brinquei! — explicou Roberto. — Brincou? Caraca, velho! — respondeu empurrando-o. — É uma brincadeira cara, não tem porque se irritar. — explicou. — Roberto? Eu venho aqui só pra esquecer dos problemas que o meu marido me trás e você me dá uma dessas? Pelo amor de Deus hem! — ela se estressou levantando da cama como um furacão. Roberto sentiu as palavras de nossa protagonista, não sabia que isso tudo era realmente importante pra ela. — Eu... Eu... — ela interrompeu. — Eu o que? Para, não tem palavras para o que você fez cara, quebrou o nosso acordo pô! — advertiu de braços abertos. — Cara? — CARA? — questionou Samantha. — Eu só errei uma vez, não há porque ter esse estresse todo! — repetiu o gesto dela. Samantha, irritada e visivelmente alterada, passou a mão nas poucas coisas que tinha levado ao encontro. — Vamos embora, AMOR. — reclamou ela. — Está saindo do papel da personagem, hem! — brincou ele sorrindo. Ela virou pra trás e o encarou de maneira séria. — Que se f... — não preciso dizer o que ela gritou aos quatro cantos, certo? Pois bem, a dupla saiu do hotel separados e em caminhos diferentes, cada um pediu um Uber. Estavam cansados do dia que passaram e entristecidos pela noite que arrumaram. Roberto passou e ficou em seu trabalho, era dono de um grande escritório de contabilidade e sempre usava-o nestes dias específicos para trocar de roupa. Samantha, como bem sabemos, parou naquele hotel de mais cedo, a fim de pegar suas coisas e retornar para a tristeza de sua casa. — Mas que inferno! Ele tinha que soltar uma piadinha dessas? Eu esperei o mês todo pra isso? PRA ISSO? — esbravejou enquanto arrumava as coisas. Nossa audaz personagem "se desmontava" no mesmo ritmo que se irritava. — Que inferno. Inferno. INFERNO! Samantha estava aborrecida demais, o Uber que a esperava, levou nossa protagonista de volta à casa. Lá, seu marido, encontrava-se dormindo no sofá com o jogo do Flamengo ao fundo. Sua mãe, Dona Marta, lhe recebeu de braços abertos. — Está cheirosa minha filha! — desconfiou. — Foi por conta de uma reunião que tive, nada de especial. — desconversou. — Hmm, tá. "Nossa, não percebi isso. Vim tão apressada que dei este deslize". — pensou ela. — Filha? — Oi? — seu coração tremeu. — E essa maquiagem? Foi por conta da reunião também? Samantha passou a mão no rosto até os cabelos, deslizando para a nuca de onde se espreguiçou. — E esse porco aí no sofá? O que fez o dia todo? — respondeu desconversando. — Ele passou o dia em casa, mas saiu e chegou agora a pouco também. — respondeu Marta desconfiando de algo. — Assim que voltou da rua, colocou a janta e parou pra assistir o jogo. — Agora é o jogo que assiste ele. — brincou Samantha. Sua filha se retirou aos seus aposentos indignada com a noite que se encerrava. Pelo menos pra ela, porque à noite carioca é uma criança! Como todo mundo sabe, viajar é também uma ótima desculpa para deixar de lado a ideia de que só se pode aproveitar as noites nos fins de semana e curtir todos os dias com uma saidinha noturna. Seja para festas, saídas para assistir jogos de futebol, um bom jantar ou apenas uma caminhada sob as estrelas. O importante mesmo é que no Rio de Janeiro, não existe dia certo para curtir. Se você está no Rio de Janeiro isto não é novidade alguma, pois existem milhares de opções para terminar seu dia com um sorriso no rosto e uma noite para guardar na memória. Até o próprio Papa que ninguém no mundo consegue curtir tanto quanto um brasileiro, principalmente um carioca. Agora, em pleno dia de semana, existe um lugar conhecido por todas as pessoas que querem sambar muito! Duas das mais tradicionais e históricas rodas de samba da cidade acontecem durante a semana. Os criadores captaram a verdadeira essência do "Monday Feelings¹" de ser. Tenho um verdadeiro pesar em meu peito e lamento muito por você que tem que trabalhar até tarde, pois o Rio de Janeiro simplesmente não foi feito pra isso. Se você está de bobeira, passeando pela cidade, existem inúmeras coisas para se fazer. Mas deixemos a empolgação um pouco de lado e caminhemos até um lugar histórico, um dos primeiros mercados de escravos da cidade, de onde curiosamente, se fortaleceu a cultura africana no Brasil. Neste lugar, existiam inúmeras casas de Candomblé, com o passar do tempo os tambores deram lugar aos pandeiros e a junção de ritmos deu origem ao samba. A famosíssima Pedra do Sal é tão simbólica que muitos sambistas renomados se mudaram pra cá, como Pixinguinha, Donga, João da Baiana. Os paredões são cercados de artes que narram a luta do n***o ao chegar no Brasil. Não é novidade alguma que hoje em dia, existem rodas de samba de segunda e sexta-feira, a partir das 18 horas. Se quer curtir, sugiro muito que cheguem cedo, porque a pedra vira uma verdadeira arquibancada, que canta e bate na palma da mão enquanto os sambistas se apresentam na pracinha. A Pedra do Sal fica no Largo da Prainha, bem próximo da Praça Mauá e do Museu do Amanhã. Um último aviso é sobre o clima, pois se o tempo estiver fechado, chovendo, nem venha, porque o lugar é totalmente aberto e a festa é cancelada nesses dias, experiência própria, de quem saiu bem frustrado. No caso, nosso próximo casal. — Vixx. — pronunciou Castanhari, desacreditado. — O que foi? — questionou Valentim. — Vai começar a chuva. Castanhari encarou o céu com frustração. — Como vamos curtir agora? Logo no dia da despedida da Laura cara! — Calma meu jovem, vamos fazer uma resenha numa das casas do meu pai. Ela fica aqui por perto, que tal? — Como vamos juntar todos? Teremos que remarcar, que d***a. — reclamou. — CALMA MEU JOVEM! — respondeu Castanhari batendo com a palma da mão aberta na nuca de Valentim. Castanhari imediatamente reuniu o povo que estava por ali, os amigos dos dois e de Laura. Ligou para uns conhecidos que faziam transporte e arrumou três vans para levar os convidados até a casa que havia mencionado. "Deve ser bom ter um pai que tem dinheiro". — pensou Valentim encarando Castanhari. Nosso protagonista puxou o celular e rapidamente mandou mensagem pra Laura, avisando sobre a mudança repentina dos planos. "Preciso avisar antes que a bateria acabe". — pensou. Castanhari sabia que Valentim estava enviando mensagem para sua amanda amiga. Dá pra sentir o sorriso e a paixão de Valentim quando fala dela ou pensa sobre. "Deve ser bom ter um amor como o deles". — pensou Castanhari encarando Valentim. O pessoal lotou as vans. E Castanhari, invejo, fez um pedido. — Porque não fica e espera? É que se eu pedir outra van só pra você e a Laura, fica caro, sabe? Já estamos lotados. — Tudo bem, eu entendo. — respondeu Valentim. — Deixa que eu aviso a Laura, pode ser? Valentim afirmou com a cabeça. Uma pena ele não ter maldado, mas o plano de nesso vilão, era separá-los desde o início. Valentim não era muito bobo, mas amigo demais. Não sentia maldade em Castanhari, tão pouco a audácia de Renata, mas esta apresentarei depois. Nosso protagonista, cego de amores, encarava a foto de Laura em seu papel de parede, completamente despreocupado com o fato dele estar descarregando. Como já mencionei antes, Laura é filha de Samantha e estava à caminho da resenha, mas o destino, engraçado, ousou se opôr a isso. A bateria do celular de Valentim acabou. Laura, preocupada, mandou mensagem para Castanhari, pois ele e Valentim, pois dois são unha e carne. Acontece que nosso perverso personagem avisou que Valentim estava ali com eles e que o local da resenha mudou, não era mais a Pedra do Sal, tão pouco o endereço que Valentim enviou. Laura decidiu ligar para Castanhari. — Alô? — Pode falar Madame! — O que houve? — Nada demais, nós mudamos o endereço para um lugar mais espaçoso, mas fique tranquila, todos estão aqui. — Tudo bem, mas vou demorar, irei parar da Central do Brasil, pois estava indo de ônibus. — Relaxa, peço um Uber pra você! — Ok, obrigado. Mas tem como eu falar com o Valentim? Castanhari se irritou. — Ele foi comprar gelo, fica tranquila, estou pedindo um Uber pra cá, chegará na Central do Brasil em segundos, logo te passo o nome do motorista e a localização, beleza? — Obrigado... Laura estava hesitante, mas Valentim estava lá, não poderia deixar de ir, certo? Laura era a garota mais linda do mundo aos olhos de Valentim. Seus cabelos crespos e volumosos reforçavam os traços do rosto da garota. Havia cerca de seis meses que ela adotara um blackpower e, para Valentim, algo impossível tinha acontecido, Laura ficara ainda mais linda. Valentim, era o príncipe dos sonhos de Laura. Ela sonhava com ele numa frequência assustadora. Adorava as sardas no rosto do amigo e os seus lindos olhos azuis, assim como os cabelos loiros como maravilhosos fios de ouro. Laura era uma morena de parar o trânsito. A cor da sua pele não era azeitona, dourada ou marrom, era um tom moreno que reluzia a seda pura, o que sempre deixava Valentim louco para tocá-la. Ela tinha dentes alvíssimos e perfeitamente alinhados, seu sorriso revirava o estômago do amigo e o fazia sempre desejar vê-la sorrir. Valentim era o imperador dos pensamentos de Laura. O tom dourado dos seus cabelos perfeitos reforçavam os traços divinos de seu rosto lindo. A algum tempo ele havia entrado numa academia e, para Laura, algo impossível tinha acontecido, Valentim estava ainda mais atraente. Os dois eram como ímãs, o casal de amigos foi aproximando-se e, os poucos centímetros que os separavam, logo deixaram de existir. Eles podiam ouvir os seus corações a trepidar. As mãos tremiam e uma corrente de ar pairava sobre suas cabeças. Infelizmente, a trama criada encima da hora por Castanhari estava fazendo efeito. Todo carioca sabe que quando chove, fica impossível de andar de carro. Como Laura estava para pegar o Uber e a chuva ainda não tinha caído, mas quanto ao pobre do Valentim, certamente só iria saber o que aconteceu, quando a chuva começasse a cair. E mesmo que soubesse, Castanhari já havia mudado o local pela segunda vez. — Laura? — perguntou o motorista do Uber. — Sim! E lá se foi a nossa protagonista em direção ao encontro com seu vilão. Tudo estava caminhando na direção certa, pois bem em tempo da chuva cair, Laura já estava na metade do caminho. Valentim, pelo contrário, de nada sabia e nada desconfiava. Ele simplesmente viu que o lugar estava fechando e foi para um ponto de ônibus contar as poucas moedas que tinha. — Se a Laura chegar aqui, uso meu cartão de crédito e passo no Uber. — disse. Mas vários minutos se passaram e ele estava apreensivo. "O que será que aconteceu?" — pensou enquanto admirava o céu nublado. Infelizmente, Castanhari não é o Senhor do Tempo tão pouco é o Deus do Destino, pois quis esta entidade superior que Renata, a personagem que mencionei antes e que tem um tombo por Valentim, estar no Uber que parou bem enfrente o ponto de ônibus que ele estava. — Valentim? — Renata! — Tá fazendo o que aqui cara? Não vai pra resenha? — Resenha? Não era a despedida da Laura? — Agora é uma resenha ué. Renata mostrou o grupo do w******p que Castanhari criou exclusivamente para esta finalidade. Valentim ficou sem entender nada. — Até o endereço mudou. — comentou. — Uhum, foi encima da hora, ele me enviou outro, por isso estou de Uber. Porque não vai comigo? Hem? É lógico que Valentim sabia que Laura não ia muito com a cara de Renata, mas ele não poderia perder a oportunidade. E falando em oportunidade, Renata também não poderia perder a sua e tratou de se sentar com ele na parte de trás do carro. — Como estou? — perguntou enquanto passava um batom. — Linda como sempre. — respondeu. Renata era uma daquelas ruivas que poderiam ter tudo na vida. Rosto bonito, cabelo arrumado, maquiagem em dia, corpo escultural, olhar penetrante e tatuagem nas costas. Renata tem todas as qualidades de alguém que certamente não presta. E foi assim que as peças estavam armadas e o princípio de toda a confusão deste núcleo, começava!
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