Descobertas Pessoais

2217 Words
Não foi nenhuma surpresa encontrar com Alexander no meu sonho. Eu já me acostumei a sua presença. No entanto, esse encontro era diferente de qualquer outro que tivemos. Estávamos num amplo terreno campal; o chão lamacento e gramado verde, possuía muitas arvores e arbustos. Contemplando o céu impecavelmente azul, sem sinal de nuvens não parecia que estava sonhando. Eu estava vestindo uma roupa leve; uma regata branca e um short que dava na metade da minha coxa. Enquanto, Alexander usava uma camiseta branca de linho e a calça do mesmo tecido. Dava para ver com clareza o peito perfeitamente esculpido pelo fino tecido. Na verdade, reparando melhor em Alexander pude perceber o quão realmente bonito ele é. Seus cabelos loiros e curtos contrastando com a pele branca, não era uma palidez mórbida — como no meu caso —, mas uma cor saudável e sutilmente rosada. Os olhos púrpura eram cheios de confiança, gentileza e nobreza. Eles eram do tipo que nos encaravam de frente sem abalar, intenso e penetrante. Alexander era alto; poderia considerar como sendo o mesmo tamanho de Dante. O físico era atlético e imponente, tanto que sua presença era altiva. Estreitei os olhos em cautela. — Alexander o que esta acontecendo? — questionei, meu olhar percorreu por todo terreno. — A partir de agora, eu te treinarei — ele disse controlado. Arregalei os olhos em incredulidade. Alexander mantinha-se numa postura rígida e compenetrada. — Isso não é um sonho? — indaguei, cuidadosa. — É um pouco estranho isso! — Depende de que ângulo se vê! — replicou, enigmático. — Bem, isso é uma espécie de contato espiritual ou simplesmente campo astral. Demorou um pouco para que eu entendesse o que Alexander dizia. O fato de ter que treinar era um pouco intrigante, mas eu percebi que era o melhor a se fazer. Alexander estudou minha expressão por um breve segundo, engoli em seco pelo contato visual. Ele passou a mão pelos sedosos cabelos louros e fez sinal para que eu me aproximasse. Minha determinação oscilava e meus passos eram lentos e cheios de receio. — Não precisa ter medo, Diva — ele murmurou gentilmente, sua voz era aveludada. Respirei fundo e prossegui, ficando de frente a Alexander. Naquela distancia, ele parecia bastante intimidador. — Sei que esta estranhando essa vontade súbita de treina-la — ele rodeou-me, esfregando levemente o queixo. — Mas você precisa saber utilizar suas habilidades, principalmente às psíquicas e espirituais. Fiquei atenta em cada palavra que a doce e suave voz de Alexander dizia, algumas coisas me pareceram absurdas e confusas. Eu tinha uma vaga noção dos meus poderes, porém o pouco que sabia não era realmente nem metade do que era. Em meio, aquelas explicações, Alexander não chegava a mencionar o que eu era — se bem, que eu nem fiz questão de perguntar. — Assim como seu físico precisa de treinamento, seu espírito também. Ambos precisam estar saudáveis e em perfeita sincronia. Assenti, ele prosseguiu: — Treinaremos primeiro a energia e o que pode fazer com ela. — O que devo fazer? — perguntei, atenta. — Estenda as mãos e libere o máximo de energia nelas, mas... — ele parou, pensativo. — tem que contê-la numa esfera. Analisei o que deveria ser feito, aparentemente parecia ser bem simples. Estendi as mão e concentrei-me, fechando meus olhos. Uma leve sensação de ardor passou do meu peito para meus braços, até finalmente chegar à ponta dos meus dedos. Pensei em uma esfera, a primeira coisa que veio a mente fora uma bexiga cheia de água. A energia canalizada era instável, como se quisesse vazar e se derramar por ente meus dedos. Eu tinha que manter aquele poder firme. No entanto, agir era menos simples que pensar. Lentamente abri meus olhos, observei a estranha massa de energia que corria; uma esfera dourada que girava rapidamente em espirais. Alexander deu um sorriso aprovador com meu avanço em tão pouco tempo. — Agora, Diva faça essa energia adquirir uma forma mais manipulável; como um arco e flecha, por exemplo! — pediu, ele imitou meus movimentos de canalização só que mais significativamente mais velozes e precisos. A esfera de energia dele era branca e cintilante. Num movimento ágil de mãos, ele criou um arco e flecha e a atirou. A flecha rasgou ao meio a arvore que atingiu e explodiu, causando um bom estrago. Por um momento, senti-me amedrontada e envergonhada, mas Alexander afagou delicadamente meu ombro, tranquilizando-me. Expandi a energia convertendo-a numa outra figura até que formasse um arco e flecha. Fiquei feliz por ter conseguido tal proeza, apesar disso, ainda tinha que manter a forma e não deixar que a energia acumulada se desmanchasse. Atirei a flecha. Ela não teve o mesmo efeito da que Alexander fizera, na arvore que eu usei como alvo ficou apenas um buraco. — Muito bem, Diva! — Alexander me parabenizou. — Não muito! — disse eu, desanimada. — Não foi nem de longe tão boa quanto a sua. — Na verdade, foi muito melhor. Demorei meses apenas para concentrar minha energia e outros para cria forma. — explicou sorrindo abertamente. — Claro, que aprender sozinho foi muito mais difícil. — Não existe ninguém mais como nós? Alexander negou. — Foram todos exterminados. Você é a ultima ainda viva. — Então agora que estamos aqui poderia me explicar um pouco toda essa historia — pedi. — Seria uma longa historia e daqui a pouco você acordara. Eu tinha plena certeza de que Alexander escondia algo. Embora soubesse disso, ainda confiava cegamente nele. Afinal de contas, somos unidos pelos mesmos poderes, afinal. — Me diga pelo menos o que sou. — Você, Diva é uma Peregrina, ou no caso, a ultima Unchant de todas as dimensões existentes. Assim como eu, você portadora do poder dimensional do antigo clã no qual descendemos. Ofeguei em choque. Nunca pensei em algo assim em toda minha vida. Todo esse tempo vivia como uma garota normal. Contudo, eu estava muito longe de ser uma garota realmente normal. — Mas... Porque só eu? Quer dizer, tenho irmãos e apenas eu tenho esse poder? — perguntei atônita. — O fato de ter pessoas com o mesmo sangue que o seu, não os torna Unchant. É algo que nasce conosco. — informou, serio. — Eu nasci de pais humanos como você, entendo que se sinta diferente. Tentei assimilar todas as novas informações. Parecia surreal demais para acreditar. Apesar disso, finalmente sabia o que era e sobre esses poderes, e que na verdade não os tinha adquirido e sim, nasceram comigo. Minha vida e quem eu era, fazia parte de algo muito maior que imaginava. — Unchant — repeti para mim mesma. A palavra soava familiar enquanto eu a pronunciava. — Alexander, somos... Hã... Digamos... Parentes? Alexander olhou-me com uma expressão indecifrável, deixando—me tensa e deu uma risadinha charmosa. — Não, mas se ainda estivesse vivo seriamos, como... — ele deu uma pausa, seus olhos fixos em mim. Ele pareceu estar refletindo e estudando minha reação desentendida. — um "casal", sendo os últimos do clã teríamos que restabelecê-lo. Engasguei. O calor subindo para meu rosto. E vendo como Alexander ficou ao olhar minha reação, eu deveria estar vermelha feito um pimentão. Alexander riu, fazendo com que ficasse ainda mais acanhada e desconfortável. — Não se preocupe Diva. Eu nunca te obrigaria a ter alguma relação comigo. — afirmou. — Mas adoraria corteja-la! Alexander pegou minha mão e depositou um beijou ali. A textura dos lábios dele contra minha pele, me fez estremecer. Daquele jeito, ele parecia um lindo príncipe. — É isso por hora. Agora minha querida, Acorde! Depois das palavras de Alexander, tudo escureceu. Naquela manha, acordei relaxada e notei que o espaço ao meu lado estava vazio. Rolei na cama absorvendo o cheiro de Dante impregnado nos tecidos. Relutante, levantei e fui fazer minha higiene matinal. Assim que terminei o ritual de banho e troca de roupa — que eu tinha encontrado com um bilhete de Maya —, penteei meu cabelo, desembaraçando-o. Olhei para meu reflexo no espelho acima da cômoda, e nele mostro a imagem de uma garota com um sorriso secreto. Meus cabelos estavam mais brilhantes como nunca estiveram antes; chegando a tremeluzir, meus olhos castanhos tinham um brilho incomum e minha pele desbocada num tom rosa e suave vermelho, enquanto meus lábios cheios e rosados que outrora possuíam uma cor meio morta. Minha silhueta mudara também, percebi que havia emagrecido desde a ultima vez que me olhara no espelho — não tenho costume de me olhar em espelhos. Eu não apenas parecia saudável. Simplesmente me sentia saudável. Por um momento, enchi minha mente de pensamentos como; O quão linda eu estava. Balancei a cabeça e sai. Encontrei Eryna lendo e Maya olhando algo pela janela. — Ah, bom dia! — cumprimentei assim que entrei no local. — Onde Dante esta? — Bom dia, Diva — elas responderam uníssono. — Ele saiu sem dizer aonde foi. — Maya respondeu. — Alias, você esta linda! Não pude deixar de sorrir. — Obrigada Maya. — Eryna você disse que queria fala comigo. Então, quer conversar agora? — Sim, se não for incômodo para você — ela ajeitou o livro na prateleira, ela moveu—se em minha direção. Sentei na cadeira mais próxima que encontrei. — É sobre quem é e as suas origens. — Esta falando sobre os Unchants? — Então você sabe, assim será mais fácil! — ela falou, pegando o livro grosso em cima da mesa, o mesmo que eu e Dante tínhamos pegado na biblioteca antes da sua total destruição. — Bem, não sei se o que dizia nesse livro é de fato concreto e verdadeiro, mas segundo ele: os Unchants eram um clã que protegia seus respectivos mundos, mantendo-o livres de seres malignos. Eles podiam vagar livremente por outras dimensões e era um poder bastante cobiçado por outros seres. Eles passaram anos se escondendo do mundo, até que aconteceu a rebelião demoníaca, demônios querendo dominar o mundo humano, foi então que Sparda apareceu para lutar pelos humanos, contudo, diferente do que muitos acreditam, ele não lutou sozinho; uma Unchant lutou ao lado dele e seu nome era Arya, ela admirou o empenho de Sparda em ajudar os humanos e ficar contra sua própria raça. Juntos conseguiram por um fim a batalha, mas com muitos sacrifícios. Dentre eles, muitos Unchants. Antes de se unir aos humanos, Arya sabia que o amuleto perfeito era algo com grande poder maligno que permitia a vinda de demônios para o reino humano, ela amava demais os humanos para permitir que uma perigosa joia fosse parar em péssimas mãos, — Arya parecia ser uma mulher bastante nobre, pensei. — Ela abençoou a joia e Sparda a usou para selar o mundo demoníaco, ao mesmo tempo, usou para selar seus próprios poderes Unchant, assim manteria a energia sombria e a luz equilibradas. Essa parte você já deve conhecer. — Eu sabia bastante coisa sobre o Sparda e seu relacionamento com Eva. E tudo apenas nos jogos. Ouvindo aquilo que Eryna explicava minha concepção da historia aumentou. Então o amuleto perfeito não era apenas a chave para destrancar o mundo demoníaco, também possuía o poder de uma Unchant. — O destino de Arya é incerto. Dizem que ela viveu entre os humanos até sua morte. — Eryna suspirou. — Bem, os Unchants viveram pacificamente entre os mundos e com os humanos. No entanto, por algo ou alguém que não é mencionado, o clã fora exterminado completamente. O ultimo Unchant mencionado na historia foi; Alexander Lockhard. Ele era considerado um verdadeiro gênio e um dos mais poderosos seres que existiam... Dante chegou repentinamente, desviando nossa atenção. Percebendo que interrompera algo, parou e sentou-se numa cadeira próxima a minha. Eryna balançou a cabeça em desgosto e desaprovação. —... Ele morreu muito jovem, aos vinte cinco. Após sua morte, não houve nenhum outro registro. Até hoje. — concluiu, direcionando a cabeça para mim. Deixei escapar um suspiro cansado. Lembrei-me do rosto de Alexander. Agora eu o entendia melhor. — Nossa, muita informação... — foi à única coisa que consegui dizer. — Perdi alguma coisa? — Dante perguntou, quebrando a tensão. Sorri para ele, negando. — Apenas o de sempre, Dante. — Que bom, não gosto de agir sem saber como é terreno alheio. — disse em desdém, soando até sarcástico. Revirei os olhos. Dante não era o que eu poderia considerar um exemplo de reflexão. Ele sempre foi do tipo que agia antes de pensar muito. Dentre nós dois seria; Eu a diplomacia — ter que lutar nunca fora minha especialidade —, Dante a ação. Confesso que essa parte dele realmente era excitante. Agora que todas as cartas estavam na mesa, teria que decidir o que fazer. Com tantas batalhas que estão por vir, decidi que o melhor a se fazer era treinar para não ser um peso morto e ficar dependendo da segurança que Dante me dava para tudo. Eu queria ser forte e provar o meu valor. Ser a heroína e não a mocinha a ser salva. Olhei para Dante, enchendo-me de coragem. Levantei abruptamente da cadeira, deixando-a cair atrás de mim. Despertando tanto Eryna e Dante, que agora voltavam suas atenções para mim. Dei um ultimato: — Dante, quero que você me treine.
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