Cada um joga com o que tem

2362 Words
Eu estava dando um novo passo na minha vida. Muitas verdades foram se desenrolando, a ponto de duvidar de tudo. Entretanto, via uma nova possibilidade. Agora tinha um dever e um peso em mãos. Serei a heroína e não a mocinha indefesa. Serei melhor Unchant que Arya fora um dia. Dante ficou me encarando para buscar algum indicio de brincadeira no que dissera. Como de eu fosse boba de fazer tanto alarde por uma brincadeira, seria “pegadinha do malandro” (Essa parte Dante não entenderia). Eu estava plenamente certa naquilo que queria e não voltaria atrás. Independente de quanto tempo passaria nesse mundo, tinha que ser forte para poder proteger a mim e todos que precisarem. A pessoa certa para me ajudar nessa questão é o ser mais poderoso desse mundo — isto é uma opinião totalmente imparcial —, era Dante, ele tinha poder, destreza e agilidade — e o sarcasmo — tudo que era necessário para meu treinamento. Cerrei os punhos com firmeza enquanto a ansiedade pulsando por minhas veias — a grande expectativa por algo ainda não aconteceu. A saliva descia ardente pela minha garganta, formando um bolo que custava a diminuir. Respirei fundo para me acalmar. Dante ainda me encarava num misto de confusão, excitação, contentação e... Satisfação. Ele abriu um sorriso e levantou da cadeira. — Não vejo problema — ele deu de ombros. — Oh, serio? — perguntei, empolgada. — Claro. Tudo que você quiser baby, mas... — ele pausou, massageando o queixo e olhando-me de cima a baixo. Engoli em seco. Tudo que era bom tem sempre um mas. Suspirei tristemente. — Não vou pegar leve — concluiu. Pisquei repetidas vezes tentando assimilar o que Dante dissera. — Obrigada! — o abracei agradecida. — É importante que treine Diva — Eryna disse, seu tom era calmo. — Um bom treinamento fará com que consiga controlar a dimensão de seus poderes. — Sim, ninguém melhor que Dante para me ajudar! — sorri para ele. — Afinal eu sou sua consorte. — Consorte? — Dante arqueou as sobrancelhas. — Uhum! Dividimos as mesmas aventuras e a sorte — respondi confiante. — É tudo muito bom, mas onde vão treinar? — Maya se manifestou. Aquela parte da ideia não tinha planejado — na verdade nem fora algo muito elaborado. Alias, toda essa historia de treinamento foi no calor do momento. — Bem pensado, Maya — Eryna parabenizou, enquanto movia-se para longe. Senti que a minha animação estava se esvaindo. — Por sorte, conheço um lugar que possam treinar. É longe o bastante para que não se preocupem em alguém ver. — Serio? — quase gritei de animação. — Então onde fica? — É muito longe... — Espera! Não é a cabana dos nossos pais, é? — Maya interrompeu. Ela mordia os lábios com força, tanta que dava impressão de que iria se machucar. Eryna assentiu. — Justo lá, e se... — Essa cabana está abandonada faz tempo, Maya. Nem nós vamos lá, porque esta tão relutante com isso. Aquele momento era como um tempo familiar. Elas se encaravam e pareciam discutir mentalmente. — Vamos partir logo, então! — Dante se proferiu impaciente. — Esse papo familiar realmente é tedioso. Elas olharam para nós. — Tem razão, vocês dois tem que partir agora para chegar antes no anoitecer. — Ei, espera... vocês ficarão sozinhos no meio do mato? — Maya arregalou os claros e bagunçou os cabelos em visível desespero. — Não mesmo! Não e não! Maya estava inquieta. Fiquei estranhando as reações dela. Dante parecia acostumado com os ataques de Maya, tanto que nem mostrou surpresa. Deve ter sido pelo tempo que conviveram. Até onde sabia, depois do meu sequestro — quando eu achava que Dante tinha partido dessa pra melhor — e da destruição da biblioteca, Dante juntamente com Eryna tiveram seguindo meus rastros. Então, ele teve tempo suficiente para conhecê-la melhor. — Maya, eles tem que fazer isso! Sozinhos! Maya pegou minha mão. — Olha para Diva; ela é pequena, frágil e inocente — revirei os olhos. Maya era com toda certeza a rainha do drama. Nem sabia qual a intenção dela ao dar esses adjetivos para mim — isso, mas parecia um ataque, que uma possível defesa. — Enquanto, Dante é forte e pode se aproveitar. — Como se eu fizesse isso. — retrucou. — Se em todo esse tempo, Dante não fez nada contra mim. Porque o faria agora? — argumentei em defesa de Dante. Ele piscou para mim e eu sorri. — Ele pode estar esperando para dar o bote! — Sei me defender caso aconteça! — resmunguei. Sabia que tinha sido um pouco grosseira com Maya, mas era chato ter alguém no meu pé. Eu não era tão fraca a ponto de não poder me defender sozinha. Odiava ser subjugada. E daí que tudo nesse mundo nada é normal e saudável? Maya saiu em derrota. — Eu te indicarei onde fica! — Obrigada Eryna! Limpei o suor com minhas munhequeiras pelas décima vez consecutiva. Apesar de estar com uma roupa leve; um short curto cinza, uma regata branca e botas de cavalgada, ainda sentia um calor insuportável. Vou me lembrar de nunca — jamais, em hipótese alguma — me deixar ser empurrada para lugares de difícil acesso. Subimos uma colina íngremes e cheias de plantas de diversos tipos e inúmeras arvores. O impressionante era que em cada passada, eu acabava tropeçando nos gumes de terra e plantas. Os galhos salientes machucavam meus braços e meu rosto. O lugar tinha o aspecto meio selvagem; chão lamacento e um pouco pedregoso, folhas secas espalhadas por todo lugar, gramado verde e m*l cuidado, arvores vigorosas de vários tamanhos com raízes que atravessavam a terra formando deformações. A vegetação espessa se tornava um grande desafio. A viagem não tinha fim. Na minha concepção aquela campina não era bem o que tinha em mente. De certo modo, era o melhor lugar para um treinamento barra pesado com um mestiço de demônio e uma Unchant — vai que seja um treinamento Hardcore, estamos falando de Dante. Quando Eryna nos falou desse lugar, pensei que fosse mais especificamente um campo de pequena escala. Como nada na vida é fácil, para chegar à campina tivemos que andar muito — já que com carro era impossível, o único jeito foi ir a pé. Cada subida que dava, eu parava para descansar. Era esforço demais para aguentar. Eryna nos convenceu a trazer varias coisas inclusive roupas e comida. Carregávamos cada um, duas enormes mochilas — Dante estava com as mais pesadas. Tentava a todo custo acompanhar Dante, mas m*l podia me manter de pé direito. Quando finalmente chegamos numa cabana de madeira, deixei-me corpo cair pesadamente no chão. — Finalmente livres! — cantarolei emocionada. A cabana era maior por dentro que por fora — parecia até ilusão de ótica —, tinha apenas um andar que se dividia em quatro cômodos simples. A sala era espaçosa e apesar do acumulo monstruoso de poeira, havia dois sofás escuros e uma mesinha de centro, muitas prateleiras com livros estavam foram postas organizadas por entre a sala. A cozinha tinha uma pequena geladeira, uma mesa com quatro lugares e um fogão simples. Dante jogou as mochilas no chão e sentou relaxadamente no sofá. Analisando o único quarto que tinha, percebi que o universo conspirava ao favor de Dante, justamente a — única, devo ressaltar — cama que tinha ali era de casal. Um leve rubor subiu pelo meu rosto. Não era a primeira vez que dormimos juntos — apenas dormir. Tá, OK. Eu tinha que admitir para mim mesma. Eu era puritana demais. (Bateu uma vontade de chorar agora) Até queria ser um pouco — eu disse pouco — parecida com Lyana. Bonita, confiante e um pouco — muito quer dizer — galinha. (Lyana é galinha, mas eu amo ela) Acho que a única coisa que me impedia de ter algo a mais com Dante era o medo das consequências — vai saber (Não queria ser mandada para escanteio, vai que depois que acontecer ele fique distante. Nunca de sabe). Só vou saber tentando, mas cadê coragem? O fato é que Dante era o fogo e espírito — um tigre branco e eu uma simples gatinha meia boca —, eu não conseguia acompanhar suas expectativas. Afastei esses estranhos pensamentos e me concentrei no que deveria ser feito. Aproveitei o tempo livre para limpar e arrumar as coisas. Meu deu até arrepios a bagunça e sujeira do lugar. Outra coisa que deveria ser feita a partir de agora era estabelecer regras de convívio. Poderemos ficar um bom tempo juntos nessa cabana e não queria que ficasse a zona que era o escritório de Dante. As regras seriam: 1; Não sujar. 2; Se sujar, limpar imediatamente. 3; Não deixar nada fora do lugar. 4; ... Quando pensar em mais, coloco aqui. Terminando de escrever, colei o papel numa parede que tinha mais destaque. Nota mental: Ele não poderá dizer que não viu as regras. Com tudo no seu lugar, fui até a sala e encontrei Dante tirando um cochilo. Uma parte minha ficou tentada a aproveitar a chance — e nessa é a que mais tinha força —, enquanto a outra dizia para ignorar. Com a pontinha dos pés, caminhei até o sofá onde estava o mestiço dorminhoco. Reprimi uma risadinha e agachei. O rosto sereno de Dante era uma das coisas mais lindas e fofas que já vi. Acariciei suavemente contornando as formas do rosto dele, sentindo os pelos da sua face arranhando minha mão. Tirei algumas mechinhas de cabelo que cobriam os olhos. Poderia ficar o dia todo o observando dormir. Lentamente aproximei meu rosto do dele. De repente, num rápido e abrupto percebi que estava deitada na mesma posição de Dante. A óbvia diferença era que o próprio Dante estava por cima e eu como uma presa de frente ao seu c***l predador, tremendo feito um vara. — Nunca imaginei que fosse se aproveitar — ele caçoou. — Se queria tanto brincar era só ter pedido. Arfei. — N-não é nada disso! — gaguejei. A pior parte de ter sido pega no flagra era ser posta conta a parede que no caso era o sofá. — Não foi o que estava acontecendo — retorquiu num tom zombeteiro. Olhando aquele sorriso cheio de malícia, a minha ficha caiu. — Você estava fingindo! — grunhi nervosa. Ele não respondeu, automaticamente levei o seu silencio como um sim. Afinal quem cala consente. — Vai para o inferno! O empurrei com todas as minhas forças. Ele apenas me deu espaço para que eu pudesse sair. — Vamos começar logo! — balbuciei, andando até a porta. Eu estava tensa — quase tendo um treco. Fiquei pensando no que acontecerá antes. O impressionante é quanto mais desagradável fora uma situação mais difícil é esquecê-la. Maldita lei de Murphy. Dante estava de braços cruzados diante seu peito. Eu olhava em volta distraidamente — m*l conseguia encara-lo. Uma lufada de vento mexeu as folhas que estavam no chão, agitando também a copa das arvores. — O que faremos primeiro? — indaguei. Dante sacou Rebellion e a fincou no chão. Em seguida, depositou Ebony e Ivory ao lado da espada. — Vamos começar com luta corpo a corpo. Fiquei parada, esperando por um movimento de Dante. — Quero primeiro saber o que você sabe fazer. Surpreenda-me. Com um sorriso confiante, corri em direção a Dante. Eu não tinha muitas experiências em combates corpo a corpo, o máximo que eu sabia tinha visto apenas nos filmes do Jackie Chan. Podia não manjar das artes marciais, mas aproveitaria essa chance para fazer Dante pagar pelo incidente anterior. Tentei uma desajeitada sequencia de socos e chutes, que Dante desviava com muita facilidade. Era desanimador ver nossa diferença de habilidades (Pô, irmão manera com a novata, né), chegava ser um pouco patético competir com Dante. — Isso é o melhor que pode fazer? — debochou. — Achei que fosse melhor. Que desilusão! Em fúria, continuei a serie de ataques. Rapidamente, Dante agarrou minhas mãos e puxou-me para perto. — Sempre soube que queria por as mãos em mim, baby. A raiva ondulou por todo meu corpo, fervilhando. Ele estava brincando comigo. Desesperadamente, me debati tentando me livrar de suas mãos. — Ora baby, já esta mostrando as garras? — gracejou, um sorriso presunçoso enfeitando seu rosto. — Deixe que eu mostre as minhas. Num gesto simples — ridículo até —, colocou a mão acima do meu peito e me empurrou. Perdi o equilíbrio e cai. Fora tão fácil para ele e o pior que o golpe não era nem dos mais elaborados. Que depreciativo! Senti meu orgulho ferido. Minha visão ficou vermelha e apertei com firmeza a terra por entre minhas mãos. Uma forte ventania começou, jogando folhas para todos os lados. Levantei, fazendo esforço para me manter em pé. Minha mente ficou branca. Meu instinto gritava para que tirasse aquele sorriso do rosto de Dante, custe o que custar. Ergui minha mão e me deixei levar pela onda de poder que percorreu por meu peito. Quando dei por mim, percebi que estava encostada numa arvore e as outras que estavam — ou deveriam estar — na minha frente estavam horrivelmente quebradas, algumas desprendidas do chão. Eu não via Dante. Que diabos eu havia feito? Dante apareceu por entre as arvores. Do ângulo que o via, ele parecia meio arrasado — no sentido de ter a roupas sujas e chamuscadas. Não parecia nada serio. — Me lembre de nunca te subestimar — disse ele, andando calmamente até mim. — Bem feito! Virei à cara, cruzei os braços. Confesso que fiquei feliz por ter cortado o barato dele. Ninguém mandou caçoar de mim como se eu fosse fracote. Se ele começou tinha que aguentar. Eu não daria chance. Usei o que aprendi com Alexander nos meus sonhos. Canalizei minha energia e transformei num arco e flecha. — Esta na hora do mestre levar uma lição da aluna! Ele abriu um sorriso selvagem. — Então gosta do jeito difícil? — apontei a flecha para ele sem hesitar. — Esse inicio de treinamento será bem excitante.
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