Aprenda a nunca Ferir o Orgulho de uma Garota

2940 Words
Tinha coisas dos quais ainda precisava aprender, e outras que eram muito mais importantes tinha que descobrir sozinha. Eu sabia que Dante e Alexander me ajudariam, no entanto, algo realmente obscuro estava se revelando. Algo muito maior do que esperava. Algo que poderia transcender as dimensões. Meus olhos focaram o alvo. A primeira flecha que atirei, Dante desviou facilmente, mas do que pensei que fosse possível. As seguintes tiveram o mesmo fim, prendendo nas arvores e deixando buracos nelas, outras queimaram antes mesmo de tocar algo sólido. Parecia um jogo interminável de tiro ao alvo. E no desenrolar daquele jogo, eu era a caçadora e Dante seria a minha caça. Eu sabia que as fechas não acabariam — já que eram feitas de energia — e continuei. Minha respiração estava pesada e meu coração batia acelerado pela adrenalina que corria a mil por minhas veias. Corri para perto e o arco sumiu, aquela seria uma boa oportunidade para testar ainda mais meus poderes de manipulação e ver se conseguia criar outras armas de energia além de arco e flecha. Concentrei numa arma e logo veio a minha cabeça: Ebony e Ivory. A massa de poder dourado tomou forma em minhas mãos e para minha — e de Dante — surpresa ela se tornou copias exatas das armas gêmeas, a única coisa que as diferenciava era o brilho e as cores — as minhas ainda possuíam o brilho dourado. Com um sorriso triunfante, apertei firme as pistolas em minhas mãos e disparei. Podia ouvir claramente até o tilintar das cápsulas caindo no chão. Dante continuou desviando tranquilamente, mas depois de tanto desviar ele se deixou abater pelas balas de energia maciça que deixaram buracos fumegantes no peito musculoso dele. Eu recuei quando percebi que Dante se aproximava cada vez mais de mim. Quando senti minhas costas baterem tronco duro da arvore, percebi que estava sem saída. As armas se desfizeram, sumindo das minhas mãos. Dante se apoiou um braço perto do meu rosto. Nossos rostos perigosamente perto, quase que a ponto de me beijar. Engoli em seco e com toda força de vontade que tinha — na verdade que nem sei de onde surgiu — ignorei tal aproximação. — Pare de brincar comigo, me treine a serio! — resmunguei, desviando meu rosto. Mesmo me mantendo calma e indiferente, o desconforto e o constrangimento eram quase visíveis. — Estou te treinando a serio — ele rebateu tranquilo. — Não esta! Você esta brincando comigo, eu te mostrei que sou capaz e nada mudou! — contestei, inconformada. — Você mesmo disse que não pegaria leve comigo! Dante pareceu estar refletindo no que eu dissera. — Você tem razão! — admitiu. Eu me segurei para não sorrir abertamente — Estou pegando leve demais com você, doçura. Girando nos calcanhares, ele deu meia volta e caminhou para onde estavam as suas armas. Num movimento rápido, Dante pegou Rebellion e me encarou. — Espero não fazer nenhum estrago no seu rostinho lindo, doçura. Eu tinha quase certeza que ele dissera aquilo para me distrair. Mesmo sabendo disso não pude deixar de corar. Dante abriu um sorriso presunçoso. No segundo seguinte, ele tinha sumido da minha vista. Desesperada, meus olhos vaguearam por todo perímetro. Prestei atenção até mesmo no mínimo movimento. No entanto, nem sinal de Dante. Senti um intenso sentimento de medo e insegurança. A melhor maneira de lidar com um ataque de um inimigo é quando ele esta visível, assim pelo menos sabemos de que lado partira o golpe e podemos nos defender. Não tinha nada mais angustiante e amedrontador que esperar o ataque de um inimigo que não se pode ver. — Algum problema, doçura? — ouviu uma voz num tom de escárnio atrás de mim, muito próxima. Virei rapidamente, apertando o gatinho de ambas as pistolas. O impressionante de tudo é que em tão pouco tempo já estava me familiarizando no manuseio de armas. Era como se não fosse a primeira vez que usava uma. Apesar da minha rapidez, consegui atingir apenas mais arvores. — Isso não foi o suficiente — antes que eu pudesse processar a situação, uma mão agarrou a minha e me puxou, fazendo-me girar. Com a mão livre atirei no responsável, mas novamente não consegui atingi-lo, muito menos vê-lo. De repente, fui tomada por um forte senso de premonição. Seguindo minha intuição, ergui minha cabeça. E em vez de encontrar o céu azul, visualizei uma sombra. Tão n***a quanto à noite, ela se erguera pronta para me atacar. A luz forte se fundiu com a sombra, dificultando minha visão. Talvez esse fosse o objetivo: um ataque furtivo por cima do alvo seria eficaz se misturada com a intensa luz do sol. O alvo ficaria incapacitado. Pisquei algumas vezes para me acostumar à luminosidade. Eu não tinha como fugir, e o ataque seria certeiro. Acuada e incapacitada, fechei os olhos temendo o pior e esperei pela dor. Mas ela não veio. Abri lentamente os olhos e vi que estava encoberta por uma espécie de redoma e ela me protegia. Dante não parecia muito impressionado apesar de nunca ter feito algo assim na sua frente, eu por outro lado estava com um misto de sentimentos: emoção, surpresa e alívio. A redoma se desfez assim que tentei toca-la. Consegui liberar uma nova habilidade: um escudo protetor. Empolgada, olhei para minhas mãos que ainda mantinha o brilho dourado intenso e abrasador, que se esvaiu lentamente. Eu me senti livre. Como se inconscientemente tivesse carregado um fardo por todos esses anos e só agora consegui me libertar. Não satisfeita, tentei criar algo com meus poderes. Obviamente, não sabia ao certo como ativar — já que sempre o fazia sem querer. Ha uma primeira vez para tudo, não é? Eu tinha conseguido criar armas de energia e projetei um escudo. Tinha total certeza de que havia muito mais para explorar. Uma nova e desconhecida sensação me encheu, como uma voz que me dizia que podia fazer qualquer coisa. Era a primeira vez na minha vida que me deparava com tamanha força e confiança... Mas era realmente a primeira? Naquele momento, senti outra vida em mim, uma vida mais antiga e experiente, acostumada a lidar com todas essas incríveis habilidades. Era realmente estranho. Uma rajada de vento me acordou do transe, fazendo com que voltasse a realidade. Dante parecia despreocupado com Rebellion pousada em seu ombro. Ele me encarava esperando algum contra ataque ou mesmo uma reação. Levantei a mão e certa de que poderia enfrentar Dante em pé de igualdade, esperei que a minha energia saísse. Foi frustrante perceber que nada acontecera. Absolutamente nada. Tentei criar novamente arco e flecha, mas não consegui. Quando percebi que nada acontecia, decidi que daria um ataque direto, me posicionei e parti para a cima de Dante. O primeiro soco foi fraco e sem eficácia — até porque, de algum modo, me senti fraca e sem força suficiente para continuar —, Dante estava tão indiferente com os golpes que nem fazia tanta questão de me parar ou investir contra mim. Ele pegou meu braço, e mesmo que não fosse totalmente intencional — ou ele não pode maneirar na força sobre-humana que tinha — me jogou contra uma arvore. Bati a cabeça com força no tronco descascado e duro. Dante se aproximou. O sangue que escorria do corte desfocou minha visão. Pisquei para clarear. Então eu vi. O homem estranhamente familiar se aproximando. — Sparda? — pronunciei rouca, estendendo a mão numa tentativa de toca-lo. Era um delírio muito mais estranho que o normal. Depois disso, a escuridão me dominou. Acordei com alguém me chamando. Vi que estava deitada no mesmo lugar que fui atirada, a diferença era o longo casaco vermelho — longo o bastante para me cobrir completamente — que estava sobre mim. Dante que estava sentado ao meu lado, percebendo que eu já havia despertado e examinou meu rosto deixando um suspiro de insatisfação escapar. Dava para perceber que ele estava com raiva de si mesmo. Toquei o local onde devia estar machucado para ver a profundidade e se ainda sangrava, mas notei que não tinha nenhum machucado. Nenhum mesmo. Era como se eu nunca, sequer tivesse me ferido. Com a ajuda de Dante levantei. — Vamos continuar! — disse eu, decidida. — Estou totalmente recuperada e quero continuar! — Você já teve o suficiente, Diva — Dante censurou-me. — E eu quase te matei, melhor pararmos por hoje! Quando foi que Dante se tornou tão responsável e super protetor? Deve ter sido quando me atirou contra uma arvore e abriu minha cabeça. — Mas não me matou, estou vivinha da silva e quero continuar! A princípio, Dante não gostou — alias, detestou — tanto assim da ideia, mas sendo que eu estava irredutível em minha decisão, concordou em retomar o treinamento. Depois disso, o assunto que incluía o incidente foi quase que esquecido, apesar disso, dava para ver que Dante queria me dizer algo, mas não disse. Será que na hora que estava delirando, disse alto o nome de Sparda? Tenho certeza que não. Eu não queria que Dante pegasse leve demais comigo, só por causa do acidente de antes, então sempre tentava atiça-lo. Não era um bom plano, pois estou lidando com um meio demônio, forte, quente e que pode me machucar mesmo sem querer. E quem disse que pararia de provoca-lo? No amor e na guerra vale tudo! (Inclusive alguns hematomas e arranhões, se bobear até um m****o quebrado). Num movimento imperceptível, Dante saiu do meu campo de visão. Instintivamente, rodei e lancei um soco que foi bloqueado pela mão de Dante. Fiquei impressionada com minha exatidão. Então dei um chute, mas ele também conseguiu bloquear. Seus lábios formaram uma fina linha que identifiquei como um risinho debochado. Dante ergueu meu pé e jogou para frente, fazendo com que caísse com tudo no chão. O impacto me deixou tonta. Dante se abaixou e me encarou. — Ainda precisa melhorar se quiser me acompanhar, baby — ele estendeu a mão, a peguei e sem esforço me pus de pé. — O lance do projetor de escudo foi bom. Não sabia que conseguia fazer tanta coisa. Eu tinha até esquecido disso. Meu novo poder! — Isso é um elogio? — brinquei — Na verdade nem eu sabia que podia fazer aquilo Reparei que ainda estava de mãos dadas com Dante. Ele também reparou e demorou em me soltar. Consegui aproveitar aqueles maravilhosos segundos no calor da mão dele. — Vamos parar por agora — Dante anunciou — Quando retomarmos o treinamento te ensinarei alguns golpes uteis, mesmo que duvide que você não saiba, doçura — Obrigada, Dante! Por algum motivo estranho, uma tensão estranha se instalou entre mim e Dante. Nossos olhares se encontraram e nesse curto instante senti que tinha muitas coisas a serem faladas e esclarecidas, algo que nem todas as palavras do mundo podiam traduzir. Eu tinha tantas coisas para dizer a ele, mas esperei que Dante me dissesse algo que me encorajasse a continuar. Ele nada fez. Fiquei um pouco chateada com isso. Nem sobre o incidente ele disse. Nadinha de nada. — Dante, eu... — Descanse — interrompeu. Depois do corte que ele me deu, não consegui dizer mais nada. Um pouco de relutância de ambas as partes, cada um seguiu sem caminho. — Fique perto, doçura! Dante entrou na cabana e eu permaneci na campina. Eu perdi algo? Lembrei-me do dia anterior, quando Dante me beijou. Não foi uma ilusão, muito menos produto da imaginação fértil de uma garota. Aconteceu, e ainda podia sentir os lábios quentes dele tocando os meus. Por que ele de repente parecia tão distante? Será por causa da porcaria do incidente? Ou porque chamei pelo pai dele? (Essa ultima é menos provável) Acreditei que as coisas entre nós seriam diferentes. Claro, que não esperava que ele me pedisse em namoro nem nada — até porque duvido que algum dia ele pediria. Mas pelo menos, merecia consideração. Apesar daquilo, era como se o conto de fadas se desfizesse, deixando apenas lembranças. Eu deveria saber que Dante não nutria os mesmos sentimentos que eu. Então porque só agora? Maldito seja a minha péssima sorte no amor. Era como sempre digo: Tenho azar no amor, azar no jogo e sorte no azar. Não tinha porque esquentar minha cabeça com alguém tão complicado quanto Dante. Sentei no chão, recostei numa arvore. Fiquei admirando o céu antes de adormecer exausta. No sonho, eu estava usando um vestido azul claro, com alcinha e a saia batia no chão. Numa situação como aquela, apenas uma pessoa poderia me ajudar. Enquanto estivesse na segurança dos meus sonhos, sei que poderia entender muitas coisas. — Alexander? — chamei, mas apenas o silencio como resposta. — Alexander? Depois de muito chamar, Alexander apareceu. Ele estava elegante como sempre, vestindo um terno branco e lenço de seda creme em torno do pescoço, contrastando com sua pele clara. Os passos dele eram suaves e sutis. Como esperado, Alexander me recebeu com um abraço acolhedor. Pegou delicadamente minha mão e me guiou a uma cadeira de frente a uma linda mesa com acessórios de chá e em baixo de uma cerejeira. Era uma linda visão, digna de um quadro ou uma foto. — Algum problema, anjo? — ele perguntou preocupado. Espera, ele me chamou de anjo? — Sim! — suspirei tristemente. — Se quiser me fale — ele tocou minha mão, sorri fracamente. — É complicado demais — comecei um pouco irritada e continuei: — Dante é um i****a! Estava indo tudo tão bem entre nós e ele simplesmente me trata como se nada significativo tivesse acontecido! — peguei fôlego e prossegui — Não sei o porquê, pode ter sido quando estávamos treinando e ele me machucou ou... — Ou... — Alexander me incitou a continuar. — Eu tive uma visão de Sparda! Mas tenho plena certeza que isso não foi o real motivo! Alexander ouvia atentamente meu desabafo. Fique mais aliviada e quando terminei m*l conseguia respirar direito. — Talvez, eu não seja a pessoa mais adequada para dizer algo, principalmente de se tratando de um adversário — Alexander brincou, deixando uma doce risada escapar e sem resistir eu o acompanhei — Dante pode apenas estar confuso ou não sabe bem lidar com os seus sentimentos. E se sinta culpado pelo ocorrido. — Que bobagem! Dante não é assim. Ele é do tipo — fiz aspas com os dedos — “Descolado demais para se importar com essas coisas” — terminei dando maior ênfase na frase. — As pessoas mudam, não acha? Alexander despejou o chá numa xícara e me entregou. Peguei com todo cuidado, e beberiquei. — Pode ser — disse resignada. Respirei fundo, absorvendo a paz do lugar — Esse sonho é tão bom! Alexander sorriu. O vento chacoalhou a copa da arvore espalhando as folhas rosas. Estava tão em paz. — Diva! — Alexander chamou minha atenção. Virei para encara-lo e quase gritei em choque. O lindo rosto de Alexander estava retorcido. Uma parte ainda permanecia inteira e a outra deformada, quase dava para ver os ossos. Tive que me segurar para não vomitar. Será que dava para fazer isso nos sonhos? — Diva! Tem alguém... Não, uma influencia tentando invadir seu sonho. Se concentre apenas em mim e não o deixe entrar. Olhei para a xícara e o que deveria ser chá, tinha virado sangue. Com o susto deixei cair a xícara que se espatifou em cacos sangrentos. Medo era a definição exata do que sentia naquele momento. E não era fácil me concentrar com aquele aperto no peito. — Vá Diva! — Alexander mandou. — Ele conseguiu entrar! Obedeci sem questionar. Peguei a barra do vestido e corri. Nem tive coragem para olhar para trás. O céu tomara tons negros e as arvores e flores que mostravam vida e cor, secaram. — Merda! Que diabos esta acontecendo? Continuei correr num ritmo frenético. — Preciso acordar! — me concentrei em acordar. Belisquei-me e mordi meu dedo para que com a dor acordasse, mas não adiantou muita coisa. Acabei tropeçando e cai. — Finalmente te encontrei, depois de tanto tempo... — uma voz disse, carregada de energia negativa e ódio. — Corra e se esconda o quanto puder, pois quando te achar vou leva-la do lugar de onde nunca deveria ter saído. Uma ínfima parte minha reconhecia a voz, mas, ao mesmo tempo nunca a ouvira antes. Desajeitadamente, me levantei e encarei a escuridão. Nas sombras vi duas gemas vermelhas. Quando abri meus olhos estava de volta à realidade. Acordar foi estranho. Por que diferente do que imaginava — ou simplesmente esperava — era que não estava dormindo de frente a cabana, e sim no meio de varias arvores numa parte desconhecida da campina. Já era noite e as sombras das arvores assustavam. Encolhi-me e voltei a deitar no chão. Eu deveria esperar que Dante percebesse minha ausência e fosse me buscar. Com o sonho terrível que tive, estava assustada demais para pensar em sair do lugar. — Dante — gemi, medrosa. Poderia voltar a dormir, mas temia ter um pesadelo. Senti algo me tirar do chão e vi Dante me carregar. — Eu pedi para não se afastar — disse ele, num tom reprovador. — Mas eu não me afastei, nem sei como cheguei aqui — justifiquei, me agarrando a Dante. Eu não contei a Dante sobre o sonho, porque sabia que não adiantaria nada lhe contar. Muito longe de não ter confiança nas habilidades de Dante, mas isso ia muito além de qualquer coisa que ele já enfrentara. — Tsc! Algo realmente estranho esta acontecendo — ou esta para acontecer.
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