Terceiro Dia por Diva: Overdose de Ilusões

2312 Words
So much to tell you Tanta coisa para dizer-lhe And most of all goodbye E acima de tudo adeus But i know that you can't hear me any more Mas eu sei que você não pode me ouvir mais [...] It's so loud inside my head É tão alto dentro da minha cabeça With words that i should have said Com palavras que eu deveria ter dito And as i drown in my regrets E enquanto eu me afogo nos meus arrependimentos I can't take back the words i never Said Eu não posso ter de volta as palavras que eu nunca disse [...] I haven't been all that you could've hoped for Eu não tenho sido tudo que você pode ter esperado But if you'd held on a little longer Mas se você tivesse aguentado um pouco mais You'd have had more reasons to be proud Você teria tido mais motivos para se orgulhar Words — Skylar Grey Eu não me lembro de muita coisa. A ultima coisa que recordo com total clareza foi de ter caído num buraco com varias mãos me puxando para escuridão e depois disso, nada... Absolutamente nada. Abri meus olhos, chocada. Tudo estava assombrosamente claro. A luz do sol emanava da janela, enquanto atravessava à persiana. O ar trazia o suave aroma de terra. Houve um tremular na persiana com o vento. Confusa e cansada, não fazia ideia de onde estava. Busquei algo que me ajudasse a identificar. Havia fileiras de mesas e carteiras muito familiares. Meus pensamentos, minha consciência pareciam tão longínquas e ao mesmo tempo torturantemente próximas e abstrusas. Experimentei um vazio mental — algo que fazia muita falta. Como um flash, tudo voltou com força devastadora. Quase que minhas pernas cederam e me abandonaram. Sentia que não deveria estar ali. Mas onde deveria estar? Olhei para a mesa a frente, vagando por entre todas as coisas que estavam sobre ela; canetas, cadernos, folhas pendentes e um pingente. Apertei minhas mãos e ergui a cabeça, abismada. — Srta Valentine? — a voz chamou, em misto de preocupação e indignação. — Srta Valentine? Um estalo foi necessário para despertar completamente. Levantei abruptamente da cadeira que estava deixando cair em um baque atrás de mim. Espantada e extremamente abalada, encarei a Senhora Flowers, minha professorada da universidade. Não era possível. Eu consegui voltar ao meu mundo. — Não! — escapou estrangulado em minha garganta. Vi-me olhando um círculo de observadores intrigados. Eles se remexiam apreensivos vendo o desenrolar dos acontecimentos. Em outras circunstâncias, seria um momento muito constrangedor. Contudo nada daquilo me importava. Lágrimas ardiam em meus olhos, mas no momento apenas uma ideia fervilhava em minha mente: Dante. A lembrança de algo inacabado pulsava latejante em minha mente. Dante precisava... Ou precisou de mim. Eu deveria estar no inferno buscando pela sua alma. Porque estou aqui? No meu mundo, na minha dimensão original! Eu finalmente conseguira o que tanto queria, desde o começo. No entanto, não parecia estar certo. — Diva? — me virei para encarar a dona da voz conhecida carregada de afeto e cuidados. Os olhos vermelho escarlate me encaravam tristemente, como se por ver meu sofrimento fizesse ela sofresse também. Era bem isso mesmo. Lyana sempre estava lá por mim, quando estava cheia de remorso e esmagadora angústia para me consolar. — Lyana! - gemi, as lágrimas tentavam sair em meio a audíveis soluços. Lyana me puxou para um caloroso abraço. — Sra. Flowers, podemos...? — ouvi Lyana pedir, seu tom mostrava harmonia maternal. — Sim, claro! Com a permissão da Sra. Flowers, pegamos nossas coisas e retiramo-nos da sala o mais rápido que podíamos. — Diva o que houve? — Lyana indagou, preocupada. — Eu... Não... Aqui... - disse eu, entre respirações pausadas. — Calma e me explica direito! — Não era para estar aqui! — despejei, transtornada. — Quer dizer, eu não sei mais... — Do que esta falando? — Dante... — abracei meu próprio corpo, completamente desolada. — Quem é Dante? Essa era uma questão que não saberia explicar. Talvez se disser a ela o que me aconteceu às coisas poderiam ser um pouco mais fáceis. Decepcionada, percebi que não adiantaria nada. Aquele seria um segredo só meu para sempre. — Quero ir para casa! Lyana assentiu, sem questionar. Em silêncio, caminhamos lado a lado sem trocar nenhuma palavra. Estava tão imersa em pensamentos que nem me importei com que me rodeava isso incluía Lyana. Parei para olhar o céu azul límpido com leve nuances de laranja. Uma leve rajada de vento tremeu as folhas das altas arvores, assim como agitava as plantas que cresciam em volta e nas falhas do chão asfaltado. A calma transbordava por todo canto, enquanto tentava entender a mim mesma. Eu não conseguia descrever muito bem o que sentia. Eu deveria estar feliz, mas não estava. Eu finalmente estava em casa no meu mundo, mas porque tudo parecia uma mentira? Então, nada do que aconteceu fora real? Não, definitivamente não. Podia estar novamente com meus amigos, minha família e ter minha vida habitual de volta. Claro, que depois de uma experiência louca como entrar no mundo de um jogo muda radicalmente a maneiro como vejo as coisas. Eu evolui de certo modo, não era não imatura ou infantil como antes. Agora parando para pensar, havia tantas coisas que deixei para trás, muito mais do que tinha nesse mundo. No outro lado, eu tinha Dante... Mas até onde eu me lembro, ele morrerá para me salvar, enquanto eu estava desfrutando minha vida. Isso era tão egoísta. Era para tê-lo salvado. Eu nunca ficaria totalmente satisfeita com isso. Não sabia o que faltava, o que queria... O que eu queria realmente afinal de contas? Sim, sabia muito bem o que queria! Queria ver Dante. Queria estar com ele, sentir seus braços em volta de mim e ouvir sua voz cheia de escárnio, malícia e sarcasmo. Queria apenas vê-lo pelo menos uma única vez para ter certeza que ele estava bem... Ah, céus, eu queria abraça-lo. Olhar para seu rosto e ver novamente o azul profundo de seus olhos refletindo sua alma. Senti meu coração se apertar dolorosamente em meu peito. Ele se quebrou, eu sabia disso quando senti a dor lancinante como vidro se quebrando por dentro, fragmentos afiados cortando e rasgando horrivelmente a carne. Quando percebi já estava chorando. Um soluço audível escapou e Lyana voltou sua atenção para mim, enquanto me acabava em choros intermináveis. — Oh, Diva! — Lyana me aconchegou em seus braços. — Não chore! O que seus pais diriam vendo você chorar? E o principal, o que Tony diria? — Tony? Que Tony? — Dããh! — Lyana revirou os olhos. — Tony Redgrave, seu futuro marido! Futuro o que? — O que? — gritei, exasperada. — Eu não tenho noivo nenhum! Não lembro de que tinha um namorado, muito menos um noivo nesse mundo. Mas é bem capaz de que nem me lembre de muita coisa, afinal minha memória era horrível. Ainda assim, tinha plena certeza que não tinha noivo algum. — Diva você esta muito estranha hoje! — Lyana concluiu — Vamos logo que seus pais devem estar esperando! Lyana me puxou, fazendo com que acelerasse meus passos. — Eles estão? Lyana jogou seus longos e vermelhos cabelos para trás, sorriu compreensiva para mim. — Liguei para eles enquanto estava inerte em pensamentos. Estávamos em uma rua bem próxima a minha casa. Lyana tentava me distrair e eu aproveitava para descobri mais sobre meu suposto noivo, sem deixar transparecer minha total falta de “noção”. Anthony Redgrave — ou simplesmente Tony Redgrave — é um homem muito mais velho que eu — isso não é um real problema para mim, sendo que Dante inclusive era também mais velho que eu — e tinha um negocio próprio, que era uma agência de investigação. Em outros termos, ele é um detetive particular. Lyana não me explicou muito bem como nós nos conhecemos e fiquei bastante curiosa. Esse tal de Tony era um grande mistério no qual gostaria de descobrir... De repente, algo passou perto de mim, fazendo todos meus pelos se eriçarem em alerta. "DIVA" "DIVA" Virei rapidamente para ver quem é que me chamava. Encontrei apenas o nada, ninguém tinha me chamado, mas mesmo assim eu podia jurar que ouvi. Foi real. — Que foi Diva? — Anh, não nada! Estava muito entorpecida e confusa. Nada fazia sentido para mim desde que voltei para minha casa. Depois de tantas coisas acontecendo simultaneamente, a cabeça da pessoa começar a pilhar. Primeiro; fui parar por forças misteriosas — que muito depois descobri que eram umas estranhas habilidades que eu possuía — para dentro de outra dimensão. Ou seja, sou uma Peregrina que é uma variante do termo Unchant — pessoas com incríveis poderes que podem fazer viagens interdimensionais. Segundo; apaixonei-me por um homem que jurava ser um personagem de jogo — o famoso e sexy Dante, filho do lendário Sparda — o homem mais complicado do mundo. Terceiro; Além de novas revelações, que descobri ser justamente a reencarnação da mulher que causo indiretamente essa bagunça — logo que ela se envolvera com Sparda no passado — e por conta disso e de outras não muito importantes, acabei sendo caçada por um ser perverso que cobiça meus poderes e que acabou matando Dante. A situação só tende a piorar a partir daqui, eu fui ao inferno — literalmente ao inferno, mas não precisei morrer para isso — para resgatar a alma de Dante que ficou perdida. Nesse meio tempo, acabei sendo tragada de volta para meu mundo. O pior de tudo é que não fazia a mínima ideia de como fiz isso. Na verdade, o inicio é que nunca soube realmente como usar a parte mais importante e essencial dos minhas capacidades Unchant, tanto é que não estava ciente de como usar a base das viagens dimensionais, e aparentemente só os usava sem querer. Foi por isso que entrei em outra dimensão no qual Dante vivia. Quarto; eu tinha um, noivo que nem fazia ideia de quem seja e de quebra ainda tinha a sensação de estar traindo Dante só por causa disso — se bem que eu e Dante não tínhamos nada, não fazia sentido ficar grilada com isso, mas nem por isso, mudaria o fato que eu estou apaixonada por ele. Minha vida não é mole, não. Já até me perguntara se verdadeiramente tinha deixado o outro mundo para trás, se na verdade minhas chances de estar com Dante novamente estariam perdidas para sempre ou ainda pior, presa sem poder nunca mais vê-lo. Tudo parecia distorcido e surreal como se na verdade tivesse caído em outro mundo, não o meu próprio. Mas quais eram as chances de que tudo isso não seja real? Talvez vinte ou trinta por cento, utilizando apenas minha intuição como alicerce. Estou em casa. Minha casa. Meu lar. Ainda parece uma mentira enquanto ando calmamente pelas escadas. Pode ser bizarro, mas não conseguia explicar com clareza a confusão de sentimentos que apertavam meu peito. Eu havia deixado um pequeno fragmento da minha alma no outro mundo e podia sentir sua ausência. Atualmente era apenas uma casca vazia sem sentido e entorpecida. Tendo pena da minha própria existência. Deve ser por essa razão que sentia que não pertencia a esse lugar. Eu é que estava deslocada, porém compreendia muito bem que tinha um lugar para mim e este era ao lado de Dante, na outra dimensão. O engraçado que apesar disso, ainda tinha tantas coisas engasgadas no fundo da minha garganta que não pude expor para Dante, por medo ou qualquer outro motivo que ao faz sentido agora. Não disse que o amava o suficiente, muito menos o quão Dante era importante para mim, que acima de tudo me fez feliz em meio ao caos que se acometia em nossa volta e que com ele nunca me senti sozinha. E não posso esquecer-me do temível e inevitável adeus. Adeus de tudo que abrangia Dante. Nada disso valia, eu não disse e me arrependo disso. Respirei fundo, com a sensação de ser trazida de volta à realidade. Certo, eu fazia parte daquele lugar e tudo fazia parte de quem eu era. Meu lugar era ali, como minha família e meus amigos — onde eu crescera e passara toda a minha vida. E tinha que ser sincera comigo mesma, não podia regressar mais. Esse era o final de tudo — agora pode rolar os créditos. Agora teria minha vida normal e estaria com minha família normal e agiria como uma garota humana normal, para variar. A vibração desse mundo me acolheu como uma mãe com seus filhos. Minha casa. Esta é minha casa de sempre, o lugar onde me originei e cresci com as mesmas cores cinza um pouco desbotadas de sempre e o velho piso de cerâmica escura e os moveis de madeira e mogno. Havia alguns quadros que tinha pintado quando mais nova — arte é um dos meus hobbies —, que pendiam na parede. Joguei minha mochila em um canto qualquer. Ouvi ruídos que emanavam da cozinha e fui até lá com Lyana no meu encalço. E lá estavam meus pais, conversando animadamente com uma pessoa um tanto familiar. Assim que entramos, a conversa cessou. — Olá, bebê — meu pai me cumprimentou, dando-me um forte abraço. — Oi Pai! Mãe! — forcei um sorriso. — E eu? Esqueceu-se de mim? Não mereço um beijo ou um abraço? — a terceira pessoa escarneceu, rindo — Sua indelicadeza e falta de atenção me magoam, doçura — brincou sarcasticamente, fingindo estar ofendido. Voltei minha atenção para ele, e tive que resistir para não arquejar de espanto e descrença. Não era possível. A pessoa que menos esperava encontrar estava na minha frente com um costumeiro sorriso atrevido. — Dante? Fora a única coisa coerente que consegui dizer.
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