Garotas apenas Querem se Divertir

3157 Words
Empurrei o copo para longe. Puxei todo ar que meus pulmões me permitiam e soltei de uma vez. Repeti esse processo por mais algumas vezes até ter certeza que estava calma. Fechei os olhos reprimindo a vontade de gritar de aflição e confusão. Mordi meus lábios até sentir o gosto de ferrugem. Deixei que todas aquelas emoções se esvaíssem lentamente com a batida da música. Não fazia sentido que me estressasse com a situação, mesmo o quão estranho e assustador que possa parecer. Era muito bizarro! Não é normal que uma pessoa diga que vai ficar de olho em você — a não ser que seja uma pessoal próxima, que chega a ser compreensível. E quando se trata de um desconhecido? Rezei para que Dante voltasse logo, e fôssemos embora de uma vez. Meus olhos varreram o lugar, tentando penetrar através do nevoeiro, das luzes de show coloridas piscando vindo do teto alto do clube e de corpos serpenteando. Nada de encontrar Dante. Havia vários pares de olhos me sondado, um particularmente me incomodou mais. Não sabia de onde vinha, porém sentia me perfurando sem hesitar — tinha certeza que era ela. Convencia-me inutilmente de que tudo era coisa da minha cabeça. Contudo não podia ignorar minha intuição, principalmente levando em consideração que à maioria das vezes que ela acertava. Nessas condições — onde o receio parecia me consumir —, minha mente começou a processar pensamentos desconexos sobre estar sendo perseguida por outro maníaco — maníaca no caso — e que a qualquer momento de descuido meu, me pegasse. Estava quase surtando com a avalanche de emoções que me pareciam me corroer, embora lutasse para controlar. O garçom picarreu, quebrando completamente minha meditação. — Tudo bem? Quer um copo de água? — Não! — ponderei por alguns segundos — me dê algo forte e de preferência que não tenha gosto de álcool. Poderia não ser a ideia mais sensata, muito menos a mais inteligente a se fazer. Com os nervos a flor da pele, a única coisa que me restava para me acalmar era ficar tomar algo que fizesse meu estresse sumir — simplesmente parar de pensar. E se me entupir de álcool é a melhor opção, que assim seja. Claro que tinha um porém, eu não sou acostumada a beber — e mesmo sabendo que essa situação pedia muito isso —, não era muito tolerante. A chance de ficar chapada é certa. Justamente quando tinha prometido a Dante que me comportaria. No entanto, ele me deixar sozinha, de qualquer forma, não fora algo aceitável. Ele devia prever que algo inesperado poderia acontecer. Quando estou com medo costumo ser mais impulsiva que o normal e até meio inconsequente. O garçom deu-me um copo com conteúdo vermelho. Tomei em uma virada só, sentindo descer queimando pela minha garganta. O gosto era bom apesar da ardência que causava em minha boca, misturado com o doce sabor que lembrava vagamente cereja. No terceiro copo já não conseguia mais raciocinar direito. Meu corpo estava meio entorpecido pelo efeito do álcool. Tudo a minha volta rodava, deixando-me nauseada. A música batia quase que no mesmo ritmo dos meus batimentos cardíacos — em vários badooms poderosos no peito. De súbito, senti que todas as minhas preocupações se dissiparam em cada gole daquela mágica bebida. Nem lembrava mais o motivo dos temores anteriores. As luzes que refletiam na pista formavam brilhos multicoloridos e pareciam tão engraçadas que não entendia a razão de estar apenas olhando em vez de dançar com as pessoas normais. Fiquei completamente inebriada pela empolgação e inquietação. Já estava até tendo pensamentos de bêbada. Levantei a mão que segurava o copo, como se saudasse algo. — Viva a todos os malditos que me caçam! Viva minha sorte de merda! — dei outro gole e suspirei de prazer. Procurei por Dante novamente, vendo os corpos esfregando uns nos outros e o nevoeiro parecia ficar ainda mais espesso. Olhei sonhadoramente para as tudo a minha volta, não podia acreditar que nunca aproveitei verdadeiramente uma boate. Mas já não conseguia pensar em nada, além das luzes cintilantes e da música. Pergunto-me se ele acharia r**m o que faria agora. Dante ira ficar bravo naturalmente, quando perceber a maluquice que fiz. Caminhei tonta apoiando nas coisas que encontrava, incluindo pessoas, mesas e às vezes contava apenas com a força das minhas pernas. Uma mulher passou perto de mim, e pediu em meio à música: — Não faça isso — olhei para o nada quando busquei por quem quer que fosse, até pensei que seria uma alucinação por conta do meu alto grau de embriaguez. Ignorei o pedido. Se bem que quais eram as chances de dar alguma merda nisso tudo? A mesma de vacas voarem? De encontrar seu ídolo? Ou de entrar no mundo de um jogo? Nem faz mais sentido as coisas que estou falando. Dane-se! *** A forte luminosidade envolta pela fumaça e a música alta nunca incomodaram Dante. Ele ajeitou suas armas gêmeas de modo que ficassem despercebidas por baixo do casaco vermelho sangue, então andou despreocupadamente por entre os vários corpos agitando-se na pista em uma dança quente e energizante. A missão já estava concluída e agora podia aproveitar o resto da noite. Quem diria que havia um demônio seduzindo homens para depois devora-los justamente tão perto dele, no seu antigo clube favorito. E é claro, algo ainda precisava ser feito... Adentrar por meio daquelas pessoas parecia um verdadeiro desafio, e Dante com toda certeza adorava desafios independentes do grau — desde os mais simples aos elaborados. Antes de chegar ao balcão, atravessando a pista de dança uma jovem barrou seu caminho na massa de dançarinos e andou sedutoramente em sua direção. Dante a encarou. Era bonita, com os longos cabelos loiros e olhos tão azuis quanto o céu, não podia deixar de notar o rosto cheio de maquiagem não muito pesada. Usava um vestido n***o colado, permitindo ver todas as curvas de seu corpo. Não era de se jogar fora, pensou Dante. Ela sorriu sugestivamente, mordendo de leve o lábio inferior. — Oi docinho — a garota jogou os cabelos para trás e um sorriso brincou em seus lábios cheios de gloss rosa. Dante a olhou de cima a baixo, ela pareceu adorar e mostrou-se bastante feliz e segura de si com isso. — Olá baby — ele entrou no jogo. Fazendo um sinal para segui-la, a garota caminhou para um lugar menos agitado e privado. Dante não perdeu tempo, e foi atrás dela sentindo a familiar excitação de estar de frente à caça. A garota foi desaparecendo na fumaça colorida, e quando a encontrou, viu que estava inclinada em uma porta fechada. Um breve movimento a abriu. Dante se juntou a ela, deslizando para dentro do depósito. Na agitação e na euforia da embriaguez era normal que algumas pessoas fugissem para um local discreto — sendo esse o mais conveniente — para ter um tempo divertido. Mas esse não era o objetivo de Dante naquele momento. — Então docinho? Quer um pouco de diversão? — É exatamente isso que eu quero, baby. Faça valer a pena. — rapidamente desembainhou Rebellion. A mulher riu, a voz suave aos poucos se tornou aguda por fim quase grotesca. Não havia mais a bela figura feminina, agora via em sua frente um rosto distorcido e sedento por sangue. Os olhos negros com pupilas tão rubras quanto seu casaco, os cabelos pareciam tentáculos acinzentados e os afiados dentes como facas se riscavam. — Alguém precisa de um bom tratamento de beleza — Dante debochou, o demônio tentou corta-lo com suas garras. No entanto, atingiu apenas o piso que ficou com um grande buraco e pedaços de concreto voavam que varias direções. Dante sentou de pernas cruzadas em um caixote velho de madeira não tão afastado do alvo, ao mesmo tempo em que Rebellion estava pousada tranquilamente em seu ombro. — Pelo visto gosta do jeito difícil — constatou com um meio sorriso, olhando pretensiosamente para o estrago: — Sabe, também gosto do jeito difícil... Torna a brincadeira mais interessante. O demônio avançou contra Dante, que em um movimento rápido o cortou ao meio. A criatura soltou um grito estridente de agonia, mas ela recusava-se a morrer de imediato. — Apesar de ser uma boa distração chutar seu traseiro, não quero perder minha noite com você quando tem uma garota sexy me esperando — e sem mais delongas Dante cortou-a novamente, dessa vez acabando com o demônio. — Meu trabalho está feito. — fingiu um bocejo. Finalmente encontrara e eliminara o segundo alvo, e agora que estava livre iria procurar por Diva. A garota deve estar aborrecida de tanto esperar. Ajeitou Rebellion na capa de violão e saiu do depósito como se nada tivesse acontecido. Afinal andar com ele a vista poderia chamar muita atenção desagradável. E não queremos isso, certo? Dante saiu da pequena sala e escaneou a pista de dança, onde quadris desnudos brilhando por suor e alguns cobertos por couro apareciam e desapareciam no meio da névoa das onde as pessoas dançavam. Pode sentir uma leve e estranha perturbação no humor de Diva. Estava tão envolvido com a estabilidade emocional da garota que aquilo o entorpeceu momentaneamente. Por isso achava um saco compartilhar esse tipo de coisa. E nunca se acostumaria com isso. Houve uma energia incomum passando por ele enquanto andava tudo ao seu redor pareceu estar em câmera lenta. Uma batida quase imperceptível, e um vislumbre de uma mulher ruiva no meio das pessoas que agora balançavam vagarosamente. Tudo voltou ao normal e a garota não estava mais lá. Indolente, o mestiço prosseguiu em sua busca. Dante olhou para uma roda de pessoas, parecia que estava acontecendo um tumulto. Então ele caminhou para perto. Não tinha como não sorrir de profunda satisfação diante da cena; Diva estava dando uma chave de braço do um rapaz de cabelos escuros, e havia dois ao lado que pareciam inconscientes. Talvez ela não estivesse tão entediada quanto ele acreditava. — Isso é para você aprender a não mexer com garotas indefesas, seu merdinha! — Diva vociferou, fazendo força no aperto. Ninguém tinha coragem para deter a jovem esquentada. — Indefesa? — Dante ergueu a sobrancelha. Assim que a garota notou sou presença, imediatamente soltou o rapaz deixando-o cair pesadamente de cara no chão. Ela deu sorriu infantil e correu para os braços do mestiço, pisando propositalmente no corpo do rapaz. — Lembro que disse para me esperar e não se meter em problemas. — Mas você estava por perto. — ela abriu um sorriso inocente. Dante percebeu que Diva recendia a álcool. — Quantos você já tomou? — Uns... três... — ela levantou dois dedos, Dante riu e ergueu outro para ficar o "terceiro" dedo certo — ou sete — Diva deu uma gargalhada quase fazendo-a perder o equilíbrio. Ela usou Dante como apoio para não cair — Ou muuuiiiito mais! — Acho que vamos ter que ir para casa — Por quê? — perguntou, fazendo um biquinho. — Esta tão divertido! — Você esta chapada, m*l consegue ficar de pé. — Estou perfeitamente bem! — Diva se soltou, tentando manter-se adequadamente de pé. Dante a pegou antes dela perder o estabilidade novamente e tombar, aquilo tirou um risada da garota. — Viu? Estou ótima! Diva relaxou nos braços de seu protetor. E, de repente, fixou os olhos nele em uma expressão indecifrável. — Algo errado? — Dante... Você é tão bonito — Diva acariciou delicadamente o rosto de Dante, sentindo a textura de sua pele contra a dela, e acrescentou: — parece... — colocou um dedo nos lábios comprimidos, como se estivesse pensando — um deus sexy! Não! Um mestiço sexy! — Eu sei! Agora, princesa vamos volta para casa que você não está em boas condições — Diva suspirou, sem escolha e mordeu os lábios impaciente. — Certo papai! — respondeu como uma criança birrenta. Ela se virou para o grupo que se formará ali, e com toda animação gritou: — Tchau súditos! Diva acenou animadamente. Dante não sabia o que era mais engraçado, Diva se despedir chamando todos de súditos ou por eles acenarem de volta. Ainda havia uma grande movimentação nas ruas, principalmente de jovens que se distraiam pela música alta e à agitação noturna. Dante apertou delicadamente a cintura de Diva que estava inquieta. — Eu posso andar so-zi-nha! — resmungou. Dante não rebateu, até por que não tinha necessidade de discutir com a garota nesse estado. O máximo que acontecerá é reclamações e tagarelice de bêbada, isso se ela não tiver um treco ou acabar vomitando. Aparentemente, e mesmo estando muito embriagada, não aconteceu nem uma coisa e nem outra. A única distinção perceptível entre seu estado normal era a animação demasiada e a falta de pudor e bom senso — quase se jogando de cabeça na situação. Diva saltou cambaleante para dentro da agência, enquanto Dante fechava à porta. Antes que pudesse se preparar e protestar, Diva foi levada abruptamente para o banheiro e a chuva gelada despertou a sua fúria, que rapidamente tentou lutar contra a força que o mestiço fazia para mantê-la no lugar, mas era algo inútil comparando a força física de ambos. Dante não se importou com o esforço dela tampouco afrouxou o aperto. — Dante! Pare! — Diva se debateu feito um animal enjaulado. Aos poucos, ela desistiu e se abraçou firmemente em Dante usando o calor dele para se esquentar enquanto a água corria sobre ela e consequentemente sobre Dante também. — Não é tão r**m, não é? — A voz aveludada de Dante sussurrou em seus ouvidos. A única resposta fora um chiado abafado. Lentamente a sentou no chão frio e tirou suas roupas molhadas. — O que está fazendo? — perguntou um pouco grogue. — Não estou completamente estúpida, ainda posso tirar minha própria roupa. — Me dê um desconto, não é todo dia que isso acontece — brincou desabotoando a camisa branca justa que pela água estava transparente. — Se aproveitando de uma bêbada, Dante? — Diva forçou uma risada, enlaçando o pescoço dele. — Não, apenas te dando uma mãozinha nisso. — Dante não é bem uma mãozinha que eu quero de você — Desajeitadamente tirou a blusa. Era óbvio que Diva não estava falando coisa com coisa, mas tinha que admitir que nesse estado ela parecesse muito mais solta. — Me diga o que você quer então, talvez eu te dê. — Eu quero... — Diva puxou à calça — Meu ajude aqui com isso — Dante ajudou a, por fim, retirar a calça. Então colocou uma toalha em volta do corpo tremulo da garota. Normalmente e em plena consciência, Diva nunca em hipótese alguma o deixaria vê-la seminua. Mas chapada do jeito que estava nada parecia importar, e muito menos tinha condições para fazer por ela mesma. Diva se soltou de Dante. Rindo como uma criança contente em um parque de diversões ou perdida em passatempos, ela correu até a escada em sua frente, tanto para provoca-lo como para atiçar a pequena brincadeira. Dante não sabia se era fruto de sua imaginação ou se realmente a risada dela parecesse uma suave melodia em seus ouvidos. — Muito lento Dante! — cantarolou inocentemente, dando um giro para encara-lo. E ficaram assim, alguns minutos admirando um ao outro. Por um segundo, ela muito ciente do que fazia e lançou lhe um breve olhar malicioso e riu, colocando as mãos no quadril. Sabia que se tivesse tropeçado ou vacilado, significaria que ainda não encontrar-se em sã consciência, mas ela indicou estar muito segura do que fazia. Mas não tinha como ter certeza disso. Dante a alcançou, pegando-a nos braços e levou para cama. Ela aproveitou e se agarrou firme em Dante recusando a soltá-lo. — Não me deixe! — pediu dengosa. — Eu não vou, só preciso trocar de roupa. Afinal você me molhou — Diva agarrou ainda mais forte em Dante. — Tire a roupa e deita! — mandou — Não quero esperar mais! — Estamos impacientes, não é? Diva o libertou. Sem piscar ela observou cada passo e movimento do mestiço, até que ele se deitou ao seu lado. — E então? Vamos só deitar? — perguntou alvoroçada. — Tem algo melhor em mente? Dante sabia muito bem que sempre tinha algo muito melhor para se fazer. Entretanto não o fazia com ela nesse estado. Existia uma parte prudente nele, essa parte compreendia que não poderia se aproveitar de Diva do jeito que estava, mas a outra que tinha mais poder dizia que devia seguir em frente. De manhã, quando der conta do que fizeram, Diva vai querer mata-lo e logo vai entender e nem vai mais se importar. — Pensei que você fosse tentar... — Ela sentou na cama indignada. Dante fez o mesmo. — Doçura, você não está pensando com clareza. — Estou pensando muito claramente — ela apontou para própria cabeça. — Eu estou muito, mas muito consciente do que quero... As maçãs do rosto de Diva adquiriram um leve rubor, e pegou uma das mãos de Dante e levou para próximo de sua própria boca. E para surpresa dele, Diva lambeu o seu dedo indicador. Ela estava tornando as coisas ainda mais difíceis, e desde que chegaram ele esta se controlando para não fazer nada que possa se arrepender depois. Delicadamente a afastou. — Você... Não... Me... Quer? — indagou chorosa. As lágrimas começaram a deslizar pelo rosto corado dela e soluços escaparam pelos seus lábios. Ela realmente estava chorando por que ele a rejeitou? Dante não podia negar que a queria, mas não assim, desse jeito. E a ver chorar não ajudou muito na estranha tensão que se instalara no quarto. — Doçura... — Eu sei que não sou tão bonita quanto a Lady ou a Trish... Talvez você prefira uma mulher em vez de uma garota como eu. Dante começou a rir da situação. Diva o fulminou com os olhos. — Qual é a graça? — aquilo só fez com ela chorasse ainda mais e dessa vez de raiva. — Olha, não sei onde você arrumou essa ideia estranha de que eu goste da Lady ou da Trish... — Diva respirou fundo e voltou a encara-lo — Não fique com ciúmes, você sabe que eu só tenho olhos para você. — Prove então... Dante a puxou para perto e a beijou. Quando amanhecer ele pensara no que fez e nas consequências disso. Ele a deitou na cama, e quase que imediatamente percebeu que Diva não reagia, e quando foi verificar não segurou o riso de frustração. Era trágico e ao mesmo tempo cômico. Diva tinha desmaiado. Literalmente dormido antes que pudessem fazer alguma coisa. Que broxante, pensou rindo de si mesmo pela chance perdida. Mas tinha que admitir, nisso tudo, que bêbada ela fosse muito mais divertida. E como resultado, amanhã teria que aguentar uma Diva irritada e com ressaca. Pelo menos teria muito que contar a ela.
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