O Bebê que o traficante (nunca) quis!

Prólogo Aline narrando Eu corria o mais rápido que podia. Meu coração parecia querer saltar do peito enquanto eu me escondia dentro de um carro destrancado no estacionamento do prédio. Meu corpo tremia de medo e cansaço, mas meus pensamentos estavam em Helena. Eu só queria protegê-la. — Aline, é melhor você se entregar! — a voz de Carlos ecoava pelo estacionamento, firme, mas não agressiva. — Ela deve estar por aqui! — Leonardo gritava. — Revistem todos os carros, olhem em cada canto! As lágrimas rolavam pelo meu rosto enquanto eu tentava controlar o desespero. Eu não tinha medo de ser presa, meu verdadeiro pavor era cair nas mãos de Maurício de novo. Se ele me encontrasse, me arrastaria de volta para aquele inferno na favela. E o pior: ele faria de tudo para descobrir onde Helena estava. Eu não podia permitir que ela corresse perigo. Quando aceitei trabalhar na casa de Carlos, não pensei nas consequências de me envolver com dois policiais. Tudo o que eu queria era estar perto da minha filha. — Se você se entregar, Aline, podemos negociar a sua pena! — Leonardo insistia. — Ela não vai se entregar — outro policial comentou, com tom impaciente. — Não dificulta as coisas, Aline — Carlos disse, sua voz mais suave. Os passos se aproximavam do carro. Eu me encolhi ainda mais, mas sabia que era questão de tempo até me encontrarem. — Eu estou aqui — minha voz saiu baixa, mas firme, ao abrir a porta do carro. Em segundos, eles correram em minha direção. — Encosta no carro, anda! — Leonardo ordenou, com frieza. — Maria, revista ela. Uma policial me revistou com profissionalismo e rapidez. — Ela está limpa — informou. — Algemem e coloquem no camburão — Leonardo determinou. Antes de entrar no carro, meus olhos se ergueram para a janela do prédio. Ali estava dona Silvia com Helena em seus braços. Meu coração se apertou. Minha pequena... Eu faria qualquer coisa para mante-la em segurança. Na delegacia, a tensão pairava no ar. Leonardo sentou-se à minha frente, enquanto Carlos e outros policiais acompanhavam o interrogatório. — Você está sendo presa por abandono de menor, falsa identidade e por ser cúmplice do traficante Maumau — Leonardo enumerou as acusações com frieza. — Eu nunca fui cúmplice dele — murmurei. — Mas ser casada com ele me tornou um alvo fácil para a polícia. Carlos cruzou os braços, me observando com atenção. — Você tem direito a um advogado — ele informou. — Já acionamos um do Ministério Público. — Ou o seu marido vai pagar um para você? — Leonardo provocou, seu tom repleto de amargura. Eu levantei o olhar para ele, mas não respondi. — Se quiser falar, este é o momento — Carlos acrescentou. — Podemos te ajudar, mas você precisa confiar em nós. — Qual a garantia que eu tenho? — questionei, minha voz embargada. — A mesma que te demos durante todo esse tempo — Carlos respondeu com firmeza. — Se você não quiser falar, avise logo — Leonardo cortou, impaciente. — Eu já peço para te levarem para a cela. Ele estava decepcionado. Eu sabia disso. Ele confiou em mim, e eu menti. Mas eu não tinha escolha. — O que vocês querem saber? — cedi, com um suspiro resignado. Carlos trocou um olhar com Leonardo antes de continuar. — Queremos saber tudo, Aline. Desde o início com Maurício até você chegar aqui. Eu estava perdida de qualquer jeito. Maurício nunca desistiria de me encontrar e me destruir. Talvez contar a verdade fosse a única forma de salvar Helena. — Eu conheci Maurício há seis anos, na praia — comecei, minha voz tremendo levemente. — Quantos anos você tinha? — Leonardo perguntou, anotando algo. — Quinze. — Você sabia quem ele era? — Carlos insistiu. — Não. Eu só descobri quando já estava grávida. A caneta de Leonardo batia ritmicamente na mesa, ecoando no silêncio pesado da sala. Eu sabia que ainda havia muito a contar. E, para proteger a minha filha, eu não podia mais esconder a verdade.