08

2148 Words
Tobby começou a observar o rosto de Blake de baixo para cima. Primeiro aquele queixo quadrado e o maxilar trincado, que ele já conseguia ver antes do capuz ser levantado. Depois ele focou o olhar nos lábios rosados e cheios, as bochechas arqueadas, o nariz reto, Aquilino e empinado, os olhos azuis absurdamente claros emoldurados por cílios loiros e curtos e sobrancelhas grossas e retas, e por fim, o cabelo claro cortado rente à cabeça, como se tivesse sido raspado à algumas semanas. Tobby também percebeu que havia um piercing na sobrancelha esquerda e na orelha direta. Blake era... Simplesmente assustador e lindo ao mesmo tempo. Tobby ficou completamente desconcertado e surpreso, e seu stalker percebeu isso, pois um pequeno sorriso surgiu no canto dos seus lábios, fazendo uma covinha profunda surgir na sua bochecha. Tobby não sabia ao certo o que estava esperando, mas definitivamente não era alguém como aquele cara... — Bom, agora que já me viu, Baby. Acho que já vou indo. Nos vemos outra hora. — Blake disse, acenando levemente para Tobby com a mão e desligando a ligação logo em seguida. Ainda sorrindo, ele passou por cima da mureta de proteção da sacada e pulou, aterrissando com uma agilidade felina lá no chão, à uns quase três metros de distância de onde a sacada ficava. Blake começou a correr e sumiu na escuridão do bosque poucos segundos depois, deixando Tobby completamente abismado, ainda segurando o celular e tentando assimilar tudo que havia acabado de acontecer. Soltando um suspiro longo, o rapaz foi até a parede de vidro e puxou as cortinas para cobri-la, antes de caminhar até a cama e deitar, embora não estivesse com sono. [•••] Tobias passou a noite quase toda em claro, e até mesmo depois de ter saído para a cafeteria e começado a trabalhar, seus pensamentos o levavam repetidas vezes até Blake. Quando fechava os olhos, a primeira coisa que Tobby via era aquele sorrisinho malicioso, como se a imagem tivesse sido tatuada por debaixo das suas pálpebras. As manhãs na cafeteria serem eram o horário mais movimentado, mas naquele dia sequer isso acontecia. Depois de atender duas senhorinhas e um cara de trinta e tantos anos, a cafeteria ficou um completo silêncio durante os cinquenta minutos seguintes. Tobby apoiou os cotovelos no balcão de madeira polida e ligou para John, que atendeu poucos segundos depois. — Eu vi o meu stalker ontem. Falei com ele. — Tobias disse de forma urgente para o amigo, que ficou em silêncio por algum tempinho digerindo a informação. — Ele foi... Na sua casa? — Sim. E subiu na sacada do meu quarto. — Tobias completou, começando a roer uma das unhas nervosamente. — Você ligou pra polícia?? — Claro que não!! O cara tava de frente pra mim, John. Você sabe que ele consegue abrir trancas em um piscar de olhos. Se eu tivesse ligado pra polícia, ele teria tempo de me matar, me reviver com uma macumba e me matar de novo umas três vezes antes dos policiais chegarem e ficarem buzinando de frente pro meu muro!! E além disso... — Tobby explicou apressadamente para o amigo toda a conversa. Dizendo as informações que conseguiu sobre o stalker e a aparência dele. — Deixa eu ver se entendi. — começou John, depois de Tobby terminar de explicar. — Seu stalker foi até a sua casa, vocês ficaram conversando de boa, ele tirou o capuz do casaco e mostrou a cara dele pra você. E agora você não consegue parar de pensar nele, porquê ficou apaixonadinho e impressionado com o quão lindo ele é? — Ei! Eu não disse isso!! — Tobby exclamou, repassando na sua cabeça tudo que havia dito no último minuto. — Você soltou um suspiro bem longo quando descreveu a aparência dele. — Ah, John. Vai se f***r. — Tobby sentiu suas bochechas queimarem enquanto o amigo soltava uma risada baixinha e nasal. — Então... Ele pareceu ser perigoso? Esse Blake já invadiu sua casa, mas acha que ele tentaria algo à mais? — John perguntou, fazendo Tobias pensar por alguns segundos. — Pra falar a verdade... Eu não sei direito. O cara tem praticamente a nossa idade, John. Era mais assustador quando a gente imaginava que seria um velho de quarenta anos que tinha uma espécie de tara por novinhos. — O rapaz soltou um suspiro e coçou a cabeça. Ele havia deixado de fora da versão que contou para John a parte em que Blake tinha confirmado sobre ter matado pessoas antes, porque isso faria o seu amigo simplesmente surtar. — Agora que você sabe o perfil dele, e eu também, vai ser mais fácil para depor na polícia caso alguma coisa aconteça. Também temos as gravações. Mas eu ainda acho que você deveria dar no pé, amigo. Bonito ou não, jovem ou não, ele continua sendo um stalker que invadiu sua casa. — Eu sei, J. — Tobby respondeu. Ele continuou conversando com seu amigo por mais alguns minutos, antes de finalmente se despedirem e encerrarem a chamada. Tobias resolveu que juntaria um pouco de dinheiro e iria passar um fim de semana com John. Ele soltou um suspiro ao perceber que talvez estivesse sendo um péssimo amigo nos últimos dias, onde a conversa entre eles praticamente sempre girava ao redor de Tobby e de seu stalker misterioso, mas o rapaz resolveu que iria mudar aquilo urgentemente. Ele estava baixando mais um dos inúmeros joguinhos aleatórios que sempre usava para passar o tempo na cafeteria, quando aquele pequeno sino preso na parte de cima da porta tocou, indicando que um novo cliente havia chegado. Tobby desligou o celular rapidamente e ergueu o olhar. — Ah! — Ele soltou um gritinho de susto ao ver Blake entrando pela porta e caminhando em direção ao balcão em passos tranquilos. Ele vestia uma calça e uma camisa preta, sem moletom por cima dessa vez. Os dois braços dele eram completamente tatuados, com uma confusão de rosas, espinhos, símbolos e vários outros desenhos cobrindo desde os pulsos e desaparecendo dentro da manga da camisa. As rosas eram as únicas coisas coloridas. Manchas de vermelho em meio a imensidão de cinza e preto que eram as outras tatuagens. — Bom dia. Vou querer um café puro, sem açúcar. — Blake disse depois de lançar um rápido olhar para o cardápio preso acima dos prateleiras. Ele olhou para Tobby e abriu um pequeno sorriso, fazendo o mais novo prender o fôlego. Em plena luz do dia, Blake era ainda mais bonito do que durante a noite, apesar de deixar Tobby assustado do mesmo jeito. Tobias percebeu que Blake estava cuidadosamente fingindo que não o conhecia e que não estava o perseguindo nos últimos tempos, apesar de que aqueles olhos azuis claros estavam cheios de diversão. Tobby inspirou fundo e foi preparar o café, sentindo o olhar do outro rapaz seguir cada movimento seu. Felizmente, o café puro era o mais fácil de ser feito e ficou pronto em menos de um minuto. O rapaz colocou o café em uma das xícaras de porcelana e levou até o balcão. Ele pretendia colocar e dar dois passos para trás rapidamente, colocando o máximo de distância ele e o outro cara, mas assim que Tobby fez menção de colocar a xícara no balcão, Blake avançou rapidamente com uma velocidade sobrehumana, ficando logo de frente para o mais novo. O seu stalker era ainda mais imponente de perto, e ele exalava um cheiro levemente amadeirado e cítrico, além de um cheiro vagamente familiar que lembrava um dos perfumes favoritos de Tobby. — Obrigado. — Blake agradeceu, pegando a xícara antes que Tobby sequer a soltasse, fazendo os seus dedos se tocarem e uma onda de eletricidade estática subir pelo seu braço. O jovem observou Blake caminhar até uma das mesinhas circulares e sentar na cadeira, já começando a tomar o café sem pressa alguma, lançando olhares ocasionais para Tobby, que sentia seus dedos formigarem e não conseguia desviar o olhar. Ele simplesmente não conseguia entender como um cara como aquele fazia tantas coisas malucas. Cada segundo parecia passar em câmera lenta, e Tobby tinha certeza de que Blake estava prolongando o máximo possível aquele momento só para provoca-lo, pois ele tomava pequenos goles com longos intervalos de tempo entre um e outro. Tobias acompanhava cada gole, contando-os mentalmente enquanto observava o pomo de Adão dele subir e descer. Ele queria perguntar o que diabos o outro fazia alí, porque estava sendo perseguido daquela forma e outra centena de coisas, mas se seu stalker estava fingindo que nada estava acontecendo, ele achou melhor fingir também. Depois do que pareceu ser uma eternidade, Blake finalmente terminou de tomar o café, mas ao invés de deixar o dinheiro em cima da mesa e sair, ele levantou e levou a xícara vazia até o balcão, colocando-a de frente para Tobby, que deu um passo incerto para trás. — Estava ótimo, moço. Seu café é delicioso. — Agradeceu ele, abrindo um sorriso radiante e mostrando duas fileiras de dentes brancos e retos. Se já não conhecesse aquele rapaz, Tobby iria corar absurdamente e ficar um pouco desconcertado com a sua súbita gentileza e beleza, mas Tobby já tinha uma boa ideia da personalidade oculta por trás daquele rosto e daqueles olhos azuis, então além de corar, ele sentiu os pelos da sua nuca se eriçarem. Tobby constatou que o cara realmente era um psicopata, pois quem tomava café puro SEM AÇÚCAR e dizia que estava delicioso? Aquilo alí deveria amargar mais que fel. — O-obrigado. — Agradeceu ele, pegando a xícara e já levando até o lava-louças apenas para ter um motivo de não enfrentar de frente Blake, que tirou uma nota de vinte dólares e colocou em cima da bancada. — Adorei sua camisa, aliás. Ela é bastante fofa. — Blake apontou para a camisa quadriculada e abriu um sorriso mais largo ainda, fazendo a covinha aparecer na sua bochecha. — Obrigado. — Tobby repetiu, engolindo em seco e tentando não encarar diretamente aqueles olhos azuis, que pareciam conseguir ler a sua alma. Blake decidiu que já o havia provocado e deixado desconcertado o suficiente, porque depois de um último e eletrizante olhar, ele enfiou as mãos nos bolsos da calça e deu meia-volta, caminhando em direção a porta da cafeteria sem ao menos esperar pelo troco. Ele abriu a porta, mas antes de atravessa-la, olhou por cima do ombro e ergueu a mão para acenar para Tobby. — Nos vemos por aí, Ratinho. — Ele disse, antes de sair da cafeteira e sumir de vista. O apelido provocante ecoou pelo interior do estabelecimento e fez Tobby sentir suas bochechas arderem, enquanto ele respirava fundo e tentava se acalmar. Ele queria ligar para John novamente, mas não queria encher o seu amigo com seus problemas mais ainda. Tobby achou que poderia estar ficando louco, porque apesar de assustado, o seu corpo inteiro estava formigando sem parar, além de que cada pelinho do seu corpo estava eriçado. Ele fechou os punhos com força e tentou se acalmar, embora não obtivesse tanto sucesso com isso. Aquele cara provocava dezenas de sensações diferentes em Tobias, que sentia medo, nervosismo, receio... Mas também haviam sentimentos que ele não sabia identificar ou compreender, e eram justamente aqueles sentimentos que o estavam deixando completamente maluco. Ele queria que Blake o deixasse em paz, mas ao mesmo tempo... Tobby se sentia desejado, queria continuar vendo aquele sentimento estranho brilhando nos olhos do seu stalker sempre que olhava para ele. Tobby sabia que aqueles sentimentos estranhos definitivamente eram anormais, mas mesmo assim não conseguia parar de pensar naquele cara maluco que o estava deixando completamente maluco também. O rapaz soltou um rosnado e pegou o celular, para jogar algum joguinho aleatório, ouvir músicas, visitar o i********:, assistir alguma coisa... Não importava, ele só queria ter alguma coisa para ocupar a mente e tirar aquele maldito da sua cabeça. [•••] Enquanto caminhava pela rua, Blake soltou um rosnado de fúria. Ele havia aparecido já cafeteria justamente para instalar uma câmera de forma sorrateira, mas assim que colocou os olhos no seu ratinho fofo, o pensamento desapareceu por completo da sua mente. Ele nunca havia stalkeado daquela forma ou ficado tão obsessivo por alguém, mas aquele rapaz era... Era... Blake não conseguia explicar direito. O rapaz pegou a mini câmera que estava no seu bolso e a jogou longe, resolvendo parar de tanta paranóia. Porque diabos ele queria colocar uma câmera ali inicialmente? Não havia motivos para isso, aquele lugar era bastante parado mesmo. Mas assim que Blake viu a câmera quicando pela rua, ele se arrependeu de ter feito isso, porque queria continuar assistindo o seu Ratinho trabalhando naquela roupa engraçada. Não. Blake constatou que não precisava de gravações, pois ele poderia fazer isso pessoalmente sempre que quisesse.
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