Se Tobias podia colocar câmeras pela casa, Blake podia muito bem fazer o mesmo. O seu ratinho achou que se colocasse uma câmera na parte da frente do casarão iria impedi-lo de entrar pelo hall da casa, mas ele poderia escalar facilmente a parte de trás da construção, mesmo que não tivesse absolutamente nenhum lugar onde ele poderia se segurar. Blake estava se arriscando bastante ao entrar na propriedade durante o dia, mas aquela foi a primeira oportunidade que surgiu.
Tobby saiu de bicicleta durante a tarde, então Blake pulou o muro da parte dos fundos, escalou até o terceiro andar e destrancou uma das inúmeras janelas que dava acesso à um dos quartos. O andar mais alto parecia ser completamente inutilizado, pois todos os quartos estavam um tanto empoeirados e trancados por fora (Blake abriu a porta facilmente e saiu pelo corredor). Ele andou apressadamente pelo casarão, atento à todos os minúsculos cantos para procurar sinais de câmeras, mas não encontrou nenhuma delas alí.
O rapaz havia comprado quatro câmeras portáteis das mais resolutivas possíveis. Uma delas ficou no corredor do segundo andar, duas no quarto de Tobby, uma delas na escada e a última na sala, onde ele só entrou depois de checar todo o lugar para ver se haviam câmeras (e havia uma logo atrás da TV, mas que era facilmente burlada, pois assim que a câmera girou para a esquerda para filmar a porta, Blake pulou as escadas e correu para a cozinha, colocando a câmera presa um pouco acima do vão da entrada).
Blake não se considerava psicótico, obsessivo ou qualquer outra coisa do tipo, mas ele definitivamente gostava de se divertir usando métodos não muito convencionais. Ele sabia que Tobias estava com medo dele, mas ele nunca fazia absolutamente nada para machucar o rapaz. Depois que eles se encontrassem cara a cara pela primeira vez e Blake não detectasse sequer uma pitada de desejo naqueles olhos escuros, ele iria desaparecer e deixar aquilo de lado, mas se visse pelo menos um flash de emoção naquele rosto lindo... Blake definitivamente iria até o final.
Depois de instalar as câmeras, ele saiu pela porta da cozinha e foi embora tão rapidamente quanto chegou, checando às horas e percebendo que não havia ficado alí sequer vinte minutos.
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As câmeras de Blake eram de última geração e além de sensores de movimento, também gravam sons. Naquela noite, ele estava jogado só de cueca na cama do apartamento que havia alugado, com o iPhone de última geração em uma das mãos e um MacBook ligado na sua frente.
— ... Quando você vai voltar para a capital, Blake? — A voz fina e levemente irritante de um dos caras que contratavam seus serviços perguntou. Blake era basicamente um hacker, ladrão e assassino de aluguel, dependendo do serviço que quisessem e do dinheiro que estivessem dispostos a pagar.
— Estou resolvendo algumas aqui. Talvez apareço no próximo mês. — Ele respondeu vagamente, olhando as novas mensagens pelo seu MacBook e respondendo todas as perguntas que seus chefes faziam, ligação após ligação. Pelo visto quando ele voltasse teria bastante serviço à fazer.
Blake ignorou totalmente as mensagens de suas ex-ficantes e excluiu duas dúzias de contatos insistentes, antes de ir ver algumas das filmagens do seu ratinho.
O rapaz arregalou os olhos ao ver aquela cena no sofá, que enviou uma onda de raiva pelo seu corpo. O ângulo não era muito favorável, mas Blake conseguia ver claramente Tobias beijando alguém, apesar dele não conseguir ver o rosto do cara (tudo que Blake conseguia ver eram as pernas nuas e longas).
Ele soltou um rosnado de puro ciúme e raiva, antes de ligar rapidamente para o número de Tobias, ligando e desligando várias vezes e acompanhando em tempo real pelo MacBook o que estava acontecendo no casarão. Ele soltou um grunhido de alívio ao ver ser ratinho levantar de cima do outro cara, pegar o celular e caminhar em direção à cozinha, passando por debaixo de onde a câmera estava e sumindo de vista.
Blake não era de fazer ameaças e definitivamente não faria nenhuma ameaça diretamente à Tobias, mas ele não viu problema algum em jogar uma pitadinha de medo em cima do seu ratinho, só para ele tomar cuidado onde pisava e com quem deixava toca-lo. O rapaz não conseguiu dormir pelo resto da noite, pois não queria parar de vigiar o seu Ratinho e não deixá-lo cometer um deslize.
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No domingo, após comerem uma quantidade absurda de panquecas, Tobby se despediu do amigo com um abraço apertado, envolvendo a sua cintura com os dois braços e sentindo Jackson devolver o abraço.
— Qualquer dia aparece lá por casa, Tomtom. — Disse ele, acariciando levemente o cabelo castanho de Tobby, que confirmou com a cabeça, antes de desgrudar de Jackson.
Tobby havia dormido igual um bebê com o amigo ao seu lado, mas sempre que recobrava a consciência, as preocupações voltavam também. Enquanto observava Jackson entrar no carro e começar a dirigir pela estrada que cortava o bosque, ele acenou levemente com a mão, sentindo-se subitamente sozinho de novo. Tobby sabia muito bem que Jackson tinha uns vinte ficantes, e que provavelmente deveria organizar tudo em uma agenda para dar conta de todos. Ele sabia que o amigo não havia ficado irritado por eles (literalmente) só terem assistido o filme e terem ido dormir depois.
Tobias entrou no casarão e fechou a porta logo em seguida. Ele não havia feito nenhum plano para o dia e não fazia ideia de como matar seu tempo livre, mas constatou que não poderia deixar a sua vida parar por causa de tudo aquilo. Tobby estava meio que cansado de tudo aquilo, de ter que fugir, de ficar com medo, de ficar olhando pelos cantos e esperando que um sociopata se materializasse logo na sua frente.
O rapaz resolveu tentar ignorar tudo por um dia, então passou as horas seguintes lendo um dos seus livros favoritos, cozinhando várias comidas difíceis e escutando músicas no volume máximo.
O problema era que apesar do dia divertido, quando a noite estava caindo, tudo aquilo voltava a vir à tona novamente, fazendo-o ficar um pouco apreensivo. Pouco depois do sol se pôr por completo, ele saiu checando todas as fechaduras e empurrando móveis até às portas principais (uma poltrona na porta da frente e uma cadeira debaixo do trinco na porta da cozinha).
Tobby tomou um demorado banho e se jogou na sua cama, vestindo apenas uma boxer e uma camisa grande por cima. O rapaz ligou para John, avisando casualmente que não queria que a conversa girasse ao redor daquelas coisas estranhas, até porque ele precisava descansar sua mente disso por um tempo. Eles conversaram por quase duas horas inteiras, falando sobre livros, filmes, trabalhos, faculdades, planos para o futuro... Com John, a conversa era uma coisa que jamais iria morrer.
Já eram quase dez horas da noite quando ele escutou um pequeno barulho vindo da sacada, como se alguém tivesse jogado uma pequena pedra contra a parede de vidro do quarto. Um calafrio passou pelo corpo de Tobby, que sentiu seu coração martelar de forma descompassada, principalmente ao perceber que o quarto estava quase que escuro por completo, e a única luz vinha do abajur ao lado da cama.
Tobby levantou da cama e sentiu as suas pernas meio bambas enquanto ele caminhava em direção a parede transparente, soltando um gritinho de susto ao ver o seu stalker parado lá embaixo no quintal, à um passo do limite da floresta e completamente iluminado pela luz da varanda, sem sequer se importar em ser filmado.
Ele vestia um jeans surrado e coturnos desgastados dessa vez, além de um moleton cinza com capuz erguido e com as mangas puxadas até os cotovelos, deixando exposto os seus antebraços tatuados.
O seu stalker olhava diretamente para cima, e Tobby acompanhou em tempo real enquanto ele tirava o celular do bolso e ligava, fazendo o celular que estava na sua própria mão (que estava no silencioso desde de manhã), começar a vibrar instantaneamente. Tobby engoliu em seco e atendeu a chamada, levando o celular até a orelha.
— Oi, Ratinho. — Aquela voz rouca acariciou os seus tímpanos, fazendo os pelos da nuca do rapaz se eriçarem. O tom do seu stalker era alegre e levemente brincalhão, como se eles fossem bons amigos.
— V-veio me matar e acabar logo com o seu joguinho?
— Nunca machucaria você, Tobias. — Respondeu ele, como se Tobby fosse acreditar naquilo. Antes que o rapaz conseguisse responder, o seu stalker continuou: — Não quero assustar você, mas vou subir na sua sacada, okay?
— O-o que?! — Tobby gritou, vendo o homem correr pelo quintal e começar a subir pela coluna da varanda com uma velocidade absurda, fazendo-o dar alguns passos para trás e ficar pressionado contra a porta do quarto m*l iluminado, com o coração quase saindo pela boca.
O homem apareceu na sacada cinco segundos depois, mas não fez menção de se aproximar da parede de vidro e apenas ficou ali, sentado naquele murinho que protegia a sacada. Tobby se sentiu subitamente vulnerável e fraco, estando a menos de cinco metros daquele homem e vestindo apenas uma camisa surrada por cima da cueca Boxer. Apesar da pouca luz vinda do abajur, ele sabia que aquele cara conseguia vê-lo, assim como Tobby o via.
Olhando de perto e pessoalmente, o seu stalker era ainda mais alto do que ele esperava. O cara não era super musculoso, mas sim atlético de uma forma escultural, com coxas grossas, uma cintura fina, ombros largos e braços torneados. Ele ainda não conseguia ver o rosto do homem por causa do capuz (que criava uma sombra proposital), mas conseguia ver um queixo quadrado e anguloso.
— Sei que talvez as minhas ações até agora podem não ter sido muito legais, e queria pedir desculpas, ratinho. — Aquela voz rouca disse com tranquilidade ao telefone. Tobby sabia que aquela parede de vidro não era a prova de som, mas que barrava pelo menos metade dele.
— "Talvez"? — Respondeu Tobby, fazendo o homem rir do outro lado da ligação.
Os dois se encararam por longos segundos, enquanto Tobby se perguntava se deveria sair correndo dali e chamar a polícia.
— Q-qual o seu nome? — Tobias quis saber. Talvez juntar o máximo de informações possíveis fosse importante, embora ele não tivesse como saber se as respostas seriam verdadeiras ou não.
— Pode me chamar de Blake. — Respondeu o homem automaticamente, tão rápido que Tobby tinha quase certeza de que era verdade, pois ele não havia exitado um segundo sequer para procurar um nome aleatório na cabeça.
— Quantos anos você tem, Blake?
— tenho vinte e três, ratinho. — sussurrou ele, fazendo Tobby soltar um pequeno rosnado por causa do apelido e Blake rir logo em seguida. Tobias ficou absurdamente surpreso com a idade do outro rapaz, que era tão próxima da sua que ele não conseguia acreditar. Além disso, alguma coisa fazia Tobby sentir verdade nas palavras.
— V-você já... Matou alguém? — Tobias gaguejou, vendo o outro rapaz exitar por alguns segundos, como se não soubesse se deveria falar ou não.
— Já sim. — Blake admitiu, então Tobby confirmou levemente com a cabeça logo em seguida. Ele não esperava menos de alguém que invadia a casa dos outros e stalkeava pessoas daquela forma, além de que não tinha idade definida para pessoas começarem a cometer crimes. Tobby ficou surpreso pelo cara ser jovem, mas não importava se ele tinha vinte e três ou trinta anos. Ele resolveu cuidadosamente ignorar esse assunto de assassinato, pois um arrepio de medo já estava subindo pela sua coluna.
— C-como você é? V-você nunca tira esse capuz. — Tobby gaguejou. Se ele tivesse um perfil completo do cara, poderia ser mais fácil para descobrir de quem se tratava.
— Sou como você quiser que eu seja, Baby.
— C-como assim?
— Se você quiser que eu fique ruivo, moreno, com cabelo branco... é só mandar.
— Quero saber como você é naturalmente. — Tobby o interrompeu.
— Loiro. — Blake respondeu, dando de ombros. — Quer ver meu rosto, ratinho?
— Não me chama de ratinho. E sim, quero ver. — Tobias resmungou, sentindo o seu coração bater de forma descompassada, ao mesmo tempo em que sequer desgrudava os olhos de Blake, vendo-o agarrar as bordas do capuz do casaco e puxa-lo para trás de forma lenta apenas para fazer um suspense, mas assim que o seu rosto estava completamente visível, Tobby arregalou os olhos, abismado com o quão deslumbrante era seu stalker.