CINCO – NO FIM DAS ESPERANÇAS

1206 Words
10 dias depois, Seattle, Washington – Sinto muito, você não tem experiência então não podemos te contratar. – Faz uma semana que eu procuro emprego em diversos tipos de lugares e tudo que eu ouço depois de apenas algumas perguntas é essa, algumas de forma mais educada do que outros. Eu achei que seria fácil a vida aqui em Seattle quando cheguei, que com alguns dias eu arranjaria um emprego e sairia da casa de Gustav e viveria a minha sonhada vida independente, (sonhada a uma semana apenas, mudança de planos) mas não foi bem assim. No primeiro dia que eu sai para procurar trabalho, estava confiante que conseguiria um emprego na grande Seattle mas as portas se fecharam para mim por onde quer que eu passasse e tudo isso se repetiu nos cinco dias da semana, dei uma pausa no sábado e no domingo para recuperar as energias perdidas e reestabelecer a minha autoconfiança em mim mesma e bastou alguns minutos da segunda-feira para acabar com toda essa energia e autoconfiança que eu lutei para erguer. A falta de algo para colocar no currículo só piorou a minha situação e fez a proposta de um emprego soar mais distante ainda, eu não tenho nenhum curso, nenhuma formação, nada além do ensino médio. As mulheres da máfia não são preparadas para nada mais que se casar como se isso fosse a única coisa que somos capazes de fazer, bem, olhe para mim agora. Olho para o céu em busca de alguma luz que possa me iluminar, mas não há nada mais que nuvens pesadas mostrando que logo vai chover e é melhor que eu pegue um táxi até em casa se não quiser virar um p***o molhado e desempregado. No caminho até em casa, enquanto o táxi anda pelas ruas movimentadas, eu observo as pessoas passarem em direção a suas casas e alheias a tudo que acontece a sua volta. A vida aqui parece tão fácil, mas nem tudo que parece verdadeiramente e sei que cada uma dessas pessoas tem seus próprios problemas, mas, mesmo assim, levantam todos os dias com o pensamento de vencer. Há tantos pensamentos na minha mente e eu fecho os olhos um pouco para tentar descansar a mente. – Senhorita, chegamos. – Bom, pensando em descansar a mente acabei cochilando e nem percebi que já cheguei em casa, ou melhor, na casa de Gustav. A corrida dá 19 dólares. – Aqui, fique com o troco. – Digo entregando uma nota de vinte, não tenho mais dinheiro para esbanjar como antes, mas não é como se eu fosse ficar rica com um dólar. Não espero a resposta do taxista e saio do carro, que logo some de vista e eu entro em casa. Há seguranças por todos os lados, mas eles já me conhecem e eu posso sair da casa sem problemas o tempo inteiro. Estou com o pensamento de chegar em casa e ir para o meu quarto de mansinho chafurdar na minha auto piedade no conforto da minha cama, mas esse pensamento é interrompido assim que eu entro na casa e encontro Bernard folheando uma revista enquanto me espera na sala de estar. – OH, finalmente você chegou. Está chegando cada vez mais tarde. – Ele coloca a revista de lado e eu sento no sofá ao lado dele. Como eu previa, começa a chover forte e eu tenho certeza que eu ficaria molhada rapidinho lá fora. – Seattle é bem grande, estava procurando um emprego. – Bom, Gustav está querendo falar com você e pediu que fosse até o escritório quando chegasse. – Droga, ele vai me expulsar de casa e eu nem consegui um emprego ainda. Estou prestes a ser uma mendiga. – Ele disse o assunto da conversa? – Não. Mas é melhor você ir logo, já vamos jantar daqui a pouco. – Ele volta a pegar a revista e essa é a deixa para que eu saia. – Tudo bem. – Me levanto e saio indo para o escritório. Posso dizer que estou com a ansiedade a mil e milhares de possibilidades passam na minha cabeça, apenas no intervalo de tempo entre a sala de visitas para o escritório eu já criei uns trinta cenários na minha mente e nenhum deles é bom. Eu paro em frente a porta e respiro fundo criando coragem. – Entre. – A voz de Gustav sai abafada depois que eu bato na porta. – Você pediu para me ver? Boa noite. – Eu entro fechando a porta com as mãos trêmulas. – Como foi? Conseguiu um emprego? – De tudo que eu pensei que esse homem perguntaria, a frase que saiu de sua boca não passou nem perto do raio da minha mente. Estou confusa. – Bem, não. Mas não vou desistir. – É ótimo ver que você é persistente, mas tenho que ser realista com você, eu não acho que você conseguirá. – Bem… – Não sei bem o que responder depois de palavras tão diretas, elas bateram bem no meu coração. – Não precisa continuar procurando um emprego, pode trabalhar para mim. – Para você? – Eu arregalo meus olhos apavorada. – Sim, oh não, não esse tipo de emprego. Quis dizer para trabalhar aqui na casa, você pode ser a governanta. – Ele percebe meus olhos apavorados e esclarece, me deixando mais calma. – É ótimo que tenha pensado em mim, mas eu não sei como ser uma governanta. – E sabe como ser qualquer um dos outros empregos que está procurando? – Bom, nessa ele me pegou. – Pode começar como empregada, você vai aprender e se quiser pode se tornar governanta depois. O valor do salário é esse. Ele me entrega um papel com um valor mais do que satisfatório, é um salário ótimo até para mim. – Não acha que é muito? Eu nem sei fazer as coisas direito. – É o mesmo valor que pago as minhas empregadas. Terá direito a férias e folgas remuneradas, além de um quarto na casa, é claro. É claro que tem que manter sigilo sobre a máfia, temos muitos inimigos. É uma proposta muito boa, dificilmente eu conseguiria algo melhor do que isso e eu seria muito boba se não aceitasse. – Eu nunca trairia a família. Eu aceito a proposta para ser empregada. – Ótimo, pode começar amanha. Vou falar as outras empregadas que te tratem bem e te ensinem com paciência. – Eu tenho uma pergunta e um pedido para fazer. – Fale. – Quero pedir que não conte a minha família que estou aqui nem a família do meu namorado. – Ninguém saberá jamais que está aqui se depender de mim. E a pergunta? – Eu posso sair depois do horário de trabalho? Para ir ao shopping ou… – Kelyne, não é minha prisioneira, fora do seu horário de trabalho pode fazer o que bem quiser. Você é dona da sua própria vida agora. Eu assinto e combinamos os últimos detalhes do emprego e eu saio da sala logo em seguida para me preparar para o meu último jantar a mesa com Bernard e Gustav. A partir de amanhã, eu servirei eles dois mas em compensação, serei dona da minha própria vida.
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