Capítulo 04

1397 Words
Quando o sinal do almoço soou alto em todas as salas de aulas, os alunos saíram das classes afobados. Franchesco permaneceu na sala, ainda com a cabeça deitada sobre a mesa olhando para a janela. Adrian observava o amigo estranhando seu comportamento naquele dia. Dando a volta na carteira e sentando-se em frente do campo de visão do mais alto, o rapaz sorria sorrateiramente. ― Está doente? O rapaz de cabelos brancos piscou algumas vezes antes de erguer a cabeça e olhar em sua volta, percebendo a sala vazia. Quanto tempo teria se passado, apenas olhando para o nada? Encostando-se na cadeira, coçava a nuca envergonhado por estar distraído naquele dia. ― Não sei, uma sensação estranha mesmo. ― Deve ser tédio, vamos m***r aula. Finalmente alguma coisa parecia sair de sua rotina. Apesar de que já teria feito aquilo outras vezes. Mas não se recordava quanto exatamente. Estranhando a sua súbita onda de esquecimento, Franchesco se levantava da cadeira arrumando seu material. ― Bora. Como se energia voltasse para si, os dois jovens guardaram o material e se retiraram da sala. Passando pelo corredor eram cumprimentados por alguns jovens, o que para eles era a melhor parte do dia. Entretanto Franchesco não se sentia bem o suficiente, o desanimo de antes retornava aos poucos. Ficando no refeitório junto com Vincent, os três amigos planejavam como iriam ocupar o tempo das últimas aulas da tarde. Poderiam pular os muros dos fundos e irem para algum shopping, fliperama ou até mesmo paquerar algumas mulheres. Ideias que sempre fizeram parte da rotina de Franchesco, mas que naquele dia perdeu-se o encanto. O mais alto apenas remexia o copo vazio perdido em pensamentos novamente. Estava sentindo falta do quê? Por que estava tão vazio? Um sentimento r**m e que lhe angustiava ao mesmo tempo. Pensar nisso deixava-o com um desconforto no peito. Sutilmente olhou para a janela que reparou antes das aulas. Lá estava aquele mesmo garoto com o mesmo livro e a mesma caixa de suco. Inclinando a cabeça, o rapaz ficou observá-lo. Parecia diferente dos demais garotos, ao contrário do que teria imaginado anteriormente, além de estar imerso em um livro. Espreitando os olhos, como se pudesse enxergar melhor, Franchesco conseguira reconhecer a capa. ― Alice no país das maravilhas? Que infantil. Levando o copo descartável em seus lábios, passou a morder a borda enquanto voltava a conversar com os amigos. Tão breve o sinal tocara novamente fazendo os alunos retornarem para suas salas. Enquanto esperavam por Vincent juntar seu material, os dois outros jovens seguiram para o pátio dos fundos onde poderiam se esconder dos inspetores. ― Podemos ir lá no meu quarto, jogar alguma coisa ― Adrian sorria largo enquanto caminhava para perto do muro por onde iriam pular ― Ganhei uns jogos do meu primo, daqui ó. Franchesco cerrava o cenho enquanto via o amigo levar as pontas dos dedos até o lóbulo da orelha. Teria escutado aquele mesmo discurso no dia anterior, quando decidiram não assistir as duas últimas aulas. Uma sensação de deja-vu. ― Finalmente conseguiu um Spacewar? Adrian parou de andar encarando curioso o amigo mais alto. O mesmo estava com os cabelos despenteados e um rosto sério demais. O que poderia ter acontecido com aquele rapaz que sempre parecia animado? ― Ganhei hoje de manhã, mas você não parece animado em ir jogar. Os dois rapazes ficaram em silêncio, Franchesco suspirava bagunçando seus cabelos enquanto resmungava. Logo Vincent se aproximava jogando a mochila sobre os ombros enquanto corria em alta velocidade. ― VAMO BORA! Franchesco e Adrian não entenderam o motivo do amigo estar correndo daquela forma, mas ao verem a figura do inspetor o desespero tomou conta. Adrian e Vincent conseguiram alcançar um dos muros mais baixos que havia naquele lugar, escalaram e pularam até chegarem ao outro lado. Franchesco não conseguira pular o muro. Sendo avistado pelo inspetor, apenas correra para o estacionamento dos professores se escondendo atrás de um carro vermelho. Agachando-se e com espiadas o rapaz alto se esquivava do inspetor, que olhava todos os carros. Passando pela frente do carro vermelho, o rapaz correra ainda agachado para o automóvel seguinte. A cabeça do inspetor era visível, sendo possível de Franchesco ter noção se deveria se agachar mais ou correr o risco de fugir novamente. Porém o homem de alta estatura não desistia de procurar. Olhava todos os carros, se agachava buscando por algum par de pés. Franchesco se escondia atrás dos pneus, esticava o pescoço ao ver o homem de costas para si. Estava bem escondido do campo de visão daquele inspetor. Olhando em volta, o jovem rapaz encontrou atrás de si uma parede de cimento coberta de plantas, tendo uma porta de madeira. Antes de dar um passo, averiguou se o inspetor estava próximo, e aproveitou para passar pela porta a fechando rapidamente evitando de fazer algum barulho alto que o denunciasse. Respirando fundo esperando que sua respiração normalizasse, o rapaz mais alto ficou parado alguns minutos de olhos fechados. Seus ouvidos estavam atentos a qualquer som que viesse de fora, e por isso apenas esperava. Percebendo haver apenas o silêncio, virou-se para a porta de madeira abrindo uma fresta e olhando em volta. O inspetor ainda estava no estacionamento. ― Vou ter que esperar aqui, que d***a! Virando-se para ver onde teria se escondido, surpreendeu-se em encontrar um jardim. O local era grande. A partir da posição de Franchesco havia uma trilha de pedras grandes, e avisos para não pisar nas plantas. Canteiros de flores pareciam bem cuidadas, mais ao fundo árvores com frutas maduras. Era um lugar tão verde que parecia ser irreal. O rapaz alto pulava nas pedras enquanto observava em volta totalmente curioso para o que iria encontrar ali. Não sabia que a escola teria um local como aquele, ainda mais escondido de todos. Ao chegar na última pedra, encontrara uma trilha de terra indo para além daquelas árvores frutíferas. Antes de seguir a trilha, olhou para sua esquerda encontrando apenas o muro de cimento. ― Que raios de lugar é esse? Tendo que esperar tempo suficiente para que o inspetor desistisse de encontrá-lo, Franchesco resolvera seguir a trilha como uma forma de explorar a escola e sair da rotina. A trilha era imensa, passando pelas árvores que cobriam a visão de quem entrasse. Afastando alguns galhos, o rapaz encontrou um lugar imensamente belo. Estava surpreso com a visão, nunca pensara em encontrar um lugar como aquele. Havia um chafariz no centro, uma escultura angelical que jorrava água. Em volta da grama, um banco branco vazio. Se sentando no banco, Franchesco passou os olhos em sua volta. Ali estava completamente escondido pelas árvores e arbustos. Flores era o que mais tinha ali para embelezar o local. Não costumava admirar a beleza de alguns lugares, já que as únicas que o fazia era quando viajava de carro para a casa de campo dos Bailey. Mesmo assim não seria ignorante ao ponto de negar que aquele lugar era belo demais. Encostando-se no banco, o rapaz tatuado ficou sem saber o que fazer. Pensara no que os seus amigos estariam fazendo depois de pularem o muro, provavelmente se divertiriam sem ele. Soltando um riso baixo, Franchesco se deitou ajeitando a mochila abaixo de sua cabeça e cruzando os braços sobre o peito. Se tivesse que esperar por uma brecha para fugir, o melhor seria que fosse dormindo. ●●● O senhor Bailey olhava para o filho caçula que sorria ansioso. Ele já teria lido as próximas páginas do diário e saberia muito bem o que aconteceria. Mesmo assim encerrou a leitura com a chegada dos netos, que entravam em gritaria e extrema energia. As mães ajudavam Oliver a carregar as compras e deixar as sacolas sobre a mesa. ― Onde colocamos esses mantimentos? ― Oliver tocava a sacola com alguns congelados. Franchesco apenas levantou-se com a ajuda de Lucius, e seguiu até o andador para continuar seus passos até a cozinha. ― Eu te ajudo. ― Antes de entrar na cozinha, o senhor virou-se encarando os três filhos ― Mais tarde continuo com a história. Os dois primeiros filhos olhavam para Lucius, e logo tentavam pegar o diário para saber o que lhes aguardavam. Na escuridão, eu fecho as portas e em silêncio sinto-me impotente O palco mudou, certamente deixou uma reflexão de arrependimento Promise ― Exo ━━━━━━ ◦ ❖ ◦ ━━━━━━
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