Capitulo VI

945 Words
Capítulo VI Loren Casterra O barulho de ondas se quebrando anunciava que estávamos em uma cidade a beira mar, talvez por isso os ventos ali eram frequentes e congelantes. Além dos dois homens que havia visto na feira, outros dois ainda mais estranhos, nos seguiam logo atrás. Aquelas pessoas eram esquisitas e suas feições fechadas não negavam que eram gente da pior espécie. Tentei me concentrar em elaborar um plano para fugir. Se tivesse sorte, em algum momento a oportunidade de fugir surgiria, se não tivesse, teria que usar minha magia de forma explicita, correndo o risco de ser aprisionada e queimada. A abadessa dizia que a sorte era a esperança dos tolos. Ela sempre conseguia me fazer sentir m*l, até mesmo em uma hora como aquela. Estava descalça, descabelada, cansada, fraca e faminta, m*l conseguia decorar o caminho pelas ruas estreitas em que estávamos passando e à medida que adentrávamos, as ruas ficavam mais desordenadas, tomadas por homens sujos e maltrapilhos, que provavelmente fediam a urina e a álcool. Céus, não haviam mulheres naquele lugar! Eu não queria sentir medo, pois a abadessa dizia que o medo nos impedia de raciocinar, mas os olhares esfomeados daqueles homens faziam eu me sentir imunda e apavorada. Eles me olhavam como se eu fosse um pedaço de queijo jogado em um porão. Não expressavam qualquer constrangimento no descaramento de suas cobiças. De repente, os homens que haviam me aprisionado, era a única coisa que impedia o queijo de ser destruído pelos ratos sebosos. Eu odiava ratos e aquele lugar estava cheio deles. O sujeito que fedia a peixe me arrastou para o píer de madeira, onde um navio estava atracado. A situação era pior do que eu imaginada, aqueles homens eram piratas. Precisava fugir antes que o navio partisse. Eu não sabia nadar, morrer afogada não me pareceu mais atrativo que morrer queimada. Parei diante da rampa que levava para dentro da embarcação, mas fui erguida por um braço que me suspendeu pelos quadris. - Me solta! – Eu gritei quase caindo de cara no chão ao tentar espernear. A montanha que me ergueu, me jogou no assoalho de madeira do navio. Ergui minha cabeça apavorada, estava cercada por vários homens sujos e m*l encarados, que me olhavam fascinados e inquietos. - O que significa isso – Um sujeito de cabelos loiros, compridos e trançados, surgiu entre os homens, que rapidamente se afastaram, abrindo espaço para que ele pudesse me avaliar. Ele não parecia mais limpo que os outros e suas roupas eram tão surradas quanto a do restante da tripulação, no entanto pela forma como todos o fitavam, ele devia ser o pirata chefe. Mesmo tomada pelo pavor, foi impossível não notar a beleza conflitante que aquele homem possuía. Seus olhos tinham um tom raro de azul, que chegavam a parecer duas joias vivas. - Foi a única coisa que encontramos! – o Fedor-de-peixe respondeu se justificando. - Ainda acho que devíamos pegar o filho dele, não existe outra forma de quitar a dívida – o Grandão-do-facão falou com voz submissa. - Avisaram ele que só tem três dias para pagar? – O Loiro-chefe perguntou com o semblante duro, visivelmente insatisfeito com o desfecho das coisas. - avisamos e deixamos o Furão na espreita, se ele tentar fugir vai se arrepender da hora! – Fedor-de-peixe sorriu exibindo alguns dentes de ferro. Repugnante! - E ela? – Grandão-do-facão perguntou e todos voltaram suas atenções novamente para mim. - Levem-na para meus aposentos – Loiro-chefe ordenou sem me dirigir uma palavra. O que aquilo significava? Que agora eu era sua escrava? Eu não tinha a menor ideia das atribuições de um e*****o, mas sabia que não eram bem tratados. Sem questionamentos fui levada para dentro das instalações interiores, onde o espaço era bem apertado e desorganizado. Fui permissiva sem reclamar; espernear e fazer escândalos não me pareceu muito inteligente, apesar da ideia ser bem tentadora. - Prepare o banho e lave as roupas sujas! – Grandão-do-facão falou apontando para uma porta estreita de madeira – e não saia do quarto até que receba uma ordem – Ele finalmente me soltou e eu entrei no quarto aliviada por saber que ficaria sozinha por algum tempo. O quarto era muito esquisito, tão apertado que duvidei que seria possível me mover ali dentro. Todo o espaço era preenchido por uma cama de tamanho incerto, maior que uma cama de solteiro e menor que uma de casal. Tinha uma pequena janela aberta, por onde toda a luz que iluminava o quarto, entrava e alguns baús de madeiras empilhados no canto da parede. Ouro? – me perguntei lembrando de umas histórias de piratas que a madre Dulce contava. Movida pela curiosidade corri até os baús e abri o primeiro na certeza de que era ali que o pirata-chefe guardava seu ouro. A decepção me tomou quando me deparei com botas velhas e fedidas. Nojo! Raiva! Empurrei o baú fedido que caiu sobre a cama desajeitada. Também não havia ouro, apenas roupas dobradas. Desta vez usei um pouco de magia e fiz o baú das roupas flutuarem para o outro lado do quarto, o ouro certamente estava escondido no último baú. Se eu conseguisse encontrar o ouro do pirata antes de fugir, poderia roubar algumas moedas e viver bem por um bom tempo. Abri o terceiro e último baú com toda a minha impaciência, mas para minha surpresa ele estava cheio de livros e pergaminhos. Chutei a madeira da caixa imprestável terrivelmente irritada. Além da decepção, o cansaço me tomou, estava suja e fedida, então segui para o banheiro e fiz o que o pirata me orientou. Lavei minhas roupas e tomei um banho.
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