Prologo

1614 Words
General-mor, Erduo Brascher (Elfo da Terceira Ordem)  Guerra de luz e trevas               Olho para a frente tentando não fitar o chão. Há tantos cadáveres amontoados que não se é possível contar. Elfos, comuns, bruxos, centauros, fadas, alfeus, sangues-negros, todas as raças misturadas em um cemitério a céu aberto.                Minha espada atravessa o bruxo a minha frente, ele cai ajoelhado. Não paro para ver sua expressão, sei que seu sangue se misturou aos muitos outros que ofuscam o brilho de minha armadura e escurecem a minha alma já perdida.               Não sei de quem são os corpos nos quais estou tropeçando. Não tenho tempo para fitá-los. Talvez um dos meus, talvez alguém vivo que se recebesse o devido socorro pudesse sobreviver, no entanto, não estou aqui para salvar vidas, estou aqui para derrotar meus inimigos.   - Ila al amam! {1} – Grito decepando as cabeças dos dois sangues-negros a minha frente. Subo em um cavalo e assopro o shofar que carrego pendurado nas costas, agitando com o som, os guerreiros que vibram em resposta.               Os bruxos se misturam aos soldados, caruerando {2}. Não há como mantê-los presos em um único lugar, eles surgem e desaparecem o tempo todo, confundido o juízo dos soldados com suas bruxarias.              Os vogris {3}  varrem os céus como pragas. Pássaros insignificantes como corvos, sob o efeito de seus malditos feitiços, tomaram formas gigantescas e agora confrontam nossos dragões em uma luta desleal. Um dragão contra cinco deles.                Esporo o lombo do cavalo, com a parte metálica de minhas botas, o animal pigarreia em galopes grotescos, golpeando inimigos e aliados, não tenho como verificar, minha atenção está nos céus. Preciso ter certeza de que os generais entenderam meu comando.             Um bruxo toma forma diante de mim, mas r***o-o antes que termine sua bruxaria. Não tenho ideia se o matei, ou onde foram parar seus pedaços. Algumas tropas élficas se mobilizam para o solo. Os bruxos e os sangues-negros estão por toda a parte.              Procuro por Fa Muthan, o bruxo que iniciou essa maldita guerra. Estou sedento por sua vida. Ele sabe disso e se esconde como uma toupeira em buracos. Quanto mais sangue rega minha lâmina, mais minhas carnes brandem pela vida do maldito. Nenhuma bruxaria será capaz de livrá-lo do peso de minha espada.              Por vezes, minhas asas se abrem e fecham em reflexos, aos rápidos movimentos de minhas mãos com as espadas, entretanto não deixo a garupa do animal em que me encontro, não quando minha presença em terra se faz necessária. Sangue é derramado com abundancia, como o vinho na boca dos embriagados.              Gritos de desespero e dor me ensurdecem, não sei quantos homens já perdi. Um dragão e uma b***a voadora caem no meio do campo, esmagando vários soldados, um verdadeiro desastre sobre uma catástrofe já estabelecida. Quem consegue correr foge, tentando escapar das chamas cuspida pelo dragão ferido e desgovernado. Não existe ordem,  apenas uma massa de criaturas se confrontado, outras correndo, outras gritando.               O grito da b***a de asas é tão fino e alto que ameaça destruir meus ouvidos, me deixando desorientado por um momento. Preciso interromper seus gritos, pois os ouvidos élficos são mais sensíveis que os ouvidos dos comuns. Pulo do cavalo, batendo minhas asas em direção à b***a que não para de gritar, se debatendo contra um dos nossos dragões que enfurecido cospe fogo contra ela, lançando chamas de forma desordenada.              Alcanço a criatura enfurecida, lhe cravando a espada no pescoço, mas o golpe não a perfura com profundidade. Prendo-me a ela com as pernas, me firmando na curvatura de seu pescoço. Ela se debate tentando fugir.  O dragão a captura pela coxa com uma abocanhada violenta. O grito do bicho só aumenta, alcançando proporções ainda mais estrondosas. Sinto o juízo sair do corpo. Mergulho na insanidade de seus gritos amaldiçoados, deferindo as duas espadas em perfurações certeiras contra sua goela, a calando por fim.              Não sei a qual dos comandantes ou generais pertence o dragão jogado no chão. A fera tenta levantar, ela quer voltar a lutar, entretanto está gravemente ferida. Não sei se viverá tempo suficiente para receber socorro. A perda de um dragão é lamentável e inconcebível, visto o risco de extinção de sua espécie.               m*l me livro do Vogri, que agora não passa de um corvo de tamanho insignificante no chão e  já estou cercado por bruxos que me lançam seus feitiços. Arranco o escudo das costas a tempo de me defender da chuvarada de energia que é lançada contra mim.             O dragão ferido está sendo perfurado por inúmeras lanças e espadas. Os sangues-negros lutam para arrancar sua cabeça. Não posso me mexer ou serei queimado pelos raios que se lançam contra mim.             Arrancar a cabeça de um dragão é algo difícil, mas a fúria do inimigo não tem tamanho. Mais bruxos se aproximam e se unem ao ataque contra mim, meu escudo esquenta a ponto de queimar meu braço protegido apenas por ataduras de pano. A força de seus golpes me empurram para trás. Se os outros conseguirem arrancar a cabeça do dragão antes que eu me safe dessa, estarei perdido.             Uma chuva de flechas foi disparada contra os bruxos que me confrontavam, os dispersando. A cabeça do dragão foi arrancada e logo em seguida foi erguida do chão com bruxaria, agora flutuando sobre nossas cabeças. Algum mago poderoso a está controlando e antes que conseguisse identificá-lo, a cabeça da fera foi arremessada na minha direção.               Furacões se formaram engolindo tudo a nossa volta e raios imprecisos se projetaram dos céus escurecidos.  Para o desespero de todos, os grão-magos iniciaram seus ataques. O chão se abriu diante de nós, separando a multidão, engolindo uma grande quantidade de soldados, inimigos e aliados. Bruxos carueraram ao caírem no precipício. A desordem agora era de roubar a sanidade e coragem até mesmo dos mais bravos guerreiros.           Se manter vivo naquele cenário caótico, havia se tornado uma proeza para os afortunados. Sobreviver a fúria dos cajados dos grão-magos  era como confrontar um dragão citriano{4} de mãos limpa. Os elfos tentavam salvar alguns aligados que não possuíam asas, mas quando tentavam sair do abismo, recém aberto, muitos eram acertados por raios.              Assoprei o shofar novamente, convocando as tropas que guardavam os céus. Todo o socorro era pouco diante da loucura que estávamos enfrentando. Os soldados não eram suficientes. As massas se moviam em todas as direções, em uma completa desordem. Tudo desabava em devastação e desespero.               A escuridão da noite encobriu o brilho das flechas que eram lançadas em nossos inimigos, os pegando de surpresa. Os céus assumiam um vermelho pungente, pois os portões do inferno haviam sido abertas. Os sangues-negros que deveriam guardar os portões dos mortos, violavam o principio fundamental dos mundos. O cheiro de enxofre já dava para ser sentido. O inimigo estava disposto a tudo para vencer. Suspirei fundo. Pela primeira vez em minha longa vida de batalha, senti que as chances de vencer a guerra, estavam escorregando por entre os dedos.              Como se Elliris {5} ouvisse meu clamor, vi de longe o rei Tairan, o soberano dos sangues-negros e me lancei em sua direção, se conseguisse reivindicar a vida dele, os portões da morte seriam fechados. Desta raça, nenhum dos herdeiros poderiam sobreviver. Antes mesmo que notassem minha aproximação, atravessei o olho de Tairan com uma flecha, por um dos poucos buracos de seu elmo. Seus homens ficaram sem reação e o grito de um dos filhos ecoou desesperado. Acertei outra flecha em um de seus generais e com isso, entreguei minha posição.             Eles gritavam em seu idioma e sei que clamavam por minha vida, entretanto isso só instiga a minha ira. Flechas foram disparadas em minha direção, me protegi com o escudo. O animal que avançava comigo tropeçou, me jogando no meio da multidão. Segui o mais rápido que consegui na direção dos herdeiros do trono. Observei que o mais novo não estava presente, pois ainda era menino, mas isso resolveria depois.              Talim, um dos guerreiros da nona ordem e outros soldados avançaram comigo. Eles entenderam meu objetivo e me cobriram como podiam. Para minha satisfação, os dois herdeiros do trono avançaram em nossa direção, ainda movidos pela raiva, pois se estivessem usando um pouquinho que fosse do juízo, estariam correndo para protegerem suas vidas. Walen, o mais velho foi golpeado por um machado, um soldado comum o alcançou antes de meus guerreiros. Willan, o segundo herdeiro se jogou sobre o irmão em prantos, enquanto sua cabeça foi arrancada pela espada de Talim.             A cena horrenda era de embrulhar o estomago. O gosto metálico de sangue se impregnou em minha boca. Os céus se escureceram, mostrando que os portões do mundo dos mortos novamente haviam sido fechados. Procurei pelo anel do portal dos mortos, nas mãos do rei Tairan e dos herdeiros. Alguém conseguiu alcança-lo antes de mim e aquele certamente era um problema de tamanho sem proporção, visto que um dos herdeiros havia sobrevivido.  * **Não entendeu muita coisa? não se assuste, você acabou de chegar em Azurian. O livro é narrado em primeira pessoa, então seja paciente com a mocinha que narrará os próximos capítulos, afinal ela é só uma garota tola de dezessete anos.  ***Não se apeguem... Não se deixem enganar... Os tempos são tenebrosos e os prognósticos nada favoráveis.  Espero que se divirtam e aproveitem a estadia.   Dicionário Bruxo ( Acurano): {2} -Caruerar – Moção do corpo de lugar para outro, usando magia. Dicionário Élfico {1} - Ila al amam – em frente, adiante {3} - Vogri -  qualquer animal sob efeito de encantamento.  {4} - Citriano - Uma das raças mais ferozes de dragões de guerra, pertencentes a província de Nard.  {5} - Elliris - deusa elfa da guerra. 
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