CAPÍTULO 52 CAÍQUE NARRANDO: A boca fervia num ritmo que parecia ter vida própria. Cada batida do funk estourava nas paredes como se fosse o coração da favela pulsando alto, lembrando pra todo mundo que ali dentro nada dormia. O cheiro de maconha, suor, pólvora e cachaça era quase um perfume comum naquele lugar. Eu gostava. Era o sinal de que tudo estava como tinha que estar. Acendi meu baseado com calma, protegendo a brasa com a mão pra não apagar no vento quente que subia da rua. A fumaça veio pesada, densa, daquele jeito que faz o cérebro dar uma afrouxada e as ideias passarem a flutuar. E justo quando a fumaça começou a se ajeitar dentro de mim, a porta da boca rangeu, aquele arrastar irritante de ferro cansado. Só podia ser ele mesmo. Nerdola entrou todo torto, abraçando a moch

