Capitulo 2

1507 Words
Vou caminhando para o serviço, e dia está bonito o céu está de um azul intenso sem a presença de nuvens. Chego em frente a clínica. Marina está me aguardando. — Nossa! Que sorriso maravilhoso e esse? — Pergunta. Pego a chave na bolsa para abrir o portão. — Magno. — Suspiro — Ele chegou hoje de manhã, lindo, perfeito, meu príncipe. — Marina balança a cabeça em negação. Marina nunca me falou nada sobre meu namoro com Magno, mas percebo que ela não apoia, sempre comenta sobre os finais de semana que ele passa fora ou sobre como ele nunca quer sair com meus amigos. Abro a porta da clínica e entro, sinto algo gelado nos meus pés, olho para baixo e o chão está coberto água e vejo uma cachoeira descendo da escada que dá para o segundo andar. — Marina, corre aqui! — Grito, enquanto ando pelo mar que o lugar se tornou. Ela entra em seguida afundando os pés na água. — Meu Deus! É o dilúvio. — Diz, olhando o estrago em volta. — Liga para Dona Lorena. — Lorena é nossa patroa, a dona da clínica. — Avisa que a clínica está inundada, vou ligar para as clientes e desmarcar tudo para hoje. — Pego a agenda e começo as ligações. A dona da clínica chegou meia hora depois, acompanhada de um pedreiro para avaliar o tamanho do estrago. Uma tubulação arrebentou e quebrou a parede. Resultado, quinze dias de obra e a gente de folga. Já passava do meio dia quando Dona Lorena liberou todos os funcionários. Pensei em ligar para Magno e chamá-lo para almoçar, mas eu sempre chego em casa tarde, chegar de surpresa no meio da tarde e surpreender seria mais interessante. No caminho para casa passo no mercado e compro os ingredientes para fazer um jantarzinho especial para nós dois e uma garrafa de vinho. Minha cabeça se perde em planos para esses quinze dias.  Uma viagem é isso! Vou convidar Magno para conhecer meus pais, tenho certeza que eles vão gostar dele e aprovar nosso relacionamento.  Subo as escadas animada, apesar das sacolas pesadas em minhas mãos. Meu prédio é pequeno, dois apartamentos por andar e quatro andares, então não possui elevador, meu apartamento fica no segundo andar.  Ponho a mão na maçaneta, mas a porta está trancada. Magno deve ter estar dormindo. — Penso. Pego minha chave na bolsa e abro a porta. A sala está vazia.  Ouço um barulho vindo do meu quarto, uma onda gelada passa por meu corpo, minhas pernas ficam mole, eu sei que barulho é esse. Gemidos. Forço minhas pernas, meto o pé na porta do quarto que abre com estrondo batendo na parede.  Uma garota está sentada sobre o quadril dele, suas mãos na cintura dela a ajudando subir e descer. Quando seus olhos encontram os meus ele joga a garota para o lado se levantando da cama em um pulo, a garota me olha com surpresa.  — Calma, Lia. Eu posso explicar. — Magno tenta se aproximar de mim com as mão à frente do corpo.  Fervilho de ódio. Jogo as sacolas que nem percebi que ainda estavam nas minhas mãos em cima dele, que desvia e tudo se espalha pelo chão.  — Explicar... Explicar, que estava com outra na minha cama! — Um nó se forma na minha garganta.  — Olha gata, eu só estou fazendo o meu trabalho, nada pessoal. — Diz a mulher com uma voz melosa de dar nojo.  Além de ser traída, fui traída com uma p********a. Magno me observa com olhos arregalados, o rosto em completo choque. Não consigo encarar ele, não consigo ficar mais um minuto nesse apartamento.  — Cadê a Bella? — Praticamente sussurro.  — Lia... Vá… — Cadê minha gata? — Grito.  — No banheiro. — Responde cabisbaixo.  Saio do quarto, abro a porta do banheiro. Desço as escadas correndo com ela nos braços. Na minha cama. No meu apartamento. Com uma p********a. Se ele queria me destruir conseguiu.  Não quero chorar na rua, engulo o nó na garganta e sigo caminhando com Bella no colo, meus passos são apressados, só quero chegar a um lugar onde possa desabar.  Aperto a campainha, uma, duas, três vezes. Marina atende a porta com os cabelos molhados, usando um roupão. Ela me olha intrigada.  — Lia, o que aconteceu? Entra. — Fico parada, congelada no lugar, não consigo me mover. Marina segura meu cotovelo levemente e me guiando para dentro.  — Senta aqui. — Me sento no sofá. Ela pega bella do meu colo e leva para o quarto.  Deixo as lágrimas escorrerem por meu rosto, choro tudo de uma vez, até o ar faltar em meus pulmões. Marina se senta ao meu lado e passa os braços por meus ombros me puxando para perto. Não sei por quanto tempo ficamos assim, ela entendeu que eu não precisava falar nada, naquele momento eu só precisava de um abraço.  Tomo um curto gole do chá de cidreira que Marina nos preparou, enquanto ela me olha indignada depois de ter ouvido toda a história.  — Sempre soube que aquele sujeito não prestava, mas não tenho o direito de me meter na sua vida. — Diz sincera.  — Estou me sentindo a pessoa mais i*****l do mundo, me sinto ridícula. — m*l consigo falar, a vontade de chorar me sufoca.  — O que vai fazer agora? — Aperto os dedos em minhas têmporas.  — Não sei... não vou voltar para aquele apartamento.  — Pode ficar aqui o tempo que precisar. — A mão dela segura a  minha apertando lentamente.  — Obrigada!  Me Deitei para dormir após um longo banho, mas foi só isso que fiz mesmo, me deitei. Porque o sono não veio, rolei a noite inteira na cama, chorei me sentindo incapaz, frustrada, burra. Realmente a gente fica completamente cego quando se apaixona. Sempre vi Magno como o príncipe encantado, o homem perfeito, aquele que seria pai dos meus filhos, por isso essa traição me dói tanto.  Ouço a voz de Marina, alta, brava, ela está discutindo com alguém. Pulo da cama, pego um suéter visto por cima do pijama e saio do quarto.  — Aqui você não entra... — Marina está  em pé na porta, empurrando Magno para fora.  Eles discutem.  — Lia! Lia Vamos conversar por favor. — Diz assim que me vê, o rosto dele está cansado, posso ver uma tristeza em seus olhos.  Meu coração dispara, assim que nossos olhares se encontram. Ele passa por Marina e para a minha frente, suas mãos agarram meu rosto.  — Me perdoa, Lia. Eu amo você. Eu fui um fraco não segurando minhas necessidades. Olha, aquela mulher não é nada, foi só uma curiosidade. Me perdoa, meu amor. — Implora, mas não acredito em uma única palavra.  Engulo o choro entalado em minha garganta, não vou me humilhar, não na frente dele.  — Vai embora Magno, arruma outra trouxa para enganar. — Os olhos dele se arregalam, minha voz sai firme e decidida. — Esquece que me conheceu.  Viro as costas e volto para o quarto batendo a porta atrás de mim.  Marina saiu me deixando sozinha, o que foi bom, coloquei minha cabeça no lugar, pude repensar meus próximos passos e a primeira coisa que tenho que fazer. Afinal não é o fim do mundo, por pior que seja no momento. Tomo a única decisão que considero racional no momento, voltar para casa dos meus pais. A casa dos meus pais. Solto um longo suspiro só de pensar, o lugar mais acolhedor do mundo, mas também o mais complicado.  Meus pais são ótimos, sempre foram, fizeram tudo que podia pelos filhos, eu e minha irmã. O problema é a família em volta, nossa casa fica no terreno do meu avô paterno, todos os filhos dele moram ali, os quatro irmãos do meu pai e seus filhos.  A convivência muito próxima gera conflitos e fofocas. Minha irmã se casou grávida, foi uma fofocaiada sem tamanho, minhas primas da minha idade, todas estão namorando ou noivas e eu sou a encalhada, e pelo visto vou continuar assim.  Por isso saí da casa dos meus pais, não aguentava mais ser vigiada pelos parentes. Me sentia presa, sufocada. Mas agora tudo que preciso é do colo da minha mãe.  Não voltei ao meu apartamento, Marina foi até lá e pegou minhas coisas. Quando retornar da casa dos meus pais, vou ficar morando com ela até alugar um novo apartamento.  O táxi para em frente a chácara da minha família, respiro fundo olhando para o portão azul, me preparo mentalmente para o interrogatório das minhas tias. Ajeito a mochila nas costas e caminho devagar para dentro, tudo está igual à seis meses atrás quando estive aqui.  A piscina cheia de brinquedos em volta, a grama bem aparada. Não tem ninguém por perto, algo raro por aqui. Aperto a alça da mochila entre os dedos e sigo em direção a casa azul marinho no fundo da propriedade.  Bato na porta. Ela se abre.  — Oi, mãe. 
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