O diretor pediu que todos fossem ao pátio logo após o café da manhã. Os alunos foram se agrupando, tensos, trocando olhares discretos. O céu estava coberto por um cinza suave, típico dos fins de semana no internato, e o clima parecia ainda mais pesado por causa do nervosismo coletivo.
Eleonora ficou mais ao fundo, ao lado de duas colegas que haviam sido simpáticas com ela desde a chegada. Adrian estava com o próprio grupo, alguns metros à frente, braços cruzados, tentando parecer indiferente… mas ele sabia que o diretor não chamava assembleias à toa. Seus olhos acabaram, inevitavelmente, encontrando os dela por um segundo rápidos, tensos, desviando logo depois.
O diretor, um homem baixo, corpulento e de expressão séria, subiu no pequeno tablado improvisado e pigarreou, fazendo com que o burburinho cessasse instantaneamente.
— Bom dia, alunos. — Sua voz ecoou firme. — Recebemos ontem à noite um boato de que houve uma… confraternização não autorizada dentro das dependências da escola.
Vários alunos engoliram seco. Outros tentaram disfarçar sorrisos nervosos. Eleonora manteve o semblante neutro, mas seus dedos apertavam a barra do casaco. Adrian respirou fundo, olhando para o chão, tentando controlar a expressão para não entregar nada.
— Como vocês sabem, festas clandestinas violam completamente as regras do internato, — o diretor continuou. — E colocam todos nós em risco.
O silêncio era absoluto.
— Estamos investigando, — afirmou ele, colocando as mãos para trás. — Porém, até o momento, não temos provas suficientes para identificar quem participou ou mesmo se a festa realmente ocorreu.
Muitos exalaram o ar preso no peito, discretamente. Eleonora relaxou um pouco os ombros. Adrian sentiu seus amigos se mexendo ao lado, aliviados.
— Ainda assim, — o diretor completou, levantando um dedo, — quero deixar claro que, se descobrirmos qualquer coisa, haverá consequências sérias. Estão avisados.
Ele deu um último olhar severo para a multidão e desceu do tablado.
Quando os alunos começaram a se dispersar, o alívio se misturou a sussurros nervosos, risos abafados e comentários como “Ele não tem nada mesmo” ou “Quase que a gente se ferra”.
Eleonora passou pelo pátio sem olhar para Adrian, mantendo a postura elegante e tranquila. Mas por dentro, ainda sentia o eco da festa o perfume, as risadas, a provocação, o quase-toque.
Adrian, por outro lado, observou-a rapidamente enquanto ela se afastava, o maxilar travado, tentando ignorar a irritação inexplicável que a simples presença dela provocava.
Ambos estavam se evitando desde a madrugada… e pelo visto aquele domingo continuaria assim.
Mas, no fundo, os dois sabiam: aquilo não iria durar muito.
Mais tarde, já perto do final da tarde de domingo, o internato estava silencioso. A maior parte dos alunos descansava, estudava ou apenas matava o tempo pelos corredores. Eleonora caminhava pelo hall principal em direção à biblioteca quando, ao virar a esquina, quase esbarrou em Adrian que saía de uma sala de estudos com dois de seus amigos.
Ela respirou fundo, endireitando a postura como sempre fazia quando precisava vestir a máscara de indiferença.
— Que coincidência… — murmurou ela, com um sorriso que não chegava aos olhos. — Quase fomos pegos, mas fui salva pelo super herói do internato.
Os amigos de Adrian deram discretas risadinhas, esperando a reação dele. Adrian parou, a expressão fechada, encarando Eleonora por um segundo longo demais.
— Super herói?— ele rebateu, arqueando a sobrancelha. —Continua engraçadinha né Eleonora, mas no fundo eu sei que só faz isso pra chamar atenção.
A forma como disse foi seca, dura mais dura do que qualquer farpa anterior. Os amigos dele pararam de rir na hora. Eleonora piscou, surpresa com a agressividade.
— Claro. — ela disse, com um meio sorriso incrédulo. — Porque todo mundo vive para aparecer para você, não é, Adrian?
Ele deu um passo à frente, sem perceber que estava fazendo isso.
— Eu só disse o óbvio. Você entra num lugar e precisa que todos olhem. Até numa festa proibida.
Eleonora sentiu algo quente subir pela garganta, uma mistura de raiva e ferida. Ela ergueu o queixo, elegante mesmo irritada.
— Se todos olham quando eu entro, o problema não é meu. Talvez você esteja… incomodado demais com isso.
Houve um silêncio curto, intenso. Os olhos de Adrian piscaram rápido, como se a frase tivesse acertado exatamente onde não deveria. Ele respondeu mais ríspido ainda, num tom baixo:
— Você se acha demais. É isso que incomoda.
Foi rude. c***l. Sem disfarce.
Eleonora arregalou minimamente os olhos, mas não deu a ele o prazer de vê-la afetada. Ela apenas respirou fundo, forçando um sorriso frio.
— E você leva tudo a sério demais pra sua idade. Deve ser cansativo.
Ela se afastou, o som dos saltos ecoando no corredor. Não olhou para trás.
Adrian ficou parado onde estava, o peito subindo e descendo rápido, os amigos trocando olhares desconfortáveis ao redor.
Ele sabia que tinha passado do limite.