No mesmo dia, já à noite, o internato estava recolhido. O clima entre Adrian e Eleonora continuava pesado cada um preso em seus próprios pensamentos, ambos irritados demais para admitir qualquer coisa além do óbvio: queriam distância um do outro.
Eleonora, no dormitório feminino, estava deitada na cama com o celular sobre o peito quando ele vibrou. Ela estranhou seus pais nunca ligavam naquele horário.
Atendeu.
— Mamãe?
A mãe dela soou animada, quase ofegante.
— Eleonora, querida! O diretor do internato acabou de entrar em contato conosco. Ele liberou você para sair no próximo final de semana. Vai poder participar do lançamento da nossa nova linha de carros. É um evento enorme, você precisa estar lá.
Eleonora arregalou os olhos.
— Eu… fui liberada? Assim? Mas é um internato…
— Nós insistimos. Dissemos que era um compromisso da família Montreuil. Ele entendeu.
Eleonora sorriu, mas era um sorriso estranho metade alívio, metade orgulho.
— Ótimo. Eu vou me arrumar para arrasar.
— Só não esqueça que é um evento de negócios, minha filha. Nada de provocação e nem de show com Adrian.
Eleonora revirou os olhos.
— Claro, mãe. Boa noite.
Desligou. Ficou olhando para o teto, imaginando o vestido perfeito, a maquiagem impecável, a entrada triunfal.
E nem por um segundo pensou que Adrian também seria liberado.
No dormitório masculino, Adrian estava sentado à escrivaninha, revisando exercícios de física avançada, quando seu celular vibrou. Viu o nome do pai na tela.
Atendeu.
— Pai? Está tudo bem?
A voz do pai veio firme, orgulhosa.
— Filho, o diretor permitiu algo especial. Você está liberado para vir no próximo final de semana. Queremos você no lançamento da nova série da MonBourn Motors. Será o maior evento da empresa até hoje.
Adrian se ajeitou na cadeira, surpreso.
— Eu? Mas é… longe. E o internato não costuma permitir
— Nosso advogado conversou com o diretor. Ele concordou. Você faz parte do futuro da empresa, Adrian. Queremos você conosco.
O jovem respirou fundo, uma mistura de responsabilidade e empolgação passando por seus olhos.
— Eu vou. Claro que vou.
O pai riu do outro lado.
— Sabia que diria isso. Prepare-se. Vai ser grandioso.
Quando desligou, Adrian ficou alguns segundos parado, encarando o laptop sem realmente vê-lo. O peso do evento, da imagem, do nome da empresa… tudo isso ele entendia.
Mas o que ele não esperava e só percebeu alguns segundos depois era a lembrança de uma pessoa:
Eleonora.
Se os pais dele conseguiram liberação… os pais dela com certeza também.
Ele levou a mão ao rosto, fechando os olhos por um instante.
— Ótimo… exatamente o que eu precisava.