A semana começou tensa não apenas por provas, horários rígidos e a rotina do internato, mas pela presença silenciosa que um exercia sobre o outro.
Adrian e Eleonora simplesmente decidiram se ignorar.
E fizeram isso com uma frieza tão calculada que os colegas perceberam.
Segunda-feira
No café da manhã, Eleonora entrou no refeitório com seu perfume doce, cabelos perfeitos e aquele ar naturalmente altivo. Ela passou a poucos metros da mesa onde Adrian estava com os amigos.
Ele não levantou a cabeça.
Ela não olhou para ele.
Mas os dois notaram a presença um do outro era impossível não notar.
Os amigos de Adrian estranharam.
— Cara… vocês brigaram?
— A gente não brigou — Adrian respondeu, seco. — A gente só não conversa. Nada demais.
Ele disse com naturalidade, mas suas mãos estavam tensas no copo de suco.
Já Eleonora, sentada com um grupo de meninas curiosas com a “nova aluna misteriosamente glamourosa”, fingia estar entretida demais com fofocas para perceber Adrian no mesmo ambiente.
Mas toda vez que alguém mencionava o nome dele como um dos melhores alunos, ou como o garoto mais disputado do internato o olho dela tremia, imperceptível.
Terça-feira
Corredor principal, hora da troca de aulas.
Os dois se viram ao longe e imediatamente desviaram o caminho.
Eleonora entrou por uma porta lateral que nem era usada normalmente.
Adrian subiu as escadas ao invés de seguir pelo corredor.
Os amigos perceberam.
— Eles se odeiam. — disse um deles.
— Que nada — murmurou outro. — Isso aí tem cheiro de tensão de outro tipo…
Adrian fingiu não ouvir.
Quarta-feira
Na aula prática, a professora novamente elogiou Adrian pela precisão enquanto Eleonora fazia uma atividade individual.
Eleonora, sem levantar o rosto, comentou baixinho para a colega ao lado:
— Parabéns para ele. Deve ser ótimo ser perfeito e insuportável ao mesmo tempo.
Adrian ouviu. Mas não respondeu. Não virou o rosto. Apenas respirou fundo e continuou seu trabalho, a mandíbula travada.
Eleonora percebeu que ele ouviu.
E aquilo estranhamente mexeu com ela.
Quinta-feira
No almoço, um grupo de meninas foi até a mesa de Eleonora comentar:
— Dizem que você e o Ashbourn se conhecem desde crianças.
— E daí? — ela respondeu, impaciente.
— Ele é bonito. Inteligente. Você acha ele—
Eleonora se levantou abruptamente, cortando a pergunta:
— Eu não acho absolutamente nada. Ele não existe pra mim.
Adrian, na mesa oposta, ouviu tudo.
Ele permaneceu imóvel, mas seu garfo parou no ar por longos segundos.
Sexta-feira
Dia de fechar malas para a saída do final de semana.
Os dois cruzaram no corredor pela primeira vez sem poder evitar Eleonora estava saindo do quarto com sua mala lilás de rodinhas, impecável como sempre, e Adrian vinha vindo no sentido contrário, mala preta nas mãos, postura reta.
Os olhos se encontraram por meio segundo.
Nem um cumprimento.
Nem um gesto.
Nem uma piscada.
Apenas dois herdeiros de impérios milionários, com orgulho demais para admitir que tinham irritado e marcado um ao outro.
Onde outros enxergavam ódio…
…na verdade havia algo muito mais perigoso crescendo em silêncio.
E, no dia seguinte, eles estariam frente a frente, representando suas famílias.