Adrian crescia rápido demais. Aos quinze já não era apenas o menino curioso que desmontava brinquedos: era um pré-adolescente que lia livros universitários de física, preferia documentários a videogames e fazia perguntas tão complexas que até Clara, engenheira experiente, precisava pesquisar antes de responder.
Naquela noite, após um evento corporativo em Londres, Richard e Clara se sentaram na sala de estar, observando o filho adormecido no sofá, ainda com um caderno de desenhos técnicos no colo.
Richard suspirou, orgulhoso e preocupado ao mesmo tempo.
— Ele é brilhante, Clara. Brilhante de um jeito que não cabe mais nas escolas daqui.
Clara concordou lentamente, passando a mão pelos cabelos.
— Eu sei. Ele está avançado demais… Os professores dizem que ele termina as tarefas em cinco minutos e passa o resto da aula fazendo perguntas que ninguém sabe responder.
Richard riu baixinho.
— Ele é como você.
Clara sorriu, mas logo ficou séria.
— Meu bem, se nós realmente queremos dar a Adrian a chance de alcançar tudo o que pode… precisamos enviá-lo para um lugar que o desafie.
Richard franziu o cenho.
— Está falando da…?
Ela inclinou a cabeça.
— Da BASIS Tucson. Arizona. Ensino intensivo, nível acadêmico altíssimo, currículo colegial adiantado… eles formam os melhores jovens cientistas e engenheiros do mundo.
Richard ficou em silêncio por alguns segundos, a expressão carregada.
— Isso significa internato.
— Sim.
— Ele só virá para casa nas férias.
— Eu sei… Mas Richard ,nosso filho já está pensando como alguém de 18 ou até mais. E se ele quiser seguir engenharia elétrica, mecânica, física aplicada… e lá ele terá portas abertas que aqui levariam anos.
Richard observou o menino dormindo, o rosto sereno, as mãos ainda segurando um esboço de circuito elétrico.
— Vai ser difícil para ele. E para nós também.
Clara tocou a mão do marido.
— Mas o futuro dele merece mais do que conforto. Merece oportunidades reais.
Richard então tomou a decisão silenciosa, dolorida e inevitavelmente correta.
A Conversa com Adrian
Dois dias depois, sentaram-se com o filho na sala do escritório de Richard.
Adrian olhou os pais, percebendo a seriedade no ar.
— Aconteceu alguma coisa?
Clara sorriu com suavidade.
— Nada r**m, meu amor. Mas precisamos conversar sobre o seu futuro.
Richard abriu uma pasta e colocou sobre a mesa uma brochura da BASIS Tucson Arizona, EUA.
O olhar de Adrian imediatamente se acendeu.
— Isso é… uma escola?
— Uma das melhores do mundo — respondeu — Focada em ciência, tecnologia, engenharia… tudo aquilo que você ama.
Adrian tocou a capa. Era azul escura, com gráficos, laboratórios e alunos concentrados.
— Eles… aceitariam alguém da minha idade?
— Aceitariam você — Clara disse com convicção.
Adrian ficou em silêncio por alguns momentos, absorvendo a ideia. Seus olhos brilhavam, mas havia hesitação.
— É… longe.
Clara respirou fundo.
— Muito longe. E é um internato, Adrian. Você moraria lá. Nós só poderíamos te ver nas férias.
A sala ficou silenciosa. Richard observava o filho, tentando decifrar se ele estava assustado, animado ou ambos.
Então, Adrian finalmente falou:
— Eu vou aprender mais lá?
— Vai — Richard afirmou. — E muito.
— Vou ter acesso a laboratórios, professores de verdade, competições?
Clara sorriu.
— Tudo isso, meu amor.
Adrian então respirou fundo, endireitando a postura como alguém muito mais velho.
— Se é para eu ser o melhor… eu quero ir.
Clara levou a mão à boca, emocionada, enquanto Richard se inclinava para frente.
— Tem certeza, filho? Não precisa decidir agora…
Mas Adrian balançou a cabeça.
— Quero ir. Quero aprender tudo o que eu puder. E quando voltar… vou construir o que ninguém nunca construiu.
Os pais o abraçaram, orgulhosos e apertados pelo vazio que sentiriam.
Naquela noite, Adrian não dormiu. Ficou encarando o céu pela janela, imaginando o deserto do Arizona, os laboratórios, o futuro que começava a se desenhar.
Longe de casa. Longe de tudo que conhecia.
Mas perto muito perto de se tornar quem ele nasceria para ser.