Capítulo 23. MonBourn em São Paulo

934 Words
O salão era um dos maiores de São Paulo, todo de vidro, iluminado com luzes frias que refletiam nos carros recém-lançados da MonBourn Motors. O evento era transmitido para diversos países; empresários, celebridades e influenciadores de renome circulavam entre taças de champanhe e máquinas milionárias. Adrian já estava ali há horas. Usava um terno perfeitamente alinhado, gravata escura e postura impecável. Movimentava-se entre grupos de investidores e aliados de seu pai como alguém que já nascera naquele mundo confiante, inteligente, naturalmente respeitado. — O novo modelo tem um motor V12 biturbo, — explicava ele a dois empresários europeus — com um sistema de resfriamento inteligente que reduz o atrito e aumenta a potência em vinte e cinco por cento. Os homens assentiam, impressionados. Adrian continuava, gesticulando com precisão: — O acabamento interno foi feito em parceria com designers italianos. Tudo automático, sensorial. O objetivo é unir velocidade com experiência. Seu pai observava de longe com evidente orgulho. Adrian era brilhante. Brilhante demais para sua idade. Mas então. Um sutil silêncio se espalhou pelas portas do salão. Um silêncio curioso, como se o ambiente tivesse inspirado fundo. Adrian ergueu o olhar, distraído, sem esperar nada além de mais convidados chegando. E então ele a viu. Eleonora Montreuil entrou como um impacto. Cabelos soltos em ondas perfeitas, brilhando sob as luzes. O vestido preto acetinado, ajustado ao corpo, delineando cada curva com elegância perigosa. As alças finas eram cravejadas de pequenos detalhes que brilhavam como estrelas. A f***a lateral deixava sua perna aparecer a cada passo segura, firme, quase hipnotizante. E o batom vermelho destacava o contraste contra sua pele clara como neve. As câmeras viraram automaticamente. Alguns convidados murmuraram. E Adrian… ficou sem ar por um instante. Ele não piscou. Não se moveu. Não esperava isso. Não esperava ela. Assim. Eleonora caminhava como se fosse a dona do evento e, de certa forma, era. Todos sabiam quem ela era. Mas era sua presença que dominava, não o sobrenome. Ela sorriu para alguns conhecidos, posou para flashes, seu perfume alcançando quem estivesse perto o suficiente. Seu pai e mãe a recebiam com orgulho estampado. E Adrian continuava parado, segurando a taça com força demais. Um dos empresários percebeu seu súbito silêncio. — Ashbourn, está tudo bem? Adrian pigarreou, tentando se recompor. Tentando… minimizar o impacto que sentia no peito. — Estou, sim. É só… alguém que eu conheço. — respondeu rápido, voltando a ajustar a postura. — Vamos continuar. Mas seu olhar desviava sem querer, voltando sempre para ela. Adrian sentia algo estranho uma mistura de incômodo, fascínio e irritação como se a simples presença dela naquele vestido tivesse tirado seu equilíbrio cuidadosamente construído. Eleonora, por sua vez, ainda não o tinha visto. Mas quando visse… O salão inteiro sentiria. Os flashes iam e vinham pelo salão quando um dos fotógrafos oficiais do evento subiu num pequeno degrau e chamou em voz alta: — Famílias Ashbourn e Montreuil, por favor! Precisamos da foto principal do lançamento! Adrian respirou fundo, colocando de volta a postura impecável de herdeiro treinado para situações públicas. Caminhou até o centro onde seus pais já estavam posando, conversando animadamente com o casal Montreuil. No mesmo instante, Eleonora ouviu o chamado e se aproximou, deslizando pelo tapete com passos elegantes. Seu vestido preto se movia como água, e seu perfume marcante anunciava sua chegada segundos antes. Adrian percebeu a aproximação antes de vê-la como se o ambiente inteiro ficasse repentinamente mais tenso. Quando ela surgiu ao lado dos próprios pais, o coração dele bateu mais forte. Não de forma romântica. Era algo… irritante. Inquietante. E ela finalmente o viu. Eleonora parou por meio segundo, seus olhos azuis encontrando os dele. O sorriso social dela vacilou só um pouquinho. Mas foi o suficiente para Adrian notar. Ele devolveu um aceno polido, frio, quase profissional. Os pais, completamente alheios, continuaram falando sobre números, vendas, expansões. Para eles, os jovens eram extensão perfeita da parceria entre as famílias. — Adrian, querido, fique ao lado de Eleonora, sim? — pediu a mãe dele, distraída. Ele obedeceu, aproximando-se dela. Os dois ficaram lado a lado, costas retas, sorrisos ensaiados. Mas havia uma distância palpável entre seus corpos quase simbólica, quase hostil. Os fotógrafos tiraram várias fotos das duas famílias juntas, pedindo: — Isso, mais perto! Olhem aqui! — Sorriso natural, pessoal! Eleonora manteve seu sorriso impecável, mas seus dedos seguravam a bolsa com força. Adrian mantinha expressão neutra, mas o maxilar denunciava tensão. Então, quando as fotos principais terminaram, o fotógrafo ajustou a câmera, animado: — Agora, por favor, foto apenas dos herdeiros!Só Adrian e Eleonora. Os pais olharam com orgulho, achando a ideia ótima afinal, eram eles que representariam o futuro das duas marcas. Adrian engoliu seco. Eleonora ergueu as sobrancelhas, surpresa e contrariada. Mas caminharam até o centro. Ficaram frente a frente por um instante antes de virarem para a câmera. O fotógrafo sorriu, sem perceber absolutamente nada da tempestade silenciosa entre os dois. — Perfeito! Cheguem um pouquinho mais perto… isso! — Olhem um para o outro. Eleonora arregalou um pouco os olhos. Adrian prendeu a respiração. Mas obedeceram. Quando seus olhares se encontraram, o tempo pareceu diminuir. Não era carinho. Não era amizade. Não era ódio puro, tampouco. Era um campo elétrico. Uma tensão que ninguém ali compreendia exceto eles. — Agora olhem pra mim! — disse o fotógrafo. Eles se viraram ao mesmo tempo, mantendo os rostos perto demais para parecer casual. Clique. Clique. Clique. A imagem estava perfeita. Mas nenhum dos dois estava preparado para o que sentiriam ao ver essa foto estampada em todas as redes da empresa no dia seguinte.
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