O domingo de manhã chegou com a luz invadindo as janelas do internato como se quisesse denunciar todos os segredos da noite anterior.
E, como sempre, as fofocas acordaram antes de todo mundo.
Os corredores estavam cheios de sussurros:
— Você viu a novata na festa?
— Aquela loira? Tava deslumbrante.
— Dizem que o vigilante quase pegou geral.
— E ouvi que Ashbourn estava lá também…com ela.
Adrian ouviu seu nome mais vezes do que gostaria.
Ele saiu do dormitório masculino com os olhos semicerrados, caminhando rápido para o refeitório, tentando não ouvir.
Ele fingia estar indiferente, mas por dentro estava irritado com a festa, com os boatos, com Eleonora, com ele mesmo.
Principalmente com ele mesmo.
Quando entrou no refeitório, encontrou seus amigos em uma mesa no canto. Eles já riam antes mesmo de ele se sentar.
— Cara, você virou lenda hoje. — Derek comentou empurrando o prato de cereal para frente.
— A galera acha que você foi salvar a novata da expulsão. — Ethan completou.
— A novata e seu vestido lilás assassino. — Miles disse, segurando o riso.
Adrian respirou fundo, pegando o próprio prato.
— Não aconteceu nada demais.
— Claro — Ryan disse, ainda rindo. — A gente viu a “nada demais” ontem quando você quase matou o Noah só com o olhar.
Miles bateu na mesa.
— E aquele sussurro tenso no corredor? Odin deve ter tremido no túmulo, porque aquilo foi guerra santa.
— Chega — Adrian cortou, mais seco do que pretendia.
Os amigos se calaram por meio segundo.
Depois explodiram em risadas.
Mas, apesar das piadas, Adrian estava inquieto.
Ela ainda não tinha aparecido no refeitório.
Ele tentava fingir que não estava esperando.
Mas estava.
E o problema é que o internato inteiro parecia estar esperando também.
Enquanto isso…
Do outro lado do prédio, Eleonora estava deitada na cama, encarando o teto do dormitório feminino.
As colegas de quarto falavam sem parar:
— Você tava maravilhosa!
— Todo mundo parou quando você entrou.
— E você falando com o Adrian… menina, teve gente que até filmou!
Eleonora virou de lado, emburrada, puxando a coberta.
— Não tem nada entre nós.
— Ainda, né? — uma das meninas riu. — Porque, sinceramente, vocês dois juntos… é tipo fogo e gasolina.
— Péssima combinação — Eleonora murmurou, revirando os olhos.
Mas o coração dela não concordava tanto assim.
Sempre que lembrava do momento em que ele a puxou para trás da coluna, ou do jeito tenso como a olhou, ou do toque firme no pulso…
Seu peito esquentava.
Ridículo, ela pensou.
Ele é insuportável.
E ainda assim…
Quando finalmente levantou-se da cama e começou a se arrumar com bem menos dedicação que antes seu estômago apertou ao pensar no refeitório.
Ele vai me ignorar.
Ótimo.
Melhor assim.
… i****a.
No refeitório
Adrian tentava se concentrar no prato quando ouviu o burburinho aumentar.
Foi automático: ele olhou para a porta.
E lá estava ela.
Eleonora entrou com passos calmos, uniforme impecável,cabelos presos em um coque meio bagunçado.
Mas até assim, ou talvez especialmente assim…
Ela chamava atenção.
E chamou a dele.
Eles se olharam apenas um segundo.
Um segundo rápido, cortante, cheio de tudo o que não podiam dizer ali.
Ele desviou primeiro.
Ela também desviou.
E passaram o resto do café fingindo que o outro não existia.
Ninguém acreditou.
Os amigos de Adrian comentaram:
— É oficial. Eles tão evitando um ao outro.
— É pior que namoro m*l resolvido.
As meninas no refeitório também cochichavam:
— Será que brigaram?
— Eles se olham estranho… muito estranho.
E Adrian, irritado, levantou-se abruptamente.
— Vou pro laboratório.
Miles murmurou:
— O prodígio tá fugindo…
Já Eleonora terminou seu café em silêncio, levantou e saiu para o jardim, onde o ar estava mais leve e ninguém parecia saber seu nome.
Mas, por mais que ambos tentassem…
Aquela noite não tinha sido esquecida.
Nem por eles.
Nem pelos rumores.
Nem pelo próprio internato.
E a distância que tentavam manter só deixava tudo ainda mais… elétrico.