Juliano
Cada dia que passa eu tenho menos paciência com tudo. A única coisa que me mantém de pé são os meus filhos. Faz alguns meses que eu a Talita não conseguimos nos entender, já tivemos diversas brigas por ciúmes. Eu sei que eu prometi que não iria mais ser aquela pessoa possessiva e dominadora, mas não consigo me controlar. Comecei terapia e quase mandei a terapeuta tomar naquele lugar com aquela papagaiada de respeitar os limites.
A sensação de posse que eu tenho sobre essa mulher, mexe com a minha cabeça. Demiti dois advogados bons do escritório, porque notei olhares para a minha mulher. Inventei uma desculpa e os mandei embora. Tenho a sensação que ela não me ama mais e eu não sei o que fazer a respeito disso, meu orgulho me coloca em uma posição terrível e eu desaprendi a conversar.
Percebo que ela faz de tudo para evitar discussões, quando eu reclamo da sua roupa, ela troca. Quando eu reclamo de algum homem ao seu redor, ela começa a evitar. Ela não discute mais, ela fala o que acha e não da brechas para continuarmos o assunto. Me pego pensando se o meu casamento realmente fracassou por minha causa. Ela é deslumbrante, onde chega chama a atenção e sabe disso.
Tenho medo de ficar velho e ela cansar de mim, mas ao invés de reconquistá-la todos os dias, eu estou afastando a minha mulher de mim. Tivemos muitos embates nesses últimos anos, isto é, quando ela ainda discutia comigo. Depois da Catarina, ela quis trocar o silicone e começou a treinar muito mais pesado. Eu não via a menor necessidade, seus s***s continuavam lindos, mas ela resolveu por uma prótese maior. Não entra na minha cabeça que isso tenha sido a toa, isso só pode ter sido para os homens a ficarem cobiçando. Tentei fazê-la mudar de ideia, mas foi em vão. Ela simplesmente fez a cirurgia, sem se importar com o que eu sinto.
Eu pedi para termos outro bebê e ela também não quis, disse que sofreu muito após a gravidez da Catarina e não tinha mais vontade. Sinto que tudo o que eu falo é errado e somente ela está certa. Todas as semanas eu saio para reuniões e nessas aproveito para beber, encho a cara na tentativa de amenizar minhas frustrações. Tive muitas oportunidades de trair a minha mulher, mas nunca tive coragem, apesar de sim, já ter tido vontade.
Precisei parar de lecionar, para ter mais tempo com os meus filhos, mas confesso que sinto muita falta.
Após a discussão do jantar, tomo meu banho e vejo que a Talita entra em seguida. Como sempre, tranca a porta e já sai de pijama. Porém, dessa vez ela me chamou para conversar e eu fiquei em alerta, isso não acontecia fazia anos. Ela usa um pijama curto de seda, na cor rosa pink e seus cabelos estão molhados e penteados. Sua pele é linda demais, ela exala limpeza.
- Juliano, eu fico muito chateada de ter essa conversa com você. Sei que passamos por muitas coisas juntos e vencemos muitos desafios. Mas, assim como eu, você já deve ter percebido que essa fase de desavenças não está sendo breve. Aliás, isso perdura desde que ganhei a Catarina. – Ela faz uma pausa e respira fundo. – Eu sinto muito, mas acho que não temos mais condições de continuar juntos.
- O que??? Você está louca??? Está me pedindo o divórcio, Talita??? É isso??? – Eu fico indignado, porque não esperava isso dela.
- Eu não me sinto mais capaz de continuar o nosso casamento. Não tenho mais forças nem para brigar, não sei se você percebeu. Eu perdi totalmente a minha identidade. Creio que será o melhor para nós dois, inclusive para os nossos filhos. Eles não precisam crescer em um ambiente de brigas por causa dos pais.
Em um ato de desespero eu vou para cima dela e seguro seu rosto na direção do meu.
- Eu não vou me divorciar de você. Na primeira dificuldade você quer jogar o nosso casamento no lixo? Você tem outro cara, né? ME RESPONDE. VOCÊ ESTÁ DANDO PRA OUTRO, É ISSO? – Começo a tremer de ódio e não controlo minhas palavras.
- Me solta. Eu não tenho ninguém, eu só NÃO QUERO MAIS SER SUA ESPOSA. – As palavras dela chegam como facas no meu peito. Eu não consigo raciocinar.
- Calma. Você não tem noção do que está falando. Não é possível.
- Eu tenho sim, Juliano. Se você não assinar por bem, eu vou pedir no litigioso. Você é um homem casado que leva uma vida de solteiro. Não vou mais me colocar nesse papel, a partir de agora eu vou cuidar da minha vida e você não fará mais parte dela.
- Eu não tenho vida de solteiro. É isso que te incomoda? Eu sair toda semana? Eu paro de sair. Mas, você não pode jogar fora tudo o que construímos juntos. Nossa família. Não faz isso. – Eu começo a me desesperar, toda a minha ira vira tristeza.
- Eu já não tenho mais forças para lutar pelo nosso casamento.
- Mas eu tenho. Me dá mais uma chance, eu te imploro, Talita. – Eu a seguro pelos ombros, como se a minha vida dependesse da sua resposta.
Nunca senti um desespero tão grande em toda a minha vida. Saber que vou perder quem eu mais amo, a mulher que eu me apaixonei no mesmo momento que eu vi. Olho nos seus olhos pretos, com aqueles cílios lindos, aquela pele branca e macia. Coisas que eu nem dava tanto valor quando tinha domínio e agora vejo o babaca que eu fui esse tempo todo e estou perdendo o grande amor da minha vida.
Seus olhos enchem de lágrimas.
- Juliano, eu não sei seu eu sou capaz, depois de tudo. Eu já não confio mais em você, nós nem nos olhamos mais como homem e mulher. Preciso de um tempo para colocar minha cabeça no lugar. – Ela me responde deixando escorrer uma lágrima.
- Eu faço qualquer coisa. Eu faço qualquer coisa por você. Eu te amo, eu não vou suportar viver sem você. Por favor, me dá uma última chance de provar que nossa família não está arruinada... – Falo e vou perdendo minhas esperanças.