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Talita
Passaram-se dois anos desde que a minha pequena Catarina nasceu. Juliano se deu melhor como pai do que eu imaginava e o Bruninho ama e protege sua irmã como se fosse o seu bem mais precioso. Tive depressão pós-parto e confesso que achava que isso era frescura, mas o meu puerpério me provou que é mais sério do que eu imaginava.
Eu tinha constantes pensamentos negativos e repulsa em amamentar minha filha, tanto que o meu leite secou. Juliano foi muito compreensivo no começo, mas com o agravar da situação começou a perder a paciência e resolveu procurar ajuda médica para mim. Foi a melhor coisa que ele fez, realizei o tratamento e me curei daquilo que me assolava.
Nesses dois anos algumas mudanças ocorreram e eu só me dei conta ontem, quando parei para pensar no que a minha vida estava virando. Eu achava que era feliz com o meu marido e os meus filhos, mas tenho a impressão de que a Talita deixou de existir e agora existe somente a esposa do Dr. Juliano.
O escritório de advocacia anda melhor do que nunca e dificilmente perdemos algum caso. Fizemos a festinha de 2 anos da Catarina e reunimos amigos e familiares que não víamos fazia muito tempo. Meus pais continuam morando na Itália, mas de seis em seis meses retornam para fazer visitas. Nunca soltaram a minha mão, mesmo de longe.
Eu e o Juliano estamos em uma fase complicada do relacionamento, nosso trabalho demanda muito de nós e sinto que aquela magia que nos envolvia anteriormente, não existe mais. Às vezes o sinto mais como um amigo do que como meu marido, algumas noites nós nem nos vemos.
Depois da gravidez eu comecei a me cuidar muito mais, ganhei músculos e troquei meu silicone, pois senti que meus p****s não estavam da maneira que eu queria. Até isso foi motivo de discussão, porque segundo o Juliano eu estava fazendo isso para chamar atenção dos homens. Cansei de tentar resolver nossas discussões por ciúmes, hoje em dia eu não falo mais nada e evito qualquer situação de conflito.
Ele está cada dia mais lindo. O tempo só fez bem para ele. Alguns fios grisalhos apareceram no seu cabelo e na sua barba, mas o deixou ainda mais sexy. Ele chama atenção por onde passa com o seu porte físico. Treina todos os dias e se alimenta muito bem. Quem vê de fora pensa que somos um casal modelo, m*l sabem que m*l conseguimos manter uma conversa como casal.
Eu penso muito na minha família, mas acredito que o momento de pensar em mim chegou. Estou decidida... Vou pedir o divórcio. Foi lindo e maravilhoso o nosso tempo juntos, mas não me reconheço mais. Eu tenho medo da reação que ele pode ter com isso. Desconfio que ele já tenha me traído, pois toda semana sai para “reuniões” com clientes e volta com cheiro de álcool.
Nossa química é inegável, quando ele chega perto de mim sinto minhas pernas bambearem e sei que causo o mesmo efeito nele, mas nenhum relacionamento sobrevive somente de sexo. Aliás, nem isso eu tenho feito ultimamente, minha cabeça está fora do lugar com tudo isso, jamais pensei que viveríamos uma crise. Nós acabamos levando os problemas do trabalho para casa.
Chego em casa depois de um dia no escritório, Juliano foi buscar a pequena Catarina na creche e o Bruninho na escola. Depois do jantar irei conversar com ele sobre o divórcio e eu espero que ele tenha uma reação melhor do que eu imagino.
Ouço barulho da porta e os passos dos meus pequenos.
- Oi meu amores, como foi o dia de vocês? – Falo com meus filhos enquanto Juliano coloca as mochilas deles no sofá.
- Mamãe, mamãe, hoje teve bolinha de carne na escola. Eu adorei. – Bruninho vem correndo me abraçar e contar o que almoçou.
- Sério, filho? Que bom que você gostou. – Falo e brinco um pouco com as crianças enquanto o Juliano abre o notebook e volta a trabalhar, como sempre, sem trocar uma palavra comigo.
Ontem tivemos uma pequena discussão a respeito de um caso e depois disso não tivemos mais clima para olhar na cara um do outro. Cada dia que passa vejo que o meu relacionamento acabou, mas eu não estava percebendo.
A moça que cuida da casa serve o jantar e comemos trocando palavras básicas, as crianças falam sem parar e isso acaba deixando o clima menos pesado. Bruno vai pegar o suco e derruba tudo na mesa.
- EU JÁ FALEI PRA VOCÊ PRESTAR ATENÇÃO NO QUE ESTÁ FAZENDO. – Juliano grita com Bruno de uma forma que eu sinto um frio na espinha de medo.
Começo a secar o que ele derrubou e ele começa a chorar quietinho, com medo do pai dele. Aquilo me sobe um ódio, pego meu filho no colo e o levo para o sofá, para acalmá-lo.
- Filho, tudo bem. Olha para a mamãe, isso acontece. Precisa sim prestar atenção nas coisas, até porque você pode fazer dodói. Mas, está tudo bem. Tá bom? Foi um acidente, não precisa chorar. Papai está apenas nervoso.
- Desculpa mamãe, escorregou... Eu não queria.
- Meu amor, eu sei que você não queria derrubar. Já passou, vem com a mamãe. Vou te dar aquela sobremesa que você adora. – Seco suas lágrimas naquele rostinho pequeno e pego um sorvete no congelador para ele.
- É isso mesmo, Talita. Mima bastante o moleque. Ele faz merd4 e ainda ganha presentinho. Assim ele vai virar um ser humano de bosta. – Juliano, como sempre me tirando a paciência com suas palavras agressivas.
- Depois conversamos a respeito disso. Acho que não é uma boa ideia descontar as suas frustrações pessoais nos seus filhos.
- Frustrações pessoais? Eu estou educando o meu filho.
- Não, você não está educando. Você está sendo grosseiro e insensível, mas não sei porque ainda me surpreendo. – Respondo a altura e ele ainda fica resmungando.
Os pequenos já tomaram banho e eu os coloco na cama.
Depois disso, sigo para o meu quarto e tomo um banho, me permito chorar e pego toda a coragem que ainda tenho para ter essa conversa com o Juliano.