Bianca
O vento quente da tarde roçava meu rosto enquanto eu caminhava em direção ao ponto de ônibus, sentindo o peso dos últimos dias sobre os meus ombros. A faculdade parecia cada vez mais distante dos meus pensamentos, como se o mundo acadêmico e tudo o que ele representava estivesse se dissolvendo, lentamente sendo substituído por outra realidade. Eu tentava me concentrar nas aulas, no que ainda precisava estudar, mas não conseguia evitar. A imagem de Rafael, daquele sorriso enigmático e perigoso, invadia minha mente a cada passo.
Desde aquela noite no baile, eu não tinha sido a mesma. O som da música alta, as luzes piscando, e o cheiro forte de suor e adrenalina ainda estavam vivos na minha memória. Mas não eram as lembranças da festa que mais me perturbavam. Era ele. E a forma como me olhou, como se já soubesse de antemão que eu não conseguiria resistir. Eu sabia que deveria ter me afastado, mas havia algo nele que me puxava, como uma maré forte demais para eu lutar contra.
Enquanto esperava no ponto, meus pensamentos voltaram para o corredor apertado, logo ao lado do baile. O som abafado da música ainda alcançava nossos ouvidos, mas naquele momento, parecia que o mundo havia desaparecido. Quando nos beijamos pela primeira vez, havia um desejo incontrolável, algo quase primitivo. O que aconteceu em seguida foi rápido, intenso e completamente imprudente. Eu nunca me imaginei naquele tipo de situação, mas ali estava eu, no corredor escuro, com ele.
O toque de Rafael era firme, quase como se ele soubesse exatamente o que estava fazendo, como se tivesse me estudado e soubesse todas as minhas reações. Seu corpo colado ao meu, me prendendo contra a parede fria. Eu podia sentir o calor dele, o cheiro de sua pele, uma mistura de perfume caro e algo mais selvagem, algo que não se encontrava em qualquer um. Sua respiração estava pesada, e a forma como ele me olhava, com uma mistura de desejo e controle, me deixava ao mesmo tempo assustada e excitada.
Naquele momento, todas as preocupações e medos desapareceram. Não importava que ele fosse o dono do morro, não importava o perigo que sua presença representava. Eu só conseguia pensar no quanto o desejava, no quanto precisava senti-lo mais perto. Era como se o mundo inteiro estivesse em silêncio, e tudo o que restava era a nossa conexão, os nossos corpos em chamas, movidos por algo que eu não conseguia explicar.
O toque de seus dedos em minha pele era quase hipnótico. Eles deslizavam devagar, explorando cada parte de mim como se quisessem memorizar cada centímetro. Seus beijos eram intensos, cheios de fome, e cada um deles parecia acender ainda mais o fogo dentro de mim. Não havia delicadeza, não havia espaço para hesitação. Era tudo ou nada, e naquele momento, eu escolhi me entregar por completo.
Meus pensamentos vagavam entre o presente e as lembranças daquela noite, e eu tentava entender como aquilo havia acontecido tão rápido. Como eu, alguém tão focada em manter minha vida sob controle, havia me perdido de forma tão fácil nas mãos de um homem que representava tudo o que eu deveria evitar? O perigo, a ilegalidade, a violência que cercava a vida de Rafael, tudo isso deveria ter sido o suficiente para me manter longe, mas não foi.
Agora, enquanto esperava o ônibus, os detalhes daquela noite continuavam invadindo minha mente. Eu não sabia como me sentir. Parte de mim se arrependia pela loucura que fiz, por me deixar levar por alguém como ele, que eu sabia que representava perigo. Mas, ao mesmo tempo, havia outra parte que desejava reviver aquilo, que ansiava por mais.
A cada vez que eu fechava os olhos, eu me via de volta naquele corredor. Rafael me puxando para mais perto, sua boca encontrando a minha com urgência, nossas respirações ofegantes. Minhas mãos se perderam em seus cabelos, enquanto o puxava para mim, sem pensar, sem racionalizar. Estava consumida por algo que nunca havia sentido antes. Um desejo tão intenso, tão devastador, que fazia todo o resto parecer insignificante.
Eu nunca me imaginei naquela posição, me entregando assim, tão rápido, para alguém que m*l conhecia, ainda mais alguém como Rafael. Eu sabia que ele era perigoso, sabia das histórias, das coisas que as pessoas sussurravam pelas esquinas sobre ele. Mas naquela noite, nada disso importava. Eu queria ele. Queria sentir mais daquele calor, mais da sensação de estar completamente dominada por algo tão forte e incontrolável.
Mas agora, no dia seguinte, com a luz do sol iluminando tudo, era impossível ignorar as implicações. Rafael não era apenas um homem qualquer. Ele era o dono do morro, o líder de um mundo que eu sempre tentei evitar. Um mundo que eu sabia que só trazia dor e sofrimento. Me envolver com ele era como brincar com fogo. E eu sabia, no fundo, que se continuasse, acabaria me queimando.
Eu tentava convencer a mim mesma de que aquela noite havia sido apenas um erro, algo que eu poderia deixar para trás. Mas a verdade era que, mesmo enquanto pensava nisso, eu sabia que não seria tão fácil. Rafael já estava debaixo da minha pele, e a ideia de nunca mais vê-lo, de nunca mais sentir aquele toque, era quase insuportável.
Eu suspirei, olhando para o horizonte enquanto o ônibus finalmente se aproximava. Subi e me sentei perto da janela, observando a cidade passar rapidamente ao meu lado. Era estranho como tudo parecia continuar normalmente, como se nada tivesse mudado. Mas dentro de mim, tudo estava diferente.
Eu estava dividida. Parte de mim queria voltar para a minha vida de antes, focar nos meus estudos, esquecer tudo o que havia acontecido naquela noite. Mas outra parte, a parte que ainda sentia o gosto dos lábios de Rafael, que ainda sentia o calor do seu corpo, queria mais. Queria ver onde aquilo nos levaria, mesmo sabendo que o caminho era cheio de perigos.
O que havia em Rafael que me fazia querer ignorar todos os sinais de alerta? Eu sabia que ele não era o tipo de homem com quem eu deveria me envolver. Mas, ao mesmo tempo, havia algo nele que me atraía de uma forma inexplicável. Talvez fosse a sensação de perigo, a ideia de que ele representava tudo o que eu sempre evitei. Ou talvez fosse apenas o fato de que, com ele, eu sentia algo que nunca havia sentido antes.
Enquanto o ônibus me levava de volta para o Rocinha, minha mente continuava presa naquela noite, naquele corredor escuro, na forma como Rafael me fez sentir. Eu sabia que não deveria querer mais, sabia que o melhor para mim seria me afastar. Mas quanto mais eu tentava me convencer disso, mais meu coração me dizia o contrário.
Eu precisava fazer uma escolha. Continuar nesse caminho perigoso, me deixando levar pelo desejo, ou me afastar antes que fosse tarde demais. Mas naquele momento, sentada no ônibus, com a cidade passando rapidamente ao meu lado, a única coisa que eu sabia era que ainda não estava pronta para deixar Rafael para trás.
Mesmo com todo o perigo que ele representava, mesmo sabendo que me envolver com ele era uma má ideia, eu não conseguia ignorar o que sentia. E essa tentação, essa atração incontrolável, era algo com o qual eu ainda não sabia como lidar.