Na cozinha, tento beber chá, mas minha mão treme demais e é difícil segurar o copo. Desisto e coloco o copo na mesa.
Eliza acaricia a minha cabeça.
— Não fica triste, florzinha. Toda mulher sonha em se casar, não tem porquê com você ser diferente. Eu daria tudo para me casar com um príncipe.
— Não vejo graça. — Suspiro. Joel, o ajudante da cozinheira, entra, arregala os olhos e se aproxima de Eliza.
— Alguém bateu as botas? — ele sussurra no ouvido dela.
— Eu, por dentro. — Olho para a forno aberto com chamas lindas me induzindo a querer tocá-lo ou me jogar de cabeça. — Não estou fazendo drama. Sabem como sou, casar nunca esteve nos meus planos.
— Ah! Alteza...— Eliza bufa e senta ao meu lado. — E alguma vez vossa alteza teve planos? Alguma vez a vossa alteza viu graça em algo? Come, dorme, bebe, lê, rola na lama, se molha na chuva... É sempre as mesmas coisas.
— Se eu tivesse outra coisa para fazer, eu faria. — Apoio a minha cabeça na mesa. — Sei lá... Nada me satisfaz.
— Que tal um homem?
— O que ele terá de interessante que me deixará satisfeita?
Joel e Eliza olham um para o outro e voltam a olhar para mim.
— Bom... Vai ter que descobrir, minha alteza.
— Eu gostaria de ter a sua vida. Queria poder ter tido pais decentes e crescer no campo.
— E limpar chão de rico? — Ela cruza os braços. — Você não sabe nada da vida, minha princesa. Há mulheres que fariam de tudo para estar no seu lugar. Deveria se orgulhar de ter a honra de ser disputada. Nunca vi uma princesa ser disputada por príncipes.
— Eles querem dinheiro e fazer os seus reinos evoluírem. Eu entendo, nosso reino tem uma qualidade de vida invejável. Gostariam que fosse assim nos seus reinos.
— Realmente. — Ela se levanta e ergue a sua saia mostrando o seu salto dourado. — Esse sapato foi caro... Se eu trabalhasse no reino Coral não teria conseguido comprá-lo. Saltos custam uma fortuna lá e empregadas domésticas ganham muito pouco.
Sorrio. Ela deveria ter nascido na realeza. Seria muito feliz.
Na sala do trono, eu espero em pé ao lado do meu pai os convidados chegarem. Gostaria que o trono se quebrasse para ele cair e se machucar, mas o trono é muito forte e bem feito.
— Majestade, alteza... — O guarda se curva. — Anúncio a chega dos príncipes... — Eles começam a entrar. — Príncipe Victor, Zaki, Louis, Omar, Oton, Gruds, Elenek e Rafael.
Não sei quem é quem, mas eles ficaram um ao lado do outro e se curvaram. Como são de reinos diferentes eles possuem detalhes peculiares e distintos. Eu gosto dessas diferenças culturais. Acho que consigo adivinhar de que reino cada um é, mas primeiro quero saber qual nome é de quem.
O guarda sai e os príncipes se erguem. O primeiro da fila dá um passo para frente. Tem um olhar penetrante e a volta dos seus olhos são contornados por uma linha preta feita com maquiagem. Suas vestes são escuras, mas chamam atenção porque é incomum neste reino pessoas se vestirem completamente com roupas pretas.
— É um prazer conhecê-lo, majestade, e agradável ver o rosto da vossa filha. Foi abençoada pela Lua com tamanha beleza. Sou Victor Orleans de Silva e Flora, príncipe herdeiro do reino Flora.
Ele nem fez contato visual comigo. Como pode dizer que sou linda se nem sou o foco da sua visão? Puxa saco. Nem mesmo se dirige a mim.
— Espere um pouco e talvez eu deixe você realmente ver o rosto da minha filha.
— De perto? — Ele dá um sorriso de lado. É um tanto charmoso, mas parece ser mau.
— Mais respeito com os nossos costumes. A minha filha é uma dama, minha pedra mais preciosa.
O couro da minha cabeça discorda, ou ele agride as pedras preciosas dele? Ainda está dolorido desde a última vez que ele puxou os meus cabelos.
— Claro. Perdoe-me.
Outro rapaz dá um passo à frente. Tem uma aparência muito formal. Os seus ombros são largos e fortes, e a sua postura é impecável. Com certeza é o filho que o meu pai gostaria de ter dito, um perfeito príncipe. Creio ser do reino Trindade, pois Eliza me contou que lá as pessoas são extremamente educadas e formais, há pouco entretenimento e todos devem se concentrar na sua evolução como pessoa estudando.
— Bom dia, rei Robério. Já nos conhecemos, mas eu gostaria da sua permissão para me apresentar diretamente para a princesa. Acho desrespeitoso ignorá-la.
— Depois que todos se apresentarem de forma formal eu pensarei.
— Como desejar. Eu me chamo Louis Eric Lefan Trindade e sou príncipe herdeiro do reino Trindade.
Mais outro deu um passo à frente. Eu já estou entediada, eles se apresentam mais devagar que uma minhoca. Se o meu pai sabe os seus nomes e eu não posso conversar com eles para que essa formalidade?
— Vossa majestade... — O príncipe, vestido como um sábio, se curva. Possui traços graciosos e o seu roupão branco com uma fita dourada passa um ar de... Reino Dio Gen. Sim, o reino com a decoração natural mais linda. Campos, montanhas... É árvore para todo canto e, pelo que Eliza me disse, usam os ramos das plantas para decorar o exterior das suas casas. — Sou Gruds, do reino Dio Gen. Que o Sol ilumine o seu caminho.
O meu pai respira fundo. Parece que não sou só eu que estou entediada com as formalidades. Ele olha de lado para mim. Chama-me com o dedo. Aproximo-me dele. Ele pega a minha mão e me leva até os príncipes. Olho para o rosto de cada um. O príncipe ao lado de Gruds é apenas um menino, tem o rosto mais jovem entre os príncipes, mas se mantém sério. Ele carrega uma espada na cintura.
Já que o meu pai me trouxe até eles, acho que posso abrir a boca.
— Qual o seu nome?
— Eu? — Ele levanta os olhos. — Sou um príncipe guerreiro, chamo-me Oton e sou herdeiro do reino Coral.
Dou um passo para o lado e o outro príncipe levanta os seus olhos. Possui olhos grandes, bem redondos e me deu um sorriso doce.
— Olá, Eleanor. — Ele me dá uma rosa-branca que não sei de onde tirou. A pego e a cheiro, tem um cheiro doce muito agradável. — Sou o príncipe Omar, do reino Pereskia.
— Obrigada. — Sorrio e dou mais um passo para o lado. Esse príncipe está usando uma roupa vermelha, sua blusa é de gola alta, sem botões aparentes e vai até os seus joelhos abrindo fendas dos dois lados do seu corpo. A sua roupa é um vermelho forte com detalhes dourados. Ah, se parece com o seu pai, o rei de Aqua. — O senhor é filho do rei Pedro!
— Exatamente. — Ele levanta os olhos e dá um leve sorriso. — Sou Elenek, filho de Pedro, rei do reino de Aqua. É um prazer conhecê-la.
Passo rapidamente para o lado. Não estou com muita paciência.
— O senhor é? — Sorrio para o príncipe. Ele levanta a cabeça e sorri de lado.
— Zaki do reino Vanilla.
— É um prazer. — Em fim passo para o último príncipe.
— Bom dia, princesa. — Ele sorri. Possui covinhas nas bochechas. — Eu me chamo Rafael e sou príncipe do reino Pantavermelho.
Eliza me disse que o reino Pantavermelho é quase que completamente coberto por plantas vermelhas, até a água do pantano é vermelha. Eles comercializam tinta vermelha, principalmente para o reino Aqua.
Ando para perto dos dois primeiros príncipes, Victor e Louis.
— É uma honra conhecê-la, alteza. — Victor me encara. Os seus olhos são incrivelmente penetrantes, são bonitos, mas... Não sei explicar, carrega malícia, como se ele fosse mau. — Lutarei com toda a minha força para ser a minha esposa.
Olho para o outro. Ele pega a minha mão e a beija.
— É um prazer conhecê-la.
— O prazer é meu. — Sorrio e dou um passo para trás. Vejo o meu pai bocejar e o surpreendo com um abraço de lado. — Podemos comer agora, papai? Os príncipes saíram cedo dos seus reinos, precisam de energia.
Ele dá um sorriso forçado.
— Claro, meu amor. Podem nos dar licença, por favor?
Os príncipes saem da sala do trono e saio de perto do meu pai. Ele respira fundo e me olha. Se olhar matasse...
— Ouça-me — ele sussurra. Aproximo-me devagar dele. — Não precisa exagerar tanto e se comporte. Não se abraça o rei dessa forma. Eu preciso que não desistam de ter você como esposa, tanto faz qual vai ganhar, mas pelo menos um tem que te querer. Eles ligam para o meu dinheiro, mas a princesa tem que ter o mínimo de educação para mostrar que pode ser uma esposa.
— Não se importa mesmo com quem irá ganhar?
— Exatamente.
Então é assim? Sorrio. Talvez eu possa pelo menos escolher um príncipe que tenha empatia por mim e não tente mudar o meu jeito de ser. Imagina ter que fingir a vida toda ser alguém que não é para que não te abominem? A verdade, é que eu nem sei como as pessoas normais agem. Nunca fui de prestar atenção em como as mulheres devem se comportar ou como devo agir com o rei. Sempre fiquei sozinha e estou acostumada a olhar só para mim. Se o meu marido for ausente será bom.