Nos sentamos à mesa. O meu pai numa ponta, bem longe de mim, eu na outra e os príncipes ao nosso lado.
Levanto-me antes que todos comecem a comer. Meu pai me encara com fogo nos olhos. Sorrio.
— Antes de começarmos a comer, eu quero fazer um pedido aos príncipes e ao meu querido pai: não lutem. Não acredito que guerrear mostrará quem é digno de me ter como esposa. Se querem tanto casar comigo, deixem que eu escolha. Morem no reino até... o Dia da Lua. O Dia da Lua é tão especial. A Valsa da Lua é o momento mais esperado do ano, por que não fazer desse momento mais especial ainda? Posso escolher o príncipe nesse dia e apresentá-lo a todos como o meu noivo. Até lá, quero conhecer cada um dos príncipes. Pode ser assim? — Olho para cada um na mesa e olho para o meu pai, está se segurando para não gritar comigo. Os príncipes o olham e ele sorri.
— Não vejo problema! — Ele dá um riso com a boca fechada. — Minha filha é um doce. Não quer que os seus pretendentes se machuquem. O que acham?
— Eu adorarei conhecê-la melhor, alteza — diz o príncipe Rafael.
— Concordo. — O príncipe Victor olha para os outros príncipes. — Estão com medo? Devem ter personalidades terríveis para se esconderem atrás de espadas. — Ele sorri de lado.
Louis se levanta.
— É um desrespeito ficarem calados. Se a princesa quer que seja assim, será. Estão de acordo?
Eles concordam balançando a cabeça.
— Perfeito. — Volto a me sentar e Louis faz o mesmo. — Agora podemos comer. — Pego o pão de queijo e o levo à boca. Espera... Olho para os outros príncipes e para o meu pai, estão me encarando. — O que foi? — Mordo o pão de queijo.
O rei ri alto.
— Não se estressem. Entre minha filha e eu não há muita formalidade. Quando estamos sozinhos ela não precisa esperar eu começar a comer para ela comer. Agora que temos convidados é um pouco difícil lembrar dos costumes reais.
Oh, então é isso... O meu pai faz as suas refeições no seu quarto, então eu não sabia que o rei tinha que tocar na comida primeiro.
Sorrio. Mastigo o pão de queijo e o engulo.
— Perdão pelo inconveniente. Papai e eu temos uma relação bem informal.
Ele começa a comer e os príncipes em fim tocam nas suas comidas...
Decidi primeiro conhecer o príncipe Victor. Pedi que Eliza preparasse uma mesa para jantarmos na biblioteca. Ela me surpreendeu com um jantar à luz de velas. Sentamos um ao lado do outro.
— A alteza está muito elegante. O vestido marrom combina com os seus olhos castanhos.
— Obrigada. — Reparo que a roupa dele é a mesma de hoje cedo. Que horror, ele não toma banho? Eles iriam vir, lutar e decidir no mesmo dia quem seria meu marido? Santa Lua, que pressa! — Deveria ter pedido a um empregado que o trouxesse roupas novas.
— Sinto muito por isso, mas eu me banhei. — Ele aproxima o seu pescoço do meu rosto. — Sente como estou cheiroso?
— É, está. — Cheira à lavanda. Toco no seu ombro e o afasto. — Podemos comer e conversar um pouco?
— Sim. — Ele pega o garfo e a faca. Corta um pedaço do peru e coloca no seu prato. — O que quer saber?
— Sua idade, seus passatempos...
— Tenho 20 anos e gosto bastante de conhecer pessoas. Conversar... a sós.
— Legal. — Espeto uma batata assada no meu garfo, mas ela se despedaça. Isso me dá água na boca. Pego um pedaço da batata com uma colher e como. Fecho os olhos saboreando.
— Também gosta de conversar a sós? Não é bem-visto conversar com um homem quando está desacompanhada. Não sei como o rei deixou vossa alteza jantar sozinha comigo.
É que o rei está pouco se lixando para mim. Ele até tenta fazer as formalidades, mas é um pouco difícil fingir que se importa comigo.
— Ele confia em mim e no senhor. Assim como o senhor, gosto de conversas particulares, a i********e é importante.
— Tenho certeza que sim. Principalmente para um homem e uma mulher. — Ele sorri de lado.
Eu não sei se entendi. Um homem e uma mulher a sós, o que há nisso? Deve ser alguma coisa com relação à formalidade, mas ele havia dito que era errado... Não vou me esquentar com essas coisas, formalidades são perdas de tempo quando se está neste castelo.
— O senhor gosta do seu reino?
— Flora é um reino maravilhoso. O que mais gosto são as montanhas. Gosto de escalar. — Ele come um pedaço de peru.
— Seja sincero e me diga se quer reinar por vontade própria ou se é apenas por obrigação.
— Gosto da posição de rei, dá-me privilégios e riqueza.
— E só?
— Também vou gostar de governar.
Não vejo muita animação nele, não sei se vejo um homem que esquecerá da esposa. Eu preciso de um príncipe que queira a esposa apenas para dizer que é casado e pode governar.
Acordei revigorada da noite anterior. Não é tão difícil aceitar que eu vou me casar. É r**m, mas dá para relevar. Adequar-me as loucuras que o meu querido pai me faz passar já não é mais difícil.
Desci e fui para o jardim aproveitar o sol matinal.
— Assim você estraga as flores! — ouço a voz de Victor por aqui. Procuro de onde vem. — Onde está o jardineiro? Você não presta para isso.
O vejo próximo à roseira junto a Joel. Joel tenta cortar as rosas do jardim, mas os galhos estão muito enroscados um no outro. Ele se machuca.
— Joel! — grito e ele se vira junto a Victor. — O senhor trabalha na cozinha, não no jardim.
— E... Eu estava ajudando o príncipe a colher rosas para a senhorita.
— Alteza... — Victor range os dentes.
Joel abaixa a cabeça.
— Entre, eu não quero flores.
Ele entra correndo.
Aproximo-me de Victor. Nossos rostos ficam bem próximos. Eu gostaria de matá-lo.
— Que disparate. Não se fala daquela forma com os empregados. Não são escravos e merecem respeito.
— Sinto muito se a ofendi, mas ele é completamente inútil. Não consegue cortar rosas e se machuca facilmente. — Ele dá um riso. — É ridículo.
— Ridículo é você mandar num empregado que não é seu. Se ele estava o ajudando não deveria ter gritado com ele e sim agradecido pelo esforço. Se o achou tão r**m cortando rosas, que o senhor mesmo cortasse. Pior ainda é que nem faz sentido você me dar rosas do meu próprio jardim. Prefiro que fiquem aqui, lindas e florescendo do que murchando no meu quarto.
— Não é para tanto, alteza. Ele é apenas um empregado.
— O senhor abusa do seu poder. É prepotente. — Coloco as mãos na cintura. — Admita que errou, pois, nada me fará mudar de ideia.
— Não errei.
— Já que não entramos em um consenso, que saia do meu reino, por favor. — Dou as costas para ele. — Não gosto da companhia de pessoas como o senhor.
Entro no castelo. Onde já se viu tratar um empregado meu dessa forma? Ele só pode estar louco. Que volte para o reino dele! O príncipe se irritou apenas com isso. Imagine se Joel tivesse se negado a cortar as rosas? Provavelmente o agrediria...
Mais tarde, almocei com o meu pai e os príncipes. Perguntaram se eu havia visto Victor e contei o que houve.
Agora, de noite, o meu pai me chamou para ir ao seu quarto. Abro a porta e o vejo sentado na sua cama olhando para a parede.
— Pai?
— Nem tudo que queremos deve ser dado. As vezes cometemos a burrice de sermos mimados. Principalmente os filhos, são tão mimados! — Ele respira fundo. — Guardas!
Os guardas aparecem e seguram os meus braços.
— Levem-na para a cela sem que os príncipes vejam.
— Jura? — Tento me soltar, mas eles são muito fortes. — Só por causa de um príncipe prepotente?
— Não. Você tem que aprender a não ser mimada. A cela é um bom lugar para pensar e rever as decisões que você toma.
Seguro minhas lágrimas. Não acredito nisso.
Eles me levam até a prisão do castelo. A prisão contém várias celas, mas são ocupadas apenas por ratos e baratas. Colocam-me numa cela escura, imunda. O cheiro de urina de rato é forte. Toco nas grades que me prendem e apoio a minha cabeça nelas. Choro. Ele nunca havia feito isso. Não é simplesmente pelo príncipe que expulsei, é por tudo. Está apenas descontando todo o seu ódio por mim, mas isso não vai ficar assim…