Uma surpresa indesejável

1556 Words
A peste bubônica foi uma tragédia para o continente Tropical. Duzentos e trinta anos atrás, mais da metade da população do continente morreu. O meu antepassado escreveu sobre e estou na biblioteca lendo o seu livro. Apesar de Hector ser da realeza, ele não tinha nada melhor para fazer do que escrever um livro contando algo que está nos livros de doenças escritos por médicos que viveram mais perto aquilo? Parece ser como eu, agindo como um animal desocupado (segundo o meu pai). Será que há alguém nesse mundo mais desocupado que eu? Não preciso me esforçar para nada nessa vida. Já fiz tantas coisas, mas sinto que, ao mesmo tempo, não fiz nada. Acordei antes de amanhecer e estive a ler livros mesmo sem achá-los interessantes. Ouço passos de salto, com certeza são da Eliza, uma das empregadas do castelo. Ela abre a porta da biblioteca. — Eleanor, minha alteza. O rei... — Ela olha para o jogo de xadrez na mesa ao meu lado. Dá um longo suspiro de decepção. — Sabe que isso não é saudável. Está jogando com o homem invisível? — Eu jogo comigo, mas hoje eu... — Fecho o livro e o balanço. — Eu estava lendo, lendo um livro do meu avô, bisavô ou... Não faço ideia — mostro indiferença. Levanto-me do sofá e coloco o livro na prateleira. Sorrio para Eliza a vendo bater os pés no chão. — O que foi? Está tão cedo para o café da manhã. — O seu pai tem uma surpresa pra a alteza. — Ela tenta conter a sua animação, mas o seu sorriso é enorme. É surpreendente a sua emoção devido ao fato do meu querido pai nunca fazer surpresas para mim. — Um bolo com veneno? — Coloco a mão no queixo. — Vá até o quarto dele e saberá. Vai, vai... — Ela vem até mim e me puxa para fora da biblioteca... Pela animação, deverá ser algo que ela gostaria de ganhar: talvez uma viagem só de ida para o reino Sia, lá é tão frio que não é possível fazer campos de plantações, Eliza gosta de frio, mas eu não... A verdade é que, se tratando daquele homem, eu não sei o que esperar. Abro a porta do quarto dele e o vejo nos seus trajes de dormir. Sento-me na cadeira ao lado de uma mesa. — Já está arrumada? Podia usar um espartilho para afinar mais a sua cintura. Vestidos ficam mais bonitos em mulheres com cintura extremamente fina. — Um espartilho? Também precisarei de um médico para me socorrer, já que aquela coisa me impede de respirar. Já usou para experimentar do mesmo sofrimento? — Homens não vestem espartilhos, Eleanor — ele diz com um tom de fúria. Vem até mim. Rapidamente me levanto e vou para a porta antes que ele chegue perto demais. Não quero que ele arranque mais dos meus cabelos, já arrancou demais essa semana. E que culpa eu tenho de não saber que homens não usam espartilho? Por acaso tenho que ficar tirando as vestes dos homens para verificar? Se bem que nunca vi um homem com uma cintura igual a de uma mulher. — Não precisa fugir, hoje estou de bom humor. Não role na lama, não se suje, tome um banho e se perfume. — Ele pega o vestido em cima da mesa e me dá. Não percebi o vestido. É tão vermelho, delicado e longo. — É lindo. — Passo a mão por ele. — Vou morrer? — Dou um passo para trás e estreito os olhos. — Só se lembre de tomar banho. — Ele suspira, um pouco desanimado. Deve estar com sono ainda. — Não se preocupe, não sou o senhor. — O mando um beijo no ar e vou embora rapidamente antes que ele resolva cogitar a possibilidade de me matar. Encontro Eliza no corredor. Ela abre a boca deslumbrada com o vestido. — Acho que ele quer me matar e fazer um lindo funeral. O que acha? — É esplêndido. — Ela sente a textura do vestido. — Eu estava falando do meu funeral. — Ele apenas te deu o vestido sem dizer nada? — Ela passa o tecido na sua bochecha. — Tão macio... — Sim. — Vai ficar linda. Em fim vai parecer uma princesa. — Como é? — Estreito os olhos. — É que a alteza... — Ela dá um riso de nervoso. — A alteza usa vestidos tão simples. Sorrio. — Eu sei. Você sabe que não tem como correr direito com vestidos refinados. — Posso ajudar a alteza a se vestir? — Ela pega o vestido. — Claro. Talvez algum rei venha, por isso ele quer que eu esteja bem vestida. Como provavelmente eu tomaria o café matinal com um rei, fui logo tomar banho. Eliza, Catarina e Julia me ajudaram a ficar pronta. Coloquei saltos, maquiaram-me, fui perfumada e Eliza escolheu uma das minhas joias: um colar de rubis para combinar com o vestido. Elas me olham deslumbradas enquanto eu me vejo no espelho. — E então? — Eliza pergunta. — Gostei. Não sou a princesa mais linda do reino? — Coloco a mão na cintura. — E tem outra? — Eliza dá um riso. — Não há outra para competir com a vossa beleza, mas creio que se tivesse a senhorita venceria. — Você adora puxar saco. — Contenho um sorriso. Essa mulher consegue facilmente deixar o meu dia mais alegre. Eu só tenho os empregados para conversar. Tenho sorte deles serem receptivos comigo agora que cresci, porque quando eu era criança era muito agitada e os atrapalhava nos seus afazeres, juro que eu não fazia por m*l. Fui para a sala do trono ver o meu querido pai. — Como estou? — Dou um giro. — Dá pra enganar. — Ele ajeita a coroa na sua cabeça e senta no trono. É uma coroa tão linda, feita de ouro e com as pedrarias mais caras do reino. As pontas se juntam no meio da cabeça formando uma pequena esfera. O estofado é preto, diferente da coroa do rei de Vanilla que tem um estofado vermelho. Os seus trajes são verdes com desenhos de cor dourada. Se não fosse o meu pai, eu diria ser encantador, mas é e posso dizer que nada tem de encantador. — Lembre-se de sorrir e me tratar como pai. — Oh, papai, isso não será difícil, eu o amo tanto. — Seguro-me para não rir. — E a quem farei o teatro? — Está empolgada para saber? — Ele sorri, mas não é um sorriso genuíno. É um sorriso malvado. O que ele me fará passar agora? — Estou muito ansioso, mas com medo da sua reação. — Conte logo, estou me perdendo no personagem. — O meu sorriso desaparece. Ele fez algo muito r**m para mim, posso sentir. Cruzo os braços. — Já virou uma mulher, uma mulher muito bela. É a princesa mais cobiçada entre a realeza e os nobres, pois possui uma herança enorme. Afinal, é filha do rei mais poderoso do continente. É normal que os príncipes queiram pedi-la em casamento. Obviamente não poderia ser qualquer príncipe, só herdeiros. Assim, formaremos uma forte aliança com o outro reino. — Ele gesticula com a mão enquanto fala. Sinto vontade de arrancar essas mãos e servi-las aos porcos. Está tão sereno, deve saber que isso iria me trazer sofrimento. — Não quero me casar! — Tento regular a minha respiração, mas meu sangue ferve de ódio. — Eu não tenho feito nada para você. Eu vivo em paz aqui, raramente vemos o rosto um do outro. Por que eu mereço ser prisioneira de outro homem? Já sou sua prisioneira, então que eu continue a ser pelo resto da minha vida. Não quero estar num laço matrimonial forçado. Já fui forçada a ser sua filha, não quero ser forçada a formar mais um laço familiar sem futuro. — Prisioneira? — Ele coloca a mão no queixo e olha para cima. — É só modo de falar devido à sua autoridade e do nosso ligamento. — Abaixo a cabeça. Se eu deixá-lo com raiva será pior. — Não me obrigue a casar, eu imploro. — Junto as mãos e o olho como um cachorro abandonado. Será que esse homem não tem um pingo de compaixão? — Como a princesa não é qualquer princesa, é uma princesa herdeira, eu não poderia escolher qualquer príncipe. Eles têm que disputar a sua mão como urubus querendo um pedaço de carniça, pois você não é uma carniça qualquer. Os oito herdeiros do continente estão a vir para uma disputa que definirá quem é digno de ter a vossa alteza como mulher. Nunca pensei que ele fosse me sujeitar a isso. Eu aceitaria tudo, menos viver para um homem. Preferiria ouvir pelo resto da minha vida os insultos do meu pai e sentir a dor de quando puxa o meu cabelo. Se a Lua ampara as mulheres, que ela me ampare nesse momento, pois não vou conseguir me casar. Não quero viver com um desconhecido e fingir que estou feliz. O que será de mim, subindo num altar e jurando amor eterno a um jovem homem que não sente nada por mim e vise-versa? Se eu tivesse coragem, mataria o rei do reino Eleanora.
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