18-Um beijo insano e inesperado

1511 Words
Kan Ruslan Eu fico parado aqui, observando Lunara Tokatli como se o próprio ar ao redor dela estivesse prestes a se quebrar. Ela respira rápido, o peitö subindo e descendo de forma irregular, os dedos tremendo sobre a madeira da mesa. A luz fraca deixa a pele dela ainda mais pálida do que já parecia no salão. Algo está errado, isso está claro. E eu deveria sair. Mas eu não sou esse tipo de homem. E ela… ela não é esse tipo de mulher. Dou um passo. Depois outro. Paro quando vejo que ela tenta se endireitar, como se quisesse esconder o tremor das mãos. Fingir força. A mesma armadura de aço que ela usa sempre. A única coisa que impede esse norte inteiro de desmoronar sobre ela. Eu entendo e admiro. Mas não vou ignorar o óbvio. Meus olhos varrem a sala, procurando por algo que possa ajudar. No canto, uma estante de bebidas. Vinhos. Uísques. Licores fortes demais para quem já parece prestes a tombar. E ali, atrás das taças, vejo duas garrafas de água. Perfeitas. Pego uma, abro o lacre e me aproximo, sem pressa. Sei que ela me observa. Sei que ela está tensa. É quase palpável, como eletricidade queimando no ar. — Bebe! — Digo, estendendo a garrafa. Ela hesita. Claro que hesita. Não confia em mim. Mas a necessidade vence o orgulho, e ela finalmente aceita. A tampa arranha os dedos dela quando ela gira para abrir por completo. A mão ainda treme. Ela leva a garrafa aos lábios e bebe. Longos goles. Quase desesperados. Eu fico observando a garganta dela se mover enquanto engole. A pele do pescoço estica um pouco. A luz bate no ponto exato. E eu sinto uma onda quente correr no meu sangue. Quando ela abaixa a garrafa, ainda respirando fundo, tomo a liberdade de tocar sua mão. Ela tenta puxar na mesma hora, mas prendo firme. — É apenas para aquecer. — Digo, e mantenho meu toque firme, sem força, mas sem permitir a fuga. A mão dela está fria. Gélida, na verdade. E eu não consigo evitar o pensamento egoísta que surge: é a primeira vez que toco ela sem resistência imediata, sem ela ameaçar me bater com palavras afiadas. É a primeira vez que meu toque permanece. Aproveito. Acaricio os dedos dela, devagar. Meu polegar passa sobre o dorso, depois pela palma, onde sinto a pele fina e quente começando a ganhar cor novamente. Ela está alerta, mas não recua. Seus olhos parecem indecisos, parte dela quer se afastar, a outra… não quer. O perfume dela chega até mim, suave, fresco, com aquele toque doce tão sutil que parece natural, como se viesse da própria pele. Eu inspiro fundo. Quero mais. Quando passo o dedo pelo centro da mão dela, sinto um arrepio correr pelo corpo dela. Minúsculo, mas real. E isso me faz sorrir por dentro. E confesso, sinto o mesmo arrepio. Mas é claro que a armadura volta. Sempre volta. Ela coloca a garrafa sobre a mesa com firmeza ensaiada e puxa a mão de volta com um movimento mais brusco. Dá alguns passos atrás, colocando a mesa entre nós. — Eu estou bem. — Ela diz, com a voz ligeiramente falha. — Já pode ir embora. Eu rio baixo. Não de deboche, mas de fascinação. — Você nunca pensou em ser um pouco mais... cordial? — Pergunto. — Talvez mais… branda? Ela aperta os olhos. — É impossível quando alguém me olha com interesse. Ah… então é isso. — Interesse? — Repito, chegando perto da mesa, apoiando as mãos nela. — Eu achei que você soubesse diferenciar ameaça de desejo. Ela aperta os lábios. — Eu sei o que você quer, Ruslan. O Norte. Acha que eu sou idiotä? Pensou errado! Eu deixo um sorriso escapar. Pequeno, bem disfarçado. — Talvez eu queira algo além disso. Ela revira os olhos, mas o incômodo é visível. O desconforto. A tensão. E eu aproveito cada fragmento dela tentando se manter inabalável. Inclino um pouco a cabeça, observando o rosto dela. A curva dos lábios. A sombra das bochechas. O rubor leve causado pela água, pelo susto, por mim. — Me diga uma coisa, Lunara... — Começo, a voz baixa, lenta. — Você já foi beijada? Ela congela. Literalmente congela. O choque nos olhos dela é tão claro que quase me faz perder a compostura. Ela não esperava essa pergunta. E eu fico em silêncio, analisando cada microexpressão dela. Cada piscada nervosa. Cada fração de segundo do silêncio. Então ela respira fundo. — Isso não é da sua conta. — É da minha conta. — Digo, andando pela lateral da mesa até ficar na frente dela. — Eu preciso saber o grau de experiência que você tem. É um detalhe importante. — Você é um idiotä! — Ela dispara, a voz cheia de veneno. — Um louco arrogante. Saia daqui. Mas eu ignoro. Dou a volta completa na mesa e quando ela percebe, já é tarde. Estou diante dela. Perto demais. E então, sem hesitar, deslizo minha mão para sua cintura e a puxo para perto. Ela se choca contra meu peitö e faz um som quase inaudível. O corpo dela endurece no impacto, mas depois… cede. Não muito, mas o suficiente para eu sentir. — Você não faz ideia de como eu penso em beijar sua boca desde o momento em que te vi. — Confesso, minha voz roçando o ouvido dela. — Esses seus lábios… foram feitos para isso. Ela está petrificada. E isso só confirma: ela nunca foi tocada. Nunca foi beijada. Nunca foi desejada de verdade. Aproximo meu rosto do pescoço dela. O perfume dela me invade. Meu nariz passa lentamente pela pele macia e perfeita, e eu sinto o corpo dela estremecer inteiro. Eu pressiono a cintura dela. Ela engole em seco e toca meu braço, como se não soubesse decidir entre empurrar ou se segurar. Eu sorrio contra a pele dela. — Seu perfume é uma delícia... — Sussurro. E então… O inesperado acontece. Ela me empurra contra a mesa, com força, e antes que eu possa reagir, Lunara pega meu rosto nas mãos e me beija. Me beija como se estivesse se afogando e eu fosse a superfície. Eu fico paralisado por um segundo. Apenas um. E então tudo dentro de mim explode. Eu seguro a cintura dela com força, puxando-a contra mim, e correspondo ao beijo com a fome que venho guardando desde o primeiro olhar. A boca dela é quente, macia, desesperada. Ela beija com ousadia, com raiva, com um desejo reprimido que não combina com a timidez que ela mostra no mundo. Ela não é inexperiente. Ela é reprimida. E agora está queimando. Ela me enganou bem... Ela puxa minha blusa pela gola, o corpo colado no meu, a língua roçando na minha com uma intensidade que me arranca um gemido baixo. Eu agarro a nuca dela, puxo seus cabelos, e ela arqueia o pescoço. O gesto mais sensüal que já vi. Eu beijo a curva do pescoço dela como se estivesse marcando território. Meu corpo inteiro reage, queimando, exigindo mais e o meu paü pulsa como um maluco desesperado. Que porrä! Mas antes que eu possa aprofundar, antes que eu possa decidir levá-la para a mesa como meu instinto grita, Lunara me empurra com força. Ela afasta o rosto, respirando rápido, os lábios vermelhos, inchados, perfeitos. Linda demais! — Isso não deveria ter acontecido. — Ela sussurra, quase sem voz. — Fique longe de mim. E ela foge. Simplesmente vira e sai da sala como se estivesse fugindo do próprio fogo. — Lunara! — Chamo, mas ela desaparece. Fico aqui, apoiado na mesa, respirando como se tivesse acabado de lutar. Minha camisa está bagunçada. Meus cabelos também. Meu corpo inteiro está pronto para algo que não aconteceu e explicar isso para o meu paü é uma merdä. Ela me deixou assim. — Louca. — Murmuro, passando a mão na boca. — Completamente louca. E deliciosa... drogä! Foi ela quem me beijou e não foi qualquer beijo. Foi um beijo faminto, desesperado, carregado. Eu pego a garrafa que ela deixou e termino a água só para resfriar meu corpo. Dois minutos. Só dois. Depois saio como se nada tivesse acontecido. Aos poucos, eu vou me recompondo. Mas assim que entro no salão, vejo Osman. Parado ali, me encarando. — Onde estava? — Ele pergunta. — Tomando ar... — Respondo, calmo. — E atendendo uma ligação rápida. Algum problema? Osman me olha fundo. Depois vira as costas e se afasta sem dizer nada. E então, mais um pensamento me atravessa como uma lâmina: eu preciso descobrir tudo sobre Osman. Agora. Ele anda com o corpo rígido e eu olho ao redor. Constato que a Lunara não veio para cá e imagino que esteja numa fuga para o quarto. Agora, eu me pergunto: quem diabös foi o homem que Lunara já tocou assim? Porque aquele beijo… não parecia de alguém inexperiente. Parecia de alguém que já provou bem o prazer que pode receber. Agora eu preciso saber de tudo.
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