Capítulo 7 - O jantar

1100 Words
Elena A batida na porta me tirou do transe. Fiquei ali, sentada na beira da cama, ainda tentando processar tudo o que havia acontecido até aquele momento. O silêncio de meu novo quarto parecia sufocante, e os pensamentos de tudo o que estava por vir me causavam uma sensação de desconforto profundo. No entanto, não havia mais como escapar. Eu estava ali, e nada mudaria isso. “Senhorita Elena, o senhor Hart está esperando por você na sala de jantar. Ele não gosta de atrasos”, a empregada falou de maneira clara e objetiva, sua voz firme e sem espaço para discussão. O que ele queria? Eu nem sabia, mas sabia que, de alguma forma, estava esperando por mim. Eu me levantei lentamente, o som do tecido do roupão roçando contra minha pele quebrando o silêncio da sala. “Obrigada”, murmurei, embora não tivesse certeza se ela sequer me ouviu. Não estava nem um pouco preparada para o que me aguardava, mas não tinha escolha. Tinha que descer e cumprir o que fosse necessário. O tom da empregada, cortante e sem qualquer espaço para desobediência, deixou claro que Liam não tolerava atrasos. Ele não precisava dizer isso diretamente, mas a presença de sua autoridade era inegável. Ele mandava, eu obedecia. Essa era a regra. Eu não tinha mais escolha. Fui em direção à porta, tentando me acalmar. Cada passo em direção à sala de jantar parecia mais pesado que o anterior, e eu não conseguia evitar o frio na barriga. Ele estava me esperando. Liam Hart. O bilionário que, de alguma forma, tinha o controle total sobre minha vida agora. O medo e a raiva se misturavam dentro de mim, mas, ao mesmo tempo, eu sentia uma estranha sensação de impotência. Nada mais parecia estar sob meu controle. Desci as escadas com o coração disparado, cada passo ecoando no corredor largo e impessoal. A casa era impressionante, mas tudo parecia vazio. Como se tudo ali fosse feito apenas para mostrar poder e controle. Quando cheguei à porta da sala de jantar, respirei fundo, recolhi o que restava de minha coragem e entrei. Ele estava lá, sentado à mesa, com aquela postura impecável, olhando fixamente para mim. O ambiente ao redor estava cuidadosamente arrumado, com velas e uma decoração luxuosa, mas eu não conseguia me concentrar em nada além dele. Ele estava ali, tão imponente, tão impenetrável. Não olhava para mim com desejo, mas com uma frieza que me deixava tensa. Não sabia o que ele pensava, mas sabia o que ele queria. “Chegou na hora certa”, disse ele, sua voz grave e tranquila. “Sente-se. Vamos jantar.” Eu me sentei hesitante, os nervos tomando conta de mim. A comida estava à minha frente, mas nada parecia apetitoso. Como poderia me concentrar em algo tão simples quando tudo o que eu queria era entender o que estava acontecendo? Como eu havia chegado ali? O que ele queria de mim? Cada questão parecia me consumir, mas, por algum motivo, eu não conseguia perguntar. Eu sabia que ele não iria responder. Ele começou a comer calmamente, como se nada tivesse acontecido, como se eu não fosse uma prisioneira naquele momento. Era estranho, quase insuportável. Ele estava ali, agindo como se fosse o mais natural dos jantares, enquanto eu estava ali, apenas tentando sobreviver ao que estava acontecendo. Depois de alguns minutos de silêncio, ele olhou para mim, seus olhos nunca deixando os meus. “Como foi a aula de etiqueta?” A pergunta foi direta, sem rodeios, como tudo o que ele fazia. Eu hesitei. O que eu poderia dizer? A aula fora um pesadelo. Eu nunca me senti tão fora de lugar. As roupas que eu comprei estavam longe de ser algo que eu gostaria de usar. Como poderia explicar isso para ele sem me arriscar a parecer fraca? “Foi horrível”, disse, mais dura do que eu pretendia. “As roupas são horríveis também.” Ele não mostrou nenhuma reação. Seus olhos ainda estavam fixos em mim, analisando cada palavra, cada movimento meu. A ausência de uma resposta me fez sentir ainda mais desconfortável. Como se eu estivesse sendo observada, estudada como uma peça em um tabuleiro de xadrez. Ele estava me controlando de todas as maneiras possíveis, e eu estava começando a sentir isso mais intensamente a cada momento. “Da onde você veio?”, ele perguntou, a curiosidade no tom de sua voz interrompendo o silêncio pesado da sala. “Não tinha luxo, não é?” Eu fiquei em silêncio por alguns segundos, tentando processar a pergunta. O que ele queria saber? Eu não sabia o que ele esperava. Meu passado era simples, sem luxo, sem glamour. Não havia muito o que eu pudesse dizer. “Eu... vim de uma vida comum”, comecei, tentando controlar a tremedeira na minha voz. “Minha família... não tinha luxo. Era tudo simples.” A resposta saiu de forma automática, mas, ao mesmo tempo, eu sabia que ele não se importava com isso. Ele só queria saber de onde eu vinha, talvez para entender melhor como eu poderia ser controlada. Não era sobre quem eu era, mas sobre o que ele queria que eu fosse. Ele não reagiu a isso também. Apenas manteve seu olhar em mim, como se estivesse absorvendo tudo o que eu dizia. Eu não sabia o que ele estava pensando, mas com certeza não estava satisfeito. “Sim”, ele murmurou, sua voz fria. “Eu percebo.” Ele parecia não se importar com a simplicidade da minha vida anterior. Para ele, eu não passava de um item comprado, um projeto a ser moldado. Era isso que eu era para ele. Não importava o que eu sentia ou o que pensava. E, com isso, a conversa caiu em um silêncio profundo. Ele voltou a comer, como se tivesse terminado o que precisava saber. Eu, por outro lado, me senti cada vez mais pequena e impotente. Não havia mais escape. Eu estava ali para fazer o que ele mandasse. E eu já sabia disso. Aquele jantar não era sobre comida. Não era sobre o momento que passávamos juntos. Era sobre poder. Ele estava me mostrando que eu não tinha mais controle sobre nada. Ele era o dono de tudo, e eu, a única peça que ele controlava. Ele não precisava me dizer mais nada. Eu já sabia. Eu já entendia a dinâmica. Eu não tinha escolha, não importava onde tinha vindo, quem eu era antes. Eu era dele agora, e ele faria o que quisesse com isso.
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