Elena
A porta do meu quarto se fechou atrás de mim, e eu fiquei ali, imóvel, com o roupão ainda em minhas mãos. A sensação de ter sido observada por Liam era avassaladora, e as palavras dele ainda ecoavam em minha mente. "Você é minha", ele disse, e algo dentro de mim queria rebelar-se, gritar, sair correndo. Mas eu sabia que isso não adiantaria. Eu não era nada mais do que uma mercadoria, comprada com um preço alto, e ele deixara bem claro que agora minha vida pertencia a ele.
Meus dedos tremeram enquanto eu tentava colocar o roupão sobre meu corpo, mas a vergonha ainda me consumia. Não era apenas o fato de que ele me observou tão detalhadamente, mas a forma como ele me tocou, como se fosse algo que ele possuía. Eu me senti tão... vazia. Como se ele tivesse arrancado algo de mim que eu nunca conseguiria recuperar.
Olhei para o espelho e quase não me reconheci. Eu sabia que o reflexo era meu, mas a mulher ali parecia distante, como se fosse alguém que ele tivesse criado, alguém que ele estava forçando a ser. Eu passei a mão pelos meus cabelos, ainda tentando processar tudo o que tinha acontecido, mas não consegui. Eu queria gritar, queria me libertar, mas ao mesmo tempo, sentia o peso da sua autoridade sobre mim. Ele tinha o controle, e eu não.
Me forcei a deitar na cama, sentindo o colchão macio me envolver. Mas o que deveria ser uma sensação de descanso apenas me fez sentir ainda mais impotente. Fechei os olhos, tentando escapar de tudo, mas o toque de Liam, sua presença e suas palavras ainda estavam comigo.
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Acordei com o som de uma batida na porta. Eu sabia que não era o som de Liam, pois ele nunca batería.
"Entre", disse, a voz rouca de sono escapando da minha boca. A porta se abriu, e uma mulher entrou, sua postura rígida e sua expressão séria me fizeram engolir em seco.
"Bom dia, Elena", ela disse com um sorriso formal, embora seus olhos parecessem cálidos. "Meu nome é Isabela, e estarei com você hoje. Liam pediu para que eu te acompanhasse nas compras."
Eu me levantei rapidamente, confusa com a ideia de estar saindo, mas também aliviada por finalmente ter uma interação diferente daquela do meu captor.
Ela me entregou uma roupa: uma blusa simples, mas elegante, e uma saia preta que parecia feita sob medida. Eu não sabia o que esperar, mas sabia que não tinha escolha.
"Vista-se e desça assim que estiver pronta", disse ela, já se virando para sair. "Liam quer que você esteja pronta para hoje."
Ela me deixou sozinha novamente, e eu vesti rapidamente as roupas que ela me trouxe. No espelho, percebi que estava começando a me acostumar com o que ele esperava de mim. Uma mulher bonita, mas agora moldada para servir aos caprichos dele. A palavra "noiva" ainda ressoava em minha cabeça. Não era uma noiva de verdade, claro. Eu era apenas um acessório em seu império de controle.
Após me vestir, desci para encontrar Isabela esperando na sala. Ela estava elegante, com um sorriso discreto, mas havia algo em seu olhar que dizia que ela sabia exatamente o que estava acontecendo. Eu não sabia se ela tinha compaixão por mim, mas também não me sentia à vontade para perguntar.
"Vamos", disse ela, me guiando até o carro que estava esperando na entrada.
O caminho até a loja de roupas foi silencioso, e eu não consegui parar de pensar sobre o que me aguardava. Compras uma tarefa simples, talvez, mas com uma carga emocional pesada. Não era uma escolha minha. Nada era mais.
Chegamos à loja, e Isabela me conduziu diretamente para o interior, onde roupas caras e sofisticadas estavam espalhadas por toda parte. As paredes estavam forradas de espelhos, e o lugar cheirava a luxo e exclusividade. Tudo parecia feito para esconder qualquer vestígio de humanidade.
"Escolha o que eu disser", Isabela falou, com um tom firme, enquanto ela pegava uma blusa branca da prateleira. "Liam quer que você seja uma dama, e você vai se comportar como tal."
Eu me senti desconfortável ao ser forçada a seguir suas instruções, como se cada peça de roupa fosse uma prisão ainda maior, mas eu não tinha escolha.
O que mais me incomodava não era a roupa, mas o comportamento rígido e impessoal de Isabela. Ela era atenciosa, mas ao mesmo tempo, parecia completamente distante, como se estivesse executando uma tarefa sem questionamentos. Eu não sabia o que pensar sobre ela, mas algo me dizia que ela sabia muito mais sobre o que estava acontecendo do que eu.
Quando terminei as compras, com a ajuda de Isabela, voltei para a mansão, onde algo ainda mais desconfortável me aguardava. A aula de etiqueta. Isabela me disse que eu deveria estar pronta para o que viria. E eu sabia que isso significava que minha vida nunca mais seria a mesma.
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A aula de etiqueta foi o começo de uma mudança que eu não estava preparada para enfrentar. Uma mulher entrou no salão, alta, magra e com uma postura impecável. Ela olhou para mim como se eu fosse um projeto, e em questão de minutos, começamos.
"Você precisa aprender a andar, falar, e agir como uma dama", disse ela, me observando atentamente. "Tudo, desde o seu comportamento até os seus gestos, deve refletir o que ele espera."
Ela me fez andar de um lado para o outro, corrigindo cada passo, cada movimento. Cada vez que eu errava, ela olhava para mim com uma expressão impassível e me mandava tentar novamente.
"Se você não entender a importância da postura, não será vista como uma dama. E Liam não tolera falhas", disse ela com uma voz que não admitia dúvidas.
A aula parecia interminável. Cada palavra, cada movimento que eu fazia, era corrigido até que estivesse perfeito aos olhos dela. Não era sobre elegância ou gracejo. Era sobre controlar cada aspecto de mim mesma, para ser a mulher que ele queria que eu fosse.
Ao final do dia, eu estava exausta, tanto física quanto emocionalmente. As aulas haviam sido difíceis, mas eu sabia que não podia parar. Cada lição era uma preparação para o que viria a seguir. Para quando eu finalmente fosse apresentada à família de Liam.
Essa era a minha nova vida agora. A vida de alguém que não tinha mais controle.