Em uma noite de verão eu que estou com 14 anos, ouvi sons de botas correndo sobre nossos jardins, sabia que não era ninguém da casa, já que fazia muito tempo que tínhamos ido dormir, eu não estava dormindo, pois sempre me acometeu de ir dormir tarde mesmo, apenas sei que acreditei ser talvez a minha oportunidade de pela primeira vez ver um elfo, assim como nas histórias de minha avó, que de acordo com ela, os elfos viviam em jardins em meio a flores, pássaros e até mesmo visitavam as casas de quem os desejava ver, e esse seria o encontro memorável de minha vida.
Sem pensar no fato de poder ser alguém r**m, corri de forma silenciosa, para encontrar o elfo dos contos de minha avó, desci as escadas, fui até a porta que dava para o jardim, abri ela apressada e vi apenas um homem de azul escuro, com um cheiro estranho e forte de ferro, aquilo me assustou, não era esse o encontro que esperava, elfos não tinha cheiro de lavanda ou jasmim?
— Quem é você? — foi o que perguntei, mas não obtive resposta, apenas seus olhos negros e frios me encaravam, ele tinha um semblante c***l e concentrado, era de uma aparência única do Norte, magro, estatura de média para alto, misturado com as sombras da madrugada ele parecia assustador, ele parecia ser ágil, pois com um movimento de seus olhos pude perceber que não só eu havia o notado.
Meu pai também foi despertado e assim que viu o homem o pediu para entrar, quando ele passou por nós na porta, pude notar um pingente de prata em sua capa azul com as cores do exército real, que brilhou ao contato com os poucos raios de luz do luar, era o símbolo de uma adaga, que representava o tipo de ser que ele caçava e matava, era um caçador de elfos, um soldado de elite, treinado para matar, pelos detalhes que pude notar rapidamente no pingente ele era de um alto escalão.
— Muito bem garota – falou me encarando novamente.
— Essa é minha filha como pode ver quase uma moça, te ajudou na hora certa pelo que vejo – o que meu pai estava querendo dizer com isso?
— Sim.
— Vá para o seu quarto, temos assuntos a tratar.
Eu encarava o homem, porque meu pai mantinha contato com essa gente eu não sabia, mas pelo que percebi, minha família tinha duas histórias com elfos, boas e ruins, agora esse homem estava aqui, com aquele cheiro horrível, com o andar ameaçador, me encarando, como se não tivesse nada melhor para fazer.
Estávamos vivendo uma época r**m no Norte, a tensão estava tomando conta de todos e estávamos no recém comando do Rei Joseph, ainda não sabíamos da morte do Príncipe Thomas, por fim, meu pai deve ter achado que esse homem que entrou em nossa casa trabalhava sobre o comando do Rei para exterminar os últimos elfos que ainda residiam nos Reinos do Norte, não entendi o medo que meu pai estava desse homem, era como se ele estivesse ajudando elfos ou devendo alguma coisa, isso até seria bem possível, já que praticamente fugimos da sociedade.
Obedeci ao meu pai, enquanto me dirigia até as escadas, senti aqueles olhos frios nas minhas costas, mas subi fiquei quieta e escondida para escutar sobre o que se tratava toda aquela correria em nossa casa, o meu pai foi o primeiro a se pronunciar.
— Então amigo, a que devo a honra de sua visita a essas horas?
De onde eu estava podia ver o homem, que ao invés de responder meu pai, passava as pontas dos dedos delicadamente sobre as decorações da sala, por fim ele disse:
—Tu sabes que estamos enfrentando uma corja de ladrões perto de suas terras, não sabes?
—Sim eu ouvi falar – meu pai de alguma forma estava nervoso, eu não saberia dizer na época se o assunto era delicado ou se era o caçador que o deixava com medo, algo que era impensável ver meu pai sentir a algumas horas atrás, mas que não parecia ser outra coisa se não medo.
— Sabes e mesmo assim te escondes com teus filhos no conforto do seu lar, mas hoje enquanto os meus homens estavam lá fora, essa corja planejou atacar o seu lar com esposa e filha indefesas na sua casa, mas eu as defendi.
— Do que está falando? Eu saberia se algo assim estivesse acontecendo!
— Eu defendi suas terras, mas perdi homens no confronto, alguns filhos não vão voltar para suas famílias, mas teu filho mais velho dorme tranquilamente – ele não tinha alteração no seu tom de voz, falava calmamente, por mais que meu pai levantasse a voz com ele.
Outro pensamento que passou pela minha cabeça, foi gerado por conta do que ele falou de meu irmão, de fato Rudi não foi para a guerra, será que meu pai se aproveitou de seu cargo para não alistar meu irmão no exército? Meu pai trabalhava diretamente para Rei, e esse poderia ter sido o motivo de termos que fugir rapidamente da sociedade após a morte do Rei, pois assim iriam descobrir, que o passe para meu irmão não ir à guerra era falso.
— Meu filho não está alistado no exército, não estou entendendo suas insinuações.
—O fato é que não sou pago para defender terras particulares, tens que me restituir, ou o senhor realmente será m*l agradecido? – ele falava isso lançando olhares sinistros para a escada, mas achava que ele não tinha me visto.
— Quanto queres? Bem sabe o senhor que temos dinheiro.
— Mas não pagam o que valemos Senhor não é a primeira vez que esses malditos elfos tentam invadir tuas terras, ou que fazem acampamentos dentro dos limites de tua propriedade bem debaixo do teu nariz!
- Estás insinuando que colaboro com eles?
Isso era estranho de se pensar, minha família tinha uma longa história de caçadores, como meu pai quebraria tal tradição, ajudando elfos, e como eu nunca soube disse? Claro que as meninas e mulheres devem ficar de fora desses assuntos, tendo uma vida calma dentro do possível, mas será que Hector sabia disso? Por que nunca me contou nada?
— Eu tenho provas disso! Não vou mais tolerar tal comportamento em troca de mercadorias baratas que compras desses não humanos!
— Sempre pagamos o nosso tributo ao Rei!
Estavam discutindo já de forma mais acalorada, isso estava me parecendo muito m*l.
— Estou cansado dos teus pagamentos, irei pessoalmente ao Rei Joseph falar sobre a sua traição e amanhã sua casa será derrubada e sua família irá para a sarjeta, seria uma pena a pequena Miriam não ter um bom casamento – não sabíamos na época, mais isso era tudo um plano desse caçador, como vocês já viram ele estava fugindo do Castelo.
— Bastardo! O que estás a dizer? Sou um comerciante muito conceituado!
Meu pai só tinha esse sotaque quando estava realmente nervoso, e como aquele caçador sabia meu nome? O homem misterioso abaixou a cabeça e pude ver um sorriso maligno em seu rosto.
— Eu quero a menina como pagamento, para que o sádico do meu primo não saiba sobre isso.
— Achas que oferecerei a mão da minha filha a um bastardo, filho de uma camponesa prostituta como tu és?
Meu pai parecia saber muito sobre a vida daquele estranho, e de fato eu mesma estava começando a achar aquela voz familiar.
— Vais ainda querer ter língua para dar a tua benção, como dás a estes elfos imundos?
Meu coração gelou, aquele caçador queria me levar com ele, do ângulo que podia ver tal homem mesmo no escuro pude ver seus olhos cor da noite me olharem fixamente, ele sabia que eu estava os espionando, me inclinei para trás. Com um movimento ele pegou sua adaga que de longe pude ver na pouca luz do lampião que meu pai ascendeu, vi que ela estava suja do que parecia ser sangue e colocou no pescoço gordo de meu pai, aguardando sua resposta, eu fiquei até sem respirar tão quieta quanto antes, o homem que era o filho bastardo de alguém importante para ter atingido uma classe tão seleta do exército tirou seus olhos de mim e os fixou em meu pai, que por fim o respondeu:
— Podes levar a menina – eu dei um gritinho de surpresa, como meu pai podia me vender por sua vida, se bem que se ele não cedesse esse cara podia matar todos nós – mas nos de dois anos para terminarmos os preparos dela, pois ela é só uma menina ainda, não pode ter filhos, minha esposa irá que informar quando acontecer, te mando uma carta, para que fiques sabendo.
— Eu não vou estar no castelo quando acontecer, mas eu vou estar sempre por perto, agora me pague o tributo também.
Meu pai que estava quase deitado em uma mesa na qual aquele homem havia o encurralado, pegou o dinheiro em uma caixinha e deu para ele, o homem riu e me olhou novamente, após isso soltou meu pai, se dirigiu a porta e desapareceu noite adentro, não me lembro de como fui parar no meu quarto, mas sei que tive pesadelos terríveis com aquele homem.