Vida Nova

4115 Words
    Eu acreditava que estava realmente vivendo um sonho: dirigindo o Impala conversível do Vovô, totalmente reformado e restaurado, no porta malas meus objetos pessoais, livros, roupas e maquiagens, em direção ao Hidden Hills: o meu novo endereço, ao menos durante a semana. Não sabia se aquilo era bom ou r**m, mas eu dirigia tranquilamente... Meu esmalte vermelho escarlate combinava com a pintura do carro, usava meu Ray Ban modelo aviador com lentes polarizadas, batom vermelho, jeans, all star, me sentia quase uma estrela de rock, e então eu cheguei: o imponente portão anunciava que aquela era uma casa de gente rica, engoli, um leve frio na barriga apareceu, aquele não era bem o meu mundo.      Lembrei-me com cuidado das diversas recomendações do meu pai sobre as pessoas "daquele lado", que na maioria eram ricos metidos a b***a, e etc. Minha avó disse que eu apenas precisava seguir meu coração e que saberia em quem confiar, mas sim, uma das coisas que mais me assustavam na minha "vida nova" eram as pessoas que eu precisaria conviver, pois eu sabia que seriam bem diferentes da minha turma do East Garden.      Segui lentamente através dos portões para logo avistar minha mãe e Brandon com garrafas de cerveja. Ela tinha as calças remangadas e usava luvas, tinha em mãos uma tesoura de poda, ele usava um boné e carregava um grande regador, aparentemente jardinagem era um hobbie em comum:  - Ora, ora, se não é a nossa nova garotinha - Brandon  logo largou o regador e veio receber-me com um imenso sorriso no rosto - eu realmente adorei esse carro! - depois de um abraço ele disse, segurando os meus ombros - Seja muito bem-vinda em casa, Mariah. Sua mãe e eu escolhemos essa casa, tem muito espaço aqui, e eu estou realmente muito feliz que você esteja aqui conosco.  - Ah, muito obrigada - sorri, me senti acolhida - o carro era do meu avô - disse orgulhosa - meu pai e meus tios trabalharam na restauração... - É quase um item de colecionador - ele disse empolgado - e eu tenho amigos que morreriam por um desses, de verdade.  - Eu acredito que sim - abri o capô empolgada também - o motor é todo original, única coisa alterada é o sistema de injeção eletrônica, os freios ABS, o som e a direção hidráulica adaptada - eu sorri - papai achou que algumas modernidades viriam a calhar.  - Mas com toda a certeza, ficou quase uma obra de arte - Brandon realmente estava maravilhado com o Impala.  - Ele está às ordens - sorri - é só pedir.   - Obrigada - ele disse contente. - Querida, venha, quero mostrar o seu quarto, antes que vocês resolvam desmontar algum motor ou sair para testar o carro - minha mãe disse empolgada.  - Sua mãe trabalhou nele por semanas - Brandon dizia enquanto caminhava atrás de nós duas, indicando a um funcionário simpático minhas malas no carro.  - Trabalhei mesmo - mamãe subia as escadas – mas tive um pouco de ajuda também, não foi? - ela sorriu para Brandon - Até o Spencer pintou paredes... Agora, feche os olhos.  - Tudo bem - eu ri.  - Mais um pouco - ela me conduzia devagar - pronto, pode abrir.  - Uau - foi tudo o que saiu da minha boca: tudo era lindo, verde água, turquesa, lilás e cor de rosa. Espelhos, pequenas lâmpadas, flores, uma cama imensa, uma TV enorme, som, lareira e um banheiro incrível com hidromassagem e uma bancada fantástica: só para mim - isso é realmente incrível, mas não precisava de tudo isso.  - Claro que sim - Brandon dizia, abraçando-me com carinho - essa casa é sua também. Toda ela, logo o Jim traz as suas coisas e você dá o seu toque final, que acha? Nós queremos que se sinta bem, que se sinta em casa, certo? - Ótimo - eu disse, mas confesso que me sentia um pouco intimidada com tantos luxos, minha vida era bem mais simples no East Garden  - Enquanto isso - mamãe sorria, satisfeita - você pode conhecer o resto da casa...      E minha tarde de domingo foi de caminhar muito em meio à salas, copa, cozinha, escritório do Brandon, escritório da Mamãe, biblioteca - enorme e super completa, onde fui informada de que deveria estudar lá, porque o silêncio era inquebrável lá dentro, e tudo era incrível. Jantamos comida chinesa. Brandon disse que no outro dia eu conheceria os seus filhos, que estudaríamos na mesma escola - senti um arrepio na espinha ao pensar na minha meia irmã, principalmente por Donna ter comentado algo sobre a mãe dela. Mamãe foi para o meu quarto comigo.  - Gostou, querida? - ela parecia insegura quanto a isso.  - Sim - respirei fundo - é bem diferente do que eu estou acostumada...  - Mas garanto que em dois ou três dias estará adaptada. Precisa de alguma coisa?  - Não, mamãe, obrigada eu estou bem.  - Vou precisar fazer um alerta: Mia, a filha do Brandon, ela é um tanto ciumenta e sinceramente, não costuma ser legal, então, qualquer coisa me avisa, okay?  - Tudo bem. Mais alguma coisa  preocupante que eu precise saber? - Tem o Spencer, mas a gente quase nunca vê ele, vive nos treinos ou no quarto, é bem estranho - ela suspirou - ele causa mais problemas para ele mesmo do que para nós, mas tem um bom coração.  - Certo, um bom coração... - estava começando a me preocupar. - Eu volto sempre às 18:00 e a piscina é aquecida, então, sempre pode aproveitar um pouquinho. - Bom saber - sorri - obrigada, mamãe.  - Pelo quê? - Por me trazer para cá...  - Querida - ela aproximou-se de mim, segurando minhas mãos - eu nunca vou te dar a família que o seu pai te deu, nunca vou poder te dar tantos momentos lindos, eu trabalho muito e o Brandon também, ele também construiu coisas, nos saímos muito bem construindo juntos... Isso não é dele, é nosso, então é seu também. Ele é corretor, como eu, só que de ações e não imobiliário - ela tinha os olhos marejados - isso é lindo e eu agradeço todos os dias por poder bancar uma escola melhor e te dar muito conforto e luxos, mas o mais importante, é o que você tem no East Garden.  - Eu sei disso - e sabia mesmo - mas agradeço igualmente. - Eu amo muito você e sei que fui muito ausente, mas de outra forma, talvez, você não tivesse essa cabeça que tem.   - Eu amo você, demais.      Minha mãe e eu ficamos por horas abraçadas, conversando sobre tudo. Tínhamos muito em comum, e eu sabia, e assim que ela saiu do quarto eu ainda fiquei mais algumas horas espalhando minhas coisas para deixar o quarto mais a minha cara. Perdi um tempo instalando meu computador e a impressora, e organizando meus livros nas prateleiras e meus itens de higiene pessoal e maquiagens na bancada do banheiro.      Quando meu despertador tocou, acreditei que eu não tinha dormido nada, estava deitada sobre a cama, totalmente atravessada e sobre as cobertas. Bocejei e encarei meu quarto novo, precisava de um banho, lavar os cabelos... Liguei o som e comecei o meu dia tentando me manter animada. Assim que saí do banho olhei para cima da cômoda onde estavam os uniformes da escola. Camisas brancas, com um brasão bordado no bolso direito, gravatas, lenços, calças, shorts, saias. Peguei uma das saias, uma das camisas de manga curta que coloquei sobre os camisetes de malha que eu gostava de usar. A saia não era muito curta, um xadrez bonito em preto e vermelho, calcei o all star vermelho, pelo menos não parecia tão surrado, sequei os meus cabelos e fiz meu coque despenteado, uma maquiagem levíssima, quase imperceptível, respirei fundo ao me ver no espelho: estava bem bonita. Peguei a mochila, desci correndo para pegar frutas na cozinha, Brandon e Mamãe estavam de pijamas tomando café da manhã com tranquilidade.  - Bom dia - entrei confiante e sorridente - meus óculos escuros sobre a cabeça e os de grau pendurados na camisa e a mochila atirada no ombro - dormiram bem?  - Bom dia - Brandon disse sorrindo - eu dormi como uma pedra, nem vi sua mãe ir para a cama.  - Eu dormi muito bem, e você querida? - mamãe tinha um jornal na mão.  - Muito bem - sorri e peguei uma xícara servindo-me café parada ao lado da mesa.  - Porque não se senta? - Brandon perguntava curioso.  - Porque eu muito provavelmente vou me atrasar - respondi dando outro gole no café.  - Ah, claro - ele pigarreou - Mia e Spence já saíram, ele tinha treino hoje e a Mia aproveitou a carona dele, mas vocês vão ter tempo de se conhecer... Mariah?  - Oi? - dei outra mordida em uma banana, fazendo minha mãe torcer o nariz, aparentemente café e bananas não combinavam - o Frank tomou a liberdade de lavar o seu carro ontem.  - Ah, nossa, muito obrigada - sorri contente.  - Não agradeça, ele amou fazer isso - Brandon riu - fez um discurso para Spencer sobre o carro quando ele chegou ontem a noite.  - Agradeço igual, ele estava bem empoeirado mesmo - sorri, olhei o relógio, dei o último gole no café - preciso ir pessoas lindas. Fiquem bem e tenham um bom dia.  - Você também, Mariah - respondeu Brandon.  - Até logo, querida - minha mãe esticou-se esperando um beijo de despedida - vou cozinhar hoje à noite. - Uhm, que delícia e qual vai ser o cardápio?  - Lasanha - Brandon disse. - Adoro lasanha - sorri e sai andando - tchau, gente.      Caminhei apressada em direção à garagem, onde um senhor simpático na casa dos sessenta anos varria distraído as folhas do jardim. - Bom dia - disse aniamada - você é o Frank?  - Bom dia, senhorita - ele me encarou incrédulo, como se não esperasse que falassem com ele - sim, sou o Frank.  -  E eu sou a Mariah - sorri - Muito obrigada por lavar o Impala, ficou ótimo.  - Ah, querida, não por isso - ele sorriu.  - Tenha um bom dia, Frank - disse ainda sorrindo quando manobrei para sair.  - Obrigada - e o homem continuou varrendo.      Sai dirigindo tranquilamente, eu gostava de sair cedo para não precisar correr, porque eu não gostava de correr, não me sentia segura e morria de medo de sofrer algum tipo de acidente que pudesse estragar o meu carro. Então, a medida que eu me aproximava dos arredores da escola, via um desfile de carrões, mas meu Impala estava com certeza à altura, era uma relíquia. Estacionei logo na estrada do pátio, bem próximo das escadas laterais. Diversos rapazes viravam para ver quem estava chegando, as garotas padrão magérrimas e lindas, os garotos babacas e tudo o que normalmente se vê nos high school de quem tem dinheiro, mas felizmente, eu não tive nem mesmo tempo de me sentir muito deslocada: - Oi - uma voz masculina surgia na minha direita enquanto eu pegava meus pertences no carro.  - Oi - encarei quem falava comigo, um garoto oriental, gordinho, mais ou menos da minha altura - tudo bem?  - Tudo sim - ele sorriu tímido - muito maneiro o seu carro, de verdade.  - Era do meu avô - sorri orgulhosa. - Eu tenho um Impala também, mas ainda estou começando a restauração.  - Nossa, que legal - sorri - Sou Mariah Martínez, vim do St.Mattews High School no East Garden. - Eu sou Ming - ele estendeu a mão - Andrew Ming, estudei aqui a vida toda – ele sorriu – vem, Mariah, eu te mostro a escola.  - Obrigada, Ming.      E junto com o meu mais novo amigo subi as imponentes escadarias. Todos olhavam para mim, mas era como se Ming não estivesse ali:  - Você é a garota nova - ele riu - e eu sou da turma dos nerds invisíveis. Vou apresentar você para os meus amigos que são invisíveis também - ele aproximou-se de um grupo, haviam dois rapazes e uma garota, loira com os cabelos bem cacheados e o rosto delicado cheio de sardas, ela tinha um sorriso lindo - pessoal, essa é a Mariah, veio lá do East Garden.  - Oi Mariah - a garota sorriu - sou Lindsey, prazer conhecer você.  - Oi Lindsay - voltei os olhos para os garotos.  - Eu sou Phillip, ou Phil - um garoto n***o com quase dois metros de altura estendia a mão para mim.  - E eu sou o Justin - sorriu o garoto magrelo dos cabelos encaracolados - bem vinda ao grupo dos renegados. Eu sou do primeiro ano, a Lindsay também...  - ... e nós do segundo - sorria Ming.  - Bem, vou com a turma do primeiro - disse sorrindo. - Certo - Phill sorria enquanto andava de costas para acompanhar os garotos fazendo sinal positivo com as duas mãos - nós nos vemos no intervalo, sejam fortes.      Rimos enquanto caminhamos para a nossa sala. A escola parecia bem menos h******l quando não se estava sozinha, então eu realmente tinha dado sorte, os garotos pareciam legais, Lindsey parecia legal... Toda a minha vida na escola anterior era andar com a turma do Basquete, os primos jogavam, o tio era o treinador então ficava tudo em casa, mas na escola nova, precisava se relacionar com as pessoas, o que estava parecendo bem fácil até que ela apareceu...      Pelo corredor ouviam-se "uau" e "nossa", e na minha cabeça até tocava uma musiquinha brega enquanto Mia McLaughlin andava pelo corredor como quem desfilava, parecia cena de um filme clichê... Os caras todos olhavam para ela, querendo estar com ela e as garotas todas olhavam para ela, querendo ser como ela, Lindsey murmurou baixinho: - Lá vem ela...      E veio mesmo. Mia atravessou o corredor decidida, parou bem na minha frente e disse bem alto, para que todos os que estivessem naquele corredor ouvissem:  - Ei, garota, eu sei bem quem você é, e sinceramente - ele me olhou da cabeça aos pés - nós duas não somos e nem seremos amigas, jamais, okay? - ela olhou sobre os ombros para as pessoas no corredor e voltou-se para mim com uma piscadinha - só para deixar bem claro.  - Tudo bem - falei rindo alto,  e todos no corredor viraram-se para mim, Mia ficou vermelha de repente - sinceridade, isso é quase que um favor para mim - e pegando Lindsey pelo braço antes que sobrasse para ela, desviei de Mia e atravessei o corredor em direção à sala de aula.      Não sei porque eu fiz aquilo, mas quando me dei conta, estava feito. De repente a única coisa que me pareceu certa ali foi deixar bem claro que ela não iria me ridicularizar em frente do resto da escola,  ainda mais em pleno primeiro dia de aulas, mas eu sabia, pelo olhar furioso de Mia e pelo olhar perplexo do restante dos alunos da escola que poderia não ter sido uma boa ideia e que com certeza haveriam consequências para minha resposta, que possivelmente soou como um insulto para ela.      Caminhei com Lindsey incrédula de arrasto para a primeira aula do dia: literatura inglesa - que sempre fora uma das minhas materias favoritas. A turma parecia tranquila, e a professora falava baixo e despretensiosamente. Passou uma lista de sugestões de leitura que fizeram o estômago de muitos revirar, afinal, o habito de ler não era uma coisa muito comum, pelo que eu tinha percebido.  - Ela vai pedir um resumo disso - disse assim que saímos da sala de aula. - Não - Justin respondeu distraído - ela parece ser muito de boa. - Sim - Lindsey sacudiu a cabeça - até ela perceber que ninguém leu nada e surtar e dar uma prova com trechos do livro como texto base?  - Acredito que por ai - sorri e tentei encorajar meus novos amigos - não é tão r**m assim, gente.     Seguimos uma breve discussão sobre leituras obrigatórias e porque o sistema educacional exigia coisas que muitas vezes nós não usaríamos em lugar nenhum na vida adulta, apensar seriam memória empoeiradas quando nossos filhos estivessem no high school, para que pudéssemos dizer que "no nosso tempo" tinha sido de tal forma ou de outra.     A manhã foi normal: aulas inteiras com Mia e suas amigas inseparáveis Crystal e Lorraine me fuzilando com os olhos, intervalos cheios de pessoas curiosas e na hora do almoço Ming e Phil juntaram-se a nós nas arquibancadas do campo de football para almoçarmos ao ar livre, Lindsey encenou três vezes o ocorrido entre Mia e eu, e o mais engraçado é que eu me senti bem, era como se houvessem pessoas de verdade no meio daquele caos, tornando um pouco mais fácil o que eu acreditei que seria um tremendo pesadelo.      Tivemos aula de artes durante a tarde. Artes, cerâmica, culinária e música, assim como os esportes, eram opcionais, então as turmas de primeiros, segundos e terceiros anos dividiam as salas. Em artes, estávamos todos, mas em música, meu primeiro período da tarde de terça e sexta, eu estava sozinha.  - Relaxa, ainda pode trocar - Lindsey sorria quando eu fiz meu olhar de pavor sobre estar sozinhas - mas o pessoal da música normalmente é bem legal e o professor também.  - Certo, vou considerar antes de fugir - e consideraria mesmo, porque precisava cumprir aquele horário com alguma coisa, e música era bom porque eu ja tinha um tanto de conhecimentos em violão e piano, então provavelmente não seria algo que me trouxesse grandes preocupações durante o período letivo.      Durante a aula de artes estive livre de Mia e suas amigas - que fiquei sabendo por alto que quase ninguém lembrava como se chamavam, e se referiam à elas normalmente como "amigas da Mia"  enfim, não sei o que elas faziam naquele período. Phil seguiu para o treino de Basquete, Ming e Justin para o departamento de tecnologia, Lindsey e eu ainda não tínhamos escolhido um esporte...  - Sem ginástica - proferiu Lindsey - não vou suportar as cheerleaders...  - Ui - fechei os olhos e fiz cara de nojo - concordo, acho que eu não ia suportar - sorri - futebol?   - Ah, eu sou péssima - ela parecia desanimada com os esportes - não tem yoga? - Sem yoga - eu ri - e eu nem mesmo aceitaria isso - ri alto - acho que dormiria em poucos minutos. - Verdade - ela mesma bocejou - acho que eu fiquei com sono só de pensar.  - Handebol? - sugeri em uma última esperança, não queria participar da equipe de corrida, mesmo que gostasse de correr, não era uma pessoa muito competitiva. - O time tá meio falhado, aparentemente - ela indicou a quadra - mas podemos dar uma olhada, até onde eu sei a treinadora nem mesmo faz testes...     Seguimos para a quadra. Haviam umas quinze ou dezesseis garotas lá embaixo, algumas pareciam ser boas, outras nem tanto e ainda, pareciam haver algumas perdidas como nós duas. A treinadora sorriu quando nos viu:  - Carne nova no pedaço, meninas - ela sorriu veio ao nosso encontro - boa tarde, mocinhas.  - Boa tarde, treinadora - sorri simpática - sou Mariah Martínez e essa é a Lindsey Kane, estávamos pensando se podemos fazer os testes para o time.  - Eu sou Daisy Smith e não - ela sorriu - nós não fizemos testes e nem mesmo temos um time - ela sorriu acolhedora. Era uma mulher n***a, corpulenta mas não gorda, tinha um sorriso simpático e um cabelo black power invejável - são muito bem vindas para treinarem conosco. Com sorte, se montarmos um time e conseguirmos nos manter, consigo inscrever para a Liga Estudantil, mas normalmente as garotas desistem antes e a direção nem mesmo se esforça em conseguir patrocínios. - Certo - olhei para Lindsey que parecia estar concordando - vamos ficar.  - Ótimo - ela deu as costas e apitou, fazendo todas as garotas pararem o aquecimento e olharem para nós - estas são Lindsey e Mariah e vão treinar com a gente.  - Olá - algumas garotas disseram.  - Vamos voltar ao aquecimento.      O treino foi de longe a coisa mais legal do meu dia na escola nova, Lindsey parecia empolgada ao perceber que ela não era a única que entendia pouco de esportes, mas conforme a treinadora, tinha bastante potencial e precisava apenas se concentrar e se manter fiel aos treinos, não havia muito mistério nisso.      As garotas eram divertidas e conforme Lara, uma garota do terceiro ano com traços orientais que descobri ser prima de Ming, não nos víamos na escola porque todas ali viviam escondidas. Na hora de voltar para casa, depois de um banho rápido e um refrigerante com o pessoal na cantina - com exceção de Phill que não havia voltado ainda do seu treino de basquete - cheguei no meu amado Impala. Já estava ao volante, prestes a ligar o carro quando Phill veio correndo escada abaixo:  - Heeey, Martinez !!! – ele gritou - Você ao menos olhou para esse seu carro? - Porque? – perguntei perplexa, já descendo do carro e olhando – que m***a é essa?      Meu amado Impala estava praticamente rebaixado: tinha dois pneus murchos, possivelmente cortados. Meu rosto foi tomado pelo ódio e pelo desespero: o que eu faria? Chamaria um guincho? Eu, com certeza, só tinha um pneu reserva...  - E como foi que você soube? - encarei Phil em um misto de desespero e dúvida. - Eu primeiro ouvi uma conversa do vestiário do time de basquete – ele ofegava, por ter descido correndo. - Explique... - quase implorei à ele com o olhar. - Tudo bem - ele suspirou - tipo assim, fotos de biquíni por pneus furados - ele deu ombros. - Fotos de biquíni? - eu estava ainda mais em dúvida. - Sim, eu vi as fotos, sinto muito - ele sorriu desanimado - Mia McLaughly de biquíni. Jordan Amees do terceiro ano que espalhou para todo mundo... - Isso é sério? - eu estava, de longe, perplexa, mas no fundo, acreditei no que ele dizia, se eu considerasse os acontecimentos da manhã, fazia sentido. - É de verdade muito sério – ele não se conteve mais e riu – sei que é uma m***a isso aí do carro, Mariah, desculpa por rir – ele me encarou – mas ela de biquíni com certeza vai ser o meme do ano, parece uma vassoura...  - Eu imagino – precisei rir também quando instintivamente imaginei a cena – obrigada pro avisar, Phill.  - Nós somos amigos, ué – ele fez um high five comigo e deu uma piscadinha – preciso ir agora – ele indicou o ônibus escolar – e me  desculpa não ficar para te ajudar com isso, não posso perder o bonde. - Tudo bem - sorri desanimanda - vai tranquilo e muito obrigada por avisar, vou dar um jeito nisso.      Assim que Phill saiu dali eu pensei em mil coisas. Mas a coisa mais inteligente era a mais complicada: providenciar a solução. Precisava de reboque, precisava de uma borracharia...  A raiva que eu sentia não me deixava pensar muito claramente sobre o que fazer, queria arrancar os cabelos de Mia. Sentei-me no banco do Impala e pensei por alguns minutos, tudo o que eu queria era ir para casa, poderia ligar para meu pai, ou para minha mãe e pedir ajuda, mas era uma mocinha independente - ou pelo menos papai sempre dissera que assim que eu deveria ser, então eu pedi ajuda para o Google mesmo. Claro, nos meus planos,  tudo se resolveria rapidamente, mas na vida real oficial, nem tudo são rosas e o reboque levaria mais de uma hora para chegar. Esperei pacientemente – ou nem tanto – aproveitando esse momento para refletir sobre o dia tenebroso que eu tinha tido e como ele realmente poderia ter sido pior, e ainda como ele ainda poderia ser piorado...      Aproveitei o tempo livre, enquanto eu estava ali, perplexa e chateada, aguardando o reboque, para começar a leitura de um dos livros que a professora de literatura inglesa havia marcado como sugestão para aquele ano, e como eu já tinha falado para Lindsey e Justin, que de acordo com minha experiência com professores que pareciam despretensiosos no começo, ela pediria um resumo daquele livro antes mesmo do fim do outono, me concentrei na leitura afim de tentar distrair minha cabeça de todos os meus pensamentos revoltados e violentos. 
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