London
— Se algum de vocês encostar nela, eu quebro os seus dedos — disse Dylan no instante em que a porta se fechou atrás de Samantha.
Meu Deus... Que b***a linda ela tinha. O tecido do vestido grudava nos lugares certos, provocando sem pedir desculpas. As palavras dele só se registraram de verdade depois do clique da porta.
Ciúmes.
— Desde quando você sente ciúmes? — perguntei. Nós três já tínhamos dividido mais de uma mulher no passado, e nunca foi um problema.
O maxilar de Dylan se contraiu com tanta força que me surpreendi por não ouvir um estalo.
— Estou falando sério, London — disse ele, tenso. — Se ela assinar o contrato conosco, ela se torna nossa cliente. E nós não transamos com clientes.
Reprimi um gemido. Maldito seja, ele estava certo. Essa era uma das primeiras regras que estabelecemos quando fundamos a empresa.
— Ela é uma mulher linda — comentou Flynn, com um tom incomumente melancólico. Pelo menos, melancólico para ele.
Uma risada escapou de mim, profunda e espontânea.
— Bem, p**a merda... Se o Flynn abre a boca pra falar de uma mulher, é quase uma ordem divina pra irmos atrás dela — falei, meio brincando.
Flynn era mais que um irmão. E, como um bom enigma humano, quase nunca falava. Se ele dizia alguma coisa — mesmo algo aparentemente banal, como reconhecer a beleza de uma mulher — era porque havia algo ali.
Um problema. Um risco. Um desejo.
— f**a-se.
— Cale a boca, London.
Os dois disseram ao mesmo tempo, e eu tive que silenciá-los quando a porta se abriu novamente.
Samantha estava ainda mais estonteante na volta do que na ida.
Ela tinha um corpo curvilíneo e provocante, cabelos castanhos ondulados que caíam com descuido calculado, e olhos cor de chocolate que não escondiam absolutamente nada.
— Já decidiram quem vai comigo pra casa? — perguntou, sem rodeios.
Levantei-me de imediato.
— Eu vou — disse, antes que qualquer um deles tivesse chance de abrir a boca.
Conhecia Dylan bem demais. Se fosse por ele, trataríamos Samantha como qualquer outra estrela de Hollywood para quem já havíamos trabalhado — profissionalmente, com distanciamento. Mas não dava pra fingir que não vimos o jeito como ela reagiu a nós.
Aquilo não era comum. Não era ignorável.
— Tudo bem pra você? — perguntei.
Ela assentiu com um pequeno sorriso.
— Perfeitamente bem.
Dylan ergueu uma pasta parda.
— Precisamos que ela assine o contrato...
Tomei a pasta das mãos dele, ignorando o olhar mortal que me lançou. Já fui alvo desse olhar mais vezes do que posso contar — e ele perdeu a força há muito tempo.
— Eu converso com ela e te entrego amanhã — disse, sem desviar os olhos do rosto de Samantha. — Você veio dirigindo? Ou podemos ir no meu carro? De qualquer forma, preciso passar no escritório pra pegar minha bolsa de emergência.
— Mochila de viagem?
— Roupas e itens essenciais. Tudo pronto pra sair correndo se for preciso — expliquei, começando a conduzi-la para fora. — Nunca sabemos quando uma nova vaga aparece. Às vezes, não dá tempo de voltar pra casa.
— Peguei um Uber — admitiu. — Não queria que ninguém seguisse meu carro.
Dylan sorriu por cima do ombro dela.
— Isso foi inteligente, Samantha — disse, e as bochechas dela coraram com um tom rosado que parecia ter sido pintado à mão. — London vai te levar pra casa... e pode te orientar sobre o contrato. Se tiver alguma dúvida, ele pode te ajudar. Ou pode me ligar direto, e eu resolvo com você pessoalmente.
As palavras dele foram firmes, diretas. Um lembrete disfarçado de cortesia.
Ao sairmos da sala, levantei a mão num gesto breve.
— Vejo vocês de manhã, rapazes — gritei por cima do ombro.
Samantha já havia alcançado a mesa da assistente quando Dylan me chamou.
— London! — olhei para trás.
— Cuidado.
— Entendi, Boss.
Fechei a porta com um pouco mais de força do que queria, e o estrondo ecoou pelo escritório como um aviso.
Samantha me encarou.
— Está tudo bem? — perguntou.
— Tudo certo — assegurei, mesmo com a raiva borbulhando sob minha pele. Dylan confiava a vida dele a mim e a Flynn. Ele mesmo dissera isso para Samantha. Então por que hesitava agora, com Samantha?
Não era como se eu fosse um maldito bárbaro. Eu sabia me comportar.
— Você precisa ir pra casa pegar algo? — ela perguntou. — Não me importo de passar lá com você, se tiver algo específico que queira buscar.
Ela sorriu, e o sorriso tinha um toque de provocação.
— Travesseiro? Cobertorzinho de segurança?
A imagem dela no meu apartamento surgiu como um raio: sentada no sofá, ou num dos banquinhos da cozinha, me observando enquanto eu preparava uma mala improvisada. E, naquele instante, percebi — se ela entrasse no meu quarto, eu não deixaria mais sair.
— Não — falei, tentando manter o tom casual. — Minha bolsa de emergência está bem abastecida.
Ela não pareceu muito convencida, mas não insistiu. Fomos até meu escritório, onde peguei a mochila — a mesma que eu carregava desde meus dias como militar. Hábito do exército: estar sempre pronto. E, uma vez que você pega esse hábito... ele nunca te abandona.
O trabalho aqui não era r**m. Mas Samantha?
Samantha poderia mudar tudo.
Pegamos o elevador e descemos até o térreo.
— Estou no estacionamento do outro lado da rua — falei, apontando para a estrutura cinzenta. — Se quiser esperar aqui, eu posso...
Samantha bufou e revirou aqueles olhos castanhos e intensos.
— Sou perfeitamente capaz de atravessar uma rua com você.
Devo ter feito alguma expressão estranha, porque ela franziu a testa. Ainda assim, continuava linda.
— Vocês todos vão ter que parar de pensar em mim seja lá como estiverem pensando agora — disse ela, com um olhar desafiador.
A provocação me arrancou um sorriso torto.
— E o que você acha que estou pensando? — perguntei, a voz baixa e rouca.
Ela estremeceu. Os olhos se arregalaram e, quase sem perceber, inclinou a cabeça na minha direção. Samantha queria ser beijada. Queria que eu a beijasse.
Eu estava muito ferrado.
— Não sou feita de vidro. Não quero ser tratada como se fosse — ela disse, erguendo o queixo. — Não cresci como uma princesinha de Hollywood Hills.
Observei-a com cuidado. Havia uma mistura de orgulho ferido e desejo no rosto dela.
— E se eu quisesse te tratar como uma princesa? — provoquei. — Você parece uma mulher que merece um pouco de mimo.
Seus olhos se estreitaram. Ela endireitou os ombros, mais altiva.
— Eu não quero ser mimada.
E antes que eu pudesse responder, ela empurrou a porta de vidro e saiu para a calçada movimentada.
Meu instinto disparou como um alarme. Corri atrás dela. Ela m*l tinha dado três passos e já estava vulnerável. Envolvi meu braço em volta de sua cintura e a puxei, girando-a até suas costas ficarem pressionadas contra a parede do prédio.
— Que diabos você pensa que está fazendo?! — gritei, o coração acelerado.
— Que diabos você pensa que está fazendo?! — retrucou, furiosa, se desvencilhando de mim. — Você não pode simplesmente me agarrar!
— Eu não teria feito isso se você não tivesse se jogado em uma situação potencialmente perigosa!
— Potencialmente perigosa?! — ela zombou. — A calçada é perigosa agora?
— Quando você tem um perseguidor, sim! — explodi. — É exatamente por isso que dizemos aos clientes para nunca se afastarem sem um de nós. Porque basta um piscar de olhos pra alguém acabar com a b***a no meio de um tiroteio, ou nas garras de um maluco.
Ela parou. Os olhos suavizaram à medida que a compreensão surgia. Eu recuei, percebendo que quase a tinha encostado com força demais na parede.
— Você nos contratou como seus guarda-costas, Samantha. Precisa nos deixar fazer nosso trabalho. Precisa nos deixar proteger você.
Ela baixou os olhos.
— Desculpa... não era a minha intenção.
— E eu também sinto muito por ter te agarrado daquele jeito — falei, exalando fundo. — Foi impulsivo e nada profissional. Se você preferir que Dylan ou Flynn te leve, eu vou entender.
Samantha me encarou por um instante longo demais. Então balançou a cabeça, decidida.
— Vamos sair daqui.
Inclinei a cabeça em um meio sorriso.
— Sim, senhora.
Atravessamos a rua até o estacionamento. Seus passos ecoavam na estrutura de concreto enquanto subíamos a rampa. Chegamos à minha caminhonete, uma Ford preta e reluzente. Ela pareceu deslocada ao lado do veículo, mas não hesitou.
— Se eu pedir ajuda, você vai me respeitar mais ou menos? — perguntou.
Peguei a chave no bolso e destranquei a caminhonete. Depois fui até o lado do passageiro e abri a porta para ela, estendendo a mão.
— Mais. Com certeza mais.
Ela revirou os olhos, mas colocou a mão na minha. Eu a segurei firme enquanto ela subia no estribo.
Entrei pela porta do motorista. Quando ela se acomodou, o vestido subiu um pouco, revelando uma longa faixa de coxa. Lancei um olhar rápido para o carro do outro lado da rua, em alerta.
— O que foi? — perguntou, puxando o vestido de volta. — London?
Eu gostei de ouvir meu nome na boca dela.
— Nada. Tudo certo — prometi, fechando a porta. — Só sendo cauteloso.
Joguei minha mochila na caçamba e entrei no carro. Assim que liguei o motor, Samantha estendeu a mão e começou a mexer no rádio.
— Você não é nada tímido, né? — ela disse, com um sorriso provocador. — Perigo do trabalho. Espero que não se importe.
— De forma alguma — respondi. — Mas preciso de uma coisa.
— O quê?
— Seu endereço.
— Ah! — exclamou, rindo. — Mas é claro.
Ela me passou o endereço, que coloquei no GPS. Seguimos em direção à Mulholland. Não estávamos nem a cinco minutos da casa quando ela começou a cantarolar junto com a música do rádio.
Sorri tanto que meu rosto chegou a doer. Samantha podia ser uma atriz premiada, mas sua voz era... única. Algo entre gatos brigando e um alarme de incêndio desafinado. Mas ela não se importava. Estava feliz. Estava confortável.
E, de algum jeito, isso só a tornava mais encantadora.
Logo, chegamos ao portão de entrada do condomínio. Parei ao lado da guarita, e o segurança me olhou com aquele típico desdém californiano.
— Acredito que o senhor esteja no lugar errado — disse, sem nem me encarar direito.
Já morei em muitos lugares, servi em zonas de guerra, mas nada me irritava como o desprezo passivo-agressivo de certos moradores de Los Angeles.
— Estou aqui para...
O segurança finalmente olhou pra mim.
— O que o senhor procura não está aqui, senhor.
— Agora escuta aqui...
Samantha se inclinou no meu colo, os s***s pressionando minha perna. Meu corpo reagiu imediatamente.
— Sam? — chamou, casualmente.
Os olhos do segurança quase pularam das órbitas.
— Pode nos deixar passar, por favor?
— Imediatamente, Sra. Sands! Imediatamente. Perdão!
O portão se abriu num segundo. Samantha recostou-se no banco com um sorrisinho satisfeito.
Segui dirigindo, e ela me deu as instruções até sua casa — segunda à esquerda. A residência ficava em um terreno de esquina, charmosa e cercada por uma cerca viva. Pequena para os padrões do bairro, mas com personalidade.
Ela pegou o celular, digitou algo, e o portão se abriu.
— Que conveniente.
— É um aplicativo. Posso controlar tudo na casa por ele — disse, orgulhosa.
Não parece muito seguro, pensei. Dylan precisava saber disso. Mas guardei a informação para mim por enquanto.
Estacionei ao lado de uma BMW branca.
— Fique aqui — pedi.
— Por quê?
— Não estou tentando te controlar. Só quero que entenda o porquê das coisas — ela suspirou. — Preciso entender as razões por trás das ordens.
Uma mulher inteligente. Falei isso ao Dylan anos atrás, quando fomos reunidos como militares: me dê o motivo da ordem, e eu sigo sem hesitar.
— Vou verificar sua casa, garantir que está segura. Quero que fique aqui, na caminhonete, com as portas trancadas. Assim que eu verificar tudo, venho te buscar. Ok?
Samantha hesitou, franziu a testa, mas assentiu.
— Ok.
Mordeu o lábio inferior, nervosa.
— A porta está destrancada. Você vai ser rápido, né?
Estendi a mão e passei o polegar sobre seu lábio, suavizando a marca da mordida. Ela prendeu a respiração.
— Não precisa ter medo. Estou aqui pra isso.
— Não estou com medo por mim — ela murmurou. — E se tiver alguém lá dentro? O que acontece com você?
— Doce menina — suspirei. — Sei cuidar de mim. Não se preocupe.
Mesmo assim, quando ela tentou morder o lábio de novo, inclinei-me e a beijei. Rápido, só para acalmá-la.
Mas ela soltou um pequeno som ferido e suas mãos tocaram meu rosto. Minha língua roçou de leve seu lábio inferior, antes que eu me afastasse... quase contra minha vontade.
Eu estava afundando, e sabia disso.
Joguei-me para fora da caminhonete. Apertei o botão de trancar e entrei em casa.