2 - irresistível

2209 Words
London — Se algum de vocês encostar nela, eu quebro os seus dedos — disse Dylan no instante em que a porta se fechou atrás de Samantha. Meu Deus... Que b***a linda ela tinha. O tecido do vestido grudava nos lugares certos, provocando sem pedir desculpas. As palavras dele só se registraram de verdade depois do clique da porta. Ciúmes. — Desde quando você sente ciúmes? — perguntei. Nós três já tínhamos dividido mais de uma mulher no passado, e nunca foi um problema. O maxilar de Dylan se contraiu com tanta força que me surpreendi por não ouvir um estalo. — Estou falando sério, London — disse ele, tenso. — Se ela assinar o contrato conosco, ela se torna nossa cliente. E nós não transamos com clientes. Reprimi um gemido. Maldito seja, ele estava certo. Essa era uma das primeiras regras que estabelecemos quando fundamos a empresa. — Ela é uma mulher linda — comentou Flynn, com um tom incomumente melancólico. Pelo menos, melancólico para ele. Uma risada escapou de mim, profunda e espontânea. — Bem, p**a merda... Se o Flynn abre a boca pra falar de uma mulher, é quase uma ordem divina pra irmos atrás dela — falei, meio brincando. Flynn era mais que um irmão. E, como um bom enigma humano, quase nunca falava. Se ele dizia alguma coisa — mesmo algo aparentemente banal, como reconhecer a beleza de uma mulher — era porque havia algo ali. Um problema. Um risco. Um desejo. — f**a-se. — Cale a boca, London. Os dois disseram ao mesmo tempo, e eu tive que silenciá-los quando a porta se abriu novamente. Samantha estava ainda mais estonteante na volta do que na ida. Ela tinha um corpo curvilíneo e provocante, cabelos castanhos ondulados que caíam com descuido calculado, e olhos cor de chocolate que não escondiam absolutamente nada. — Já decidiram quem vai comigo pra casa? — perguntou, sem rodeios. Levantei-me de imediato. — Eu vou — disse, antes que qualquer um deles tivesse chance de abrir a boca. Conhecia Dylan bem demais. Se fosse por ele, trataríamos Samantha como qualquer outra estrela de Hollywood para quem já havíamos trabalhado — profissionalmente, com distanciamento. Mas não dava pra fingir que não vimos o jeito como ela reagiu a nós. Aquilo não era comum. Não era ignorável. — Tudo bem pra você? — perguntei. Ela assentiu com um pequeno sorriso. — Perfeitamente bem. Dylan ergueu uma pasta parda. — Precisamos que ela assine o contrato... Tomei a pasta das mãos dele, ignorando o olhar mortal que me lançou. Já fui alvo desse olhar mais vezes do que posso contar — e ele perdeu a força há muito tempo. — Eu converso com ela e te entrego amanhã — disse, sem desviar os olhos do rosto de Samantha. — Você veio dirigindo? Ou podemos ir no meu carro? De qualquer forma, preciso passar no escritório pra pegar minha bolsa de emergência. — Mochila de viagem? — Roupas e itens essenciais. Tudo pronto pra sair correndo se for preciso — expliquei, começando a conduzi-la para fora. — Nunca sabemos quando uma nova vaga aparece. Às vezes, não dá tempo de voltar pra casa. — Peguei um Uber — admitiu. — Não queria que ninguém seguisse meu carro. Dylan sorriu por cima do ombro dela. — Isso foi inteligente, Samantha — disse, e as bochechas dela coraram com um tom rosado que parecia ter sido pintado à mão. — London vai te levar pra casa... e pode te orientar sobre o contrato. Se tiver alguma dúvida, ele pode te ajudar. Ou pode me ligar direto, e eu resolvo com você pessoalmente. As palavras dele foram firmes, diretas. Um lembrete disfarçado de cortesia. Ao sairmos da sala, levantei a mão num gesto breve. — Vejo vocês de manhã, rapazes — gritei por cima do ombro. Samantha já havia alcançado a mesa da assistente quando Dylan me chamou. — London! — olhei para trás. — Cuidado. — Entendi, Boss. Fechei a porta com um pouco mais de força do que queria, e o estrondo ecoou pelo escritório como um aviso. Samantha me encarou. — Está tudo bem? — perguntou. — Tudo certo — assegurei, mesmo com a raiva borbulhando sob minha pele. Dylan confiava a vida dele a mim e a Flynn. Ele mesmo dissera isso para Samantha. Então por que hesitava agora, com Samantha? Não era como se eu fosse um maldito bárbaro. Eu sabia me comportar. — Você precisa ir pra casa pegar algo? — ela perguntou. — Não me importo de passar lá com você, se tiver algo específico que queira buscar. Ela sorriu, e o sorriso tinha um toque de provocação. — Travesseiro? Cobertorzinho de segurança? A imagem dela no meu apartamento surgiu como um raio: sentada no sofá, ou num dos banquinhos da cozinha, me observando enquanto eu preparava uma mala improvisada. E, naquele instante, percebi — se ela entrasse no meu quarto, eu não deixaria mais sair. — Não — falei, tentando manter o tom casual. — Minha bolsa de emergência está bem abastecida. Ela não pareceu muito convencida, mas não insistiu. Fomos até meu escritório, onde peguei a mochila — a mesma que eu carregava desde meus dias como militar. Hábito do exército: estar sempre pronto. E, uma vez que você pega esse hábito... ele nunca te abandona. O trabalho aqui não era r**m. Mas Samantha? Samantha poderia mudar tudo. Pegamos o elevador e descemos até o térreo. — Estou no estacionamento do outro lado da rua — falei, apontando para a estrutura cinzenta. — Se quiser esperar aqui, eu posso... Samantha bufou e revirou aqueles olhos castanhos e intensos. — Sou perfeitamente capaz de atravessar uma rua com você. Devo ter feito alguma expressão estranha, porque ela franziu a testa. Ainda assim, continuava linda. — Vocês todos vão ter que parar de pensar em mim seja lá como estiverem pensando agora — disse ela, com um olhar desafiador. A provocação me arrancou um sorriso torto. — E o que você acha que estou pensando? — perguntei, a voz baixa e rouca. Ela estremeceu. Os olhos se arregalaram e, quase sem perceber, inclinou a cabeça na minha direção. Samantha queria ser beijada. Queria que eu a beijasse. Eu estava muito ferrado. — Não sou feita de vidro. Não quero ser tratada como se fosse — ela disse, erguendo o queixo. — Não cresci como uma princesinha de Hollywood Hills. Observei-a com cuidado. Havia uma mistura de orgulho ferido e desejo no rosto dela. — E se eu quisesse te tratar como uma princesa? — provoquei. — Você parece uma mulher que merece um pouco de mimo. Seus olhos se estreitaram. Ela endireitou os ombros, mais altiva. — Eu não quero ser mimada. E antes que eu pudesse responder, ela empurrou a porta de vidro e saiu para a calçada movimentada. Meu instinto disparou como um alarme. Corri atrás dela. Ela m*l tinha dado três passos e já estava vulnerável. Envolvi meu braço em volta de sua cintura e a puxei, girando-a até suas costas ficarem pressionadas contra a parede do prédio. — Que diabos você pensa que está fazendo?! — gritei, o coração acelerado. — Que diabos você pensa que está fazendo?! — retrucou, furiosa, se desvencilhando de mim. — Você não pode simplesmente me agarrar! — Eu não teria feito isso se você não tivesse se jogado em uma situação potencialmente perigosa! — Potencialmente perigosa?! — ela zombou. — A calçada é perigosa agora? — Quando você tem um perseguidor, sim! — explodi. — É exatamente por isso que dizemos aos clientes para nunca se afastarem sem um de nós. Porque basta um piscar de olhos pra alguém acabar com a b***a no meio de um tiroteio, ou nas garras de um maluco. Ela parou. Os olhos suavizaram à medida que a compreensão surgia. Eu recuei, percebendo que quase a tinha encostado com força demais na parede. — Você nos contratou como seus guarda-costas, Samantha. Precisa nos deixar fazer nosso trabalho. Precisa nos deixar proteger você. Ela baixou os olhos. — Desculpa... não era a minha intenção. — E eu também sinto muito por ter te agarrado daquele jeito — falei, exalando fundo. — Foi impulsivo e nada profissional. Se você preferir que Dylan ou Flynn te leve, eu vou entender. Samantha me encarou por um instante longo demais. Então balançou a cabeça, decidida. — Vamos sair daqui. Inclinei a cabeça em um meio sorriso. — Sim, senhora. Atravessamos a rua até o estacionamento. Seus passos ecoavam na estrutura de concreto enquanto subíamos a rampa. Chegamos à minha caminhonete, uma Ford preta e reluzente. Ela pareceu deslocada ao lado do veículo, mas não hesitou. — Se eu pedir ajuda, você vai me respeitar mais ou menos? — perguntou. Peguei a chave no bolso e destranquei a caminhonete. Depois fui até o lado do passageiro e abri a porta para ela, estendendo a mão. — Mais. Com certeza mais. Ela revirou os olhos, mas colocou a mão na minha. Eu a segurei firme enquanto ela subia no estribo. Entrei pela porta do motorista. Quando ela se acomodou, o vestido subiu um pouco, revelando uma longa faixa de coxa. Lancei um olhar rápido para o carro do outro lado da rua, em alerta. — O que foi? — perguntou, puxando o vestido de volta. — London? Eu gostei de ouvir meu nome na boca dela. — Nada. Tudo certo — prometi, fechando a porta. — Só sendo cauteloso. Joguei minha mochila na caçamba e entrei no carro. Assim que liguei o motor, Samantha estendeu a mão e começou a mexer no rádio. — Você não é nada tímido, né? — ela disse, com um sorriso provocador. — Perigo do trabalho. Espero que não se importe. — De forma alguma — respondi. — Mas preciso de uma coisa. — O quê? — Seu endereço. — Ah! — exclamou, rindo. — Mas é claro. Ela me passou o endereço, que coloquei no GPS. Seguimos em direção à Mulholland. Não estávamos nem a cinco minutos da casa quando ela começou a cantarolar junto com a música do rádio. Sorri tanto que meu rosto chegou a doer. Samantha podia ser uma atriz premiada, mas sua voz era... única. Algo entre gatos brigando e um alarme de incêndio desafinado. Mas ela não se importava. Estava feliz. Estava confortável. E, de algum jeito, isso só a tornava mais encantadora. Logo, chegamos ao portão de entrada do condomínio. Parei ao lado da guarita, e o segurança me olhou com aquele típico desdém californiano. — Acredito que o senhor esteja no lugar errado — disse, sem nem me encarar direito. Já morei em muitos lugares, servi em zonas de guerra, mas nada me irritava como o desprezo passivo-agressivo de certos moradores de Los Angeles. — Estou aqui para... O segurança finalmente olhou pra mim. — O que o senhor procura não está aqui, senhor. — Agora escuta aqui... Samantha se inclinou no meu colo, os s***s pressionando minha perna. Meu corpo reagiu imediatamente. — Sam? — chamou, casualmente. Os olhos do segurança quase pularam das órbitas. — Pode nos deixar passar, por favor? — Imediatamente, Sra. Sands! Imediatamente. Perdão! O portão se abriu num segundo. Samantha recostou-se no banco com um sorrisinho satisfeito. Segui dirigindo, e ela me deu as instruções até sua casa — segunda à esquerda. A residência ficava em um terreno de esquina, charmosa e cercada por uma cerca viva. Pequena para os padrões do bairro, mas com personalidade. Ela pegou o celular, digitou algo, e o portão se abriu. — Que conveniente. — É um aplicativo. Posso controlar tudo na casa por ele — disse, orgulhosa. Não parece muito seguro, pensei. Dylan precisava saber disso. Mas guardei a informação para mim por enquanto. Estacionei ao lado de uma BMW branca. — Fique aqui — pedi. — Por quê? — Não estou tentando te controlar. Só quero que entenda o porquê das coisas — ela suspirou. — Preciso entender as razões por trás das ordens. Uma mulher inteligente. Falei isso ao Dylan anos atrás, quando fomos reunidos como militares: me dê o motivo da ordem, e eu sigo sem hesitar. — Vou verificar sua casa, garantir que está segura. Quero que fique aqui, na caminhonete, com as portas trancadas. Assim que eu verificar tudo, venho te buscar. Ok? Samantha hesitou, franziu a testa, mas assentiu. — Ok. Mordeu o lábio inferior, nervosa. — A porta está destrancada. Você vai ser rápido, né? Estendi a mão e passei o polegar sobre seu lábio, suavizando a marca da mordida. Ela prendeu a respiração. — Não precisa ter medo. Estou aqui pra isso. — Não estou com medo por mim — ela murmurou. — E se tiver alguém lá dentro? O que acontece com você? — Doce menina — suspirei. — Sei cuidar de mim. Não se preocupe. Mesmo assim, quando ela tentou morder o lábio de novo, inclinei-me e a beijei. Rápido, só para acalmá-la. Mas ela soltou um pequeno som ferido e suas mãos tocaram meu rosto. Minha língua roçou de leve seu lábio inferior, antes que eu me afastasse... quase contra minha vontade. Eu estava afundando, e sabia disso. Joguei-me para fora da caminhonete. Apertei o botão de trancar e entrei em casa.
Free reading for new users
Scan code to download app
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Writer
  • chap_listContents
  • likeADD