Estou ignorando minha mãe dando um sermão em mim, enquanto eu tento pensar na minha vida olhando pela janela nova da minha nova casa.
Spoiler: Não quero mais viver.
Minha mãe está andando de um lado para o outro fazendo barulho com seus saltos e eu só tenho vontade de me jogar pela janela de lá. Não faço isso porque o máximo que eu conseguiria com isso é quebrar uma perna.
Deus, eu realmente não quero viver!
Laura- Para, Luana! Já chega! - Grita minha mãe atrapalhando meus pensamentos suicidas
Luana- Não estou fazendo nada! - Resmungo
Laura- Para de fazer essa cara! Cara de desgosto, cara de quem quer morrer! - Continua andando de um lado para o outro. - Penso sempre em vocês e vocês nunca pensam em mim.
Certo, um contexto para isso: Londres, caixas, frio, caixas, muito frio, prisão, chás, colégio interno, chás, mudança, britânicos.
Não que eu seja uma pessoa apegada aos Estados Unidos, mas de todos os países que minha mãe nos levou para morar, a Inglaterra pra mim é um dos poucos países que eu não tenho vontade alguma de morar.
Vou para lugar nenhum. Vou me jogar dessas janela e esperar amanhã sair nas revistas: Filha de Laura Frostt tenta suicídio e os críticos vão dizer que ela é uma péssima mãe. Meus pais são Brasileiros, eu e meu irmão nascemos no Canadá e já morei em muitos lugares, porém morar na Flórida pra mim nunca foi uma coisa r**m. Estou morando aqui faz dois anos, não é que seja o melhor lugar do mundo, mas eu já estou acostumada. Eu não odeio Londres, só não quero recomeçar tudo de novo.
Cidade onde veio Os Beatles, Amy Whinehouse, Adele, David Bowie ...
Quem não teria uma admiração por Londres, pela chuva de nostalgia que embeleza as tardes, pelo chá das cinco, é a terra da rainha! Tenho todas as razões do mundo para conhecer Londres e tenho só uma razão para querer ficar: odeio recomeços.
A Inglaterra é exageradamente bonita, exageradamente organizada, exageradamente agitada, exageradamente conservadora, exageradamente liberal, exageradamente verde, exageradamente real. Não combina comigo.
Não tiro os olhos da janela da minha nova casa e me sinto traída. Minha mãe falou que era apenas uma viagem de férias e não uma mudança para Europa. Não consegui me despedir da Flórida como eu gostaria.
Lucas- E aí? - Surge atrás de mim e coloca a mão nos meus ombros - Está feliz?
Luana- Ela não poderia esperar mais um ano? É nosso último ano na escola. - Bufo
Lucas- Você nem tinha amigos.
Luana- Eu tinha minha rotina. Odeio ser surpreendida por uma nova.
Lucas se cala e sei que é porque ele concorda comigo. A gente não queria uma vida nova, estava tudo bem com a antiga.
Lucas- Se a gente talvez fosse pro Brasil, acho que eu ia gostar mais. - Brinca
Claro que ia e eu também.
Brasil me lembra as praias e os churros que meu pai me levava pra comer. Me lembra ao calor, ao apartamento que a gente morava com aquela varanda e meu pai sempre colocava eu e Lucas na rede para a gente dormir. Me lembra ao pão de queijo que meu pai sempre trazia e ao brigadeiro que minha fazia pra gente comer assistindo
Turma da Mônica.
Brasil me lembra ao meu pai. Talvez seja por isso que minha mãe nunca mais foi ao Brasil, porquê além de lembrar do meu pai, lembra a ela que ficou viúva muito jovem com dois filhos.
Depois que meu pai morreu, a gente foi morar no Canadá onde nascemos, depois moramos um período na Itália, depois moramos fomos morar com nossa vó na Flórida, nos Estados Unidos. Agora aqui.
A equipe de mudança passa de lá pra cá e minha mãe anda ainda de um lado pro outro fazendo barulho com os saltos. Não reconheço nenhum móvel da nossa casa antiga, todos são novos. Minha mãe realmente não gosta de nada que relembre ao passado.
Lucas- Está ansiosa pra escola? - Dou de ombros e volto a olhar pela janela - Começamos amanhã.
Olho pra ele assustada. não tinha pensado nisso, agora estou.
Luana- Amanhã? Certeza?
Lucas- Sim, é no Woodstock.
Woodstock. eu conheço esse nome. conheço muito bem, porque minha mãe sempre me ameaçou a me mandar para lá caso minhas notas ficassem muito baixas. Tudo bem minhas notas estavam baixas mas isso não é motivo para nos mandar para um colégio interno. Isso mesmo um colégio interno.
Começo a me desesperar, querer me jogar no chão e gritar.
Luana- Você está dizendo do...?
Lucas- É - Assente - Ela falou que precisamos de ares novos.
Que ares novos, eu preciso de uma mãe nova!
Olho pra o meu gêmeo malvado, acho que a ideia de se jogar da janela não está vindo apenas de mim.
Lucas- Bom, seria muito r**m ter que lidar com isso sozinho.
Me dá um sorriso fraco e eu retribuo
E fico olhando ao redor da minha nova casa que ainda não parece um lar.