No outro dia, acordo com a cabeça explodindo, pois não tenho o costume de beber.
Olho pro lado e vejo que ela está dormindo lindamente com o braço pousado em minha barriga.
Tento sair da cama sem acorda-la, mas ela suspira e abre os olhos.
- Bom dia! - ela tira a mão de minha barriga e passa no rosto - Acho que a gente exagerou na cerveja ontem! - ela sorri - Que horas são?
Olho pro lado e encontro um relógio. Me surpreendo.
- Duas da tarde! - digo surpresa.
- Da tempo de a gente dormir mais uns minutinhos antes da Helena ou da Jana virem chamar a gente pra alguma coisa.
Ela põe a mão de volta em minha barriga e fecha os olhos.
Fico observando cada detalhe do rosto dela enquanto ela permanece de olhos fechados.
Alguém bate à porta.
- Mais cinco minutos!- Heloisa grita ainda de olhos fechados.
- Já são duas da tarde! - responde Helena do outro lado da porta - Te espero pra almoçar! Não demore que estou com fome!
- Já vou! - exclama Helena levantando da cama.
- Vou chamar a Sarah!- diz Helena.
- Ela está aqui! Em cinco minutos estaremos na mesa!- responde Heloisa.
- Tá bom! - diz Helena saindo.
Me levanto e vou para meu quarto me preparar para o almoço.
Prometo que não vou beber nunca mais, mas sei que não vou cumprir essa promessa.
Chego à mesa com a bela aparência de alguém que foi atropelado por um trem.
- O que vocês duas aprontaram ontem, hein? Essas carinhas de vocês duas! - exclama Helena sorrindo enquanto nos sentamos à mesa.
- Cervejas, assuntos sem nexo e ressaca. Resumo da noite. - responde Heloisa.
- A gente tem viajem amanhã, então tente se comportar hoje! - diz Helena ainda rindo.
Heloisa dá uma leve revirada de olhos e se concentra em se manter acordada e comer.
Depois do almoço, nos sentamos de novo na varanda.
- Quando começam as suas perguntinhas pro livro? - pergunta Helena abraçada ao namorado.
- Pensei em fazer uma semana de observações, sem perguntas e aí na próxima semana começamos as entrevistas. O que acham?
- Acho uma boa! - exclama Heloisa se deitando no sofá que estamos sentadas e apoiando a cabeça em meu colo.
- Vejo que vocês duas já estão íntimas! - observa Helena.
- A gente já dividiu a mesma cama, então sim! Já somos íntimas! – a irmã dela responde rindo.
Fico corada e todos percebem.
Pra quebrar o silêncio, Helena me pergunta:
- O que você faz da vida?
- Sou escritora e as vezes trabalho com aulas particulares.
- Já fiquei curiosa! Trouxe alguma coisa sua pra gente ler? - pergunta Helena.
- Devo ter exemplares do meu livro na bolsa.
- Eu também quero ler! - exclama Heloisa.
- Nem vem que eu pedi primeiro! - retruca Helena.
- Devo ter cópias para as duas! - respondo reestabelecendo a paz e o riso.
- Helena, você vai comigo comprar o presente de aniversário pro Dudu? - pergunta Felipe.
- Vou sim! - responde ela - Vou pegar minha bolsa.
- Vou com você! - diz Felipe e ambos saem.
- Parece que a tarde é só nossa de novo! - Heloisa diz me encarando com aqueles olhos brilhantes e lindos.
- Nada de cervejas! - exclamo rindo enquanto passo a mão pelo cabelo dela.
Não percebo que estou mexendo em seu cabelo até que ela diz de olhos fechados:
- Seu cafuné é bom!
- Desculpe, não percebi que estava mexendo no seu cabelo! - digo corada novamente.
- Não era pra você se desculpar, era pra você agradecer o elogio e continuar! - ela diz pegando minha mão de novo e colocando em seu cabelo.
Helena e Felipe saem de mãos dadas.
- Não esqueça de preparar sua mala! - diz Helena antes de descer os degraus da entrada da casa.
- Já tinha esquecido! - responde Heloisa levantando do sofá - Vou arrumar agora. - me pega pelo braço - Me acompanha?
- Claro! - respondo levantando.
Nos encaminhamos até o quarto dela.
Sento na cama e observo enquanto ela abre o guarda roupas e espalha todas as roupas sobre a cama. A ajudo a colocar a mala sobre a cama e organizar as coisas dentro. Depois arrumamos o restante das roupas no guarda roupas novamente.
Quando terminamos, nos sentamos na cama e fico observando a beleza daqueles olhos e daquele sorriso.
- Queria saber o que se passa na sua cabeça enquanto me olha assim! - ela diz mantendo o bom humor.
- Só estou admirando sua beleza e me perguntando como um ser humano pode ser tão lindo.
Ela fica corada.
- Que isso? - diz sorrindo e olhando as próprias mãos.
- Desculpe, não foi minha intenção te deixar sem graça, é que eu realmente te acho linda.
Ela abre o sorriso um pouco mais e balança a cabeça.
- Quer um suco ou outra coisa pra tomar? – ela muda de assunto.
- Um suco!
- Eu quero outra coisa, uma cerveja - ela ri.
- Ainda nem melhorei da ressaca de ontem.
- Não tem nada melhor pra ressaca do que beber mais! – ela diz em tom de segredo enquanto se levanta da cama.
Rio e a acompanho até a cozinha.
Ela pega duas cervejas e coloca sobre a mesa.
- Não vai me deixar beber sozinha, né? - pergunta enquanto abre a cerveja dela.
- Não faria essa desfeita! - abro a outro.
- Sabe? Gostei de você! - diz ela sentando em uma cadeira do meu lado.
- Não preciso dizer que gosto de você, né? Tá estampado na minha testa! - falo sem olhar pra ela, passando o dedo em volta da lata de cerveja.
- E de novo estamos num momento constrangedor. - ela fala rindo.
- Precisamos nos acostumar com isso, pois pretendo que me conte muitas coisas constrangedoras! - digo olhando pra ela.
- Que tipo de coisas? - ela pergunta.
- Por exemplo, quero saber se você já beijou uma mulher. - digo sem desviar os olhos dos seus.
- Pegou pesado pra uma primeira pergunta! - ela desvia o olhar e toma um longo gole da sua cerveja.
- Não vai me responder? – torno a perguntar.
- É uma curiosidade sua ou é pro livro? – ela fixa os olhos em mim.
- Faz diferença?
- Faz toda a diferença! Se for pro livro, não quero que isso seja publicado. Se for curiosidade sua, vamos ter que beber muitas cervejas antes de falarmos de beijos! - ela ri e bebe mais.