Capítulo 3

1392 Words
- Não acredito que você está bebendo de novo! – Helena exclama entrando na cozinha. - Quer uma? – Heloisa diz se levantando. - Claro que eu quero! - Helena ri e se senta na cadeira do outro lado da mesa. - E o Felipe? – Heloisa pergunta entregando uma cerveja para a irmã. - Já foi pra casa! Ele vai no aniversário do amigo dele. - E você não vai junto? - pergunta Heloisa se sentando novamente. - Quero passar um tempinho com vocês! – Helena responde e bebe um gole da cerveja - A menos que não queiram a minha companhia! - b***a! - Heloisa ri - Claro que a gente quer que você fique! - Minha irmã te tratou bem enquanto estive fora? – Helena pergunta pra mim. - Sim, muito bem. - respondo. - Do que vocês estavam falando antes de eu chegar? - pergunta Helena. Fico corada e não consigo disfarçar o nervosismo. - Perguntas pro livro.- Heloisa responde com toda a calma do mundo. - Mas ela não ia começar na semana que vem? - Helena fica intrigada. Continuo em silêncio e muito nervosa. - Era uma curiosidade que pode ser que vá pro livro! - explica Heloisa - Para de ser curiosa, menina! - Vocês estão muito estranhas, parece que estão escondendo as coisas de mim. - Helena fala e toma outro gole de sua cerveja. - Momento constrangedor número três! - Heloisa exclama rindo e me fazendo rir também. - Realmente vocês estão bastante íntimas, já têm até piadinhas internas! - Helena fala - Não vou nem perguntar quais foram os outros dois momentos constrangedores porque tenho medo de saber! - Para de ser boba, Helena! - Heloisa levanta - Vamos sentar lá fora? Aqui tá calor! Caminhamos para a varanda enquanto ela me encara e eu tento disfarçar minhas pernas bambas. Nos sentamos no mesmo sofá de antes e dessa vez a Helena sentou no meio. - Há quanto tempo você acompanha a gente? - Helena pergunta pra mim. - Há uns cinco anos, desde o começo da faculdade eu acho. – respondo - Sonho com esse momento há muito tempo. - E como está sendo pra você realizar isso? - Helena me pergunta, enquanto a Heloisa mexe no próprio cabelo e olha pra mim. - É o melhor momento da minha vida! Sempre me imaginei aqui, com vocês, bebendo e conversando. - Na cozinha, você me fez uma pergunta que penso que está na sua cabeça há muito tempo. Você também tem uma pergunta que tenha curiosidade e queira fazer pra Helena? - Heloisa fala. - Nossa! Não vou nem perguntar o que aconteceu na cozinha, mas a minha curiosidade tá grande! - Helena fala rindo e olhando pra irmã. - Helena, cala a boca e deixa ela fazer a pergunta! - Heloisa reclama. - Bom, tem! Claro que tem! Em algumas entrevistas, você diz que não se considera feminista, mesmo defendendo as mesmas pautas que o feminismo. Por que você não se considera feminista? - Você sempre pega pesado assim nas primeiras perguntas? - pergunta Heloisa rindo e se ajeitando no sofá - Estou começando a ficar com medo do que vai sair desse livro! - E eu, cada vez mais curiosa pra saber o que aconteceu na cozinha! - exclama Helena. - E eu, vendo que não terei respostas, porque na cozinha a Heloisa não respondeu o que eu perguntei e a Helena agora também não me respondeu! - digo, fazendo as duas rirem mais. - A gente pode começar com perguntas mais leves, tipo: quem nasceu primeiro? Quem é a mais organizada? Quem era melhor na escola? - Heloisa diz rindo. - Podemos, claro que podemos! – respondo - Vou tentar maneirar nas perguntas. O tempo passa rápido e quando percebemos a noite caiu e o jantar ficou pronto. Comemos enquanto elas discutem coisas de músicas, coreografias e a agenda. Permaneci calada. Depois fomos pra cama, pois no dia seguinte sairíamos bem cedo. Deito e me viro de um lado pro outro. Não consigo dormir pensando nos acontecimentos: estava ali ha dois dias e já havia dividido a cama com a Heloisa, passado por momentos constrangedores e falado sobre beijar mulheres com ela. O que os outros 28 dias me reservavam? Pensar nisso fez com que eu me sentisse eufórica e agitada, talvez com uma pontada de medo. Não tinha garantia nenhuma sobre os rumos que essa história poderia tomar. Desisto de dormir e me levanto pra dar uma volta pela varanda. Precisava organizar minha cabeça pra me fixar no trabalho que estava ali para realizar. Quando saio do quarto com meu bloco de anotações e caneta, bato de frente com Heloisa e derrubo as coisas no chão. Me abaixo e pego as coisas enquanto me desculpo. Quando me levanto observando seu corpo dos pés à cabeça, fico deslumbrada com a beleza daquela mulher vestida com um short curtíssimo e camiseta larga. - Perdeu o sono? - ela me pergunta. Não respondo porque não consigo parar de observar aquelas pernas. - Melhor fechar a boca! - ela ri - você fica engraçada assim! Tento me recompor ajeitando os óculos. - Iria pra varanda organizar minhas anotações dos primeiros dias com vocês! - respondo sem olhar pra ela - E você, perdeu o sono? - Estava indo na cozinha beber água. - ela diz enquanto tento fixar a atenção em qualquer coisa que não fosse ela - Mas fiquei tentada a te acompanhar até a varanda. À menos que minha presença te atrapalhe. - Claro que você não atrapalha! - digo ajeitando os óculos novamente. - Tudo bem com seus óculos? Por que não olha pra mim enquanto fala comigo? - ela diz rindo. Gaguejo e não formo frase alguma. Ela solta uma gargalhada e me pega pelo braço. Assim caminhamos até a varanda. Quando chegamos, sentamos no mesmo sofá de antes e eu começo a anotar algumas coisas. - Ai, ai! - ela exclama - Me ajuda, entrou uma coisa no meu olho! - Deixa eu ver! - afasto a mão dela do rosto e me aproximo pra ver – É um cílios que se soltou. - assopro e removo do cantinho do olho dela com o dedo - Prontinho! - Obrigada! - ela agradece sem se afastar e sem tirar os olhos dos meus. - Seus olhos são lindos vistos assim de perto. - sussurro. Nossas peles quase se tocam, meu coração acelera, nossas respirações se misturam e embaçam meus óculos. - Os seus também são lindos. - ela diz também sussurrando enquanto tira meus óculos - Assim fica melhor. - Assim eu não consigo te ver. – digo abrindo um sorriso. - Com os óculos embaçados também não! - ela diz rindo. A Helena aparece na porta. - O que vocês estão fazendo? - pergunta ela com cara de sono. - A Sarah está fazendo umas anotações eu estou atrapalhando! - Heloisa ri, se virando pra irmã. - Precisa ser tão perto, dona Heloisa? - pergunta Helena de braços cruzados e batendo o pé direito no chão. - Não enche, Helena! - Heloisa revira os olhos - Você não estava dormindo? Volta pra sua cama e me deixa. - Não esquece que tem que acordar cedo! Se reclamar amanhã, vou te derrubar da sua cama e te arrastar no chão, mocinha! - ameaça Helena - Boa noite! Ela volta pra dentro nos deixando sozinhas novamente. Pego minhas coisas e me levanto. - Onde você vai? - Heloisa me pergunta. - Parar de atrapalhar sua noite de sono! – respondo - Vou voltar pra dentro e te deixar dormir. - Mas eu não quero! Tento andar, mas sem meus óculos fica difícil e acabo tropeçando. Começo a rir, fazendo ela rir também. - Acho que sem seus óculos você não pode ir pra dentro! - ela diz erguendo a mão com meus óculos. - Parece que não! - rio também me sentando novamente. Com delicadeza, ela coloca os óculos em mim. - Prontinho moça! - ela diz. Nos levantamos e caminhamos juntas até a porta de nossos quartos. Quando abro a porta, ela pergunta: - Não ganho nem um beijinho de boa noite? Meu coração acelera novamente enquanto ando até o outro lado do corredor. Nos aproximamos e nos encaramos por alguns segundos que pra mim pareciam horas.
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