Batendo distraído o lápis na escrivaninha de mogno, Rodrigo tentava, sem sucesso, desviar os pensamentos de sua mulher, mas Sara dominava sua mente. Queria saber o que fazia naquele momento, se estava no hospital, na tal galeria de arte ou com Laura. A impressão de que havia algo errado aumentou com o passar das horas, piorando depois do horário do almoço, em que ela não apareceu e nem telefonou para avisar que não viria. Remoeu a ironia de, após anos reclamando dos telefonemas e aparições de Sara em seu trabalho, desejar tanto que ela o fizesse. Pior, se segurava para não fazê-lo e exigir saber onde estava, com quem e o que fazia. Olhou para o telefone fixo ao seu lado quando a vontade retornou, os dedos formigando de vontade de agarrar o fone e digitar o número da esposa. — Oi, Rodri