Capítulo 1 - Fios
pov. Eris
Por mais que eu buscasse algo em mim parecia que meus sentimentos estavam presos ha alguma coisa, eu sentia tudo e ao mesmo tempo não sentia nada, queria gritar e ofender alguém mas não seria o certo. Quem tem culpa disso? Minha cabeça bagunçada como um emaranhado de fios desacascados prontos para dar curto.
A conversa com o Victor não passou de uma troca de informações, ele parecia preocupado ao me fazer perguntas secas mas ao mesmo tempo parecia distante. Eu queria ter algo para dizer a ele mas enquanto não conseguisse organizar os fios não fazia ideia da besteira que poderia sair.
O ponto de encontro era um conjunto de blocos e corredores subterrâneos feitos para suportar a estadia de duzentas pessoas por duas semanas, por sorte aqui não tinha muito mais que cinquenta. O que nos fornecia quase um mês de suprimentos, pelo que entendi nem todos conseguiram passar pela academia e agora temos quase nada de combatentes.
Optei por deixar Victor conversando com Ruby sobre a situação em Aruna, eu precisava pensar um pouco e só conseguiria fazer isso sozinha. O incomodo de ficar perto dele e não falar ou ouvir nada era grande, eu basicamente não sabia o que dizer e ele parecia distante e não me admira que esteja machucado de alguma forma.
Enquanto eu estava inconsciente me lembro de alguns fleches sobre Erick, a pessoa que eu não fazia ideia de quem era. Mas aquela voz com toda certeza é do telepata que me atormenta, talvez minha mente tenha conseguido um caminho para a sua e seja por esse motivo que venho vagando inconscientemente para lá.
- Se continuar olhando assim para a parede vai fazer um buraco nela. - a voz de Luiz me assustou, um fio encostou no outro dando sinais de confusão. Era exatamente isso que eu sentia quando estava com o Luiz ou o Victor, uma confusão interna.
- Estava pensando. - resmunguei segurando a cabeça entre as mãos. Eu tinha achado uma espécie de auditório vazio de onde eu provavelmente não saberia voltar para o refeitório se quisesse, me sentei no chão e comecei a pensar na minha vida.
- Pensando ou se martirizando? - os dois na verdade mas preferia manter esse comentário só para mim, a pior coisa não era ter sentimentos por duas pessoas mas sim não saber dizer o que sente por elas.
- O que faz aqui? - mudei de assunto rapidamente para evitar essa dor aguda atrás da cabeça, ele deu de ombros e sentou ao meu lado, mesmo sentado a diferença de tamanho entre eu e o Luiz era imensa, tanto pela altura quanto por sua largura.
- Estava te procurando para treinar, mas já que está pensando vou pensar também. - o encarei por alguns segundos até ver um sorriso brincar em seus lábios.
- E no que vai pensar? - eu não queria que ele fizesse essa pergunta para mim mas a curiosidade falou mais alto, não queria apenas invadir e ler seus pensamentos como sempre fazia.
- Vou pensar em uma forma discreta de pensar em você, não é facil pensar em uma telepata com quem tem ligação. - seu olhar parecia alfinetar minha garganta e ela deu enorme nó. - Decidi que vale a pena arriscar meus sentimentos por você, e se a resposta for não eu ainda estarei aqui. Sempre estarei aqui.
- Se a resposta for não para qual pergunta? - eu queria que ele não fizesse essa pergunta, o sorriso cresceu mas as palavras não saíram. Desviei meu olhar do seu e foquei na parede a minha frente.
- Vamos treinar um pouco? Estou com os músculos doloridos. - ele se alongou enquanto levantava, eu disse que treinaria então fiz o mesmo em silêncio. Quando me levantei ele já estava distante esperando que eu terminasse o alongamento, meus músculos também estavam doloridos mas convenhamos que um treinamento vai ser bom, nessa viagem eu fui praticamente um peso morto para o Luiz e eu não queria isso. - É para o ano que vem? Eris, você está bem distraída hoje.
- Eu estou bem, essas roupas são largas então estou com certa dificuldade. - não era mentira, mas além disso eu estava totalmente absorta em pensamentos.
- Então se livre delas, vou adorar vê-la sem todos esses panos. - as bochechas esquentaram fortemente em uma tentativa falha do meu corpo em esconder meus pensamentos. Ele gargalhou se aproximando, distância segura foi o que eu mantive entre nós, não estava pronta para dizer a qualquer um o que sinto e o toque só piorava as coisas.
Está com medo de mim?
Não é isso... só prefiro ficar afastada.
Você não precisa ficar afastada de mim, se não sente nada é só dizer.
Esse é o problema, eu não sei o que sinto.
Por mim ou pelo Vitor?
Os dois...
Certo, se não sabe o que sente então tente não sentir.
Que droga de conselho é essa?
Só tente, se conseguir já sabe que o sentimento não é forte o suficiente.
- Mas enquanto isso, vamos treinar um pouco. Acho que você poderia melhorar aquele truque do domínio. - tentar não sentir? Que conselho mais estranho, embora talvez dê certo.
- Boa idéia. - me posicionei em defesa, dessa vez ele não aumentou a distância. Seu punho veio em minha direção e eu desviei por pouco. - Está maluco?
- Quero treinar como se a luta fosse real. Eris, você quade morreu por causa daqueles ferais e eu não quero passar por isso novamente, dentro de algumas horas vamos estar partindo para Arcaria e ninguém sabe o que podemos achar lá fora, vou ficar mais tranquilo se seu único ataque não for um grito, ter que parar de lutar para me proteger dele drenou muita energia. - e quando ele não tinha razão? Suspirei pesado assentindo, era uma forma de não ser um peso morto para ele. - Lute comigo.
Com prazer.
Agora era um pouco mais fácil dar vida a minha atribuição, a refração já fazia meu corpo brilhar quando a usei para socar o estômago de Luiz, ele bloqueou com a palma das mãos e seu corpo foi começando a brilhar em amarelo quando duas esferas vieram em minha direção e eu desviei enquanto avançava com um chute. Ele teve que se afastar para desviar e tentou me socar, usei minha atribuição para bloquear seu golpe sendo que ressonou a força jogando o mesmo para trás.
- Truques novos? - ele perguntou voltando a posição, o sorriso ainda estava ali quase como sua marca registrada.
- Estou deixando minha mente comandar sozinha. - e na verdade estava mesmo, quando os pensamentos não me invadiam era bem mais facil manter a calma e mantinha minha mente limpa o suficiente para agir sozinha.
Duas esferas voaram para mim e com um movimento de mão elas voltaram com toda a força contra o dominador, ele precisou fazer mais duas espferas para bloquear as primeiras antes que o atingisse. Aproveitando de sua concentração eu me aproximei e chutei seu abdômen que era onde minha perna alcançava, a refração o fez bater contra a parede alguns metros atrás. Notei que havia me envolvido demais e me surrei mentalmente, corri para onde ele estava agora deitado massageando a bsrriga com um sorriso sarcástico.
- Machuquei você? - eu estava preocupada e me sentindo estranhamente culpada por isso, deixei me levar com a sensação de poder e machuquei ele.
- Se eu disser que sim ganho um beijo? - gargalhei de imediato, a preocupação não passando de um susto pelo ocorrido.
- Você é um i****a. - murmurei me afastando e lhe negando ajuda para se levantar.
- Não custa nada tentar, toquinho. - ele levantou em um movimento rápido flexionando as pernas em impulso. Seu olhar foi até a porta e eu segui, Victor estava entrando com seu habitual sorriso nos lábios direcionado a mim, meu coração errou duas batidas quando ele chegou perto o suficiente para me tocar e não o fez.
- Estão treinando? - ele questionou sem parecer surpreso, acho que além de estar óbvio pela terra espalhada no lugar os sonos devem ter nos denunciado.
- Estávamos. - e o sorriso morreu, quando o olhar dos dois se encontravam era pior do que um fio tocando em outro, eu podia jurar que se matariam.
Já chega neh?
Desviei o olhar quando os dois me encararam e me toquei que havia pela primeira vez conectado duas mentes a minha, sinal que o Victor estava com suas defesas abaixadas.
- Estão prontos? As motos já estão. - Tavarres entrou de repente na sala amenizando tudo com sua presença. - Arcaria espera por vocês.