Primeira Parte: Jogos de sedução

681 Words
Prólogo “Mortos são incapazes de contar histórias ... apenas desista!” Enquanto o carro avançava pela mata naquela noite fria de março, o homem no banco traseiro pensava na inconsistência frase cuspida em sua cara poucos dias antes, quando alguém ousou debochar de sua persistência. O que era uma atitude tola. Debochar de alguém era como lançar um desafio. E quem tem muito a esconder, nunca deve desafiar quem tem meios para cavar muito profundo, até encontrar os segredos mais bem guardados. Mortos sempre contam histórias ... E mortos podem atrapalhar os vivos do além tumulo, é uma questão de saber ouvir.   E alguém havia empreendido uma verdadeira odisseia apenas para ouvir os mortos naquela noite fria. Segredos são criaturas peculiares, é quase impossível escondê-los, mesmo na calada da noite. Mesmo em algum lugar inóspito. Um segredo de todo segredo é ser revelado. Questão de tempo, questão de persistência. Aquele sujeito era o senhor deus dois elementos e com determinação invejável, atravessado meio mundo em busca de evidências. Em busca de histórias de gente morta. Histórias que talvez colocassem um monstro na prisão. A pequena estrada de barro se tornara um rio de lama. Havia chovido por três dias e mesmo em dias ensolarados, uma encosta que os levaria ao precário barracão escondido ao fim de um matagal denso, era quase intransitável. O difícil acesso, uma ou outra história macabra e alguns “acidentes” com arma de fogo garantiam que o lugar permanecesse isolado. Mesmo os mais aventureiros sabiam que perder aquele local. - O carro só chega até esse ponto, senhor. Teremos que fazer o resto do percurso a pé. O homem soube desde o começo que era impossível desenterrar segredos sem se enlamear um pouco: fosse figura ou literalmente. Usava botas de operários, uma capa de chuva e um gorro preto para esconder sua fisionomia de algum curioso que ousasse, contra todas as probabilidades, explorar a mata aqueles hora da madrugada. O barraco aparentemente abandonado era oculto pelo mato alto e algumas árvores. Só era possível visualizá-lo a poucos metros de distância, apesar de estar num terreno mais elevado. - Ele mensagem em tudo. É o local de descarte perfeito. O comentário do motorista foi ignorado pelo passageiro. Seu olhar já seguia a luz da lanterna enquanto varria o terreno em volta do barraco numa busca frenética. Alguns restos de fogueiras aqui e ali, coisas foram minuciosamente queimadas até restar apenas cinzas. A esperança era encontrar um minúsculo pedaço de tecido, com sorte, um osso. Qualquer evidência que pudesse ser levada em conta em um tribunal. Precisou de apenas pouco mais de uma hora para se dar por vencido, fosse pela chuva ou minucioso cuidado em apagar rastros, não havia pistas. Poderia retornar durante o dia correndo o risco de revelar seus passos... Tolice. Tudo seria em vão. Nada encontrou ou encontraria que o ajudasse de fato em sua empreitada. Uma onda de frustração dominou o homem. — Talvez dentro do barraco tenha alguma pista, algo que não vimos no primeiro momento. — O motorista tentou consolar o chefe. — O barraco está limpo. Tão limpo que seria possível comer no chão sem risco, mesmo sabendo para que fim esse lugar é usado. Minha única esperança era encontrar uma pista fora dele. Uma pequena coisa esquecida, deixada para trás. Ele conhecia bem o inimigo e sabia que era improvável encontrar pontas soltas. O sujeito estava sempre um passo à sua frente. Levou tanto tempo até encontrar aquele lugar! Quanto tempo mais seria preciso até encontrar a próxima pista? — Peço ao nosso pessoal para investigar a propriedade? - Eu preciso pensar um pouco mais sobre o assunto, alertar sobre a nossa presença pode ser perigoso. Acho que estamos usando a estratégia errada e andando em círculos. Pior, estamos fazendo exatamente o que ele quer e deve ser sua diversão nos manipular. Vamos abandonar todas as linhas de investigações. Preciso pensar um pouco mais antes do próximo passo. Resolutos e com o mais profundo sentimento de desânimo, os homens voltaram ao veículo. Daquela vez, nenhum morto contaria sua. 
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