O Jogo começa a Virar

962 Words
O salão do Ritz-Carlton em Orlando estava lotado de empresários, investidores e magnatas internacionais. Era a Conferência Global de Negócios Estratégicos, o evento onde grandes alianças eram seladas — e onde os inimigos se estudavam à distância com taças de champanhe e sorrisos disfarçados. Karen entrou com a postura impecável de uma líder nata. Usava um vestido preto de corte reto e ombros marcados, o cabelo preso em um coque elegante, maquiagem impecável e um olhar que não deixava margem para dúvidas: ela estava ali para vencer. David caminhava ao seu lado. O terno sob medida, o queixo erguido e os olhos atentos o faziam parecer um executivo intocável. Mas por dentro, ele fervia de tensão. — Lembre-se — disse Karen, discretamente —, esse jogo não se vence com gritos. Vence-se com inteligência. Com controle. David assentiu. Do outro lado do salão, Thomas Grey os observava. Estava cercado por advogados e investidores norte-americanos. Quando seus olhos encontraram os de Karen, ele esboçou um sorriso sarcástico. Mas não havia segurança naquele gesto. Havia desconforto. Karen caminhou até ele sem hesitar. A multidão pareceu abrir caminho, como se a energia dela repelisse qualquer distração. — Senhor Grey — disse ela, a voz firme, porém educada. — Que prazer reencontrá-lo em um ambiente... civilizado. Thomas fingiu surpresa. — Senhorita Diniz. Ou devo dizer, senhorita CEO? Não esperava encontrá-la tão... imponente. Karen sorriu. — Aprendi com os melhores. Inclusive com os piores. Thomas apertou os lábios. — Veio para selar acordos ou destruir reputações? Ela deu um passo mais próximo. Aquilo já não era uma conversa; era um duelo silencioso. — Vim para mostrar que o império que vocês tentaram construir em cima de mentiras está prestes a desabar. E dessa vez, com provas. Thomas baixou a voz, mas manteve o tom ácido. — Você acha mesmo que tem poder para enfrentar um homem como eu? Karen se aproximou, o bastante para que apenas ele ouvisse. — Eu sou a filha do homem que você mandou matar. E estou aqui para terminar o que ele começou. Ela se afastou, deixando Thomas paralisado, com a expressão dura como pedra. Os murmúrios ao redor cresceram. A tensão estava no ar como eletricidade estática. --- Horas depois, já no quarto do hotel, Karen revisava os últimos relatórios dos investigadores quando notou que David ainda não havia voltado da reunião com seus acionistas. Ela tentou ligar. Sem resposta. Tentou de novo. Caixa postal. O coração disparou. Pegou o celular e digitou para Heitor: “Localize o sinal do David. Agora.” Demorou apenas dois minutos para o retorno. “Última localização: armazém industrial em Maitland. Depois disso, sinal perdido.” Karen sentiu o sangue gelar. O nome do local não era estranho. Era o mesmo bairro onde Roberto Vasconcellos havia registrado propriedades falsas em nome de laranjas. Ela não pensou duas vezes. Pegou a jaqueta, jogou os documentos em uma pasta e saiu do quarto. No saguão, Heitor a esperava. Viera no primeiro voo do Brasil ao perceber o aumento da ameaça. — Você não devia ir sozinha — disse ele, abrindo a porta do carro. — E você não devia me subestimar — respondeu ela, entrando com pressa. --- O galpão era enorme, abandonado por fora, mas vigiado por dentro. Heitor parou o carro a um quarteirão de distância. Karen saiu com o capuz da jaqueta cobrindo parte do rosto. Ela se esgueirou pelos fundos com habilidade surpreendente. Heitor a guiava pelo fone de ouvido, com o auxílio das câmeras que havia hackeado minutos antes. — David está no terceiro andar. Preso em uma sala sem janelas. Dois homens na porta. Um deles armado. — Eu consigo distraí-los. Preciso de três minutos — respondeu Karen. Ela pegou uma pedra e lançou contra o portão metálico do outro lado do pátio. O barulho ecoou como uma explosão. Os dois guardas se alertaram e um deles se afastou para verificar. O segundo foi rapidamente dominado por Heitor que surgira por trás com movimentos precisos. Karen invadiu a sala. David estava amarrado em uma cadeira, com o rosto machucado, mas consciente. — Karen? — ele sussurrou, incrédulo. — Vamos tirar você daqui. Ela cortou as amarras e o ajudou a levantar. — Como me encontrou? — Nunca perdi você de vista, David. --- Ao saírem do prédio, Heitor os levou direto para um local seguro. Era um apartamento alugado em nome de um terceiro. Blindado. Protegido. Ali, David contou tudo. — Eles me pegaram no estacionamento. Queriam que eu assinasse um documento entregando o prédio logístico para uma empresa deles, registrada em nome de um laranja. — E você assinou? — Karen perguntou, tensa. — Claro que não. Quando eu neguei, começaram as ameaças. Diziam que se você não parasse com a investigação, iriam atrás de você. Karen segurou a mão dele. — Eles já vieram atrás. Agora é minha vez. Ela levantou e pegou a pasta de documentos. — Vamos denunciar tudo. Com nomes, contas bancárias, e-mails, contratos falsos. E se a justiça americana não agir… eu farei o mundo inteiro saber quem Thomas Grey realmente é. David a olhou com admiração. — Eu sabia que você era forte. Mas não sabia que era indestrutível. Karen sorriu com amargura. — Eu me tornei assim porque me quebraram. Só que, cada vez que me destruíram, eu reconstruí. E agora… não vão conseguir mais. --- Enquanto isso, no escritório escuro de Thomas, Roberto Vasconcellos caminhava nervoso de um lado para o outro. — Eles escaparam. Os dois. Thomas lançou um olhar gélido para ele. — E você permitiu isso. — Ela é mais inteligente do que esperávamos. Tem aliados. Recursos. Thomas acendeu um charuto com calma. — Então está na hora de atingirmos o coração dela. E eu sei exatamente onde mirar.
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