O inverno foi-se, dando lugar à primavera. Sem mais casos, estavam no condado de Essex novamente. O cheiro de flores de laranjeira desabrochando, grama e de lustrador de móveis se misturava ao de comida sobre a mesa de madeira bem lustrada e composta para o desjejum.
Luna não havia contratado empregados a mansão do condado.
As janelas abertas permitindo uma suave brisa. O céu sempre nublado ameaçava chuvas ocasionais e março era o começo da primavera.
No jornal, Luna fechou a notícia, horrorizada. Mulheres prostitutas mortas e mutiladas com cortes cirúrgicos por Jack, o estripador. Era só horrível, mas ainda bem que o caso foi resolvido por um jovem detetive em ascensão chamado Sherlock Holmes e o seu parceiro Watson. A questão é que o Jornal explicava o "‘Modus’ de Jack e Luna não conseguiu ler tudo.
Não era bem um caso sobrenatural, mas se lembrou por algum motivo dela mesma sendo estuprada e que ia ser um sacrifício porque um homem decidiu que a sua vida era inútil.
Ela ficou cabisbaixa, a respiração dela ficou alterada como a de uma b***a ferida. Sentiu a mão de Clara na sua para tentar acalmá-la. Clara sentava agora na mesa ao lado de Luna.
Agora que Luna conheceu o gosto amargo do que homens são capazes pelo poder… Mulheres eram mulheres. Fossem aristocratas ou não, todas eram iguais, mesmo a rainha era igual as súditas. Luna não era presunçosa quanto a isso é só que ela foi ensinada a olhar feio para prostitutas.
Agora sabia que as coisas não eram como pareciam e como ela foi doutrinada por sua controladora mãe que do nada no seu primeiro sangramento tirou a sua infância escondendo as suas bonecas e basicamente a vendeu como uma égua reprodutora. A única diferença é que Luna foi vendida para alguém com título que se “casou” com ela. Todas mereciam a chance de viver dignamente.
Ela perdeu a fome mesmo que os crimes já estivessem resolvidos e afastou a fatia de bolo de chocolate, a xícara de chocolate quente já que ainda recusava chá.
A jovem apenas apoiou os cotovelos na mesa, puxando os próprios cabelos escuros presos num severo coque, ficando descabelada e mordendo o lábio inferior até sangrar, pensando no que fazer ao cogitar que ela se não fosse Hadria, ia ter uma morte horrenda como aquelas mulheres que Jack matava.
Hadria semicerrou os olhos, fechou as mãos em punho e crispou os lábios, parado ao lado dela, enquanto a sua senhora que deveria desfrutar da magnífica mesa de café da manhã que a preparou, apenas desprezou o seu esforço.
— O que a fez perder o apetite, minha senhora? — Sondou o d***o.
Luna, ficou irritada pela insensibilidade dele. Ela simplesmente estendeu o jornal a ele como se explicasse tudo. O que era relatado ali por Holmes sobre o assassino era mesmo de revirar o estômago.
— Isso que Holmes resolveu, esse caso de Jack, o estripador, que matava prostitutas é coisa de seita? É como Crowley e os filhos da serpente? — Quis saber Luna, puxando mais e mais o cabelo, enlouquecida.
O d***o recebeu o jornal, leu a notícia toda vendo um padrão, deu um sorrisinho c***l, arqueou a sobrancelha, fechando o jornal e o depositando na mesa de novo.
— Coisas de humanos que gostam de brincar de Deus. Esse Jack, deve ser fascinante. — Murmurou como se o divertisse.
Luna enojada, apenas pegou a xícara de chocolate quente, a jogou nele, impiedosa com uma ótima pontaria, que se quebrou e sujou o d***o. Não queimou porque nada se comparava ao fogo do inferno.
— Se não vai falar nada de útil, se cale, maldito e suma da minha frente. — Ordenou Luna cabisbaixa e friamente.
Luna, saindo do rancor, com a mão no coração, respirou fundo, com a cabeça apoiada na mesa e batendo a testa na madeira continuamente, num tique nervoso e lágrimas nos olhos. Foi quando viu a mão da boneca se colocar entre a madeira e a sua testa. Ela parou de imediato com a mão de porcelana à sua frente.
Luna parou com a sua auto punição, avaliou Clara, fascinada. Nem um medo da boneca se mover. Hadria se impressionava com isso quando avaliou as duas, com a sobrancelha arqueada pela dispensa e atitude de Luna. Sentiu uma inquietação e um ódio sem precedentes por Luna o ter atirado a xícara de chocolate quente.
— Não fique assim. Humanos são monstros às vezes, não isenta que há alguns que também valem a pena. Lembra-se de Layla, que sacrificou a vida para salvar a do irmão, tentou salvar a sua e cuja coragem você desejava possuir também? — Consolou Clara, Luna moveu a cabeça num, sim, faminta por mais bondade no mundo, para se agarrar a alguma luz. — Esse detetive também desvendou o caso e salvou outras inúmeras vidas de mulheres que o mundo julga. No mundo não há só coisas más. Não é tudo um pesadelo. — Consolou Clara.
Valquíria falando com Luna, ajudava muito a controlar o temperamento mimado da alma que Hadria escolheu. Mas estava surpreso dela estar falando e movendo-se normalmente na frente da menina e Luna não estar surtando.
Luna mirou Hadria.
— Por favor, desculpe-me. — Pediu solene e com os olhos marejados. — É só que quando falou que ele era fascinante sendo que fez estas atrocidades, eu me irritei… porque me fez pensar que admira Crowley também e compactua com isso. Se não fosse por você, eu nem estaria mais aqui. — Suspirou a menina amuada.
Ela nem percebia que foi ela que salvou a si mesma, dando a sua alma e perna em troca a alguém com fome.
Luna com os olhos lacrimejantes, encontrou os olhos azuis do demônio, envergonhada, depois acabou mirando a boneca com um sorriso grato por renovar a esperança na humanidade no seu peito.
— Você deve comer. — Soltou Hadria, num tom severo e arisco. Sentindo-se inquieto que a valquíria conseguisse influenciar Luna tão bem. — Se quiser, minha senhora, depois nós cuidamos desses assuntos, mas para isso deve estar saudável e comer toda a comida que eu lhe fizer. — Ordenou Hadria severo.
Luna, percebendo a rispidez, pegou a mão enluvada dele onde havia o contrato e a beijou.
Ele sentia uma palpitação no peito. A marca ali era a prova que a devoraria e ela simplesmente a beijando. O ódio dele foi como a espada em brasa sendo colocada na água para ganhar forma. Ele tirou as luvas.
Ele passou os polegares nos olhos dela, limpando as lágrimas teimosas e depois as lambeu. Após isso, limpou o nariz vermelho da sua senhora com o lenço. Puxou de novo o pires com enfeites de flores com um pedaço de bolo como se lhe pedisse para comer silenciosamente, então, quando Luna aceitou. Ele soltou o cabelo dela do elaborado penteado respeitável que ele mesmo ornamentou, o acariciando e, ela comeu sobre o afago doentio dele nos seus fios, que Valquíria por ser uma boneca voodoo de Luna também sentia no seu cabelo.
Quando Luna terminou de comer, a mão dele ainda estava na maciez do cabelo dela. Luna pegou a mão com o símbolo estranho na palma e roçou os lábios por ela e pelo símbolo sem parar, então a língua. Ela ofegava como só fazia com Clara, quando se esfregava nela.
— Está menos irritado, meu sombrio salvador? — Perguntou num tom doce que fez o d***o soltar um suspiro de fome.
— Sim, minha doce Luna. — Foi a primeira vez que ele usou o nome dela. — Bem menos irritado. — Sussurrou no ouvido dela e colou a testa na dela. Acariciou o rosto da menina solene. — não vejo a hora de comer você inteira. Ah… o seu gosto deve ser tão bom. — Beijou a testa dela.
Luna estremeceu, sentiu, sem medo a parte da inocência dessa fala de só devorar a alma dela partir. Mas ele puxou a mão dele de volta e saiu da sala. Só valquíria notou o protuberante volume nas calças dele.
Luna estava corada, ofegante e com um incómodo no meio das pernas. Avaliou Clara timidamente e a chamou para seu colo com um olhar profundo e apaixonado.
Clara foi de imediato e sem rancor pela primeira vez ao sentir o fascínio e desejo de Luna pelo demônio e do demônio por Luna. Não sentiu com Luna a amargura que sentiu tantas vezes. Eram uma só, como nunca conseguiu ser com nenhuma das almas antes dela.
Luna e ela. Luna que a amava também antes que sequer demonstrasse todo o seu poder de protegê-la. No corpo da boneca totem, a Valquíria Brunhilde, sentia o constrangedor calor que Luna sentia agora, enquanto a sua senhora a enchia de beijos e se roçava nela, sem saber bem o que queria. Correspondeu de repente, levando a boca aos s***s de Luna mesmo por cima do vestido preto. Luna não a impediu quando a boneca beijou os seus s***s. Não gosto de dormir sem você.